O verbo se fez carne...

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A mãe do Verbo Encarnado

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A consciência histórica do Cristianismo

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sábado, 16 de março de 2013

LVI - Logos - Razão ou Verbo?







Não é por acaso ou aleatoriamente que certas tradições duvidosas tenham relacionado a figura do apóstolo João com a antiga metrópole de Éfeso, na Ásia menor.

Parece inclusive que tenha morrido nas proximidades dela (em Hierápolis ou Esmirna); sendo até provável que a tenha visitado e quem sabe consultado alguns manuscritos em sua afamada biblioteca; cujas soberbas ruínas chegaram até nós em relativo estado de conservação.

A relação entre João e Éfeso diz respeito a partícula 'Lógos' inserida no prólogo do quarto Evangelho.

Naturalmente que o conceito de 'Lógos' não foi inventado mas assumido pelo apóstolo e evangelista.

'Essa doutrina não foi criada no vácuo e não era inteiramente original a João.' como observa o profo Dr R N Champlinn; in Loc.

Pois remonta a Heráclito, pensador que teria florescido em Éfeso cerca do sexto século antes desta nossa Era.

Heráclito parece ter sido o primeiro filósofo a aludir a este princípio - mesmo sem empregar o termo - identificando-o com a razão, a mente, a sabedoria; nos termos de principio orientador do universo.

'Pensamento mediante o qual as coisas estão conectadas umas as outras." Fragm XIX

Esta portanto é a acepção original do conceito.

Aristóteles também se refere ao 'Lógos' aludindo ao elemento racional (em oposição a éthos e pathé).

Os estóicos por fim reforçaram esta identificação, definindo Lógos como a alma do mundo, potência sustentadora e orientadora do Cosmos ou como o elemento intelectual que governa o Universo.

A Septuaginta, no entanto, emprega 'Logos' com o sentido de 'palavra' ou 'Verbo' no Saltério. Reproduzindo o o hebraico Menra

Filo de Alexandria do mesmo modo concebe 'Lógos' como palavra embora distingua duas formas ou tipos:

O Logos prophorikos ou a palavra pronunciada e externa e o Logos endiathetos que é a palavra apenas concebida ou interna ou como essência imaterial da mente de Deus, ou seja como uma potência racional.

Quando nós mesmos empregamos a palavra Verbo, com a qual estamos habituados desde a infância, emprega-mo-la sempre de acordo com a segunda acepção, de um Verbo interno ou mental, querendo significar na verdade, que este Verbo é Razão ou mente e não propriamente Verbo ou palavra.

De fato os ocidentais estão de tal modo habituados - desde Jerônimo - a identificar o Logos com Verbo ou palavra (Lutero); que só nos resta mantar a forma; observando no entanto que nosso Verbo é endiathetos ou seja um fenômeno relacionado com a potência racional ou com a mente e não um discurso ou palavra externa, acepção que repudiamos como nociva.

A questão aqui diz respeito se João tomou o conceito de Filo e da Septuaginta, correspondendo ele a Verbo ou palavra como sustentam alguns ou se tomou-o as fontes pagãs, alias relacionadas com a cidade de Éfeso, correspondendo ele a Razão ou mente.

De fato assevera Maldonado 'Complicado este assunto, pois o significado é multiplo: razão, sabedoria, verbo, discurso ou palavra.' e acrescenta: "Assim cada qual traduziu a seu modo."

(Jerônimo como Verbum ou Verbo e Lutero como Wort ou palavra)

O próprio Jerônimo de Strindon fizera observar: "Logos é palavra grega que significa muitas coisas: palavra, razão, mente, causa de qualquer tipo, elemento sustentador; e tudo isto aplicamos a Cristo."

E no entanto sua definição é capital...

Assim declaramos já que somos partidários da segunda opinião. Segundo a qual João extraiu seu Lógos da filosofia helênica mantendo a acepção original de 'Razão' ou mente.

O próprio Justino no capítulo LXI das disputa com o rabino Tarfon, define Lógos como operação ou potência racional; então não se compreende que no fim do período os latinos vertam Lógos por Verbo ou palavra ao invés de verte-lo por razão ou mente; como é indicado pelo próprio contexto.

Parece que desejam adaptar Justino a Jerônimo ou apenas manter a forma tradicional e a qual estão afeitos e apegados.

Que Logos corresponda a razão ou mente é opinião de Origenes, Basilio, Gregório de Nazianzo, Ambrósio de Milão, Aretas de Cesaréia, Teophilacto de Ocrida e Eutimio Zigabeno; os quais eram exímios peritos na língua da Escritura divina.

Que seja originalmente Razão (endiathetos) que se converte em Verbo (prophoreticos) por meio da Encarnação é sentença de Atanásio, Eusébio, Cirilo, Damasceno, Hilário, Agostinho, Rufino e Fulgêncio; e apenas completa a anterior; que permanece essencialmente válida.

Neste caso deveríamos verter o 'Verbo' em seu período ante Encarnação, como 'Verbo interno', razão ou mente; e reservar a expressão Verbo ou palavra para o período pós Encarnação.

Assumindo o texto esta forma:

"No princípio era a Razão (ou Verbo endiatheticos (interno)
A Razão estava com Deus
A Razão era Deus
Estava a razão desde o princípio com Deus...
E a RAZÃO se fez carne e habitou entre nós."

Como o período em questão diz respeito ao tempo anterior a Encarnação ou ao tempo mesmo da Encarnação não se justifica de modo algum o emprego dos termos Verbo ou palavra; os quais deveriam ser reservados ao período de tempo posterior a Encarnação.

Esta distinção é necessária para que ninguém possa imaginar o Filho como mero epifenômeno ou palavra externa ao Pai e apenas proferida mas não pensada ou gerada por ele em termos de potência racional.

Também os arianos e unitários poderiam convir conosco a respeito do 'proferido' alegando que Jesus é a palavra externa de Deus no sentido de que comunica aos homens a sua vontade... Pois para ser palavra externa ou proferida não é estritamente necessário ser divino e até mesmo um profeta capaz de enunciar com exatidão a palavra de Deus poderia fazer juz ao título de 'palavra' ou 'discurso' de Deus...

Que criatura no entanto seria capaz de apresentar-se como sendo o 'Lógos' em sua acepção original e interna ou seja como mente ou razão divina???

Pois se concerne a mente ou razão de Deus, isto é, a uma capacidade ou potência interna sua, como deixaria de ser divina???

Daí a necessidade de mantermos a acepção estrita dos antigos Filósofos e dos padres gregos da Igreja e apresentarmos nosso Jesus não como mero Verbo externo ou proferido; mas como Verbo interno e pensado ou seja como Razão, pensamento, causa, orientação, lei e sustentação do Universo.
















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