O verbo se fez carne...

O verbo se fez carne...

A mãe do Verbo Encarnado

A mãe do Verbo Encarnado

A consciência histórica do Cristianismo

A consciência histórica do Cristianismo

domingo, 3 de março de 2013

VIII - Que pensar sobre a 'Imaculada conceição' - reflexões sobre a teoria do pecado original






Há entre nossos ortodoxos grande confusão e celeuma a respeito da doutrina papista da Imaculada conceição, imposta aos fiéis no ano de 1858 pelo papa Pio IX.

Antes disto não fazia parte dos dogmas ensinados pela igreja latina.

Eis porque dominicanos e franciscanos envolveram-se em autênticas 'batalhas teológicas' a respeito do assunto, chegando a tratar-se uns aos outros como heréticos.

Interveio o Papa no entanto, alegando que o assunto era de pouca monta, e proibindo ambas as partes de se insultarem e tratarem como heréticas.

Grosso modo dizem os ortodoxos que a Imaculada conceição não constitui dogma ou artigo de fé imposto pela Santa Igreja de Jesus Cristo.

Quanto ao significado da doutrina porém há grande divergência de apreciações.

Há quem encare a dita teoria como um theolougumena, ou seja como doutrina teológica, eclesiástica ou especulativa. Neste perspectiva há quem considere-a peidosa e quem considere-a como funesta.

No frigir dos ovos, a questão aqui, como em na teologia em geral, não gira em torno da Virgem Maria, e sim em torno da concepção de pecado original.

Os ortodoxos, ao contrário dos protestantes, não repudiam a 'imaculada conceição' movidos por qualquer tipo de prevenção face a Virgem Maria e nem poderiam faze-lo uma vez que pretendem pertencer a 'Igreja da Virgem'... 

Repudiam os Ortodoxos ao dogma e doutrina da Imaculada conceição devido a doutrina latina de pecado original a qual creem ter sido inventada por Agostinho.

Portanto, uma vez que o pecado original, nos termos concebidos por Agostinho, pelos papistas e pelos protestantes não passa duma quimera ou duma ficção, a imaculada conceição é uma doutrina inutil e desnecessária.

De fato a igreja Ortodoxa e Católica não compreende o pecado ancestral como um tipo de doença, de mancha, de culpa ou de pena; magicamente herdada ou imposta pelo poder divino. Não creem os ortodoxos em qualquer teoria de infecção congenita ou de pacto federal pelo qual os humanos mereçam ser separados de Deus ainda no ventre de suas mães.

Segundo nossos elderes, em especial Clemente de Alexandria e Origenes, devemos compreender o pecado ancestral como o mau exemplo legado a posteridade pelas primeiras gerações, o qual em pouco tempo acabou por atingir e dominar o gênero humano como um todo.

Eis porque S Clemente assim se exprime nas Hypotyposeis ou Adumbrationes: "ASSIM ENCONTRAM-SE SOB O DOMÍNIO DO PECADO DE ADÃO PELA IMITAÇÃO DO PECADO." in Jd

Replicam os protestantes e papistas alegando que "Sendo assim, no passado remoto, nem todos foram imediatamente contanimados e rebaixados pelo pecado."... "De modo que poderiamos falar em perfeitos justos e santos, no passado remoto..."

Perceba-se como os protestantes e romanos converteram suas especulações e preconceitos em dogmas.

Eles leem no Testamento: "Não há um justo sequer." e compreendem o que esta escrito no tempo presente, de modo absoluto, abstraindo do tempo e estendendo os efeitos do pecado aos tempos mais remotos e a todas as épocas. No entanto não esta escrito no Testamento da graça e da verdade que jamais haviam existido justos e santos sobre a terra; mas que durante o tempo em que o 'Verbo se fez carne' - e certamente desde inumeros milênios - não havia mais um unico justo ou santo sobre a face da terra, tendo todos sido contaminados, paulatinamente pelo mau exemplo dos antepassados, segundo os laços de parentesco que constituiam e conforme todos os povos humanos iam misturando-se uns aos outros.

Neste caso o 'sacrificio do Senhor teria sido inutil' exclamam os pervertidos.

