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A consciência histórica do Cristianismo

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quarta-feira, 13 de março de 2013

XLII - Aspectos da vida de Jesus: meios de produção; o escravismo







Ao tempo que o Mestre amado manifestou sua infinta graça entre os mortais constituia a escravidão, prática corrente entre todos os povos e nações da terra. Especialmente entre aqueles que se apresentavam como sendo os mais civilizados.

Grosso modo a instituição deita suas raizes mais profundas no campo da História primitiva ou seja antecede o surgimento da escrita tanto no Egito quanto na Suméria.

De modo que temos certa dificuldade em dar com suas origens.

Acreditasse que a principio, sendo as guerras inspiradas pelos deuses e religiões; eram todos os prisioneiros votados a destruição ou seja imolados junto as aras dos vencedores. Disto temos indicio no testamento antigo dos judeus em que cidades inteiras eram votadas a javé pelo 'anatema' e seus habitantes sacrificados.

Segundo os memoristas judeus tal teria sido a sorte de Jericó... da qual somente uma estajadeira teria escapado com sua família e amigos.

Ocorreu no entanto a algum chefe a idéia de conservar alguns prisioneiros vivos para faze-los trabalharem para si. E assim a escravidão pegou...

A principio era os pobres escravizados por dívida. No entanto este gênero de servidão foi logo suprimido por Sólon em Atenas e pela lei popiniae em Roma.

Destarte tiveram os escravistas de recorrer as guerras, ao sequestro e a pirataria; com o intuito de abastecer seus depósitos e suprir a demanda pelo 'instrumento' ou 'aparelho' humano.

No antigo Egito era a escravidão amena, possuia o servo direito a vida, a propriedade e a família, limitando-se a prestar serviços a seu Senhor. Apenas os criminosos e alguns prisioneiros de guerra tornavam-se escravos do Estado seguindo em demanda das minas de Wadi Hamamat ou Serabit, onde não tardavam a sucumbir miseravelmente ao peso dos trabalhos.

Na mesopotâmia vigorava o mesmo regime, quiçá um pouco mais amargo ao Norte, na Assiria, onde os prisioneiros de guerra eram submetidos a trabalhos duros e aviltantes. Em geral no entanto conservavam-se as instituições sumerianas e o escravo, também ali tinha direito a vida, a propriedade e a família.

Nem preciso dizer que num e noutro caso os escravos tinha livre acesso aos ritos religiosos.

Na Grécia agravou-se consideravelmente a situação do elemento servil - a principio denominado DOUROS e depois DOULOS - não lhe sendo reconhecido por exemplo direito a propriedade e a família; bem como aptidão para depor e o beneficio de votar e ser votado. Assim estavam já excluidos das esferas juridica e politica.

No entanto não era lícito tirar-lhes a vida, eis porque exclama Isócrates: "Nem mesmo um escravo pode ser executado sem julgamento!" e tampouco eram excluidos do exercicio religioso, sendo admitidos inclusive aos mistérios de Eleusis. Aquele dentre eles que tivesse queixa a respeito de seu senhor e tomasse refúgio junto ao altar de um templo era comumente considerado livre.

Efetivamente os escravos gregos são apresentados como membros da casa ou da família. Casos houve em que mais de um deles fosse recebido a casa com ofertas e guloseimas...

Estelas funerárias há, em certa quantidade, nas quais o elemento servil é representado junto com o senhor ou a família e mesmo estelas e túmulos dedicados a escravos fiéis, como o persa Sísinus.

Já Homero referia-se a Eumeu, como o 'divino' porqueiro.

E Aristóteles referia que a escravidão só se justificava tendo em vista a surperioridade intelectual ou moral do proprietário e que este deveria encarar os escravos como crianças explicando, sempre que possivel o objetivo dos trabalhos prestados para que compreendessem o que estavam fazendo.

Aqui também o gênero mais horrivel de servidão estava reservado aos criminosos e prisioneiros de guerra que eram conduzidos as minas de Leureum.

Foi nos círculos socráticos que pela primeira vez refletiu o homem a respeito da escravidão, ocasião em que as primeiras críticas foram tecidas por Platão. O qual devemos lembrar chegara a ser escravo até ter sido resgatado pelos pitagóricos Simas e Cebes.

Os estóicos chegaram a conclusão de que a natureza humana não pode ser exposta a tal tipo de violência e condenaram, em termos enfáticos, a escravidão pela primeira vez alguns séculos antes de Cristo.

