O verbo se fez carne...

O verbo se fez carne...

A mãe do Verbo Encarnado

A mãe do Verbo Encarnado

A consciência histórica do Cristianismo

A consciência histórica do Cristianismo

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

V - Panorama político do Império Romano por ocasião do nascimento de Jesus Cristo

Quando Jesus Cristo veio ao mundo, cerca do ano 8 antes desta nossa Era, Caio Otavio, filho de Átia, sobrinho e legátario de Julio César e sobrinho neto de Caio Mario, contando com cerca de 55 anos de idade, detinha o título de 'Augusto' e reinava, discretamente, sobre cerca de sessenta milhões de seres humanos.

Em termos geográficos seu domínio estendia-se das colunas de Hércules ao Eufrates, das Gálias ao Norte da África e aos confins da Núbia. Em termos de Império Augusto só perde para Dário e Alexandre, isto porque Gengis e Tamerlão não ocuparam as terras percorridas ou conquistadas.

Dário, Alexandre e Augusto, ocuparam-nas e governaram-nas durante todo o tempo em que viveram.

Confinavam os domínios de Augusto com o Reino dos partos ou partiena, cujo trono era ocupado por Fraates IV. Este pastoreava outros vinte milhões de seres humanos...

Após o declinio e fim da dinástia Maurya, fundada por Sandaracoto (Chandragupta), estava a India mais uma vez cindida em diversos principados. Desde o tempo de Asoka difundia-se o Budismo, o qual no tempo de tempo de Adriano atinge Skandaria, para o extremo oriente e ilhas difunde-se o jainismo; sem que apesar disto o hiduismo deixe de existir e de manter a supremacia na região.

Há China encontrava-se unificada há alguns séculos e sob a tutela da dinástia Han. Ali o imperador Ping reinava sob 57 milhões de seres humanos, ele foi substituido pelo usurpador Wang Mang, o qual fortaleceu-se ainda mais no poder após a morte da velha imperatriz Zhengjung. Alguns séculos antes os chineses haviam adotado a lei do sábio Confúcio.

Assim sendo os dois maiores impérios da terra eram o romano e o chines separados um do outro pelo reino dos partos e pelos pequenos reinos da India.

Cerca de duzentos e quarenta milhões de seres humanos vagavam sobre o pó, quando o Criador e Senhor dos universos optou por vizitar-nos.

No entanto ele não quiz nascer e viver próximo dos grandes potentados fosse em Roma, Ctsifonte, Patala ou Chang an, mas nas regiões inóspitas da Palestina, mais precisamente nos confins da Galiléia, o que tem suscitado inumeras críticas por parte de nossos adversários, os quais costumam a indagar porque razão Jesus Cristo teria escolhido uma provincia tão obscura para manifestar-se, mormente quando seus propósitos declarados eram católicos ou seja universais.

Outros se perguntam porque Deus teria esperado tanto tempo para encarnar-se, já porque os antigos impérios da China, de Harappa (India), de Aratta (Pérsia), de Susa, da Suméria e do Egito contavam já com milhares de anos por ocasião de suma vinda.

A tais perguntas daremos oportuna resposta no próximo capítulo.

Por ora convem acrescentar que o Império romano fechara por assim dizer seu círculo de conquistas em torno do mediterâneo (Mare nostrum) cerca de 31 a C, com a derrota de Antonio e Cleopatra em Actium e a conquista do Egito.

Trinta anos antes, por ocasião da morte da rainha Alexandra Salome, o pequeno reino judaico dos hasmoneus ou macabeus fora convulsionado por uma guerra civil. Combatiam pelo trono de Alexandre Janeu, dois de seus filhos: Hircano II e Aristóbulo.

Foi quando Cneu Pompeu desceu a Síria e destronou os seleúcidas. Os dois irmãos não pederam tempo enviando cartas e ofertas ao general romano, com pedidos de arbitragem e intervenção.