E nós respondemos que não foi inutil para nós, para as gerações que precederam imediatamente o mistério da encarnação e para a posteridade.

Afinal ele mesmo disse que veio "Não para os saudáveis mas para os enfermos." indicando que se durante aquela geração não havia mais um 'justo sequer'; nem sempre havia sido assim...  De modo que o pecado nem sempre reinara de modo absoluto neste planeta e que tampouco propagara-se magicamente como supõe Agostinho e seus sucessores; mas paulatina e naturalmente ou seja por meio do exemplo.

Ademais ocupar-se dos antigos e das gerações passadas não é o escopo da fé. O escopo da fé e eliminar o mal e o pecado no tempo presente.

Lamentavelmente os latinos, pricipiaram a especular sobre a origem da flecha que atingiu o coração da humanidade, ao invés de se limitarem a remove-la; segundo o propósito do Senhor.

Daí essa teologia putrefata a respeito de supostos pactos (teoria federal) - pautada parte na cultura israelita e parte na cultura escocesa ou seja do meio social - ou a teologia da enfermidade ou da mancha, legada aos teologos africanos pelo paganismo cartagines e pela abominação maniquéia.

A luz da tradição alexandrina no entanto conpreendemos que as primeiras gerações desviaram a vontade face ao padrão divino, passando a praticar o mal. A pratica do mal sendo captada e percebida pelos nascituros desde o ventre materno (o nascituro recebe impressões auditivas desde o terceiro mes de gestação) e durante a 'primeira infância', ficava gravada no subconsciente das sucessivas gerações, produzido o conhecido conflito entre a lei inata da consciência (a moral eterna) e as impressões recebidas pelo meio... Tendo atingido a idade adulta, em que a liberdade assoma; tais pessoas acabavam comentendo outras tantas ações inadequadas ou pecaminosas... assim geração após geração o pecado fazia novas conquistas, a maldade ampliava-se e a iniquidade convertia-se num hábito universal, arraigado no inconsciente humano que é a raiz oculta da vontade.

Este paulatino enrraizamento do pecado e da maldade na natureza humana, segundo o exemplo das gerações precedentes fixado na memória das gerações subsequentes, é classificado pelos padres gregos como 'pecado ancestral'. É sempre bom e util conservar esta designação tradicional e evitar a designação latina de 'pecado original' tendo em vista preservar nossa teologia do 'fermento' agostiniano ou agostinianista.

Ao contrário da teologia agostiniana e das ulteriores formulações protestantes, que primam pelo irracionalismo crasso, a doutrina proposta pelos padres gregos esta de pleno acordo com os fatos observados ou seja com a própria realidade.

A presença das imagens do mal ou das impressões pecaminosas na mente ou na memórias das crianças desde a vida intra uterina chamamos 'pecado ancestral'.

Resta-nos agora investigar quais sejam as decorrências do dito estado. Porque os latinos sustentaram e sustentam que as crianças que partem neste estado sem terem sido batizadas, morrem separadas de Cristo e passam ao inferno, cuja duração eles alegam ser eterna.

Então já sabemos que o costume apostólico e livre do batismo infantil, generalizou-se graças a esta teologia supersticiosa segundo a qual as crianças que não fossem purificadas desta 'mancha' não teriam como obter a unidade de Cristo e, em caso de óbito, a bem aventurança celestial. Devendo por isso mesmo ser eternamente punidas ou castigadas...

Mais tarde com grande escândalo dos agostianianos - dentre os quais Berti e Noris - adotou a igreja romana a teoria que Pelágio e Celestio foram buscar lá nas terras do Oriente, ou seja, a teoria do Limbo, concedendo a tais crianças, mortas sem batismo e purificação, um tipo de felicidade puramente natural. Os gregos em geral concedem que tais crianças passam diretamente a Cristo pelo simples fato de não terem cometidos pecados pessoais... dos quais resulta a dita separação do homem racional e livre face a unidade de Jesus Cristo.

Os padres gregos em geral recorrem ao texto clássico ainda hoje repetidamente citado pelos anabatistas: Deixa que venham a mim as criancinhas porque delas é o Reino dos céus.

