No esquema da transcendência absoluta é deus espectador que assiste do alto do seu trono glórioso os combates, vicissitudes, sofrimentos, aflições, lutas, dores, suspiros e lágrimas porque passam suas criaturas mortais.
Ele até pode se compadecer vivamente delas mas não passa disso... o deus transcendente sente pena ou dó mas não vai além disto...
Ele não desce a arena da vida, não vem até nós, não compartilha de nossos problemas, não sente conosco... não participa de modo algum.
Então somos tentados a pensar que se desejou criar-nos mesmo sabendo que haveriamos de passar por tantos tipos e formar de sofrimento... e para tudo contemplar discretamente; que não passa dum sádico.
Outra é a perspectiva da Encarnação, pela qual Deus mostra-se solidário na medida em que se faz homem entre homens experimentando os mesmos dissabores e contrariedades que suas miseráveis criaturas.
Só aqui Deus deixa de ser observador para ser participante. Só aqui ele sai da platéia e desce a arena da vida para fraternizar-se conosco.
E como percebemos que ele nos acompanha, que sofre conosco, que conosco vive e morre; que leva a sério tudo isto, e que não é sádico e insensivel mas verdadeiramente beneficente, generoso, clemente, compassivo 'amante e amigo do gênero humano'.
Conforta-nos saber que o próprio Deus quiz suar, padecer, suspirar e chorar conosco ao assumir forma humana.
Este contemplar o Deus conosco na angústia, na tristeza, a amargura, na aflição, etc é que nos enche de esperança e que dá sentido a aflição. Pois na medida em que Deus passa pela dor o fenômeno da dor torna-se divino e instrumento de divinização.
Bom é ter Deus lado a lado e percebe-lo não como um assistente demasiado distante, mas como amigo e companheiro fiel; que comunga de nossa mesma condição.
Aqui não temos mais um deus arbitrário que exige paciência aos mortais; mas Deus bendito que dá exemplo de paciência ao gênero humano.
Deus que se fez homem para ensinar os homens a viverem divinamente, como ensina Inácio Mártir.
Deus que se adianta e se faz modelo. Deus que antes de perdir-nos executa...
Deus que mostra até onde chega seu amor.
E que demonstra ser seu amor infinito até a estalagem e a cruz.
Deus que declara e diz: tomai a vossa cruz; somente após ter carregado a dele.
terça-feira, 5 de março de 2013
XIV O sentido da Encarnação
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