Pompeu, não se fazendo rogado, invadiu a Judéia, sitiou Jerusalem e conquistou o monte do templo, após desalojar os partidários de Aristobulos, o qual foi conduzido a Roma acorrentado junto ao carro do grande general.

Em seu lugar foi constituido procurador Antipater, filho de Antipas de Asquelon, e pai do famoso Herodes. Arquelau no entanto rebelou-se logo após a partida de Pompeu...

E como César e Pompeu rivalizassem, lograram Aristóbulo e Antigono, seu filho, regressar a Judéia e sublevar os naturais do pais, sempre propensos a rebelarem-se.

Aprisionado novamente foi Aristóbulo remetido a Roma e pouco tempo depois envenenado em circunstâncias misteriosas.

Diante disto Antigono veio a Skandaria, ter com Julio Cesar e acusar Antipater e Hircano de terem envenenado seu progenitor e de oprimirem o pais. Antipater no entanto, cortara seu passo e já apresentará a Cesar um dossiê no qual as atividades revolucionárias de Antigono e seu pai eram pormenorizadamente descritas. Diante disto Cesar nomeou Hircano sumo sacerdote e este confirmou Antipater como procurador.

Antigono no entanto, com o apoio de Lisânias, filho de Ptolomeu, filho de Meneus, tornou a Judéia, compos um grande exército e tendo obtido o apoio dos Partos, atacou Jerusalem, expulsou Herodes e aprisionou seu tio Hircano - o qual fez mutilar para que jamais pudesse obter a dignidade sacerdotal novamente - e Fasael, irmão de Herodes, o qual fez envenenar.

Herodes e seu irmão Joset, tendo escapado passaram a Iduméia e dai a Roma, onde narraram ao Senado o conluio de Antigono com os Partos. Diante disto Antigono foi declarado inimigo do Império. Venditius tendo vindo a Síria deu combate aos partos que se retiraram para além do Eufrates... enquanto Herodes compos exército em Ptolomais.

Ironicamente a Judéia apoiou Herodes enquanto a Iduméia, a Samaria e a Galiléia permaneceram fiéis a Antigono. Todavia como Macheron fora enviado da Síria por Vinditius, Joset, irmão de Herodes, sentindo-se forte, sitiou Jerico, ocasião em que veio a ser derrotado e a perder a vida.

Diante disto passou Antigono a Jerusalem. O Senado romano no entanto havia mandado Sosion com a missão de entronizar Herodes a todo custo.

Antigono fechou-se na cidade e Sosion armou cerco, durante o Sábado, enquanto todos descansavam Sosion penetrou na cidade e apesar dos rogos de Herodes, mandou passar a fio de espada todos os habitantes, inclusive velhos, mulheres e crianças. O sangue mais uma vez correu pelas ruas da cidade...

Antigono abandonou a fortaleza e lançou-se aos pés de Sósion, pedindo pelas vidas de seus compatriotas.

Sosion obtendo a vitória fez apressar a 'Antigona' e envia-la Roma.

Entrementes Marco Antonio detinha do poder em Roma, ao lado de Lépido e Augusto.

Cerca de 40 a C, Herodes - filho de Antipatro e Cipiros (A qual Josefo designa por Arebeisus) - tendo ido a Roma - com uma grande soma de dinheiro - obteve de Marco Antonio a execução de Antigono e o domínio definitivo da Judéia.

Após a batalha de Actium, Augusto confirmou-o no poder. Para fazer juz a realeza, Herodes, que era idumeu/nabateu, havia casado com Mariane, uma bisneta de João Hircano, a qual no entanto, passado algum tempo, fez matar. E como um de seus filhos tivesse a ousadia de censura-lo pelo assassinato de sua mãe, mandou suplica-lo da mesma forma...

Diante disto o Imperador Augusto costumava dizer que era muito melhor viver como um porco nas pocilgas de Hedores do que ser seu filho.

