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A mãe do Verbo Encarnado

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A consciência histórica do Cristianismo

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domingo, 10 de março de 2013

XXXII - Naim: Um milagre diferente




De tantos quantos milagres, sinais e prodigios realizou nosso Bom Mestre, um assoma como mais portentoso.

Caso estejais dispostos a examinar cada narrativa que envolva a execução de um milagre por Nosso Senhor verificareis que ele sempre exige algo da parte daqueles que serão contemplados.

E amiude diz aqueles que receberam o socorro divino: Vai em paz, tua fé te curou.

Foi o que disse a Lídia, a hemorroisa; por exemplo; a mulher siro fenicia, ao centurião romano, etc, etc, etc

Mesmo em se tratando de ressurreições, estando o futuro beneficitário impossibilitado de exercer fé, o Senhor solicitava-a de seus parentes.

Assim pergunta a Maria, irmã de Lazaro: 'Cres nisto???' e a Jairo, mestre da sinagoga: 'Não temas, CRÊ APENAS, e a menina será salva.'

Aparentemente milagre algum foi concedido sem a contrapartida da fé.

Dizemos aparentemente, porque o Evangelho nos apresenta uma ocasião excepcional em que a fé não foi exigida ou levada em consideração por Nosso abençoado Redentor.

E tal milagre, impar, único e singular; não pode passar a largo de nossas considerações.

Porque testifica sobre certos mistérios da vida de Cristo, que todos os seus servos e adoradores devem conhecer.

Atípico este milagres foi consignado apenas por S Lucas no terceiro Evangelho.

Segundo a narrativa de S Lucas, havia nosso soberano benfeitor deixado Cafarnaum 'a sua cidade' em demanda das vilas do interior com o objetivo de anunciar a palavra da verdade. E tendo alcançado uma obscura aldeia chamada Naim deu com um féretro saindo pela porta da cidade.

Isto não ocorreu por acaso ou acidente; pois desde toda eternidade o Criador previu e decretou este favor.

Com exata precisão, o hagiografo registra: Levavam ao cemitério, um moço, filho único de mãe viúva.

E como mãe e filho fossem altamente estimados, grande multidão de povo acompanhava o préstito. Como de costume as carpideiras e 'beatas' choravam...

A desolada mãe, trespassada pela aniquilação de todas as suas esperanças, sequer precebeu ou notou a presença de Jesus.

O coração de Deus no entanto apercebeu-se daquela pobre filha, daquela pobre alma imersa em pranto e dor. E a dor daquela criatura tocou o coração de Deus!

Em apenas duas ocasiões anotam os evangelistas que Nosso Senhor comocionou-se: junto a tumba de seu amigo Lazaro, frente a qual 'Jesus chorou' & as portas da obscura aldeia de Naim, frente as quais 'Encheu-se ele de compaixão para com a mulher'; tendo quiçá vertido algumas lágrimas.

A ele vieram os emissários de Abgar, rei de Edessa; a ele veio o centurião dos Roumi, a ele veio o mestre da sinagoga, a ele veio a mulher fenícia, diante dele grita o cego Bartimeu, por ele buscam e clamam os leprosos... Todos o buscam, procuram por ele e dele se aproximam tomando a iniciativa de pedir. Tal a ordem estabelecida pela lei divina...

Aqui no entanto a ordem se altera. Pois quem toma a iniciativa não é a pobre mãe transtornada pelo sofrimento... mas o próprio autor da vida.

Aqui quem se manifesta e vai ao encontro é o Salvador misericordioso, o supremo filantropo, o amante e amigo dos mortais... aqui é ele, Jesus, o Cristo; que toma a iniciativa.

Sentindo-se golpeada pela mão da natureza, aquela que um dia esperara ser sepultada e pranteada por seu único rebento, vertia copiosas lágrimas... e exarava os mais pungentes suspiros!

Diante disto, o Magnânimo e Clemente, veio até ela; não para exigir qualquer coisa ou para solicita-lhe o exercício da fé; mas apenas para confortar. E lhe diz: Não chore.

