O verbo se fez carne...

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A mãe do Verbo Encarnado

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A consciência histórica do Cristianismo

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domingo, 21 de abril de 2013

CVI - Padres apostólicos. Que são e quem são???







De acordo com a Enciclopédia Católica o termo "Padres Apostólicos" foi criado em 1672 por Jean Baptiste Cotelier (Cotelerius) tendo em vista a publicação da obra intitulada: 'SS. Patrum qui temporibus apostolicis floruerunt ópera' ou "Obras dos Santos Padres que floresceram nos tempos apostólicos." Em 1699 o título foi abreviado para Bibliotheca Patrum Apostolicorum ou Biblioteca dos Padres Apostólicos.

Por padres apostólicos devemos compreender um seleto grupo de escritores e obras cujo florescimento se situa entre a segunda metade do primeiro século e a primeira metade do segundo século desta nossa Era.

Queremos dizer com isto que tais homens foram ouvintes, colaboradores e sucessores imediatos dos Apóstolos i é das testemunhas oculares da palavra. E que suas obras conservam a tradição legada pelos emissários, vigários e arautos do abençoado Salvador as primeiras gerações; assim a doutrina pura, imaculada e perfeita.

Face aos apóstolos eles seriam Diádocos, enquanto os Padres propriamente ditos, discípulos seus seriam Epígonos.


Seriam eles o 'elo de ligação' - perdoem a redundância - entre os primeiros padres propriamente ditos, que floresceram a partir da segunda metade do segundo século e aqueles que o Verbo escolheu, dignificou, santificou e enviou para que iluminassem as nações, i é os Apóstolos. Quanto ao Isnad ou testemunho ocupam o primeiro lugar ou posto. Assim a autoridade de um padre subsequente deve estar vinculada a um padres apostólico enquanto via de acesso aqueles que foram chamados por Jesus Cristo.

Cronologicamente falando, os escritos deles sucedem imediatamente aos escritos que temos em conta de canônicos. Sendo assim fica fácil compreender porque alguns dentre eles - Como o Didaqué por S João Damasceno, a Carta de Barnabé e o Pastor de Hermas no Codex Sinaiticus e as Cartas de Clemente romano no Codex Alexandrinus e no Cânone dos Apóstolos LXXXV - não foram apenas apontados como canônicos mas efetivamente anexados ao corpo da Escritura.

Este testemunho é mais do que suficiente para demonstrar o apreço e a consideração de que tais escritos eram objeto nos primeiros séculos. A ponto de terem sido associados aos escritos canônicos...

A Igreja no entanto alijou-os do Canôn, que fechou-se com o livro da Revelação.

Sem que no entanto, ao menos no Oriente, o prestígio de tais obras sofresse qualquer tipo de dano.

Pois para a consciência genuinamente Cristã constituem eles o que há de mais precioso após o Novo Testamento. Na medida em que correspondem a compreensão que os ouvintes e colaboradores dos apóstolos faziam a respeito de suas obras, inspiradas e canônicas.

Eis porque a importância dos mesmos é insubstituível, caso tenhamos em vista um padrão de compreensão histórico/objetivo dos escritos cuja inspiração postulamos. Eles são os portadores do sentido...

Para nós Ortodoxos eles constituem a parte mais nobre e excelente daquela tradição que denominamos 'apostólica'.

Devendo ser examinados com toda reverência e atentamente estudados.

Eis porque julgamos vantajoso oferecer ao estudante Católico uma listagem de tais escritos:



  • A Didaqué ou 'Doutrina do Senhor ministrada pelos apóstolos as nações'; escrito de origem Síria composto entre os anos 90 - 110 ou mesmo entre os anos 70 - 80 desta Era.
  • A Carta escrita por S Clemente de Roma a Igreja apostólica de Corinto na Grécia. Cerca de 96/97 desta nossa Era.
  • A Carta atribuída ao apóstolo Barnabé. Composta entre os anos 90 e 120 desta nossa Era.
  • A coleção de sete cartas escritas por S Inácio Mártir, Bispo de Antakia, cerca do ano 110 desta Era.
  • A carta de S Policarpo aos Filipenses, composta cerca de 120 desta nossa Era.
  • Os fragmentos das 'Exegeses das palavras do Senhor' composto entre 120 a 140 por S Papias, Bispo de Hierápolis.
  • O livro intitulado 'O pastor' composto por Hermas irmão de Pio I, cerca de 130 - 140 desta nossa Era.

As obras intituladas: "Apologia de Aristides, o filósofo a Adriano" composta cerca de 125, "A Apologia de Quadrato de Atenas" ou Digneto (P Andriessen), "O Dialogo entre Jasão e Papisco" composta cerca de 120 - 130 por S Aristion de Pela, amanuense de Marcos de Jerusalém e as obras de S Justino Mártir 120 - 160 e de S Melito de Sardes apesar da vetusta antiguidade, não são contadas entre os 'padres apostólicos' por uma razão bastante simples e compreensível: Foram escritas por conversos do paganismo e do judaísmo num momento qualquer posterior ao ano 100 desta Era e, consequentemente, após as mortes dos apóstolos, com os quais não tiveram contato direto. Assim Aristides parece ter recebido a fé após a morte de S Clemente, Ariston parece ter aderido ao caminho no tempo de segunda rebelião judaica e Justino enfim abraçado a verdade cerca de 120 ou mesmo 130 desta era. Portanto embora tivessem sido, talvez, contemporâneos das derradeiras testemunhas não entraram em contato com elas porque não pertenciam a igreja de Cristo.





Segue o site onde V ilma pode adquirir esta preciosa obra:

CV - As origens da Patrística e da Patrologia

Da-se o nome de Patrologia ao estudo das vidas dos assim chamados Padres da Igreja e o nome de Patrística ao estudo de suas obras e ensinamentos. Por padres da Igreja compreende-se, em sentido estrito, todos os escritores cristãos Ortodoxos que floresceram, no Ocidente até o ano 1000 e no Oriente até Eutymio Zigadeno. Grosso modo são divididos estes padres em duas categorias, os ante ou pré nicenos, anteriores ao Concílio geral de Niceia, congregado em 325 e os pós nicenos, compreendendo todos os escritores que floresceram daí até o ano 1000. Podemos ainda, cindir a Era patrística em três idades: Ascensão, apogeu e declínio, considerando a ascensão o período anterior a Niceia, o apogeu o século IV como um todo, dita 'Idade de ouro' dos padres da Igreja, e por fim o declínio do século V ou VI ao ano 1000.

Constituem portanto, domínios da patrística todas as produções literárias destes grandes homens: Poesia, hinologia, exposições exegéticas, exposições teológicas, tratados de controvérsia, decretos conciliares e sinodais, etc Num sentido mais lato ou geral deve-se incluir neste nicho até mesmo as inscrições encontradas nos templos, cemitérios, etc bem como as produções dos escritores heréticos e as produções pseudo epigráficas, chegando a patrística a confundir-se com o estudo da antiga Literatura Cristã em sua totalidade.

Para nós ortodoxos a Patrística e a Patrologia identificam-se com a Tradição, fonte primária da Revelação divina e da Sagrada Teologia. Daí sua importância capital. 

Quando iniciaram-se tais estudos?

É a Eusébio de Cesaréia, na célebre História Eclesiástica, que se deve atribuir a primeira tentativa no sentido de se fazer um levantamento geral de toda literatura Cristã elaborada até seu tempo (330). Todavia, em certo sentido esta tentativa remontaria a S Clemente de Alexandria (+215), o qual, cerca do ano 200, transferiu-se para a Palestina, fixando-se em Cesareia Marítima. Os livros que para lá levou ao deixar Alexandria, foi que formaram, muito provavelmente o núcleo daquela Biblioteca, paulatinamente aumentado por S Orígenes - que nela depositou sua prodigiosa Hexapla - e pelo Mártir Pânfilo, predecessor de Eusébio. Tanto Eusébio quanto Jerônimo, dentre outros, passaram parte considerável de suas vidas ali estudando. Destarte é a H E informe importantíssimo a respeito de certo número de obras para nós completamente perdidas, assim as de Pápias, Miltiades, Claudio Apolinário, Aristion de Pela, Rodon, Apolônio, Filipe de Gortina, Melito de Sardes, Candido, Sexto, Apion, Musano, etc

A primeira obra por assim dizer específica em termos de Patrologia foi o 'De viris illustribus', um catálogo com cerca de 135 escritores eclesiásticos, elaborado em 392 desta Era por Jerônimo de Stridon. Ele tomou por modelo a obra homônima de Suetonius, e por fonte principal Eusébio. Jerônimo teve quatro continuadores: Genádio de Marselha, um século depois, pelos idos de 490, legou-nos pouco menos de 100 monografias. Predestinato, que escreveu no Norte da África. Isidoro de Sevilha e por fim Idelfonso de Toledo, o qual pelos idos de 660, aditou as vidas e obras de oito escritores eclesiásticos oriundos da Hispania.

No Oriente, já em parte conquistado pelos infiéis, o Patriarca S Fócio, elaborou sua 'Biblioteca' onde além de nos fornecer notícias preciosas sobre os autores resenhou cerca de 280 códices - em parte Cristãos - que havia lido, a maior parte dos quais, acabou perdendo-se. A parte, foi ele quem compôs uma preciosa Epítome de Filostorgio. Cerca do ano 1000 desta Era uma equipe de monges eruditos elaborou a Enciclopédia a que chamamos 'Suídas', a qual por si só contém em si uma patrologia inteira.

Quanto aos assim chamados Florilégios ou coletâneas de referências patrísticas temos: O Mendigo de Teodoreto, o 'Contra ímpio gramático' de Severo de Antioquia, a 'Vie dux' de Anastácio sinaita, a 'Doctrina Patrum' de Anastácio o apocriśario e a 'Sacra parallela' (com cerca de 6000 citações dos antigos Padres, 4.500 ainda não identificadas!) de S João Damasceno.

Durante a Idade média novos catálogos de escritores eclesiásticos ocidentais foram elaborados pelos latinos Sigeberto de Gembloux e Honorato de Autun. Outro ensaio de Patrologia, pertence a pena do erudito abade Thrithemyus. Antecipando o Nomenclator de Hurter, entram eles pela Idade Média, daí o valor reduzido de cada um deles.

Entre os siríacos o primeiro catálogo de literatura aramaica/árabe Cristã foi confeccionado por Mar Ebed Jesus Bar Bikra - paz com ele! - metropolita de Sanjar, Soba e Nishevan, no ano de 1298, um precioso elenco, adicionado a Marganitha.

Como era de se esperar foi o interesse pela Patrologia e pela Patrística reativado pela Reforma protestante, sendo Guilherme Postel, um dos primeiros a dedicar-se a ele. Foi seguido por Aloysius Lippomanus (1551) com sua 'Sanctorum priscorum patrum vitae, Antonio Possevino (1593) com sua Biblioteca Selecta, Le Naim du Tillemont com suas eruditas monografias (Memoires...), D Remy Cellier (Histoire generale...), Natalis Alexandre (Selecta historiae...), Theophile Renaudot et Antoine Arnaud (la perpetuité de la foi...), Louis Ellie Du Pin (Nouvelle bibliothéque de auteurs ecclesiastiques), W Cave (Scriptorum ecclesiasticorum...), Roberto Bellarmino Card (De scriptoribus eccles.)... E posteriormente por Tricalet, Fessler/Jungmann, Xaver Funk, Bardenhewer, Rauschen, J Tixeront, F Cayré, B Altaner, J Quasten, Drobner e Trevijano, dentre outros.