Efetivamente Gaio, o jurista declara que "A escravidão não corresponde a instituição natural, mas a imposição externa ou condição..."

E os demais juristas admitiam que ela não pertenciam ao Ius naturalis; mas ao Ius gentium e ao direito positivo.

Seja como for a situação do elemento servil em Roma agravou-se ainda mais assumindo os extremos por nós tão bem conhecidos. 

Pois ali perdeu o elemento servil até mesmo direito a vida e a integridade física; podendo ser sumariamente executado, torturado sob qualquer pretexto, estuprado, prostituido, etc

Pertence pois a Roma a imagem clássica que temos de escravidão, com profusão de castigos, sevicias e torturas.

E averiguamos já que em certos templos e festividades religiosas romanas, a figura do escravo era submetida a violências e sua presença vedada. Portanto em função da suposta inferioridade absoluta, detectamos a exclusão religiosa.

O que não se detectava nas culturas em que o elemento servil era tratado com certa humanidade como Egito, Suméria e Grécia.

Então parece certo que a opressão terrena e econômica em nivel crasso, deve corresponder um abandono por parte da religião; reservada aos homens livres. Isto já se verifica de certo modo em Roma.

E nem se compreende como os mistérios de Isis, Cibele, Mitra e Jesus Cristo atrairam número tão elevado de escravos caso não admitamos que era de certo modo repudiados pela instituição religiosa romana. Nos mesmos termos em que milênio e meio depois vieram, os escravos africanos, a ser repudiados pelas seitas protestantes Norte americanas, e obrigados a reunirem-se em agremiações religiosas próprias formadas exclusivamente por negros.

Diante de tais conjunturas não devemos admirar que tenha explodido rebeliões como a que foi chefiada por Spartacus. Cumpre observar no entanto, que tais rebeliões não foram conscientemente direcionadas contra a instituição escravidão em si mesma... sequer imaginavam os ex escravos abolir o regime escravocrata.

O unico fim a que aspiravam era uma mudança de condição; mudança pela qual os proprietários converter-se-iam em escravos e os atuais escravos em proprietários.

Tratava-se aqui de mera troca de papéis a serem desempenhados e que não tocava a estrutura mesma da sociedade. Eis porque também os escravos rebelados tinham seus 'escravos'...

Wang Mang imperador chinês, inspirado pelo budismo foi o primeiro legislador a proibir o tráfico de seres humanos.

Diante de tais conjunturas é perfeitamente natural que criticos como Vitor Stenger:

"Jesus teve muitas oportunidades para repudiar a escravidão, E NO ENTANTO JAMAIS O FEZ."

Cumprindo a nós, dar-lhe a competente resposta.

Primeiramente cumpre esclarecer que o regime escravista vigente na antiga judéia era bastante ameno em comparação com os demai; mesmo o egipcio.

Pois determinava certos prazos e solenidades em que a concessão da alforria era obrigatória; como os anos sabáticos e o ano jubilar.

E ao tempo de Jesus estava em franco declínio. Pois as conquistas territoriais haviam cessado e repugnava já aos judeus escravizarem outros judeus... Por outro lado eles acreditavam que qualquer contato mais próximo com os estrangeiros contaminava-os...

Daí minguar o elemento escravo na Palestina durante o primeiro século desta nossa Era.

É verdade que o Evangelho faz menção a 'servos', o próprio contexto no entanto parece indicar que ao invés de escravos estamos diante do que hoje chamariamos de 'empregados' ou 'agregados'; gente de origem muito humilde que em função da miséria, vendia seus serviços em troca de alimento e abrigo e não de escravos no sentido romano ou mesmo grego do termo.

Em Grécia e Roma a questão era institucional, na Judéia do tempo de Cristo, econômica, muito provavelmente.

Situações de miséria provocavam ocasional sujeição sob a forma de clientela.

Aludindo a tais servos a primeira idéia que vem a mente do 'Filho pródigo' da parabola, é suficiência alimentar.

Não percebo pois com Stenger que Jesus teve diversas oportunidades ou ocasiões para condenar a escravidão.

No frigir dos ovos fariseu ou escriba algum lançou um autêntico escravo aos pés do Senhor indagando que fazer a respeito de tal criatura...

Era de fato a escravidão um problema do coração do Império, isto de Roma, da Itália; e não da obscura provincia da Judéia. É justamente aqui, neste ponto que devemos admirar e exalçar a sabedoria dos sacerdotes judeus, a respeito de como suavizaram o regime até elimina-lo.