Herodes também fez supliciar grande número de rabinos e fanáticos que se sentiam incomodados pela presença dos emblemas romanos na cidade Santa.

Construtor exímio mandou edificar o terceiro templo em proporções gigantescas, as torres de Hippico, Mariane e Fasael na cidade Santa, o túmulo dos patriarcas em Hebron, o Herodium, as fortalezas de Massada e Macheron, etc É tido ainda como fundador das cidades de Sebasta e Cesaréia da Palestina.

Após quase quarenta anos de reinado Herodes veio a falecer vitimado pela gangrena de Fournier, com cerca de setenta anos de idade. Para que o povo fosse forçado a lamentar sua partida ele mandou aprisionar um grande número de homens ilustres da nação, determinando que fossem executados logo após sua morte. A qual, segundo parece, deve ter ocorrido cerca do ano 5  ou 4 a C.

Após sua morte a posse da Palestina foi dividida entre seus três herdeiros: Arquelaus, Antipas e Filipe.

Seu túmulo gigantesco foi descoberto por Netzer em 2007, segundo Nicolau de Damasco, querendo rivalizar com o emblemático David, Herodes fez sepultar consigo um vultoso tesouro.

Este rei paranóico ou esquisofrênico foi que mandou executar os Santos inocentes, por ocasião da vinda do Salvador com seus pais a Belém, acreditando assim ter se livrado dele.





IV Panorama moral do mundo ante Cristão - a vida prática

No momento em que o Cristianismo surge e afirma-se como tal passava a Sociedade por uma crise sem precedentes e comparada apenas com a que passamos no tempo presente, após 1820.

Segundo Nordau a única diferença significativa entre uma e outra crise é que hoje quase todos são atingidos pelo 'mal estar'e estão de certo modo conscientes de que algo 'não vai bem' ou 'não esta certo'. O mal estar hoje ou a percepção da crise é mais amplo e mais generalizado. Durante os primeiros séculos desta nossa Era apenas os espiritos de escol percebiam o fim para o qual as coisas se encaminhavam... recorrendo os 'epicuristas' a bebida, a glutonaria e ao sexo e os estóicos - como lemingues - ao suicidio ou abandono da vida, face ao futuro que lhes estava reservado.

Foi um momento trágico porque a civilização romana representa de algum modo uma solução de continuidade que se estende ininterruptamente, desde o antigo Egito e da antiga Suméria... É Roma a derradeira representante e última herdeira de tais civilizações, passando naturalmente pela Fenícia, Pérsia, Grécia e Etrúria... Todos este cadinho cultural aflui para a metropole do Tibre e parabra das sete colunas, mas não para continuar sua tragetória milenar, mas para agonizar e morrer.

Eis porque o fim de Roma corresponde com propriedade ao fim da Idade antiga ou da Antiguidade. De certo modo, do ponto de vista das instituições econômicas, religiosas e sociais, a morte de Roma é a morte do Egito, da Suméria, da Fenicia, da Pérsia, da Helade, da Etrúria e de todas as civilizações antigas cujo padrão é destruido para ser superado.

Então devemos compreender que a crise teórica representada pelo neo platonismo, e que a crise econômica representada pelo escravismo, repercutissem moralmente produzindo todo um dilúvio de males sociais.

Se a um tempo as massas aderiam ao misticismo ou as religiões orientais como o mitracismo é necessário dizer que tal tipo de espiritualidade não correspondia aos mitos e fábulas sobre os quais estava constituida a vida política e social do Império e mesmo das civilizações antigas. Embora todos fossem avidos por novidades religiosas e cultos exóticos, não havia quem acreditasse mais que os julios fossem descendentes da deusas Vênus, alguns até fingiam, mas ninguém mais cria; como não criam mais na narrativa dos meninos amamentados pela loba, na apoteose de César, etc

E menos ainda nas narrativas de Hesiodo e Homero, postas já em dúvida pelo próprio Platão...