Quanto as publicações patrísticas propriamente ditas, principiaram em larga escala com Margarin de La Bigne, um cônego de Bayeux. Cerca de 1575 iniciou ele a edição da Bibliotheca sanctorum patrum, na qual constam mais de duzentas obras. Posteriormente outras coleções foram preparadas por J de  Combéfis, J B Cotellier (Cotellerius), Fabricius (luterano, 1705, Bibliotheca graeca...), Iusuf ibn Siman; Assemani (1719 - Bibliotheca Orientalis), Bernard de Montfaucon e Andr Galandi, dentre outros. Por fim, financiado pelos anglo Católicos e enfrentando imensa objeção por parte da Igreja Romana, Jean Paul Migne - estimulado por Pitra - publicou sua monumental Patrologia entre 1844 e 1866. M Lat consta de 217 vols e vai até 1216. M Grega consta de 162 vols e vai até 1439. Quanto a Patrologia aramaica/árabe a mais completa foi editada em Paris por F Nau e A Graffin.

Atualmente temos diversas publicações em andamento, assim a coleção 'Sources Chrétiennes, da eds Du cerf, iniciada por Jean Daniélou em 1942. A B A C dos salmanticenses espanhóis e assim o editorial Ciudad nueva. Em inglês é famosa a Ethereal Library. Em Português contamos apenas com a coleção Patrística da ed Paulus, ainda deveras incipiente.


Lista com os nomes dos principais padres da Igreja
  1. Século I - S Clemente de Roma
  2. Século II - S Pápias, Aristion de Pela, S Policarpo, S Justino, S Irineu, S Clemente de Alex., S Quadrato, S Aristides, Claúdio Apolinário, Hegesipo, Taciano, Rodon, Filipe de Gortina, S Atenagoras de Atenas, S Teófilo de Antioquia, Serapião de Antioquia, Dionísio de Corinto, Melitão de Sardes, Apolônio, Miltiades, Sexto, Apion, Cândido, Musano, Agripa Castor, S Polícrates de Éfeso, etc
    Esc heréticos - Bardesanes, Harmônius, Herácleon, Apeles, Themision, etc
  3. Século III - Caio ou Gaio, Hipólito, Orígenes, Arquelao, Malkion, Cipriano, Metódio, Novaciano, Vitorino de Poetabio, Gregório Taumaturgo, Júlio Africano, Pânfilo; o mártir, Dionísio de Alexandria, Theognostus, Pierius, Pedro de Alexandria, Arnóbio; o antigo e Lactâncio Firmo.
  4. Século IV - S Alexandre de Alexandria, S Atanásio de Alex., S Dídimo; o cego, S Eusébio de Cesareia, Marcelo de Ancira, Basílio de Ancira, S Epifânio de Salamina, Jerônimo de Stridon, Rufino de Aquileia, S Basílio; o grande, S Gregório de Nissa, S Gregório de Nazianzo, S Diodoro de Tarso, S Cirilo de Jerusalém, S Teodoro de Mopsuéstia, S Policrômio de Apamea, S Eusébio de Vercelli, S Hilário de Poitiers, S Anfilóquio de Icônio, S Ambrósio de Milão, S Optato de Milevi, Teófilo de Alexandria, Lucifer de Cagliari, Astério de Amasea, Filastrio de Brescia, Afraates; o Sírio, Efraim; o sírio, Apolinário de Laodicéia; o velho, S Máximo de Torino, S Severiano de Gábala, S Makarios de Magnésia, Eustátio de Antioquia, Tito de Bostra, etc
  5. Século V - Cirilo de Alexandria, Nestório de Constantinopla, S Vicente de Lerins, S Leão de Roma, S Juliano de Aeclanum, S Eusébio de Dorileia, S Flaviano de Constantinopla, S Teodoreto de Cirro; o abençoado, S Adriano; o exegeta, Evágrio; o presbítero, S Pedro Crisólogo, Arnóbio; o jovem, S Fausto de Riez, S Genadio de Marselha, S Virgílio de Tapso, Hesíquio de Jerusalém, Genádio; o grande - de Constantinopla, S Proclo de Constantinopla, Eutério de Tiana, Ibas; o grande - de Edessa, Sócrates; o escolástico, Sozomeno, S Isidoro de Pelúsio, Estevão Bar Sudhaile, Ticonius, etc
    Esc eclesiástico - Agostinho de Hipona
  6. Sec VI - S Severo de Antioquia, Estevão Gobar, João Filiponos, João de Citópolis, João de Cesaréia, Leôncio de bizâncio, Hipacio de Éfeso,  Teodoro de Raitheou, Anastácio de Antioquia, Eulógio de Alexandria, Timóteo de Constantinopla, Gregório Dialogos,  Eneas de Gaza, Sofrônio; o grande - de Al Kudush, S Facundo de Herminoas, S Victor de Toununa, Zacarias; o rector, S Filoxeno de Mabbug; 'Xenaias', Cassiodoro de Vivarium, etc
    Escritor ecles - Fulgêncio de Ruspa.
  7. Sec VII - S Máximo; o confessor; S Anastácio; o sinaíta, Hormisdas de Roma, S Isidoro Hispalense, Ildefonso de Toledo, Anastácio apocrisário, etc 
  8. Sec VIII - S João Damasceno, S André de Creta, S Beda, o venerável, S Teofanes; o confessor, S Germano de Constantinopla, Alcuíno de York, Beatus de Liebana, etc
  9. Sec IX - S Teodoro do Studion, S Fócio; o grande, Hincmar de Reims, Pardalus de Laon, Scottus Eurigena, Ratramnus, Florus de Lyon, Jonas de Orleãns, Lupus Servatus, Rabano Maur, Alcuino de York, Enéas de Paris, Paulo, Anastácio; o Bibliotecário, Amulário de Lyon, Agobardo de Lyon, Pascal Radberto, Ishak al Kinda, Thimoteos de Al Kudush, Teodoro de Abu Haran, etc
    Esc eclesiástico - Prudêncio de Troyes.
  10. Sec X - Agapius de Hierápolis, Eutíquio de Alexandria, Aretas de Cesarea,
  11. Sec XI - Valsamon, Kedrenus, S Theophilacto de Ochrid, Yaya; o cronista e S Eutimio Zigadeno.
  12. Post - Dionisius Bar Salibi, Gigis abd Hamid; Elmakin, Mihail; o Sírio, Grigori Bar Hebraeus, Girgis de Nissibe, Suleiman de Basra, Ishodad Merwan, Ebed Jesus; Bar Bikra...
Aqui citados cerca de 175 homens base.

CIV - Das designações, nomes ou títulos da Igreja de Cristo




  • Em Antakia recebemos pela primeira vez o nome de 'Cristãos' e assim fomos designados por cerca de um século.
  • É possível, no entanto, que antes disto os seguidores de Jesus tivessem sido designados pela alcunha de 'Nazarenos' como ainda hoje são chamados pelos seguidores de Maomé.
  • Como no entanto a partir do ano 70 surgissem diversas seitas que disputavam o nome Cristão; a comunidade original, fundada pelos apóstolos recebeu o nome de 'Católica' ou universal, sendo assim designada por Inácio Mártir, o teóforo em suas cartas.
  • O povo no entanto designava-a sob a alcunha de 'grande e antiga igreja'.
  • S Clemente de Alexandria julgou por bem acrescentar o termo "Ortodoxa' que significa 'aquela que não se desvia ou que não se altera' ou seja imutável. Este termo foi adotado em oposição ao termo 'latino' ou romano porque também os membros da comunhão papal revindicam para si o título de Católicos.
  • Os termos Una, Santa e Apostólica foram associados pelos padres de Nikaia congregados em 325.

sábado, 20 de abril de 2013

CIII - O conceito de Salvação nos escritos dos Santos Apóstolos 03





Resta-nos agora desfazer a suprema confusão implementada pelos apóstolos do pecado, ou seja, por tantos quantos postulam graça frágil e salvação fácil; sem mudança, penitência ou conversão do coração.

Hoje há anglicanos, romanos e mesmo ortodoxos; um número assombroso de Cristãos, alistados debaixo da bandeira da falsa salvação...

Eles vivem uma vida comum ou medíocre e creem que mesmo assim cumprem em suas almas e corpos o propósito de Jesus Cristo.

Acometem toda sorte de maldades a seus semelhantes e creem ser dignos da eterna salvação apenas porque vivem com o Santo nome em seus lábios ou porque muito rezam.

Creem que lhes basta a correção escrupulosa da fé ou que a frequência aos santos sacramentos seja suficiente para que mereçamos uma boa sorte no além túmulo.

Iludidos por falsos mestres e doutores; por sacerdotes ignorantes e pastores sem vocação eles julgam que um tipo de arrependimento meramente superficial ou teórico satisfaça a justiça de Jesus Cristo obtendo-lhes uma ressurreição de vida.

No entanto é necessário que as verdades amargas sejam ditas do alto dos telhados, quer agrade ou desagrade a quem quer que seja.

Pois caso um cego conduza outro cego irão ambos ao abismo; a menos que alguém os advirta.

Indício de crueldade em nossas almas seria contemplar nossos irmãos amados dirigirem-se ao abismo e nada fazer por eles.

Necessário é declarar: Cristandade esta senda larga e cômoda porque tens te embrenhado a cinco séculos não é aquela senda estreita e íngreme apontada pelo divino Mestre...

Ou como diria Kierkegaard não é senda do compromisso... Por que enquanto Cristo veio para tornar as coisas ainda mais difíceis para os escribas e fariseus; na medida em que tornava as exigências e condições mais duras, Lutero parece que veio - em nome de Paulo - para tornar as coisas mais fáceis e agradáveis.

Cristo apontando para a cruz do calvário esforça por deitar xarope amargo a boca do homem velho e carnal. Lutero deita-lhe logo a boca um gostoso torrão de assucar e lhe diz:

"Se Cristo aproximasse de ti exigindo ou solicitando alguma coisa sabe que é um diabo. Cristo nada exige de ti e nada te pede além da fé. Ele nada, nada te pede, te dá ou te oferta a salvação graciosa. E nada precisas fazer além de tomar posse dela..."

Evidentemente que uma 'novidade' destas... segundo a qual o homem nada precisa fazer. Deveria atrair as simpatias da turba multa, das massas e de toda gente inseta de heroísmo e abnegação.

Uma a uma as exigências do Evangelho são derrogadas por ele... até que não restam nem mesmo os fundamentos.

De fato em sua sabedoria o Verbo dispôs de perdão e indulgência a tantos quantos exercendo reparação e penitência pelas maldades de outrora; aspirassem por um novo começo e por uma nova vida; isenta de pecados e maldades e em tudo conforme a Santa vontade de Deus.

A esta obra divina chamamos regeneração.

Por meio dela é oferecida ao homem, que antes de seu encontro com Cristo viva segundo a lei de iniquidade, uma nova chance ou oportunidade. Com a condição de que produza frutos dignos de penitência...

Aqui o estímulo do indulto foi disposto para a correção.

Recebe o pecador convertido - após certo período de penitência destinado a reparação dos males que causou - o perdão divino para que não torne a cometer pecados.

Trata-se pois não dum sistema de perdão incondicional ou irresponsável que estimula o homem a pecar novamente; mas dum sistema de correção altamente eficiente.

No qual o indulto é oferecido em troca de compromisso.

