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A consciência histórica do Cristianismo

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quinta-feira, 28 de março de 2013

XCIV - O caminho das seitas - O gnosticismo







Tal o ecleticismo helenista no campo da Filosofia, tal o sincretismo religioso ou gnosticismo.

Fruto da inter relação ocorrida entre o pensamento platônico e os mistérios a um lado e as grandes religiões orientais, como zoroastrismo, hinduísmo e budismo, a outro.

No gnosticismo ou sincretismo pagão tudo se identificava e completava-se por assim dizer.

Nele havia lugar para o deus supremo e incognoscível... e para os deuses tradicionais ora convertidos em anjos, arcontes ou eões...

Para a transmigração...

Para o maniqueísmo...

Para a teurgia...

Para o ascetismo...

Para o catastrofismo...

Destarte não demorou para que toca-se ao judaísmo, atingindo primeiramente os judeus helenistas e certamente, antes de todos, os de Alexandria.

Pois se, para Filon, Moisés estava de mãos dadas com Platão, para muitos Platão estava de mãos dadas com Orfeu, Zarates, Buda, etc

Ademais a alegoria tudo permitia e tudo conciliava.

Não demorou pois para que o gnosticismo principiasse a flertar com o Cristianismo.

Afinal se Moisés além de recorrer a alegoria, ministrara alguns ensinamentos secretos a um seleto grupinho de iniciados, por que Jesus não teria procedido do mesmo modo e maneria.

Assim, como os judeus cabalistas davam com toneladas de 'ensinamentos ocultos' debaixo de cada letra da Taurat; os 'cristãos' gnósticos forcejavam por encontrar os mesmos ensinamentos em cada 'entrelinha' do Evangelho...

Do mesmo modo e maneria, os 'cristãos' gnósticos acreditavam que um tipo de Cristianismo mais refinado havia sido revelado, ou pelo Senhor a alguns dos apóstolos - como Pedro, Paulo, Tiago maior, João e Tomé - ou pelos apóstolos a alguns de seus ouvintes quais fossem: Marsanos, Cleóbio, Silvano, Glaucias, etc

A respeito de tais figuras nada sabemos ao certo, embora algumas fontes pareçam corroborar-lhes a existência.

Os gnósticos no entanto afirmavam terem sido eles os prediletos dos apóstolos e os instrutores de seus mestres Menandro, Saturnino, Marcos, Valentino, Carpócrates, Heráclio, Ptolomeu, Bardesaian, etc

Assim, de terceira mão ou oitiva, no segundo século, eles passaram a codificar certas tradições supostamente apostólicas e a compor Evangelhos e Atos e nome de Pedro, Paulo, Tiago, João, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, etc

Duvidoso é antes de tudo o alegado vínculo existente entre seus Mestres e as citadas personagens que teriam se assentado aos pés dos apóstolos.

Embora seja certo que nenhum desses Evangelhos ou Atos seja anterior ao ano 100 ou mesmo a 120.

O que todavia indica a anterioridade do movimento ou da corrente. Que bem pode ter infectado os elementos da Igreja a partir de 70 ou mesmo de 60, independentemente da ação de Simão, o mago.

Destarte já sabemos porque Paulo, nas pastorais (escritas em 65/66) alude já, a tais elementos - Alexandre, Himineu, Filetos, Cleobio (na III Cor) - mas não como discípulos prediletos senão como opositores e apóstatas. O mesmo declara; joão, o discípulo (ou presbítero) a respeito de Diotefres.

Portanto se Marsano, Silvano e Glaúcias; dentre outros existiram de fato; ou tiveram seus nomes tomados de empréstimo; ou apostataram e mereceram o anátema dos apóstolos, a exemplo de Simão, o mago e Cleóbio.

Como já foi dito por nós os gnósticos acreditavam que do Deus Supremo (Abyssus ou Theos agnostos) procediam uma série de emanações ou entidades, uma mais imperfeita do que a outra - Sofia, Sofia Filha, Teletos, etc - até que a mais imperfeita e por assim dizer maligna produziu este nosso mundo material.