No entanto se ao pecado ancestral comvem a culpa e a pena como podem merecer o Reino dos céus??? Devem merecer é as chamas do inferno... segundo sustentam Agostinho e sua escola.

Por outro lado, revertendo o argumento e dando tais crianças como merecedoras do Reino de Cristo, somos constrangidos a desvincular do pecado ancestral qualquer idéia de culpa ou pena, atribuindo tal mistura aos antigos cartagineses, aos maniqueus, aos africanos, a Agostinho, ao papa e aos reformadores; os quais por isto mesmo merecem ser tidos em conta de inimigos das crianças.

Não há como diante de tão suja doutrina - admitida explicitamente por Lutero e Calvino (para os quais a doutrina do Limbo era pelagiana) - aprovar o sever julgamento de J J Russeau. 

Efetivamente semelhante doutrina não deixou de exercer consideravel influência sobre a educação em geral - familar e escolar - e sobre a vida de incontáveis gerações de crianças, a qual se tornou demasiado amarga. Sem mencionarmos os danos emocionais, traumas, bloqueios, complexos, etc produzidos a largo de séculos...

Basta mencionarmos os modelos educacionais calvinista e jansenista, notórios pela disciplina férrea e desumana até a crueldade e o sadismo.

Com Tolstoi imagino e penso que não pode haver nada de tão asqueroso como o ato de encarar um nascituro ou seja un bebê, como uma personalidade suja, ímpia e pecaminosa...

Felizmente Jesus declara 'Deixai vir a mim as criancinhas', antes de manda-las ao batismo para que sejam purificadas e assim se tornem santas e dignas dele.

Ele não disse: trazei-as para que sejam batizadas e depois trazidas a mim para que eu não me contamine. Mas: deixei que venham a mim como estão ou seja sem culpa, pena, mancha ou pecado; mas naturalmente puras e santas por não terem cometido qualquer pecado pessoal.

Portanto concluimos que as crianças, em que pese o pecado ancestral e a disposição inata e invencivel para o pecado, não estão separadas de Deus como supõe os latinos.

E acrescentamos que uma coisa é vir a pecar e vir a separar-se de Cristo e outra estar já separado por antecipação ou decreto divino. É justamente esta antecipação da culpa ou da pena que é ignorada pela Cristandade ortodoxa. Nós cremos num Deus bom a misericordioso que só antecipa coisas boas e dons excelsos...

Nós cremos num Verbo que se manifestou e encarnou como médico, pedagogo e pastor tento em vista combater e eliminar o mal e não o malvado, o pecado e não o pecador, a iniquidade e não o iniquo; e não num deus carrasco, carcereiro ou lôbo...

Partindo de tais premissas nós não vemos nenhuma necessidade absoluta duma imaculada conceição ou preservação do pecado ancestral, quanto a Virgem Mãe de Deus. Na medida em que o pecado ancestral não comporta culpa ou pena nós não aquilatamos que a Virgem precisasse ser 'protegida' ou purificada dele...

Embora alguns dos nossos convenham com os latinos e admitam - numa perspectiva perfeitamente ortodoxa - que por obra e graça do Espírito Santo, a mente e memória da santa Virgem, tenham sido preservadas das impressões pecaminosas ou maléficas a que aludimos, e que ela só tenha retido boas impressões em seu subconsciente e absolutamente nada de mau.

Corresponde esta suposição a versão ortodoxa da Imaculada conceição. Mas esta longe de alçar-se a categoria de dogma ou de artigo de fé.

Na medida em que os padres não estão de acordo a respeito.

Supondo inumeros deles que as impressões maléficas colhidas pelos sentidos da Virgem, e arquivadas em sua memória tenham sido miraculosamente apagadas em qualquer momento anterior Encarnação do Verbo.

Aqui alguns padres aludem a sua apresentação no templo e outros ainda a anunciação.

De minha parte julgo que se tal intervenção de fato ocorreu - o que tampouco deve ser considerado como dogma - deve ter ocorrido sob a forma de preservação efetuava desde o ventre materno; pois é sempre mais digno do Ser divino atuar por antecipação ou seja a priori, ao invés de atuar a posteriori.