Não é porta que se abre para que o homem possa pecar tanto mais facilmente e ser aliciado com falsas promessas de salvação. Não é brecha que se abre para criminosos obstinados e impenitentes...

Não é e jamais poderia ser uma proposta de perdão fácil e contínuo para estroinas sem consciência.

Não é festival em que o indulto é oferecido fácil e repetidamente...

Embora a Cristandade do tempo presente, seduzida por falsas promessas e propostas esteja convencida de que é assim mesmo.

Eis porque foi subvertida a instituição Cristão, de fábrica de santos e mártires como era nos primeiros séculos em fábrica de canalhas...

Que é este Cristianismo da salvação incondicional senão uma fábrica de psicopatas como Adolph Hitler.

Pois enquanto uns alegam que não há perdão possível para ele e que Hitler era uma espécie de 'prova viva' a respeito da necessidade de penas eternas; outros afirmam que o mesmo Hitler seria perdoado num instante, de todos os seus pecados, por uma ato de fé somente: sem qualquer necessidade de reparação ou penitência...

Aqui os extremos do protestantismo se tocam.

Pois se uns ignoram que seja a ilimitação da misericórdia divina outros ignoram que seja a virtude divina da justiça. Os infernistas desconsideram o primeiro fator supondo que as capacidades divinas conheçam qualquer tipo de limite; já os solifideistas ignoram que o Deus encarnado Jesus Cristo identifica-se com nossos irmãos mais pequeninos; membros de seu corpo. Membros nos quais sofreu e pelos quais exerce rigorosa justiça exigindo reparação.

Antes atraia o Cristianismo as almas mais fortes que aspiravam alijar a carga da iniquidade e tomar sobre si mesmos o jugo divino do bem e da virtude... Hoje atrai apenas degenerados cuja pretensão é justificar a continuidade dos pecados...

E tendo em vista justificar tipo de vida tão infame vem logo a baila com a fraqueza da vontade; pondo de lado, sem maiores cerimônias, a tão decantada soberania da graça. Afinal se a graça é assim tão soberana a ponto de quebrar ou de violar a vontade humana porque não seria forte e soberana a ponto de capacitar o homem a prática do bem e da virtude???

Como Lutero já dizia É O MISTÉRIO DE SUA MAJESTADE ou melhor: o mistério do protestantismo e de sua incapacidade moral.

Pois se não há capacidade moral não há qualquer evidência externa a respeito da posse da graça... pelo que podemos supor que não há graça alguma mas apenas discurso...

Acaso não declara o apóstolo: Deveis ser santos em todas as vossas ações, segundo esta escrito 'Sêde santos como eu sou santo'? I Pe 1,16

Como crer ou professar então uma santidade meramente externa ou aparente???

Acaso não declara o mesmo Pedro - I Pe 1,17 -  pouco mais abaixo: 'PELAS VOSSAS OBRAS SEREIS VÓS JULGADOS'???

Então como se diz que o homem se salva sem obras ou que se salva pecando???

Muito pelo contrário a cada página deste novo e perpétuo Testamento nos deparamos com censuras e advertências, e exortações no que concerne ao pecado.

'Vai e não peques mais!'

É ordem dada pelo Mestre amado a pecadora.

Agora respondei-me como poderia ela manter-se fiel ao Mestre amado e corresponder a sua vontade caso fosse impossível ao Cristão cessar de pecar???


Teria Jesus zombado da mulher e exigido o consecução duma meta impossível???

Que Cristo mentiroso nos apresentam os homens!

No entanto seja a verdade dada por verídica mesmo que Lutero tenha de ser proclamado mentiroso.

Pois se este diz que o homem se salva em seus pecados, em sua condição ordinária ou no exercício e prática da iniquidade; Jesus diz a pecadora perdoada que lhe é necessário deixar de pecar...

Eis porque aludindo ao Nome de Jesus, o primeiro Evangelista declara:

"PORQUE ELE VEM RESGATAR O POVO DE SEUS PECADOS."  Mt 1,21

E sabemos que esta preposição não é ociosa.

Eis porque diz Aquila: 'Assim se voluntariamente pecamos APÓS TERMOS OBTIDO O CONHECIMENTO DA VERDADE, NÃO HÁ REPARAÇÃO POSSÍVEL E APENAS ESPERANÇA DE JUÍZO TERRÍVEL A SEMELHANÇA DO FOGO ABRASADOR." Hb 10,26

E acrescenta que se deve resistir ao pecado 'até o sangue' 12,4; querendo dizer com isto que é mais vantajoso abandonar a vida presente do que causar qualquer tipo de dano ou prejuízo ao semelhante.

Pedro a seu tempo assevera que: "O amor isenta de muitos pecados."

Querendo dizer com isto que aquele que ama verdadeiramente evita pecar.

João no entanto, é dentre todos o mais terminante:




  • Aquele que nele permanece não peca - I Jo 3,6
  • Se o peca não o viu nem o conhece. - Id
  • Quem comete pecado é do Diabo - I Jo 3,8
  • Todo aquele que nasceu de Deus não prática pecados - I Jo 3,9
  • Não PODE PECAR porque é nascido de Deus - Id
  • Nisto podereis saber quem é filho de Deus e quem é filho do Diabo, porque cada qual procede segundo a vontade de seu Pai.
  • Aquele que nasceu de Deus não peca. - I Jo 5,18
  • A geração divina o protege e o maligno não pode atingi-lo. - Id


E apesar disto o mesmo João fez questão de declarar:

"Quem diz não ter pecado é mentiroso."

Teria entrado ele em franca contradição???

Se aqui diz ser mentiroso quem alega estar isento de pecado enquanto mais além, e em diversos declara que o bom Cristão não peca.

Como solucionar esta aparente oposição?

Por incrível que possa parecer a solução parece-me bastante simples:

Quando diz que nenhum de nós pode alegar estar completamente isento de pecados, alude João, muito provavelmente aos pecados cometidos nos tempos da ignorância - ou da juventude - i é, antes do encontro com Cristo Jesus. E não a situação dos Cristãos após a conversão ou no tempo presente; esta incompatível com a prática do mal.

Apesar disto os contrários costumam que tanto os escritos dos apóstolos - Tg 5,16 - quanto a própria tradição litúrgica da igreja supõe a possibilidade do Cristão pecar na medida em que aludem a necessidade de confessar os pecados e de rezar impetrando o perdão divino.

Donde se infere que de algum modo continue o homem a pecar mesmo após sua conversão; e a hipótese de que se salva em seus pecados ou cometendo o mal.

Efetivamente a questão mostra-se insolúvel caso adotemos a perspectiva protestante e seus preconceitos.

Referi-mo-nos aqui a doutrina segundo a qual todos os pecados pertencem a mesma categoria sendo por assim dizer graves ou mortais. Doutrina partilhada igualmente pelos antigos estoicos para os quais não havia muita diferença entre assassinar a própria mãe e quebrar o pescoço duma galinha.

Caso admitamos que todos os pecados são absolutamente iguais só nos resta consentir que de fato o homem afasta-se de Deus a cada dia e torna  a ele novamente pelo remorso ou dor de consciência no instante seguinte... num perpétuo unir e desunir...

Eis porque se faz mister recorrer a mesma fonte a pouco citada ou seja a primeira carta de S João capítulo quinto (Vs 16)

"Caso teu irmão cometa um pecado que NÃO É PARA A MORTE; rogue por ele e ele obterá a vida. PORQUE ESTE PECADO SEU NÃO É PARA A MORTE."

Eis porque toda Igreja Católica do Oriente ao Ocidente em sua Eutáxia faz suplicar para os fiéis o perdão dos pecados.

Tendo em vista os pecados leves ou veniais que de fato podemos cometer durante o curso da vida terrestre e mortal; mesmo após termos recebido o Santo Batismo e a regeneração celestial.

Porque este tipo de pecado, que diz respeito apenas a própria conduta e não ao semelhante, é impotente para romper o vínculo da graça e por assim dizer apartar o fiel de Jesus Cristo. Eis porque se diz que não extermina ou aniquila o princípio da vida divina e espiritual que esta em nós...

Quanto ao outro tipo, categoria ou gênero de pecados vejamos no entanto o que diz o teólogo:

"SE NO ENTANTO SEU PECADO É PARA A MORTE NÃO RECOMENDO QUE ROGUE POR ELE." 

Porque a vida espiritual, uma vez aniquilada pelo pecado mortal, não pode ser recuperada por meio de intercessões ou súplicas.

Porque estes pecados são os que dizem respeito a nossa atitude face ao semelhante.

Neste caso resta apenas 'o segundo Batismo' ou a 'segunda tabua de salvação' que é o sacramento da Exomologese ou Penitência; cujo objetivo é levar o pecador arrependido a reparar as consequências daquilo que fez.

Nos tempos gloriosos dos apóstolos, mártires e padres este recurso além de ser limitado - a uma ou três vezes - era dum rigor extraordinário; tendo em vista conduzir o pecador a uma compreensão tanto mais realista a respeito dos efeitos do pecado e leva-lo a odiar verdadeiramente este princípio.

Assim a disciplina severa mantinha vivo o amor e a fraternidade mútua; impedido os santos de causarem qualquer tipo de danos uns aos outros.

Quando a penitência canônica foi convertida em simples declaração ou confissão de pecados ou em simples orações e fórmulas a serem recitadas; eclipsou-se a disciplina e esfriou o amor dando lugar a este triste e calamitoso estado de coisas; a ponto dos Cristãos praticarem o mal e o pecado sem qualquer tipo de constrangimento ou como se se tratasse de algo comum, desculpável e compreensível.

Para a mentalidade da Igreja antiga ou primitiva no entanto não era.

E sequer se imaginava a simples possibilidade da graça coabitar com o princípio do pecado.

Portanto quando nos escritos dos antigos depara-mo-nos com tais alusões ao pecado como algo presente na vida do Cristão devemos compreender que se trata ou dos 'pecados da juventude' cometidos antes da adesão a Jesus Cristo ou de pecados que 'não são para a morte' ou seja de pecados que não comprometem a união da natureza racional com seu Senhor. E não em sucessivos e contínuos pecados graves ou mortais...

Outro não era o parecer do apóstolo predileto de Lutero. O qual assim se exprime em termos bastante claros:

"Onde superabundou o pecado, super abundou a graça."

E com a graça do Deus Bom e perfeito tudo quanto é bom: a virtude, a santidade, a perfeição, as obras, etc

Veio de fato Jesus para salvar os pecadores mas não dum diabo ou apenas do castigo espiritual; veio de fato salva-los da situação de pecado. Como médico das almas veio comunicar-lhes o remédio necessário para torna-las sãs e eliminar a enfermidade... Como pedagogo divino veio comunicar-lhes a verdade que imuniza e o antidoto do amor... Como pastor espiritual veio conduzir os fiéis ao aprisco da lei eterna.









CII - O conceito de Salvação nos escritos dos Santos Apóstolos 02





Para nós ortodoxos Deus certamente fez sua parte, tomando a iniciativa e estendendo sua mão amorosa a humanidade fragilizada...

Convém que cada pessoa, que cada criatura racional, que cada ser humano estenda-lhe sua mão e faça contato com ele.

Posto em contato ou comunhão com seu Senhor o homem encontrará a força necessária para viver virtuosamente. E desta parceria da graça com a liberdade resultará a santidade ou perfeição...

Isto significa no entanto que o homem merecerá algo na medida em que propõe-se a colaborar livremente com a graça divina.