Tuas lágrimas e suspiros oh mulher, foram além de toda fé e tocaram o recondito da divindade.

Tua dor realizou o supremo milagre de comocionar o Criador e Senhor dos universos.

Não chores mais que eu te devolverei a luz dos olhos e o brilho da esperança.

E passando a ação, tocou Nosso senhor o esquife sobre o qual jazia o rapaz, dizendo em alta voz: Levanta-te!

E a voz de comando do Criador sentou-se o rapaz no estrado diante da turba estupefata. Então o Senhor tomou-o pela mão e - qual uma jóia preciosa - entregou-o ele mesmo a sua mãe já radiante de felicidade.

Sabei portanto que se o fim último dos milagres é a glória de Deus; nem por isso ficam excluidas as causas mais próximas como a fé do contemplado ou a piedade do próprio Jesus.

De fato insólito seria que um cárater nobre e ilibado como o de Nosso abençoado Mestre, se mostrasse insensivel e indiferente perante um dos acontecimentos mais trágicos que é dado ao homem testemunhar: Uma mãe sepultando seu próprio filho.

Aqui porém há dois consideráveis agravantes.

Porque a mulher em questão não possuia outros filhos, cujas existências pudessem amenizar a dor pela perda de um. Aquele filho era único e por isto imensamente precioso.

Pois todo aquele que tem mais de um filho, perdendo um; consola-se em viver para o outro ou os outros.

Aquela mulher no entanto não tinha esperança alguma.

Além disto não era mais jovem. Mas viúva...

Tendo já sofrido com a perda do esposo.

E estando já idosa, não haveria de contrair um segundo matrimônio ou de conceber outros filhos.

Estava pois seu destino selado.

Doravante não haveria quem guiasse seus passos, quem pranteasse por ela ou quem a sepultasse e recitasse o Kadish por sua alma.

Pois como o filho morrera demasiado jovem e solteiro, jamais haveria de ter netos.

Estava pois abandonada e só.

É possivel que a pobre mulher, ignorando o que lhe estava reservado, tivesse optado por rejeitar um segundo e vatajoso matrimônio, só para dedicar-se a educação daquele que ora estava inerte sobre um esquife...

Diante destas circunstâncias homem algum haveria de permanecer impassivel exceto se tivesse uma pedra de gelo em lugar do coração.

Como Nosso Senhor viera justamente para transformar os corações de pedra em corações de carne; não devemos nos admirar de que tenha experimentado grande comoção ao deparar-se com o cortejo funebre as portas da pequenina aldeia...

Julgo no entanto que a comoção experimentada pelo Nazareno foi aumentada em máximo gráu por outras circunstâncias...

Acaso não era também ele Jesus um filho único?

Tal e qual o filho da viúva.

E sua mãe, a Virgem, não era também ela viúva, como a mulher de Naim?

Dois filhos únicos. Duas mãe viúvas.

Identificou-se o Redentor com o jovem morto e sua mãe com a viuva desolada.

Pois estava cônscio do que lhe estava reservado.

E a respeito das palavras que o Santo velho Simeon, filho de Hilel, havia dito a Maria: Uma espada de dor trespassara a tua alma!

Sabia Jesus o quanto sua amada mãe haveria de sofrer por ocasião de sua paixão e morte!

Bem conhecia ele o oceano de amargura em que aquela Santa alma haveria de mergulhar.

No entanto ele, Jesus, haveria de ressuscitar e de confortar sua Virgem Mãe.

Enquanto aquele jovem inerte sobre o estrado, nada poderia fazer para confortar aquela que acompanhava seu féretro.

Ele porém, Jesus, podia fazer algo; e fez.

Ressuscitando para a viúva o pranteado filho, do mesmo modo como haveria de ressuscitar ele mesmo para a alegria de sua própria mãe.

Destarte na ressurreição deste moço, que era Virgem, temos a antecipação da ressurreição do próprio Mestre.

Então podemos dizer que este milagre é demasiado precioso. Porque nos mostra Deus colocando-se no lugar do outro. Deus pondo em prática a lei da alteridade e da empátia. Deus identificando-se com seu próximo...









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