Diziam ainda que as entidades mais elevadas e puras por terem cometido algum delito foram precipitadas nos corpos dos homens mortais.

Que o demiurgo mau apresentou-se como 'deus' aos homens deste mundo com o objetivo de mante-los escravizados pela ignorância. Outros no entanto alegavam que ele dividiu este mundo com seus irmãos, ou seja, com as demais entidades malignas, de modo que cada qual tomou para si um povo ou uma nação; recebendo o nome de governador ou arconte. Tal a origem dos diferentes deuses...

Cada deus ou arconte oprimia seu 'rebanho' exigindo oferendas e sacrifícios.

Assim os homens, sob a tirania dos eões, anjos ou arcontes, permaneciam completamente ignorantes a respeito da origem divina de suas almas. E iludidos permaneciam neste plano e tomavam posse de novos corpos materiais perpetuando seus sofrimentos...

Compadeceu-se no entanto o Pai incognoscível e determinou 'redimir' tais homens comunicando-lhes o verdadeiro conhecimento sobre a origem da alma.

Eis porque enviou sua emanação primordial: o Logos, Filho ou Cristo cósmico, a este mundo material, com o intuito de instruir um grupo de iniciados. O Cristo cósmico apossou-se - durante o Batismo - do corpo do homem Jesus, filho natural de José e Maria, o qual veio a abandonar quando estava prestes a ser supliciado... Outros ensinavam que sendo o corpo de Cristo de matéria sutil ou aparente, desprendeu-se da cruz ou evaporou-se... ou declaravam ainda que Judas, ou Barrabás, ou Cirineu; havia sido pregado em seu lugar.

Quanto aos homens estavam divididos em três grupos:


  1. Os Pneumáticos ou espirituais: que procediam das entidades mais elevadas sem mistura com a matéria má. Alguns diziam que ele haviam sido criados pelo Logos ou por Sofia; sem que conhecimento do Demiurgo; tais os gnósticos que se salvam pelo conhecimento da verdade apenas
  2. Os psíquicos ou racionais: Neles há mistura entre o elemento procedente das entidades mais elevadas e a matéria má. Por isso eles precisam duma redenção pela fé e pelos sacramentos; até que a matéria má seja eliminada por completo. Tais os Ortodoxos, que purificados poderiam renascer como pneumáticos.
  3. Os hílicos, animais ou carnais (alogos): Neles não há elemento material, mas apenas matéria má procedente deste nosso mundo; são os filhos gerados pelo Demiurgo e devem desaparecer com este sistema. Tais os pagãos.


Segundo dizem eles quando o Demiurgo cessar de produzir entidades materiais Sofia filha retomará seu lugar no Pleroma, correspondendo esta redenção ao plano arquitetado pelos demais eões. E com ela irão os pneumáticos.

O próprio Demiurgo será integrado ao Kenoma com os psíquicos que restarem ao tempo.

Quanto aos carnais perecerão juntamente com a matéria má que compõem este nosso mundo.

Para eles Cristo, Nous, Espírito Santo, Salvador, etc constituiam diferentes eões ou anjos.

Eis porque nos deparamos em seus escritos com os mesmos nomes. O significado no entanto é totalmente diverso; porque enquanto nós acreditamos numa Trindade indivisível eles acreditavam em Trinta ou sessenta emanações ou entidades com vontades diferentes e operações opostas. Pois seu Pleroma é formado por trinta deuses partindo da Ogdoada e o Kenoma da mesma forma.

Naturalmente que cada mestre ímpio apresentava o sistema a sua maneria; assim sendo Sofia, Nous, Cristo, Salvador, Espírito Santo, Demiurgo, etc desempenham papéis diferentes, segundo a imaginação de cada um... E havia tantos 'pleromas' quanto cabeças...






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