Não são pois os ortodoxos, os romanos ou os anglicanos que excluem a graça, a unidade ou a comunhão divina. Todos reconhecemos os benefícios e vantagens da união dos ser racional com seu Senhor...

Todos reconhecemos a graça ou a união com o sagrado como raiz, fonte e princípio de todo bem e de toda virtude.

São os fanáticos que excluem deliberadamente a liberdade ou a cooperação humana; tudo atribuindo a graça; até chegarem a abominável doutrina da soberania absoluta e da predestinação.

A razão dos protestantes procederem desta maneira é porque eles não podem compreender ou admitir o mérito; mesmo quando as obras são executadas após o primeiro contato com a graça (ou a justificação) eles continuam dizendo que a graça esta sendo comprada... Eles não podem aceitar ou cogitar que a salvação seja um processo decorrente da justificação e que comporte qualquer tipo de colaboração por parte da vontade livre...

Neste caso há barganha insinuam eles e a graça já não é graça...

A salvação deve ser gratuita continuam e como tal obra exclusiva de deus sem participação ou colaboração do homem.

Eis porque eles costumam a descrever o amor de Deus como incondicional e a salvação como gratuita...

Para Lutero Cristo não legisla e já não há qualquer tipo de lei divina, de exigência, de compromisso...

Não existem condições, normas, regulamentos, preceitos, leis, princípios ou valores... apenas graça obtida por uma fé que se reduz a confiança.

O 'sola gratia' exclui a livre vontade ou a colaboração humana e o 'sola fides' exclui o resultado desta colaboração ou seja as boas obras.

Em suma o homem se salva como é ou melhor como sempre foi... salva-se sendo totalmente depravado, salva-se em seus pecados, salva-se cometendo os piores crimes e atrocidades.

Porque os merecimentos de Jesus Cristo acobertam-nos... porque na mesma medida em que peca, crendo estar salvo, o sangue de Jesus responde por ele, e satisfaz a inflexível justiça divina.

Jesus sofreu as penalidades todas dos pecados para que os pecadores nada possam sofrer...

Bem se vê que neste esquema de salvação não há qualquer espaço para a ética.

E que estamos diante duma teologia imoral... cuja confecção foi atribuída ao apóstolo Paulo, logo a Jesus...

De fato Paulo ao expor os mistérios de Jesus Cristo teve de inovar e de criar por assim dizer todo um vocabulário teológico... No mais das vezes ele pode tirar algum proveito das figuras do AT ou dos Midrashes; noutras porém teve de partir do nada ou da estaca zero...

Eis porque seu aparato teológico foi classificado por Pedro como difícil, a ponto de 'SER MANIPULADO PELOS ÍMPIOS PARA A VERGONHA DELES...'

Quem queria Pedro dizer com isto senão que na idade apostólica os ensinamentos de S Paulo já sofriam abusos? Recebendo muito provavelmente uma interpretação solifideista ou Luterana??? Que Pedro encara como sendo errônea.

Fortemente impressionados face a severidade com que Paulo increpa a Lei cerimonial dos antigos judeus; acreditaram tais pessoas que Paulo estivesse increpando a lei moral e anunciando uma salvação imoral, fácil, oportunista ou seja no pecado.

Paulo no entanto precisava salientar a natureza da graça ou da comunhão divina posta em segundo plano ou ignorada por seus antigos mestre e guias... a importância da fé ou da divina Relevação.

E o fez de tal modo e com tal ênfase que houve quem acreditasse ter ele anunciado uma salvação sem obras nos termos de Lutero. Foi com o objetivo de orientar tais pessoas que S Tiago achou por bem registrar, no segundo capítulo de sua carta, que a 'Fé sem obras é morta em si mesma.' ...

Não é que Paulo tivesse ministrado tais ensinamentos. Foi no entanto mal compreendido por uns e falseado por outros tendo em vista a complexidade de seu vocabulário.

Por Pedro e Tiago somos informados de que tal não era o sentido original de suas palavras... mas interpretação falaciosa de alguns...

Como no entanto podemos ter assim tanta certeza a respeito disto???

Simples: Basta-nos ler os quatro Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João; para percebermos de modo cabal que a versão luterana de Paulo é um autêntico fiasco; como já haviam advertido Pedro e Tiago.

Afinal no Evangelho tudo é condição ou exigência...

Basta ler as Bem aventuranças...

Dirá algum pastor que ao lermos as Bem aventuranças estamos aludindo a opções???

Opções que você poder cumprir ou não sem que isto toque a sua salvação???

Será que posso optar por ser belicoso ao invés de pacífico, de ter o coração sujo ao invés de limpo, de amar a injustiça ao invés da justiça??? E salvar-me do mesmo modo ou maneira???

Será que as bem aventuranças estão ali de enfeite ou como adorno???

Então dê razão a Lutero rasgando-as...

Temos ainda o derradeiro pronunciamento do Senhor no primeiro Evangelho, pertinente ao último dia e ao julgamento.

Estive com fome e me destes de comer, com sêde e me destes de beber, nu e me cobristes...

Será que ainda aqui estamos diante de opções neutras face a salvação???

E que posso salvar-me mesmo que tenha fechado o coração para o semelhante e o deixe morrer de fome, sede ou frio???

Então risquem também esta passagem do Evangelho de vocês.

E vão eliminando as condições e exigências que encontram a cada passo...

Só assim darão com a salvação totalmente gratuita ou incondicional  e fácil porque cobiçam.

Do contrário terão de engolir estas palavras divinas: Com paciência salvareis as vossas almas... E NÃO SOMENTE COM FÉ...

Ou será que a paciência também é opção???

Eis porque disse o divino Mestre: "Quem me ama executa OS MEUS MANDAMENTOS."

Serão opcionais estes mandamentos???

Mas se posso tanto cumpri-los como não cumpri-los por que receberam este belo nome???

Será que não é preciso fazer nada???

Ouçamos o que diz Jesus: "Aquele que escuta a minha orientação e não põe em prática é como aquele que construiu sua casa sobre solo arenoso, veio a chuva, destruiu os alicerces e a casa caiu..."

Será que posso me salvar como sou e estou? Em meus pecados???

Demos novamente a palavra a nosso Mestre amado:

"Então eles se aproximarão dele e dirão: profetizamos em teu nome e em teu nome realizamos prodígios E ELE LHES DIRÁ: APARTAI-VOS DE MIM PRATICANTES DA MALDADE..."

A cada página dos Evangelhos nos deparamos com testemunhos que evidenciam esta verdade: o Paulo de Lutero não esta de acordo com Jesus...

Nem com os demais apóstolos...

Pois Pedro declara: "Ele julga a cada qual segundo suas obras." I Pedro 1,17

& João "Se amamos a Deus cumprimos seus mandamentos." I Jo 5,2

& Aquila: "Deus jamais esquecerá o memorial das vossas obras." Hb 6,10

& o livro da Revelação: "Abençoados os que adormecem no Senhor repousam de seus trabalhos E SUAS OBRAS OS ACOMPANHAM."

Por fim o Paulo de Lutero não esta de acordo nem consigo mesmo...

Segundo podemos inferir da leitura de sua carta a Igreja de Corinto: "Por hora restam três virtudes: a fé, a esperança e a caridade NO ENTANTO A VIRTUDE SUPREMA É A CARIDADE."

E não a fé...

Pois 'Deus é amor' e não fé...

E disse 'Nisto vos terão por meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.' e não pelo simples fato de crerem...

E noutra parte o 'abortivo' explicita a que tipo de fé se refere: "Salvos sois pela fé QUE OPERA PELA CARIDADE." Gl 5,6

E sentencia: "Sejam estimulados em toda BOA OBRA..." II Tess 2,17

E noutro passo: "Que assim se apliquem as boas obras." Tt 3,8

Pois aquele que vive pecando (refere na mesma carta): "Professa com a boca... MAS NEGA-O COM AS OBRAS." 1,16

Assim convém ao Cristão: "Repudiar todas as obras das trevas..." Rm  13,12

E estar cônscio de que "Aqueles que de Cristo vivem CRUCIFICARAM A PRÓPRIA CARNE E TODA INIQUIDADE, VÍCIOS E CONCUPISCÊNCIAS... e assim não vivem segundo as obras manifestas da carne... MAS PRODUZEM FRUTOS NO ESPÍRITO." Gl  5,19 sgs

Segundo a semente tenha da graça tenha caído na terra fértil da boa vontade.

Assim, em comunhão com ela: "Produzirá frutos cem por um, sessenta por um e trinta por um."

Assim, declara o mesmo Paulo, não há liberdade para praticar a maldade ou contra o mandamento do amor, que resume em si toda lei divina. Gal 5, 14

Contra este mandamento sagrado e Cristão não há apelo possível a liberdade.

Percebamos então que o ensino de Paulo a respeito da ética, da virtude, das boas obras, da santidade, da perfeição, etc ESTA DE PLENO ACORDO COM O ENSINO DOS DEMAIS APÓSTOLOS E DE JESUS CRISTO.

Toma possa o homem da graça de Deus e é elevado por ela COM O OBJETIVO DE FRUTIFICAR EM BOAS OBRAS.

Portanto SE 'não é justificado por obras'; mas apenas pelo encontro com o Verbo Jesus; é justificado para as obras: PARA O BEM, PARA A VIRTUDE, PARA A SANTIDADE...

De modo que a união com Cristo, sendo fecunda, capacita-o a cumprir plenamente a vontade de Deus em sua vida.

E como a justificação é apenas o primeiro passo dado no processo de salvação através do qual a graça interage com a vontade humana; segue-se que a salvação ou seja a conservação/manutenção e ampliação da graça divina; concretiza-se pelo cumprimento da vontade de Deus, pela observância da lei de Nosso Senhor Jesus Cristo e pela execução de Santas e boas obras.

Assim já sabemos porque aquele que enterra o bom 'talento' que lhe foi entregue por Cristo, AO INVÉS DE FAZE-LO MULTIPLICA-LO E RENDER POR MEIO DAS OBRAS; perde-lo-a. Porque a graça não foi comunicada para ampliar o domínio do mal e do pecado mas para capacitar o 'homem novo' refeito a imagem do Verbo; a triunfar da maldade e vencer o pecado.

Não se trata de elemento moralmente neutro ou passivo; mas de elemento ativo, dinâmico e capaz de auxiliar o homem na verdadeira obra de reforma que é a reforma da vida.

Eis porque deve o Cristão conformar-se a imagem de Cristo, assimilar sua conduta, imitar seus exemplos e toma-lo como modelo de perfeição; segundo ele mesmo decretou: "Sêde perfeitos como vosso Pai do Céu é perfeito."

Ora Deus não exerce pecado.

Assim: "O que vive de Deus não deve pecar!"

Mas viver de Deus pela obediência, pela submissão e pela reverência.

Pois a árvore boa produz bons frutos e a árvore má maus frutos; cada uma conforme sua condição.

E não pode a árvore boa deitar maus frutos ou a árvore má deitar bons frutos; segundo a palavra do Senhor.

Assim os Filhos de Deus vivem segundo a vida de Deus executando obras de luz.

Conforme suplicam na Grande Oração eles se tornam aptos a santificar o nome de Deus, o Pai, em suas vidas, dando bom testemunho da graça.

Já os filhos da maldade; membros da geração ímpia procedem segundo as já aludidas obras das carne; mesmo quando declaram-se salvos ou predestinados.

Pois suas obras más manifestam que não estão em Cristo e que são mentirosos.