Evidentemente que como Deus, cujos propósitos educativos são católicos ou universais; deveria o Mestre amado ter dito algo a respeito do regime escravocrata. V Stenger, alega que jamais aludiu a ele... a nós nos parece que não é bem assim...

Pois se Jesus não aludiu diretamente a escravidão, regulando-a ou melhor condenando-a sob a forma duma lei positiva; não é menos exato que aludiu indiretamente a ela apresentando principios e valores de natureza religiosa incompativeis com semelhante instituição.

Sabendo que principios e valores não procedem das normas, regulamentos e leis; mas que normas, regulamentos e leis procedem de princípios e valores, optou o Senhor por indicar principios e valores que estivessem em franca oposição ao regime escravocrata.

E que estando em plena oposição a ele viriam a destrui-lo. Sabendo que a criatura racional fora já capaz de perceber - com os estóicos - as mazelas do regime, deduziu que a mesma critura racional haveira de sacar as devidas consequências a partir dos principios e valores enunciados por si.

Tanto isto é verdade que todos os argumentos pró escravismo elencados pelo fundamentalista protestante (Batista) Richard Furman (+ 1825) foram extraidos ou do antigo testamento ou das cartas de Paulo; nem ao menos um do Evangelho i é das próprias palavras de Jesus. Jamais a apologética escravista (como a machista, a capitalista, a homofóbica, a belicista, a maniqueista, etc) cogitou em recorrer ao testemunho de Cristo.

E por que?

Porque Cristo jamais manifestou-se como escravista ou escravocrata.

A questão é se há em suas palavras, alguma base para alegar que condenou ao menos indiretamente a escravidão, enunciando principios e valores que raciocinados por suas ovelhas lhes revelaria claramente a inanidade do sistema.

Neste sentido, de uma condenação indireta a partir de principios e valores, afirmamos que sim; que foi a escravidão julgada e condenada por Cristo Jesus. E que foi de tais principios e valores que os primeiros abolicionistas do Ocidente - como S João Crísóstomo, S Patricio, S Akakios de Ahmeadin, S Paulino de Nola, S Elói, etc - e os diversos sinodos que recomendaram tão insistentemente a remissão dos cativos; tiraram as consequências.

Não pode haver condição entrisecamente superior e inferior numa comunidade em que todos são irmãos. Porque ser irmão significa pertencer a mesma natureza ou ser igual.

Eis porque disse Jesus: "Vós sois todos irmãos."

Não havendo mais espaço para senhores e servos.

Daí pleitear o mesmo Senhor uma libertação verdadeira: "Se pois o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres."; isto é plenamente livres, não só no plano religioso mas também no plano da imanência. Ao proclamar o homem cristão completamente livre o Redentor liberta-o de todas as prisões...

O próprio mandamento do amor: amai-vos uns aos outros, implica aniquilar a escravidão pela base. Pois como poderiamos amar um ser que a força submentemos e escravizamos ou um ser do qual tiramos proventos econômicos ou seja um ser que acreditamos ser lícito roubar!!!

Como se pode amar, oprimir e roubar???

De fato a fraternidade e o amor não me parecem nem um pouco compativeis com o escravismo.

O que importa aqui não é se os Cristão, por pura e simples canalhice trairam Jesus - isto é ponto pacífico -

Importa que Jesus tenha aluido o escravismo em suas bases e fundamentos, a saber, a suposição de que a seres naturalmente inferiores ou a opinião segundo a qual podemos oprimir o mais fraco por meio da força e domina-lo.

Ora Jesus afirma exatamente o oposto: que 'Todos são iguais (irmãos)'; e todos aqui significa todos os homens uma vez que o Cristianismo foi disposto para o gênero humano.

& que bom era servir e não ser servido...

Como alguém persuadido de que esta na congregação para servir haveria de cogitar em obrigar alguém a servi-lo???

"Nas nações e reinos uns oprimem os outros." disse ele a Igreja nascente; "Mas entre vós não haverá de ser assim." preceitua...

Ou seja ao contrário dos principados seculares, onde vigorava a doutrina da desigualdade e da escravidão, na Igreja haveria de vigorar a liberdade e a igualdade.

Como veremos mais além a maior parte da Igreja, que não se deixou conduzir pelo compromisso paulino, dos trê primeiros séculos compreendeu muito bem a lição. Posteriormente, ela adotou a via do compromisso. Sem que no entanto parte consideravel dos Bispos e fiéis deixasse de encarar a escravidão como um mal em si mesmo e a combate-la até dar cabo dela.

Isto veremos no momento oportuno.













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