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A consciência histórica do Cristianismo

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sexta-feira, 29 de março de 2013

XCV - O jugo de Nero







Após Claudio ter sido envenenado por sua esposa Agripina, a Jovem; Nero Claudio César Augusto Germânico, ascendeu ao sólio imperial & contava com cerca de dezessete anos pelo ano 54.

Por parte de Agripina era sobrinho de Calígula, sobrinho neto de Claudio, neto do bravo Germânico e tataraneto de Otávio Augusto. Por parte do pai Cneu Domício Aenobarbo descendia de uma das famílias patrícias mais nobres de Roma.

Como fosse neto de Germânico e sua educação tivesse sido dirigida pelo pensador Sêneca e pelo prefeito Afrânio Burrus; suscitou a ascensão de Nero as mais felizes esperanças de felicidade nos corações de seus súditos.

Orientado por Sêneca e Burrus a um lado e por Agripina a outro buscou Nero corresponde as expectativas de que era objeto e já nos primeiros dias de seu reinado comprometeu-se a restituir a autoridade do Senado.

Efetivamente os primeiros sete anos de seu reinado parecem ter sido excelentes.

Basta dizer que reduziu a taxa paga como imposto pelos mais pobres e cerceou a cobiça dos mais ricos. Ele pôs limites ao valor das fianças e multa, limitou os honorários dos advogados e colocou-se ao lado dos libertos contra o senado.

Tendo em vista reduzir os preços dos gêneros de primeira necessidade Nero isentou os barcos destinados a transporta-los do imposto; no entanto como ainda pairasse a ameaça da fome doou parte de seu tesouro pessoal ao erário.

Ele também financiou a construção de ginásios e teatros em todo império financiando a encenação dos clássicos gregos, a drenagem dos pântanos e abertura dum canal navegável no istmo de Corinto.

No entanto admirava ocultamente a seu tio Caio Calígula.

Eis porque Burrus e Sêneca acabaram por abandona-lo a seus instintos destrutivos.

Então perdendo o rumo solicitou que Locusta preparasse uma poção e mandou servi-la a Britânico, filho de Claudio e Messalina, o qual veio a óbito logo em seguida.

Diante disto sua mãe e suposta amante, Agripina, rompeu publicamente com ele.

Nero todavia já havia corrido com ela do palácio imperial.

Ela no entanto optou por tecer acrimoniosas críticas a seu imperial filho.

E acabou sendo mandada assassinar por ele. (Segundo rezam os cronistas ao aproximar-se do cadáver de sua progenitora Nero teria levantado seu vestido e exclamado: Que corpo tinha ela!)

Posteriormente o próprio Sêneca tendo entrado na conspiração de Pisão recebeu ordem para cortar as veias...

Desde então Nero foi assumindo uma postura cada vez mais cruel e debochada; a semelhança de seu desditoso tio. (Há uma tese de que, no caso dos imperadores romanos, a demência adviria do acetato de chumbo ingerido através da água e do vinho contaminados.)

Assim sendo cerca de 65, após ter encenado uma peça agrediu a pontapés sua consorte Popeia Sabina; a qual estando grávida veio a falecer bem como a criança, filha de Nero.

Antes disto no entanto (em 64) Roma foi assolada por um pavoroso incêndio, que destruiu cerca de 1/3 e atingiu metade da 'Urbe'. Segundo Suetônius e Dion Cassio enquanto a cidade era dominada pelas chamas Nero, do terraço de seu palácio entoava Iliupersis, e tangia sua lira. Tácito no entanto registra que o Imperador encontrava-se em Anzio, sua cidade natal, e que ao ser informado sobre a catástrofe, tornou de imediato a cidade disponibilizando seu tesouro pessoal e abrindo as portas de seu palácio aos desabrigados.

No entanto como tanta benevolência de sua parte despertasse suspeitas principiaram a correr boatos e rumores a respeito de ter ele mesmo provocado o incêndio.

Tendo em vista dissipar tais suspeitas, Nero, aconselhado muito provavelmente por Tigelinus, acusou a Congregação Cristã de Roma e determinou que os Cristãos fossem caçados, presos e sumariamente condenados a crucificação. 