E se dizem que não podem cair; devemos saber que é porque já caíram e jamais estiveram em Cristo. Estavam - nominalmente - entre nós mas não era dos nossos. E por que???

Porque suas obras eram iniquas e indignas da 'Verdade que liberta'. Porque a vontade deles permanece escravizada e preza ao padrão do mau exemplo, legado pelas antigas gerações e prevalecente neste nosso mundo.

O apóstolo no entanto disse: "Aquele que de Deus nasce vence o mundo."

'E nem os mandamentos são penosos para ele.'

Porque ama verdadeiramente o Pai do céu que o resgatou e deseja vive segundo a vontade deste bom Pai.

Então nós não compramos a salvação nem barganhamos com Deus.

Mas merece-mo-la certamente porque executamos a sua santa vontade e tomamos como padrão de moralidade.

E merece-mo-la porque ele, decretando exigências e condições, dispôs que cumpríssemos livremente com tais exigências e condições.

Quisesse Deus que a graça por ser assim tão gratuita fosse estéril, incondicional, desbragadamente livre e compatível com o exercício do pecado... teríamos um Evangelho fácil sem cruz, senda estreita, límites, normas, regulamentos, leis, etc Tal evangelho no entanto não existe!!!

Pois seu fundamento mais remoto é uma determinação: Amai-vos uns aos outros e não uma opção.

Efetivamente os protestantes tem a louca pretensão de acertar entre eles e Cristo a questão da salvação; excluindo por conta e risco todas as condições e exigências...

Lamentavelmente, como não disponibilizaram a graça... não lhes compete ou a quem quer que seja, determinar como deva ser sua fruição.

Tendo Nosso Senhor assumido a humana natureza e condição com o intuito de manifestar sua divina graça é certamente a ele que cabe o direito de determinar como devemos proceder para fazer juz a ela ou obte-la; bem como o uso que dela devamos fazer. Ele tomou a iniciativa ele dispõe... e nós, como contemplados que somos, acatamos.

A simples leitura do Evangelho - tão alardeada pelos protestantes - basta a criatura racional para que compreenda que a graça da união com Deus não é fim último que se esgota em si mesmo; mas meio ou instrumental disposto para que o homem viva conforme a vontade de Deus. Assim se a fé foi disposta para a graça, a graça foi disposta para a caridade ou a virtude recebendo dela sua forma e vida.

Como o combustível dispõe o automóvel ao movimento, a graça dispõe a criatura racional a execução da virtude e a uma vida verdadeiramente santa; segundo o eterno propósito e vontade do Deus Santo e Bom.

Então vemos que a graça de Cristo não é graça frágil e aparente disposta para a derrota; mas graça hábil e prestimosa para tudo quanto seja nobre, louvável e bom.

Não é graça fiducial, externa e vicária; mas graça real que atua na alma do homem como a energia elétrica nos aparelhos... capacitando-os a realizarem suas vocações.










sexta-feira, 19 de abril de 2013

CI - O conceito de Salvação nos escritos dos Santos Apóstolos 01






Há muito foi o Cristianismo definido como uma religião de salvação.

É necessário todavia saber com exatidão de que Jesus salvar-nos veio.

Porque os homens mortais tem apresentado diversas teorias de salvação.

Uns uma salvação exagerada de entidades, seres e castigos que na realidade não existem e outros apenas uma meia salvação, que de forma alguma corresponde ao propósito de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Alguns tem crido e professado que Jesus nos veio salvar dos problemas e vicissitudes da vida presente e de fato grande número de romanos e ortodoxos para não falarmos nos nossos protestantes acreditam que o principal ofício de Nosso Senhor é interferir no plano físico ou material, quebrar as leis da natureza e realizar inesgotáveis sinais e prodígios em nosso favor como seja tirar as bicheiras do gado, curar frieiras, localizar objetos perdidos, etc

Trata-se dum padrão religioso bastante comum em nossos dias. E muito bom cristão pensa que é assim mesmo e que o fim de nossas religiosidade esta aqui mesmo na terra.

Fosse assim em que seriamos superiores aos hotetontes, bosquímanos, sioux, etc enfim aos povos primitivos? Comungando do mesmo fetichismo e partilhando da mesma ingenuidade em que se destacaria da deles a espiritualidade por nós cultivada???

A religião popular, mantida pelas massas incultas é mesmo assim: folclórica; e doutro modo não poderia ser.

Temo no entanto que não corresponda a sublimidade do nosso Evangelho palavra sempre viva de Jesus.

Temo que o padrão religioso do Evangelho seja bem outro e que sua meta esteja noutro 'lugar'.

Pois aqueles que lhe pediam sinais, prodígios, milagres, pão e peixe disse ele: 'Ainda não pedistes o essencial: o Espírito Santo.'

Parece que foi justamente para isto que o Verbo se manifestou: para que pudéssemos adquirir plena comunhão com o sagrado ou como se diz vida em plenitude, vida em abundância, vida espiritual...

Naturalmente que a vida do corpo precisa de pão e que o homem deve lutar por ele; não no entanto com orações e preces, mas com os meios ordinários que lhe foram dispostos pela natureza.

Daí dizer o apóstolo: 'De nada adianta dizer aqueles que carecem de comida e vestimenta: irei e rezarei por vós...'

Eis porque outros, um pouco mais esclarecidos postulam outro tipo de salvação, tanto mais espiritualizada, postulando que o Senhor veio salvar o homem do pecado.

A nós nos parece que estes leem muito bem o Evangelho.

Pois o Salvador assim se exprimiu; logo depois de ter aludido ao jugo do pecado: 'Se o Filho vos libertar sois verdadeiramente libertos.'

A maioria destas pessoas no entanto, estando mal orientada, acredita que os pecados são cometidos por sugestão duma entidade maléfica a que chamam diabo, demônio ou Satanás e asseguram que Jesus vindo salvar o homem do pecado, veio preserva-lo da influência de Satanás ou salva-lo dele.

E como aquele que peca e pertence ao Diabo esta disposto a uma situação de punição espiritual - que muitos asseveram ser perpétua -  após a morte, a maior parte das pessoas também acredita que Jesus veio salva-las da punição ou do inferno.

Temos pois diante de nós três espécies ou tipos de salvações, a princípio concomitantes: do pecado, do diabo e do inferno.

Afortunadamente a mentalidade Ortodoxa sempre se manteve fixa no primeiro item, anunciando a salvação do pecado.

Os latinos no entanto oscilaram.

Os romanos por exemplo; contaminados pela superstição do diabolismo, multiplicaram os exorcismos e apresentaram nosso Cristianismo como uma salvação do Diabo... tradição que tem sido mantida atualmente pelos pentecostais...

Para os quais a 'salvação' da-se comumente sob a forma de um exorcismo...

Também a salvação das 'penas eternas' foi salientada com demasiada insistência pelos pregadores latinos. De acordo com esta perspectiva não menos supersticiosa e funesta Jesus teria se manifestado com o intuito de anular as penalidades espirituais e apagar as 'chamas' do tal inferno... acolhendo tantos quantos apelassem a seu sangue, suas chagas, etc

Assim percebemos já que tudo tinha mesmo de dar onde deu e que os latinos mais cedo ou mais tarde perderiam completamente de vista o cárater integral e sobretudo ético da salvação enquanto salvação do mal e do pecado ou salvação para a virtude.

E embora Lutero tenha sido o primeiro a arvorar esta 'meia salvação' ou 'salvação incompleta' como dogma de fé; veremos que se trata dum perigo que acompanha a Cristandade desde a Idade apostólica.

Para quem não esta suficientemente bem informado Lutero aboliu o primeiro item da lista, sustentando muito seriamente que o homem jamais poderia ser salvo do pecado.

Era pois o homem salvo do Diabo e do Inferno EM SEUS PECADOS.

Por mais que a teologia papista estivesse já podre e carcomida a pregação de Lutero não pode deixar de produzir um arrepio de horror nas almas piedosas e de produzir um verdadeiro 'choque'. Choque que calou profundamente no fundo da consciência Cristã provocando um tumulto tão estrondoso que estende-se até nossos dias...

Basta dizer que até seus dias poucos haviam se atrevido a postular uma salvação no pecado. O máximo que ousavam dizer - sempre influenciados por Agostinho - é que a restauração divina não excluía a permanência de certa debilidade ou fraqueza nos santos, a qual possibilitava eventuais 'quedas' ou reincidências por parte dos restaurados... Disto porém não se passava.

Então podemos dizer que a primeira brecha no Evangelho foi aberta pelo santo Bispo de Hipona ao declarar que a restauração ou a cura operada pelo verbo era frágil e não efetiva. Esta brecha foi alargada mil anos depois pelo reformador saxão ao declarar que a restauração era meramente vicária, superficial ou aparente; jamais atingindo o interior do homem enquanto vida.

Primeiramente as exigência do Evangelho foram amenizadas e o mistério sagrado da Penitência corrompido; posteriormente as exigências do Evangelho foram explicitamente negadas, a lei de Jesus Cristo repudiada e até mesmo o nome da penitência riscado e apago... Sendo tudo tudo creditado na conta da fé.

Ora nós devemos, a luz dos Evangelhos e do novo Testamento, buscar compreender como tais transformações foram acontecendo e como o mistério da restauração foi sendo paulatinamente descaracterizado pelos homens mortais.




B - Lutero, Paulo e Paulinismo


Para começo de conversa vamos já informando o amigo leitor que a nova espécie de Salvação esta relacionada com uma super valorização dos escritos do Apóstolo Paulo - a que denominamos 'paulinismo' - e a uma má compreensão ou incompreensão no que diz respeito ao significado dos mesmos.

O que não devemos atribuir a iniciativa de Lutero.

Então fique bem claro que por Paulinismo não compreendemos qualquer tipo de contradição - doutrinal ou dogmática - entre o pensamento de Paulo e o de Jesus (existem diversas contradições sim; mas apenas no plano da ética ou da moral e não no âmbito credal) ou entre o ensino de Paulo e dos demais apóstolos. Por 'paulinismo' compreendemos como já foi dito a concessão duma certa primazia doutrinal - por parte dos Cristãos mal orientados - aos escritos de Paulo e um entendimento inexato a respeito do que Paulo costumava ensinar.

E embora saibamos que erros tão lamentáveis tenham sido apresentados como fundamentos doutrinários por iniciativa de Martinho Lutero; convém sabermos que não foram concebidos unicamente por ele e que tampouco foi ele o primeiro a acalenta-los.

Antes de tudo gostaríamos de deixar bem claro a nossos antagonistas, os sectários; sejam luteranos, calvinistas, paulinistas, etc que somos Cristãos, e que sendo Cristãos temos por referencial a figura de Jesus Cristo e suas palavras registradas nos quatro Evangelhos e que para nós esta distinção entre a palavra do Verbo Jesus e do apóstolo e servo Paulo é crucial.

Nosso principio coordenador, que dá significado e interpretação a todas as passagens da Escritura não são a Epístolas paulinas mas os quatro Evangelhos.

Nossa base ou fundamento não é o 'corpus paulinum' mas o Evangelho.

Nosso Senhor, legislador e Mestre não é Paulo; mas Cristo.

Portanto nós não cremos que o anúncio de Jesus precise ser esclarecido por qualquer outro anúncio; antes julgamos que a pena apostólica deva ser julgada pela pena evangélica.

Nosso padrão de ortodoxia é Jesus Cristo e nosso supremo e último critério suas palavras. 