Portanto caso devamos admitir o 'milagres' convem admitir sob a primeira forma, e suster uma espécie de 'imaculaca conceição', dentro da perspectiva ortodoxa e não da perspectiva latina duma 'purificação' de qualquer mancha, culpa ou pena, o que é inconcilíavel com a fé Católica.

Devemos reconhecer que seria mais digno do Deus Santo receber seu complemento humano e por assim dizer 'ligar-se' ou 'associar-se' a uma natureza completamente Santa e pura, inclusive quanto a mente, a memória ou ao subconsciente.

Convinha que Deus assim agisse, Deus poderia ter agido assim, assim se fez; parece-nos excelente justificativa no plano da teologia sagrada. Nada nos autoriza, no entanto, a converter nossas especulações em elementos do credo Cristão.

Portanto para nós qualquer tipo de preservação miraculosa experimentada pela mãe de Cristo, é e sempre será mero theologumena, e jamais artigo de é ou dogma pertencente ao conjunto da divina Revelação.




O AUTÊNTICO SENTIDO DO NASCIMENTO MIRACULOSO DE JESUS





Outra confusão lançada em torno da expressão 'Imaculada conceição' diz respeito não ao pecado original e sim a maneira ou modo como a Senhora teria sido concebida.

Semelhante confusão veio a ocorrer porque certos padres - latinos e gregos - influenciados pela lepra maniqueista, acabaram identificando já o pecado ancestral, já o pecado original, com o exercício da sexualidade humana ou seja com as relações naturais.

Daí compreenderem errôneamente que o Senhor não procedeu de relações naturais porque elas seriam entrisecamente más ou pecaminosas.

Ora isto é obscurecer e descaracteriza mistério por completo em seu sentido mais intimo.

Jesus não foi concebido de Virgem tendo em vista uma suposta averssão da divindade pelo sexo. No caso inventado pela serpente, identificada pelos rabinos, padres e pastores com o Diabo ou Satanas.

Nem é possivel postular seriamente qualquer tipo de incompatibilidade ou averssão entre Deus e o sexo pelo simples fato do sexo fazer parte da natureza, da criação e da vida; correspondendo por isso mesmo a vontade de Deus...

E de certo modo a uma força, capacidade ou potência existente no Ser divino, como assinalou ou douto Vassili Rosanov.

No caso porque Jesus teria optado por nascer de modo anti natural?

Simples: para manifestar perante o gênero humano sua condição especial, divina e singular...

Daí a necessidade dum nascimento singular, unico, miraculoso e por assim divino.

Este argumento, disposto a teoria da divindade de Cristo, é tão eloquente que tendo Maomé questionado o mistério diante dum grupo de Bispos Ortodoxos, rebateram eles indagando porque sendo mero homem teria Jesus nascido de Virge??? Rezam as tradições muçulmanas que Maomé teria replicado: Mistério incompreenssivel... e despedido os Bispos em paz.

Mistério incompreenssivel este nascimento único, singular e miraculoso caso não admitamos a divindade do nascituro...

Segundo os mesmos preconceitos, parte dos antigos compreendeu que a Santa Virgem teria sido concebida dos mesmo modo e maneira, seja por um toque de orelhas ou por um amplexo dos mais púdicos... estatela Joaquim um beijo na testa de Ana e como Atenas saindo da cabeça partida de Zeus, entra a Virgem no seio de sua futura mãe...

Afortunadamente os sinodos condenaram esses hipóteses desabusadas e outras tantas que pretendiam ter sido o 'homunculo' da Virgem e/ou de Jesus trazido dos céus.

Destarte ela e/ou ele seriam de natureza diversa da nossa ficando destruidos pela base os mistérios da Encarnação e da Reconciliação.

Então devemos crer e professar que a Virgem foi concebida por meio de relações sexuais e que seu corpo fisico compõe dos elementos naturais presentes em Joaquim e Ana. No caso do Divino Mestre devemos compreender e crer que tendo sido concebido miraculosamente e sem pai humano, recebeu seu material genético apenas e tão somente da Santa Virgem sua mãe.





Nenhum comentário:

Postar um comentário