segunda-feira, 18 de março de 2013
LXVI - O paroxismo da dor: Por que me desamparastes?
Aqui mais uma 'cruz' teológica, que muito tem dado a pensar e queimado os neurônios dos teologizantes.
Referem os registros que estando o Senhor prestes a morrer teria pronunciado certas palavras, comumente vertidas do seguinte modo: 'Pai, pai porque tu me desamparastes?'
Ora esta tradução é absolutamente inexata e corrompida.
O Filho jamais apresentou-se como tendo sido abandonado pelo Pai; como se as duas pessoas divinas pudessem se separar uma da outra.
O que parece ter dito é: Deus, oh Deus porque me desamparaste?
Dizemos parece, porque o original aramaico da frase é apresentado de modo diverso por cada Evangelista.
Dando a compreender que embora Jesus tivesse pronunciado tais palavras em tom elevado, não as pronunciou corretamente, mas como quem balbucia ou treme, por causa da dor.
De fato temos: Eloi, Eloi, lema sabacthanei
Eli, Eli, lamá sabactani
Eli, Eli, lemá zaphtanei
Eli, Eli, lema sabaxthani
Em nenhuma destas exclamações retiradas do Salmo 22,1 cabe a palavra Pai.
Eli, Eli; derivado do radical primitivo EL, deve ser vertido como Deus, Deus e não como Pai, Pai.
Mas é perfeitamente possível que Jesus tenha repetido a mesmíssima frase doutro modo.
E não é possível descartar que também tenha pronunciado a frase transmitida pelo Evangelho de Pedro:
"Poderio, poderio, porque me desamparastes?"
Entre Deus e Poderio não há muita diferença.
Verifiquemos pois em que sentido poderia o Cristo ter sido abandonado por 'Deus' ou por seus 'poderes'.
Antes porém verifiquemos em que sentido não poderia ter sido abandonado.
Não poderia a natureza divina do Filho ter sido abandonada pela natureza divina do Pai; pois as pessoas que subsistem no Unico Deus, ainda que perfeitamente distintas, são inseparáveis.
Asim o Pai jamais poderia ter se apartado do Filho; abandonado ou desamparado seu Unigênito.
Em Deus não pode haver cisão ou separação mas absoluta e perfeita unidade.
Erram pois miseravelmente aqueles que neste passo separam as pessoas do Pai e do Filho.
Só nos resta suster que por 'Deus' ou 'poderes' devemos compreender a natureza divina de Nosso Senhor Jesus Cristo; pela qual, no paroxismo da dor, a natureza humana julgou-se desamparada.
Aqui mais uma vez o mistério da restrição ou da kenosis. Pois de 'poder' extraordinário algum a natureza humana torturada e agonizante, pode obter algum tipo de socorro ou de alivio.
Tendo de amargar até o fundo do cálice todas as dores da paixão.
Lenitivo ou suavidade alguma pode fruir Nosso Senhor sobre o calvário... amenidade ou consolação alguma. Apenas um torvelinho de infinita dor.
Daí sentir-se a humanidade do Cristo como desamparada pela divindade.
Eis a razão de seu grito!
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