Então nós não situamos os escritos do Verbo Encarnado e os escritos de seu apóstolo no mesmo plano supondo que gozem do mesmo grau de nitidez ou clareza. Nós não acreditamos que Jesus e Paulo tenham se exprimido com o mesmo nível de exatidão.

Embora os ensinamentos sejam idênticos a reverência nos obriga a reconhecer que o modo de se expressar do Salvador seja mais claro ou superior.

A doutrina é a mesma; mas o modo como é exposta não. E nós cremos que aqui Jesus leva vantagem.

Não admitimos pois que Paulo explique, esclareça ou elucide a palavra de Jesus Cristo; pois isto nos obrigaria a admitir que Paulo é tanto mais excelente ou que seja o Mestre do Mestre...

Eis porque julgamos que Lutero e seus protestantes coloquem o carro diante dos bois... e que tenham invertido e subvertido a economia dos testemunhos.

Nós vamos de Paulo ao Evangelho para que suas palavras e ensinamentos sejam provados e não do Evangelho a Paulo...

A este erro que é tão grave os protestantes associam um outro que consiste em ignorar qual seja o cárater dos escritos paulinos e a forma ou modo porque devem ser analisados.

Quanto ao cárater dos escritos paulinos julgam os protestantes, como fazem alias com todas Escritura - até mesmo com os registros do testamento velho e abolido - que seja de fácil compreensão até mesmo para aqueles que mal sabem soletrar as palavras... Esta é a opinião humana e falível dos protestantes a qual vivem a repetir como se fosse uma ladainha.

Vejamos no entanto o que declara a 'tão estimada' palavra pura de Deus:

"COMO NOSSO IRMÃO PAULO VOS ESCREVEU, conforme o entendimento que lhe foi comunicado, como EM TODAS AS SUAS CARTAS NAS QUAIS HÁ COISAS DIFÍCEIS DE SE COMPREENDER." II Pedro  3,15 sgs

Seja pois Deus verdadeiro e os pastores protestantes mentirosos.

Pois o que declaram ser tão fácil a ponto de ser compreendido por um analfabeto ou por uma criança; um dos apóstolos de Jesus declara ser de difícil compreensão.

A simples leitura desta passagem deveria ter acautelado Lutero e outros para que evitassem edificar sistemas  fundamentados unicamente nas palavras do apóstolo Paulo. Eles no entanto não levaram tal oráculo em consideração...

Basta dizer que jamais houve qualquer esforço da parte deles para que as palavras de Paulo fossem examinadas face as palavras dos demais apóstolos; digo de Pedro, Tiago, João e Judas cujas epístolas também fazem parte do Novo Testamento e expõe os mistérios divinos. Grosso modo os protestantes abastecem seu arsenal nas epístolas de S Paulo e ignoram supinamente o testemunho de Tiago, de Pedro, de João, de Judas...  

É como se existisse um apóstolo apenas: Paulo... e suas epístolas.

Há no entanto vício ainda pior em termos de exegese protestante.

Aludimos aqui ao escandaloso recorte feito por Lutero no epistolário paulino.

Pois Paulo não escreveu menos do que treze cartas. (Hebreus não foi escrita por ele mas pelo alexandrino Aquila)

Era de se supor que Lutero tivesse queimado suas pestanas durante longos anos examinando detalhadamente o conjunto do 'corpus paulinum' de modo a absorver ou assimilar o conceito paulino de salvação. Ao menos tivesse ele, Lutero, assegurado que assim procedeu, e ao menos poderíamos conceder-lhe o privilégio da boa vontade...

Queremos dizer com isto que para obtermos uma ideia mais ou menos exata do pensamento paulino a respeito de qualquer ponto doutrinário deveríamos analisar cada uma de suas cartas e comparar umas com as outras... ao invés de nos concentrarmos unicamente nesta ou naquela carta, nesta ou naquela passagem, neste ou naquele verso. Sob pena de compreendermos parcial e distorcidamente o pensamento do santo homem.

Foi exatamente isto o que Lutero fez; pois como registra Dale Owen na 'Região em litígio...':  'Lutero só tinha olhos para alguns capítulos da carta de Paulo aos romanos e todo seu sistema foi elaborado com base na leitura desta epístola sem considerar os demais escritos do apóstolos, dos demais apóstolos ou do próprio Jesus. Para Lutero ali estava a medula ou quintessencia do Evangelho em meia dúzia de passagens desta carta...'

O próprio Lutero registrou em diversas ocasiões que 'deu com a verdade' ignorada por todos ao ler um determinado verso desta epístola. E sobre este e mais outro verso elaborou seus sistema...

Não é possível imaginar fundamento mais frágil...

Pois sendo o NT constituído por mais de duas dúzias de registros e tendo Paulo escrito uma dúzia deles; Lutero e seus filhos concentraram-se apenas em algumas passagens duma única carta, a saber romanos, o 'evangelho' deles. Importa perguntar: e as duas cartas aos Corintios, e a carta aos Gálatas e as três pastorais dirigidas a Timóteo e a Tito que é feito delas???

Aqui os protestantes limitam-se a catar alguns fragmentos e a garimpar algo tendo em vista 'confirmar' aquilo que julgaram encontrar no 'novo evangelho' ou seja em romanos. Jamais vão além ou exercem estudo mais aprofundado; pois Gálatas sobretudo, bem como as pastorais, contem testemunhos suficientes com que minar e sacudir pela base o edifício que creem ser divino.


Concluímos este estudo inferindo duas coisas:

  1. A teologia protestante peca por estribar-se prioritariamente no testemunho de Paulo e não no de Jesus
  2. A teologia protestante peca por não considerar os escritos do Novo Testamento ou mesmo os Escritos de Paulo em seu conjunto.
E partindo destes pressupostos anuncia um tipo de salvação totalmente diverso daquele que foi proposto aos homens por Nosso Senhor Jesus Cristo e seus abençoados apóstolos.






sexta-feira, 5 de abril de 2013

C - A sorte de João Zebedeu

A respeito de João Zebedeu, o 'discípulo amado' existem inúmeras tradições e relatos contraditórios.




Porquanto o emprego deste nome era muto comum entre os judeus do tempo do Senhor.

Assim temos João Batista, João apóstolo e João, o presbítero.

Cujas vidas acabaram sendo associadas e confundidas pelos antigos. Até formarem um labirinto impenetrável...

Segundo a hipótese mais aceita e prevalecente entre as igrejas apostólicas João teria morrido de morte puramente natural ou de velhice; com mais de 90 anos-  segundo S Epifânio - no nono ano de Trajano, isto é, cerca de 106 desta Era. Estava tão velho que era levado a congregação numa cadeira (Filipe de Side) e limitava-se a repetir dia após dias estas palavras: "Ame-mo-nos meus filhos porque o amor vem de Deus." 

O latino Tiago especifica que S João morreu com cerca de 99 anos, enquanto os Atos de S Prócoro sustentam que faleceu aos 100 anos de idade.

Justino, Irineu (Apud Eusébio) Clemente, Efraim e Jerônimo também apontam os primeiros anos de Trajano como assinalando a passagem do Apóstolo. O último por sinal declara: "Adormeceu ele 68 anos após a paixão do Senhor." o que aponta para os anos 100/102 i é cerca do terceiro ano de Trajano.

Temos então que faleceu entre 100 e 106 com cerca de 95 ou cem anos; e inferimos que deva ter nascido entre aos anos 1 a 10 desta Era sendo dez ou vinte anos mais novo que o Senhor e trinta ou quarenta anos mais novo que Tiago, o justo; o decano do colégio apostólico.

Segundo Hipolito de Tebas sua mãe Salomé era filha de S José e João seu neto; sobrinho de Tiago, o justo e do próprio Jesus.

O já citado Filipe de Side sustenta - em nome de S Crisóstomo (do qual fora Diácono) que João foi recolhido com mais de 120 anos sob Adriano; o que denota uma tentativa de aumentar a idade do apóstolo e obedece a um determinado propósito.

Segundo esta tradição após ter abandonado Jerusalém - onde ainda se encontrava cerca de 50 e talvez mesmo em 60 - João teria seguido para a Asia (Eusébio) ou seja para a Asia Menor ou a atual Turquia; estabelecendo-se entre Hierápolis, Esmirna, Laodicéia e Efeso; i é, Caria, Frígia e Lícia.

Onde teria vivido por quase meio século.

Que por lá tenha estado e vivido durante algum tempo e que seu túmulo estivesse localizado em Efeso parece absolutamente exato.

Cerca de 190, Polícrates de Efeso assim se expressava: "Entre outros luminares... João, aquele que descansou sobre o coração do Senhor,  padre adornado com a placa de prata, mártir e mestre repousa em Efeso." 

Ora Polícrates pertencia a uma dinastia de Bispos efesinos que remontava a no mínimo a primeira metade do século I.

As tais informes Jerônimo acrescenta o seguinte:

Após Domiciano ter mandado chamar a Roma os parentes de Jesus,  fez vir também, de Efeso, o discípulo amado. E como este não consentisse em abjurar determinou que fosse mergulhado numa tina de azeite fervente junto a porta latina. E tendo o apóstolo saído miraculosamente ileso...  mandou-o o imperador para a ilha de Patmos..." Isto no 'Comentário a S Mateus' 20,23

Em memória deste 'fato' os latinos inseriram no calendário deles a festividade de "S João na porta latina".

"Ora quando Nerva ascendeu ao trono e fez revogar todos os decretos de seu predecessor João pode regressar a Efeso onde veio a falecer com quase cem anos." nas 'Vidas dos homens ilustres'

Aqui a referência é Eusébio em nome de Irineu e Clemente.

Ali parece ter sido Tertuliano, o qual assim se expressa:

"O apóstolo João foi primeiramente mergulhado numa panela de óleo fervendo e depois enviado ao exílio." in 'Prescrição contra os heréticos' XXXVI

Quanto a 'fonte' de Tertuliano parecem ter sido os 'Atos de João' atribuídos por Gelase a um certo Leucius Carino, 'discípulo dos apóstolos'. A primeira parte, atualmente perdida, devia conter uma narrativa minuciosa a respeito do'martírio' joanico.

Todavia, como assinalam diversos padres, e o decreto atribuído a Gelase, os ditos atos de Leucius eram demasiado extravagantes para serem tomados por verídicos.

Uma vez que ele faz vir tudo que é apóstolo a Roma, para duelarem com Nero, Domiciano, Tibério ou mesmo Claudio...

Concluímos pois que a narrativa da 'porta latina', extraída de tais 'Atos' apócrifos, é no mínimo duvidosa; para não dizermos rocambolesca.

Também é estranho que Irineu, Clemente e o próprio Eusébio - bem mais críticos que Tertuliano - não a tenham mencionado. Mesmo Justino parece ignora-la.

Outra informação procedente de Irineu é que Policarpo e Papias teriam sido ouvintes de S João. Jerônimo adianta-se ainda mais e afirma ter sido Policarpo sagrado bispo de Esmirna pelo próprio apóstolo. Daí se cognominado 'anjo' ou vigilante da mesma igreja pelo autor do Apocalipse.

O próprio Papias nos fragmentos que restam de suas exegeses declara ter sido ouvinte do 'Presbítero João'... que uns identificam com S João, o apóstolo enquanto outros dizem tratar-se dum apóstolo homônimo.