Ninguém mais cria na origem de Atenas, saida em ordem de batalha da cabeça de Zeus; na narrativa de Hera presa de cabeça para baixo, em Dionisio sendo gerado na batata da perna de Zeus, etc

E todos porfiavam-se, a semelhança dos alexandrinos, em deslindar o significado oculto de todas estas 'estórias'... ou parábolas.

E compunham explicações engenhosas, as quais no entanto seriam encaradas como heréticas ou blasfematórias pelos avoengos...

Outros como Luciano não conseguiam ocultar o riso cínico perante tudo quanto os antepassados haviam tido em conta de divino e sacrossanto.

Apesar disto a religião permanecera inalterada, bem como os ritos. E como a religião permeava toda vida social, do nascimento a morte - Cf Fustel de Coulanges 'A cidade antiga' - do cidadão, permeando todos os atos cívicos e políticos, segue-se que tudo estava fundamentado sobre a mentira ou sobre a farsa.

Nasciam, casavam, juravam e morriam os antigos sob o jugo de ritos nos quais já não acreditavam mas nos quais deviam fingir que acreditavam mantendo as aparências a todo custo. Não podiam dizer abertamente que consideravam a narrativa de Hera gerando Marte sentada sobre uma flor, como a mais supina idiotice; mas as ocultas riam-se do conto...

Toda esta artificialidade, para não dizermos hipocrisia, não podia deixar de exercer uma influência nefasta sobre os costumes do povo. Uma vez que as massas ao menos baseiam os atos da vida moral sobre a esfera religiosa, adotar uma religião de aparências não poderia deixar de produzir péssimo efeito.

Pela porta sagrada da religião entrava a duplicidade.

No que diz respeito a família, a principal chaga constituia a repudio dos nascituros. Que eram lançados a cloaca máxima ou abandonados em qualquer logradouro público onde morriam de fome ou eram pegos por vendedores de escravos e criados para serem vendidos.

É bem verdade que Musonius Rufo e os estóicos de seu circulo parecem ter condenado esta abominável prática, a qual, sem embargo, continuou a ser posta em prática no decorrer dos séculos seguintes. Apenas a conversão dos cidadãos ao Cristianismo no século VI foi capaz de por fim a este mal, bem como ao aborto.

A Idade Média, digam o que quizerem, ignorou tal gênero de crimes, os quais ressurgem e avolumam na mesma medida em que a sociedade afasta-se da fé ancestral ou seja da fé Católica. Pois o principio da fé Católica quando sinceramente cultivada, é incompátivel com o infanticidio.

Outro sério problema eram os jogos de gladiadores, um tido de esporte sanguinário e carniceiro que atraia as multidões ociosas.

Prisioneiros de guerra, escravos fugidos, cristãos e criminosos vulgares, além de animais ferozes, eram postos para lutar uns com os outros até a morte nos assim chamados circos.

Em cada solenidade milhares de almas eram imoladas e o sangue corria solto. O paganismo antigo jamais opoz-se a este tipo de 'distração', o qual acompanhou o império até seus estertores, até ser suprimido pelos bárbaros ou pelos Cristãos.

Devemos mencionar ainda o costume, disseminado mesmo entre os homens mais sabios e virtuosos, de recorrerem ao suicidio face a situações de relativa gravidade. Houve mesmo quem fizesse apologia desta prática, sem cogitar no entanto, de que ela implica certa concessão a fragilidade humana ou a covardia.

Este problema também só pode ser superado após a adoção do modelo Cristão.

Quanto aos sacrificios religiosos, é certo que se haviam diminuido consideravelmente mesmo antes da aparição do Cristianismo, por salutar influxo da filosofia, nem por isto haviam desaparecido por completo, sendo esporadicamente realizados por ocasião de invasões estrangeiras, catastrofes naturais e epidemias; mormente nas regiões mais afastadas do Império.