Demos a palavra a Tácito

"Assim, começou-se por deter os que confessavam a sua fé; depois pelas indicações que estes deram, toda uma ingente multidão (multitudo ingens) ficaram convictos, não tanto do crime de incêndio, quanto de ódio ao gênero humano. A sua execução foi acompanhada por escárnios, e assim uns, cobertos de peles de animais, eram rasgados pelos dentes dos cães; outros, cravados em cruzes eram queimados ao cair o dia como se fossem luminárias noturnas. Para este espetáculo, Nero cedera os seus próprios jardins e celebrou uns jogos no circo, misturado em vestimenta de auriga entre a plebe ou guiando ele próprio o seu carro. Daí que, ainda castigando os culpáveis e merecedores dos últimos suplícios, tinham-lhes lástima, pois acreditavam que o castigo não era por utilidade pública, mas para satisfazer a crueldade dele próprio."

De que modo no entanto havia a Congregação Cristã de Roma atraído a atenção de Nero ou que Tigelinus???

Certificamos já que a primitiva comunidade de Roma, plantada por aqueles que haviam escutado o Sermão de Pedro em Pentecostes e assumida por ele vinte ou mesmo vinte e cinco anos depois (58/59) era uma comunidade tipicamente judaica; a comunidade de Paulo, fundada muito depois, deveria ser, por isso mesmo, muito menor.

Agora que tipo de literatura circulava entre os grupos de judeus e judaizantes daquela geração???

Ao que tudo índica Judeus e judaizantes eram igualmente 'castastrofistas' e tributários da literatura apocalíptica forjada nos séculos precedentes, a partir de Daniel e Enoc.

Desde então inúmeros outros apocalipses haviam sido compostos em nome de Elias, Baruc, Ezra, etc Alguns dos quais bastante virulentos.

Basta dizer que aguardavam a aniquilação do Império por meio de um 'dilúvio de fogo' em meio ao qual pereceriam todos os pagãos enquanto os eleitos permaneceriam incólumes no meio das chamas, como alude S Melião, na Homília Pascal. Tal a esperança viva dos judeus e judaizantes e por cuja realização oravam todos os dias pedindo vingança.

Basta dizer que este tipo de literatura enigmática e obscura, apreendida pelos esbirros de Tigelinus no Transtevere e que de algum modo relacionava o fim do Império com um incêndio, deve ter sugerido aos romanos a ideia duma conspiração urdida pelos Cristãos.

Não partiram os acusadores do 'nada' mas de algumas evidências mal compreendidas relacionadas com a superstição catastrofista ou apocalíptica. 

Disto resultou o apressamento de Pedro, Paulo e dos demais líderes da congregação e sua posterior execução. Agora cogitam alguns que Nero tenha publicado um Édito ou determinado uma perseguição universal...

Quanto a isto devemos convir que nem há qualquer evidência a respeito de um 'Édito' ou duma proscrição formal e que embora a perseguição ocorrida na capital do império até possa ter suscitado perseguições em algumas outras metrópoles ou capitais, esta primeira perseguição jamais assumiu um cárater de universalidade, atingindo, como querem certos apologistas, todas as regiões ou cidades do Império.

De qualquer modo e maneira, os Cristãos, infectados pela mentalidade judaica ou farisaica; ao invés de terem intercedido e suplicado amorosamente pela sorte eterna do Imperador, converteram-no numa espécie de mostro abominável, e chegaram a crer que haveria de ressuscitar ou de reencarnar no fim dos tempos para novamente assolar a Igreja as vésperas da 'grande conflagração'. Tais os estragos que a mentalidade grosseira do judaísmo acarretou a sublime mensagem de Jesus Cristo.

Nem compreendiam nem compreendem os homens vulgares que os tiranos e demagogos como Judas, Calígula, Nero, Domiciano, Tamerlão, Bismarck, Lênin, Stalin, Hitler, Von Mises, Haiek, Friedmann, Bush, etc foram, ao menos em parte, fabricados por eles mesmos (ou seja pela própria sociedade) e que apesar disto, enquanto seres mutáveis são capazes de mudar de mentalidade, de melhorar e de progredir. De modo que nada nos autoriza a perder a esperança a respeito de qualquer criatura racional.

E tampouco a odiar tais pessoas; quando deveríamos nos compadecer delas.

Na História não há espaço para mocinhos e vilões como nos romances de cavalaria ou faroeste; mas apenas para mentalidades mais ou menos esclarecidas e evoluídas postas diante da sublime figura de Jesus Cristo, o supremo referencial a ser considerado.






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