No caso o apóstolo homônimo, radicado na Ásia, é que teria ultrapassado os noventa anos de idade, composto as duas pequenas Epístolas e o Apocalipse e, provavelmente, instruído Papias e Policarpo. O apóstolo, radicado igualmente na Ásia, teria sido martirizado cerca de 70/80 ou mesmo 85/90 por seus compatriotas judeus.

Há inclusive quem suponha - com base em alguns testemunhos - ter perecido ele na própria Judéia antes da destruição de Jerusalém e jamais passado a Ásia.

Acaso não fora forjada uma tradição a respeito da ida da Virgem a Éfeso? Quando sabemos que a mesma senhora jamais deixara Jerusalém... Que há pois de admirável quem que tradição análoga tenha sido forjada em torno da figura de S João???

Nós o entanto não aventuramos negar que S João tenha passado a Ásia; vivido ali por algum tempo, ali falecido e sepultado em Éfeso.

Quanto a duração de sua vida e gênero de morte no entanto; as tradições mais antigas parecem apontar para uma data mais precoce e para uma supressão brusca...

Assim os hinos maniqueístas cujas fontes deitam suas raízes na tradição siríaca; além de antigos martirológios (como o siríaco) e; especialmente, o testemunho do próprio Papias (O qual refere ter sido S João, a semelhança de S Tiago, supliciado pelos judeus.)

No entanto algumas fontes parecem indicar que o apóstolo teria sido Martirizado em Hierápolis, Esmirna ou Éfeso e não em Jerusalém... E algum tempo depois - e não antes - da destruição da metrópole judaica por Tito.

Neste caso resta conjecturar que João não foi morto pelas mãos da comunidade Judaica; mas, muito provavelmente, denunciado por ela as autoridades romanas. Quiçá entre 80/90 sob Domiciano, personagem a que sua 'legenda' esta ligada...

Teria sido João, entrado já em anos, mandado supliciar por Domiciano logo após a publicação da primeira edição de suas memórias; que pouco tempo depois seriam reeditadas por sua congregação sob a forma do nosso quarto Evangelho??? Parece-nos plausível.

Mas também é possível que tenha morrido na década anterior, após ter conflitado com a congregação judaica local e se envolvido em algum tipo de tumulto religioso.

Como aludimos acima, admitindo que nossa versão do quarto Evangelho remonte a 90 ou mesmo ao final dos anos 80 do primeiro século; podemos admitir igualmente que os escritos ou memórias do apóstolo tenham sido compostos entre 75 ou mesmo 70 e 85. E recebido sua forma definitiva na década de 90 ou mesmo no final da década de 80.

Uma morte tanto mais precoce do apóstolo em nada atinge a composição do Evangelho ou mesmo da primeira Epístola; a qual segundo parece teria sido composta para servir-lhe de prefácio.

Atinge no entanto o livro do Apocalipse; cuja redação só pode ter sido feita nos derradeiros anos de Domiciano; como admitia sem maiores problemas a Igreja antiga. No entanto se João veio a óbito entre 70/80 ou mesmo entre 80/90 não poderia ter estado na Ilha de Patmos entre os anos 91/97.

Eis porque Carino Leucius ou quem se passava por ele; aludiu ao suposto milagre da tina de óleo adicionando ao apóstolo mais dez, vinte, trinta ou cinquenta anos de vida; de modo a que pudesse passar por autor do Apocalipse e das epístolas menores. E para afastar das mentes qualquer suspeita de que o quarto Evangelho tenha sido, reeditado, reorganizado ou mesmo completado... o que alias é de todo inútil tendo em vista a redação dos capítulos finais.

Para que a atual versão de nosso Evangelho, o Apocalipse e as duas epístolas menores pudessem ser atribuídos as mãos do apóstolo foi necessário atribuir-lhe uma sobrevida miraculosa; quando de fato havia morrido (em Hierápolis ou Laodiceia) e sido sepultado pelos presbíteros em Éfeso.

Neste caso quem teria escrito o Apocalipse e as duas epístolas menores???

A respeito do Apocalipse discutiremos no momento oportuno. Julgamos no entanto - fundamentados nos mesmos motivos elencados há 1800 anos por Dionísio de Alexandria - que tenha sido escrito por uma personagem homônima porém perfeitamente distinta do apóstolo; um discípulo, descrito por Papias como 'o presbítero'; o qual também teria redigido - muito provavelmente - as duas epístolas menores.

Quanto a Policarpo, caso fixemos a morte de S João em 80 e a do Bispo de Esmirna em 156 sob Estácio Quadrato; após 86 anos de 'serviços' prestados a Igreja e cem anos de vida; somos levados a concluir que foi batizado cerca do ano 69 ou 70 e portanto que pode ter convivido com o apóstolo de um a quase vinte anos.

O mesmo se pode dizer de Papias, cujas 'Exegeses' parecem ter sido escritas entre 120/130. Irineu refere-se a ele como a um 'Homem antigo' e 'Companheiro de Policarpo'. Então é possível que tenha convivido algum tempo com S João e sido ouvinte do 'presbítero' João, como de Justo Barsabas e das filhas do diácono Filipe.

Não descartamos a possibilidade de que o apóstolo João tenha de fato composto - talvez em aramaico até - as suas memórias (que constituem o núcleo do quarto Evangelho) e tampouco que tenha instruído a Policarpo, Papias e outros elderes antigos. Antes de ter sido martirizado por instigação dos judeus - em algum momento entre 70 e 90 - e sepultado em Éfeso.

Quanto a ter escapado a tina de óleo fervendo, vivido mais quinze ou trinta anos e morrido em seu leito; isto sim parece-nos fruto da imaginação de Carino Leucius, reproduzida acriticamente por Tertuliano e adotada pela maior parte da Cristandade atual tendo em vista justificar a teoria apostólica do Apocalipse e sua introdução no Canon co NT.

Aqui pezaram mais os motivos apologéticos relacionados com o Canon do que a tradição da antiga Igreja atestada pelos mais vetustos martirológios e primitivos padres, como Papias e Dionísio de Alexandria. 

Quanto ao gênero de morte sofrido pelo discípulo amado referem alguns martirológios ter sido decapitado; é possível no entanto que tenha morrido ao ser lançado a uma tina de óleo fervendo, uma vez que as lendas, quase sempre, tomam por base uma narrativa verdadeira. Também é possível que tendo escapado miraculosa ou naturalmente ao óleo fervendo tenha sido mandado decapitar.

Seja como for nós não possuímos um relato minucioso a respeito de sua morte; não porque não tenha sido martirizado, mas porque tais registros devem ter sido destruídos subsequentemente por aqueles que desejavam prolongar sua existência terrena até Trajano ou Adriano.




















segunda-feira, 1 de abril de 2013

XCIX - Da apostasia da igreja





Conforme asseveram os protestantes, tal e qual a 'igreja da velha lei' deveria a 'Igreja da nova lei' fundada por Cristo apostatar.

Precisam os lideres e pastores afirmar insistentemente o DOGMA da apostasia do antigo sistema sob pena  do novo sistema ser inutil e desnecessário; então compreenda o amigo leitor: para que Lutero, Calvino e Zwinglio sejam verazes Jesus tera de ser abatido e declarado mentiroso.

Para que haja a necessidade de reformadores religiosos deve a perfeição divina ser atingida...

Tendo Deus produzido uma igreja reformável e, logo imperfeita para o que foi constituída; como deixar de concluir que Deus mesmo é imperfeito???

Protestante algum tem resposta para semelhante pergunta e a prova disto é que em todos os lugares em que o protestantismo tornou-se antigo e foi posto ao lume da razão; declinou e cedeu lugar primeiramente a incredulidade - já no século XVIII - e posteriormente ao materialismo e ao ateísmo... assim na Escandinávia, na Holanda, na Alemanha, na Suíça e na França...

E já sabemos que a raiz do mal é a crença na apostasia da Igreja Apostólica; foi ela que abriu brecha ao ceticismo e a incredulidade nas nações ocidentais. Primeiro os filhos questionaram a fidelidade da Igreja e logo em seguida os netos e bisnetos puzeram-se - com toda razão -a duvidar daquele que prometera: As portas do inferno não prevalecerão contra ela.

De fato a teoria protestante da apostasia faz de Cristo um charlatão; que promete e não cumpre, empenha sua palavra e...

No entanto os protestantes jamais entraram em acordo a respeito de quando a tal apostasia concretizou-se; e cada um deles emitiu uma opinião diferente: uns disseram que a igreja havia apostatado há menos de um século, outros diziam que a apostasia iniciara-se nos tempos de Hidelbrando ou de Nicolas, outros ainda que havia principiado no tempo de Focas (século VII); e outros - avançando mais - aventaram que havia sido promovida por Constantino César; até que François Lambert, cerca de 1525, assim se expressou:

"Imediatamente após a morte dos últimos apóstolos, apartou-se a Igreja da verdade e por influência da Filosofia forjaram-se novos dogmas..."

E como os últimos apóstolos faleceram cerca de 80 desta somos levados a concluir que a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo não chegará a completar meio século de existência!!! Por apenas 50 anos resistiu a 'palhoça' ou 'tugúrio' erguido por Nosso Senhor Jesus Cristo...

E no entanto os mesmos protestantes, admitindo que Moisés floresceu cerca de 1580, 1450 ou 1270 a C, e que o saduceísmo - segundo eles, protestantes, dizem em suas brochuras - fez sua aparição cerca do século III ou IV a C; acreditam que a 'casa' edificada por Moisés ( o qual não passava de um homem!!! ) permaneceu de pé; em fidelidade, por quase mil anos ou até mais; sendo vinte ou trinta vezes mais resistente do que a 'casa' edificada por Cristo Deus sob o fundamento apostólico.

Então ou essa gente não sabe o que crê; ou peca conscientemente contra a verdade pondo Nosso Deus Jesus Cristo muito abaixo de Moisés... pois atribuem a este obra mais resistente e fiel.

Eis porque os infiéis da sinagoga fortalecem-se a cada dia; enquanto por obra e graça dos reformadores o Cristianismo é amplamente ridicularizado do Oriente ao Ocidente...

E os protestantes até folgam com isto; pois creem que a verdade foi revelada para extinguir-se e desaparecer do mundo; e para que a maior parte da humanidade seja condenada e destruída por uma catástrofe. Para eles desde que meia dúzia de sectários escapem tudo fica muito bem e eles acham absolutamente normal que o gênero humano - em quase que sua totalidade - tenha sido criado e disposto a castigos eternos.

Eles não acreditam num Pai amoroso que dispôs o gênero humano para a felicidade eterna aspirando beneficia-lo; mas num déspota ou tirano cruel que dispôs os mortais a infelicidade tendo em vista exercer sua fúria vingativa sobre eles... embora em comparação com ele não passem de partículas ou de poeira.

De fato eles acreditam que se a religião dos hebreus teve fim; assim aquela que foi estabelecida pelo Verbo deverá ter fim...

Ele são incapazes de concluir que o sistema judaico era puramente humano ou natural enquanto que o sistema Cristão ou Católico foi estabelecido pelo Deus encarnado Jesus Cristo; então eles minimizam o fator da Encarnação e cuidam que a manifestação de Deus neste mundo pouco ou nada mudou.

Porque se considerassem a entrada de Deus na História humana, considerariam com mais prudência a doutrina duma Igreja que não foi fundada por mero homem ou profeta mas por Emanuel.

E que a obra ou edificação divina pouco tem em comum com as obras e edificações planejadas e encetadas pelo homem imperfeito e falível.