Basta dizer que após a derrota de Canas dois gauleses e dois gregos foram sepultados vivos no forum boarium. Em 81 a C foi sancionada uma lei probitória quanto a este gênero de sacrificios... um ano antes no entanto Marcus Marius Gratidianus foram torturado, seviciado, martirizado, decapitado e oferecido aos manes de Quinus Catulus pelas mãos de Sérgio Catilina conforme podemos ler nos fragmentos de Cícero e Salústio, na Petição de Quintus e em Seneca (De ira III,18)

No entanto, durante as invasões bárbaras do século V, a elite romana, em especial as familias senatoriais, solicitaram permissão dos papas Ciricio e Leão para oferecer tal gênero de sacrificios aos deuses marciais. Permissão que com grande agravo de tais famílias foi negada pelos Bispos de Roma.

Também os germanos e gauleses oficiavam tal gênero de sacrificios em suas ilhas e bosques, conservando como trófeus as cabeças das vítimas.

Num e outro caso, a supressão deste rito desumano e abominável deve-se a autoridade da Igreja Católica.

Convem mencionarmos ainda a chaga do argentarismo. Não poucos nobres e senadores romanos viviam de emprestar dinheiro a juros...  Mandando a principio escravizar e posteriormente assassinar os insolventes.

Formou a agiotagem romana verdadeira máfia na capital do Império, muitas vezes presidida pelo próprio Imperador ou por seus válidos.

Somente o triunfo da Igreja pode suprimir esta prática por algum tempo.

Assim, apesar dos progressos da filosofia, de Sócrates, de Platão e de Aristóteles... ainda assim o Império era achacado por vícios deploráveis como a agiotagem, os sacrificios humanos, os jogos sangrentos, a exposição de menores, a hipocrisia religiosa, a vadiagem, o deboche, o escravismo... e cada uma destas enfermidades cruéis ia tirando a vida do corpo social até converte-lo num cadaver.

Os bárbaros a semelhança de corvos foram atraidos pelo odor putrefado do cadaver. Porque moral, social e materialmente falando o império romano não passava dum cadaver nauseabundo.

III - Panorama moral... o escravismo

Não é preciso aderir a metafisica marxista para admitir a consideravel influência exercida pelos meios de produção econômica sobre o regime social.

Mesmo sem admitir que tal influência tenha correspondido ao mesmo gráu de intensidade representando pelo economicismo contemporâneo, convem encara-la como fato.

Pois se o homem não vive só de pão, mas como ente racional que é, da unidade divina; é fato que também não vive só da unidade divina, mas também de pão e vinho ou seja de alimento material.

Ser complexo vive o homem de graça e de pão, de pão e de graça. A graça é o pão do espírito e o pão a graça do corpo e assim dos dois alimentos se nutre o homem.

Erram os idealistas ao cuidarem que viva o homem da graça apenas e erram os materialistas supondo que viva apenas de pão.

Seja como for a preparação, aquisição e distribuição de bens materiais não pode deixar de nortear os rumos das sociedades humanas.

Menosprezar o fundamento econômico é menosprezar parte do homem ou sua condição física.

A luz do principio Cristão da encarnação nem pode o Cristão deixar-se seduzir pela voz da sereia que é o idealismo ou o espiritualismo descarnado.

Então caso nos perguntemos a respeito de qual era o fundamento econômico sobre o qual estava edificada a estrutura do mundo antigo, damos sempre e em toda parte com o escravismo sejam suas formas mais ou menos rigorosas.

A principio as tribos humanas e clãs dispersos pelo mundo combatiam-se uns aos outros e faziam prisioneiros tendo em vista aplacar a fúria dos deuses com sacríficios humanos. Degladiavam-se os homens na sanha de alimentar seus deuses cruéis e sanguinários e atacavam-se mutuamente tendo em vista a propriciação dos espíritos ancestrais!!!