Como poderia ter o Verbo tomado para si uma rameira ou esposa infiel se por assim dizer ele mesmo a constituiu? Como podem os protestantes esquecerem-se ou ignorarem que a Mãe de Cristo foi escolhida por Cristo e que a Igreja de Cristo foi constituída por Cristo? Defeituosa a mãe ou a esposa cai a culpa sobre o filho ou esposo que a as elegeu...

Assim como Cristo sendo perfeito não pode ter escolhido para ser sua mãe senão a mais santa e nobre de todas as mulheres de todos os tempos; também não pode ter tomado por esposa senão a mais perfeita das instituições...

Falhou a igreja? Neste caso Cristo deve ter permitido que a mesma falhasse.

No entanto como haveria de consentir que a Igreja falhasse uma vez que desejou e quis constitui-la como depositária e guardiã da Verdade Revelada que comunicou aos apóstolos tendo em vista o aperfeiçoamento e redenção completa de todos os mortais? Porque teria ele desejado a contaminação, destruição e aniquilação de Verdade que ele mesmo manifestou e revelou aos discípulos com o objetivo de que fosse comunicada ao gênero humano???

Por que o autor e ministro da verdade permitiria o obscurecimento da verdade que é dele? Da verdade que deveria beneficiar todos os povos e nações da terra??

Por que haveria, sendo ele bom e verdadeiro, de acalentar e beneficiar a operação do erro??? Por que haveria dele de furtar as gerações futuras - pelo espaço de 1200 ou mesmo de 1400 anos - da graça da Verdade e da pureza da fé??? Por que haveria de privar os seres humanos da luz que fez brilhar para precipita-los mais uma vez no abismo das trevas e do erro???

Só por que a sinagoga viera abaixo???

No entanto para a reprovação dos protestantes e infiéis esta registrado:

"Moisés era fiel com sua casa na qualidade de servidor tendo em vista profetizar as coisas que se sucederiam depois; CRISTO MANDA COMO FILHO EM SUA PRÓPRIA CASA..." Hb 3,6
"E goza de dignidade superior a Moisés e maior glória; PORQUANTO A QUALIDADE DA CASA QUE ERGUEU É MAIS EXCELENTE." 3,3

Então que veem ao caso judeus, Moisés, templo e sinagoga???

Em absolutamente nada.

Porque a Igreja Católica apenas foi constituída pelo Verbo Encarnado e perfeito; o qual assim se manifestou a respeito dela: "Quem não ouvir a igreja seja tido em conta de pagão ou publicano." 

Protestantes de boa fé e vontade; esta é a sentença, veredito e decreto emitido por Nosso Senhor Jesus Cristo contra vocês.

Porque se seus antepassados, pais e reformadores conheceram apenas a Igreja cismática de Roma; nós vos anunciamos a verdadeira Igreja Católica e Ortodoxa; que subsiste no Oriente até os dias de hoje tendo sido plantada pelos próprios apóstolos. Então se resistis ao testemunho desta congregação e dizeis ser apóstata como dizeis sobre Roma; já não há desculpa alguma para vós.

Pois dizendo que apostatou apresentais aquele que disse: "As portas do Hades jamais triunfarão dela." como mentiroso e digno de condenação.

Uma vez que admitis que as portas do inferno deram cabo dela na medida em que não soube ou não pode resistir a operação do erro sendo ineficaz e incompetente para o que foi constituída.

Como poderia não ter sido esmagada pelas hostes do inferno uma instituição incapaz de manter a integralidade da verdade comunicada pelo Mestre???

Então de onde tiraram os protestantes tão exótica doutrina?

Já dissemos que os protestantes precisavam justificar a rebelião de Lutero e seus pares.

Porque se admitem que a Igreja permaneceu ilesa como Jesus Cristo prometeu não há necessidade de reforma ou de novidade alguma.

No entanto eles não se serviram da pela Evangélica e palavra de Cristo, toda imaculada, pura e plena de luz; porque ali não há lição alguma sobre este novo e falso dogma da apostasia.

Então já sabemos que ele não se sustenta no terreno do Evangelho e das palavras de Cristo; constituindo um ensinamento falso.

Eis porque apelam a teoria da analogia do antigo testamento, a qual tudo justifica...

Todavia como se trata de argumento muito fraco e miserável; que faz da casa de Cristo mera imagem ou sombra da casa de Moisés... (quando na verdade o testamento velho é que não passa de Sombra ou Imagem do Testamento Novo e Eterno!)

Os protestantes foram lá obrigados a catar migalhas no Novo Testamento recorrendo a pena apostólica.

E como não poderia deixar de ser recorrem as Epístola de S Paulo; pois como asseverou S Pedro em sua segunda carta, há nelas algumas coisas difíceis de se compreender que os ímpios e tolos deturpam para sua própria vergonha.

É exatamente o que os protestantes fazem desde o princípio: torcer as epístolas de S Paulo, ou seja, as passagens mais obscuras; com o premeditado objetivo de fustigar a igreja e de promover novidades profanas... Neste sentido é o protestantismo um paulinismo... na medida em que se serve preferencialmente das palavras do apóstolos dos gentios tendo em vista deturpa-las; o que fazem sem maiores cerimônias.

Apesar da advertência de S Pedro feita aos Ortodoxos.

De fato os protestantes encontram nas Epístolas do apóstolo certas passagens que se referem a 'apostasia'; assim: "Ninguém de modo algum vos engane. Porque primeiro deve vir a apostasia..." II Tes 2,3

Então os protestantes concluem que se trate da apostasia da Igreja; EMBORA A IGREJA SEQUER SEJA CITADA MESMO INDIRETAMENTE NESTA PASSAGEM!!!

Hora apostasia significa afastamento ou distância; o que por si só não indica a Igreja de Cristo.

Os protestantes é que imaginam e ensinam que o apóstolo esta se referindo ao afastamento da Igreja com relação a Verdade; ISTO PORÉM NÃO ESTA ESCRITO.

É apenas a opinião ou teoria dos protestantes pelo simples fato de que aspiram viver separados da Igreja e porque a odeiam.

É perfeitamente natural que os protestantes pensem assim. 

Desonesto é que atribuam seus pensamentos carnais ao apóstolo lendo nas entrelinhas... o que não existe no texto sagrado.

Isto se chama estratégia ou truque. Isto é o protestantismo: uma manobra que faz o texto sagrado dizer o que não diz ou até mesmo o contrário do que diz.

É a mágica do exame bastante livre... livre da técnica, livre da ética, livre do amor a verdade...

Destarte recorrem eles a esta outra passagem:

"O Espírito diz expressamente que, nos tempos vindouros, alguns hão de apostatar da fé, dando ouvidos a espíritos embusteiros e a doutrinas diabólicas." I Tm 4,1

No entanto que declara esta passagem??? Que a Igreja de Cristo ou a Igreja Ortodoxa viria a apostatar???

De modo algum.

O que esta escrito na verdade é que 'ALGUNS HOMENS IRIAM APOSTATAR' ou seja afastar-se da fé professada pela legítima Igreja de Cristo; rompendo com a Igreja Católica, abandonando-a e dando origem a facções, seitas e heresias condenadas pela palavra do apóstolo.

Tal a seita dos ebionitas que separava os alimentos entre puros e impuros, a seita dos encratitas que condenavam o consumo de vinho e o matrimônio, a seita dos maniqueus que condenava alguns tipos de alimentos e o matrimônio,  a seita dos cátaros ou albigenses; que Flacius mencionou como predecessora espiritual da Reforma protestante... as seitas protestantes que condenam o emprego do vinho... as quais tem sido desde o princípio combatidas pelos Bispos e Padres que sucederam os Santos apóstolos em seu ministério divino.

No entanto tais homens e seitas não constituem a Igreja, uma vez que desprezaram seu ministério...

Em seguida recorrem a este testemunho:

"Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para si; apartarão os ouvidos da verdade e se dedicarão a fábulas." II Tm 4,3

Mais uma vez temos um texto que parece mencionar uma apostasia mas que não faz alusão alguma a Igreja de Cristo ou ao padrão apostólico; referindo-se genericamente a homens ou seja aos homens que abandonam a Igreja de Cristo e o padrão apostólico passando a ensinar ou a professar novidades ou seja novas doutrinas.

Como as doutrinas do politeísmo gnóstico, do unitarismo, do solifideismo, do predestinacionismo, do simbolismo eucarístico, do iconoclasmo, do anabatismo, do sabatismo, etc As quais não tendo sido conhecidas ou aprovadas pelos apóstolos, mártires e padres constituem as novidades profanas anatematizadas pelo apóstolo.

A Igreja Ortodoxa no entanto conserva e mantem fielmente o que fora comunicado pelo divino Mestre aos apóstolos, pelos apóstolos aos mártires e padres, e pelos padres antigos aos Bispos e as Igrejas apostólicas deste nosso tempo; jamais acrescentando, jamais diminuindo; apenas conservando imaculadamente.

A pérola no entanto é extraída de Atos 20,28:

"28 Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue.

Então os protestantes aplicam todas estas palavras a Igreja Ortodoxa e Católica jurando de pés juntos que diz respeito a sua apostasia.
E não há brochura adventista, batista ou jeovista que não reproduza esta passagem dúzias de vezes...
Depois os protestantes reclamam; quando dizemos que são limítrofes, levianos, ineptos ou desonestos.
Pois um simples e comezinho princípio de exegese que aprendi na escola dominical obriga-nos e indagar do próprio texto sobre quem se refere ou diz respeito.
E no caso deste temos acesso a informação:
Ou seja: Trata-se de um texto concernente a Igreja local de Éfeso e não a totalidade do Cristianismo Apostólico ou da Igreja de Cristo.
Com que direito os comentaristas protestantes estendem um texto pertinente a Igreja local de Éfeso a toda Cristandade???
Referia Paulo que após sua ida para ser julgado em Roma, os lobos cruéis, ou seja os judaizantes seus inimigos, haveriam de vir a igreja local de Éfeso com o intuito de anunciar o evangelho da lei e da circuncisão. E que mesmo entre os Bispos e líderes da Igreja de Éfeso - mas não declara que seriam todos - seriam atingidos pela pregação deles formando seitas e partidos.
Afinal o próprio Pedro não fora cooptado por eles em Antakia a ponto de ser repreendido por S Paulo?
Então que há de extraordinário nisto; que após o afastamento de Paulo os judaizantes atacassem suas igrejas - como a de Éfeso - com o intuito de confundir os Santos e formar partidos e seitas???
Tal o sentido do contexto...
Que nada tem a ver com a totalidade das Igrejas apostólicas, com a Igreja Ortodoxa ou com a Cristandade primitiva.
Fica pois evidenciado que os protestantes transtornam o sentido das palavras sem atinar com aquilo que é indicado pelo próprio contexto.
E como designamos semelhante atitude???
Como patifaria.
Pode corresponder a teoria da apostasia a uma necessidade vital do protestantismo. Mas nem por isto corresponde ela a um ensino corroborado pela pena apostólica e menos ainda pela pena evangélica nas quais nos deparamos a cada passo com a doutrina da soberania e excelência da Igreja de Cristo.
Quanto aos ensinamentos de Paulo a respeito da apostasia, vimos já que se trata duma apostasia 'externa' ou dos homens que se afastam da Verdade ensinada pela Igreja de Cristo e não duma apostasia interna, da igreja com relação a Verdade, esta existe apenas na mente maléfica dos protestante.
Os quais por amor dos novos mestres Lutero e Calvino, tornam o único Mestre divino mentiroso; além de desonrarem o padrão apostólico.