Enquanto vigorou este modelo de pensamento não econômico, populações inteiras, inclusive idosos, mulheres e crianças, eram imoladas sob os altares e os templos sabiam a açougues. Dia raiou no entanto em que alguém teve a idéia, a principio humanitária e piedosa, de poupar alguns prisioneiros, consagrando-os a algum tipo de trabalho. Cogitam alguns autores que tal pessoa duvidava da existência dos deuses ou ao menos da eficácia de sacríficios...

As crônicas mais remotas no entanto parecem indicar que a principio tais pessoas foram consagradas ao serviço dos próprios deuses tornando-se escravas do templo ou dos sacerdotes, cuja posição tornou-se ainda mais poderosa e prestigiosa. Não tardou porém para que os senhores temporais revindicassem sua parte do quinhão fazendo concorrência aos templos dos deuses...

Destarte converteu-se a escravidão em instituição puramente secular e espalhou-se rapidamente pelas sociedade na medida em que implicava na posse do poder e na extração das riquezas.

E sujeito ou sociedade alguma desejava permanecer a parte... todos aspiravam por auferir algum tipo de proveito.

Foi assim que instituição tão corrupta passou da antiga China, da India, da Suméria e do Egito, a Pérsia, desta a Grécia e desta a Roma, acompanhando a própria herança e evolução cultural. Do surgimento da escrita, do calendário e das cidades a destruição do Império Romano fez-se o escravismo presente em maior ou menor gráu. Nem mesmos os israelitas, que alguns encaram como povo sagrado ou divino, fugiu a regra comum, embora suas instituições, sob este aspecto particular, pareçam mais avançadas.

Quanto a pessoa do escravo, se no antigo Egito, na antiga suméria e entre os israelitas; era objeto de certos direitos, como a vida e a constituição de uma família, noutras sociedades como a grega e a romana não eram sujeitos de direito algum. Sob este aspecto assemelhavam-se a animais ou melhor dizendo a instrumentos de trabalho como a marreta, o serrote, o martelo, etc sendo assim designados e tratados sem qualquer tipo de contemplação. Basta dizer que na sociedade clássica o senhor (domino) possuia poderes de vida ou morte sobre seus escravos... e que a vida deles nada valia em termos de essencialidade.

Já aludi, no ensaio pertinente a Superioridade do Cristianismo, ao assassinato de Pedânio Secundo. Tendo sido ele assassinado por um de seus escravos, todos as quatrocentas 'cabeças' que lhe pertenciam foram condenadas a morte e executadas consoante determinava a tradição romana.

Grosso modo os escravos eram apressados por ocasião das guerras, manietados, marcados com ferro em brasa, oferecidos em mercados especializados, comprados a 'resma' e submetidos aos mais duros trabalhos sob o regime da chibata. Eles não trabalhavam ou apanhavam mas trabalhavam e apanhavam, e caso se recusassem a trabalhar eram sujeitos a tortura ou a pena capital. Quando fugiam eram perseguidos e quando encontrados severamente castigados, inclusive com a mutilação de membros...

Não lhes era permitido constituir familia (Embora fossem levados a procriar - produzindo com isto novos escravos.) ou fortuna e tudo quanto ganhassem no execicio deste ou daquele oficio devia ser integralmente posto nas mãos do senhor. Não podiam votar nem ser votados, não podiam depor nos tribunais e sequer tinham direiro ao exercício da religião sendo sua presença expressamente proibida nos templos de diversas divindades...

Ao chegar a velhice ou a doença, quando não mais podiam trabalhar eram expostos ou abandonados para morrer nas ruas e praças dos bairros mais miseráveis. Mortos seus corpos eram lançados ao Tibre ou a cloaca maxima...

Apesar de tanta indignidade o número deles eram incrivel tanto em Atenas, quanto em Roma e nas principais cidades do império. Tanto que era expressamente proibido uniformiza-los para que não conhecessem seu número e força.

O Império romano fez do escravismo a base de sua econômia e de seu poder. Após a conquista de Cartago e o apressamento de um número considerável de prisioneiros, logo convertidos em mão de obra boa e barata, Roma não parou mais...

Assim sendo, guerra após guerra, vinha a aumentar o número de escravos e com isto a produção de bens e o poder econômico. Nem é preciso dizer que esta oferta excessiva de trabalho escravo acabou dando cabo do trabalho livre, digno e honesto... perdeu o trabalho livre todo seu valor e em seguida a própria dignidade uma vez que o cidadão livre já não cogitava em exercer qualquer trabalho duro para não ser confundido com um escravo...

Converteram-se os cidadãos livre e pobres em vagabundos até formarem uma massa de ociosos tão grande a ponto de exercer certa influência sobre os poderes constituidos e deles obter o regalo que desginamos com o titulo de 'pão e circo'. Alimentava o império tais massas de desocupados por termer que pudessem vir a ser manipuladas por demagogos profissionais turbando a ordem pública...

Quanto aos nobres e poderosos viviam de rendas, isto é, de terras cultivadas por miriades des escravos... daí o empenho dos mesmos em fazer guerras e obter mais terras e mais escravos, aumentando suas fortunas.

Acontece que a terra não é ilimitada.

Dilatando suas conquistas e conquistando todo circulo do mediterrâneo, teve o império romano de cogitar em límites, mormente porque confinava já com o Império dos persas sassânidas, e este com o povo do Indo, e este com o grande Império Chines... a oeste estava o Atlântico com suas águas... ao Norte as selvas e geleiras em que habitavam os bárbaros germânicos indomáveis, e ao Sul a África negra classificada por Aristóteles e Estrabão como a zona tórrida. Não havia mais para onde expandir-se...

Não havia mais para onde crescer...

Havia o gigante atingido o máximo de tamanho possível.

Aqui um problema bastante sério.

Sem expansão ou seja sem guerras e conflitos, donde viriam os escravos, a terra ou o ouro???

De fato não viriram e não vieram. Eis porque aos poucos, paralizado, o Império entrou em crise, numa crise de natureza econômica que veio a destrui-lo. Outro fato não menos exato é que ao menos aqui - como assevera Gibbons e sua memorável obra a respeito da decadência do Império Romano - o Cristianismo não permaneceu indiferente tomando parte ativa na determinação do rumo que as coisas vieram a tomar, a ponto de ser apontado e 'denunciado' como uma das causas responsáveis pela destruição do Império...

Aqui estamos de acordo. Pois como veremos mais a frente o Cristianismo foi a primeira força ou instituição a opor-se conscientemente ao escravismo. Basta dizer que na medida em que a fé Cristã se expandia o número de escravos diminuia, tendo em vista os que eram alforriados...

Esta redução sensível da mão de obra escrava durante o século II determinara uma sensivel diminuição do número de bens produzidos e oferecidos e consequentemente o encarecimento paulatino dos mesmos, ou seja, o aparecimento do fenômeno hoje conhecido como inflação; cujas verdadeiras causas, por nós assinaladas, passavam a largo das vistas do homem antigo.

Eles podiam ver o efeito, a constante subida dos preços e o consequente aumento da miséria; mas não podiam chegar as causas primeiras: o modelo escravista, a falta de guerras, o pão e circo, etc

E assim continuavam a caminhar para o abismo...

Cogitou o imperador Diocleciano, como o presidente Sarney nos anos 80, em tabelar os preços e proibir o aumento; como se as leis pudessem conter os fenômenos de ordem econômica... outros optaram por aumentar os impostos e por onerar os pequenos agricultores livres que ainda se obstinavam em lavrar a terra e em suprir o mercado alimentício.

Como não podiam quitar seus tributos, os pequenos agricultores abandonaram suas propriedades e afluiram as metropoles, especialmente a Roma, onde era distribuido o 'pão e circo' isto é rações e prebendas financiadas pelo erário. Disto resultou o êxodo urbano e o esvaziamento dos campos...

E consequentemente a diminuição do montante de gêneros alimentícios e o aumento de seus preços... e como até os escravos comiam, o preço do trabalho e de todos os outros bens...

Era um verdadeiro abismo que se abria a cada geração.

Os jovens nascidos em meio a este mórbido estado de coisas já não pensavam em sacrificar suas vidas nas fronteiras por um Império moribundo. Os discursos a respeito da deusa roma, de marte, de belona, do império, de augusto, do dever, da coragem, etc já não convenciam a quem quer que fosse porque o pão e circo satisfaziam as necessidades básicas que não tocavam ao ideal... O exemplo de um Aquiles ou de um Alexandre tocavam já os corações de poucos... os jovens, fossem patricios ou plebeus estavam já cientes de que toda elite dominante havia abraçado ao ceticismo, ao relativismo, ao pragmatismo ou mesmo a um epicurismo muito mal compreendido... e que ninguém cogitava mais em sacrificar-se pela República.

O tempo dos Scevola, dos Catões, dos Brutos e dos Cassios havia já se esgotado e sua sementeira tornara-se estéril... só em troca dum opulento salário concordava algum jovem de origem obscura em passar as fronteiras e opor-se aos germânicos, cada vez mais temidos e tidos em conta de invenciveis pelo populacho...

Tudo isto estava esgotando as riquezas pilhadas pelo império e exigindo certa moderação por parte dos próprios césares. No século II ou III nenhum deles cogitaria em gastar como um Calígula ou um Nero, o tempo dos palácios, templos, aquedutos e obras descomunais ia longe...

Foi quando o Imperador promulgou decreto que fixada os pequenos proprietários livres a terra, para que cessassem de passar as grandes cidades e acabassem por despovoar o campo por completo. E como eles não podiam pagar os impostos... o Império acabou por admitir o pagamento das tachas em gêneros ou por prestação de serviços.

Sistema que veio a predominar durante a assim chamada Idade Média. Barganhava já o poderoso império com gêneros de primeira necessidade tendo em vista a manutenção do 'pão e circo' e o pagamento dos oficiais, os quais no entanto aspiravam por ouro apenas... enquanto isto as massas citadinas, entregues ao ócio, engordavam como manadas de porcos e ignoravam todo e qualquer tipo de disciplina. Como observa Agostinho, dando apenas com o elo final da corrente, eles ignoravam por completo as virtudes de seus nobres ancestrais e não passavam de um bando de degenerados...

Tendo Alarico, exigido a rendição incondicional da cidade de Roma, responderam-lhe os Senadores dizendo que contavam com milhões de cidadãos dentro dos muros da cidade. Diante disto replicou o lider bárbaro: Quanto mais grossa for a erva, tanto melhor para afiar o gume de nossas espadas! Porque aquela carne mole e flacida era incapaz de fazer-lhe frente...

Tivesse Anibal dado com ela quinhentos anos antes e Roma teria pura e simplesmente acabado... Anibal no entanto dera com um povo ainda muito pouco corrompido pelo escravismo e já foi obervado que a conquista de Cartago pelos romanos, foi o primeiro passo rumo ao abismo. Pois Roma sendo uma simples cidade e tendo conquistado todo circuito do Mediterraneo, drenou para si toda riqueza da região... a semelhança de um corpo gigantesco que concentrando todo sangue na cabeça, acaba perecendo vitimado por uma congestão ou por um derrame.

Eliminando os mercados rivais, como Cartago, Alexandria, Antioquia, etc Roma sequer tinha como exercitar suas habilidades e virtudes...

O Dominio sobre todas as cidades rivais, associado ao escravismo e as filosofias cética e epicurista (segundo a versão popular ou corrente) deram cabo do Império. Também o Cristianismo contribuiu poderosamente com isto na medida em que apresentava outros principios e valores bastante distintos daqueles que haviam constituido o império, quais fossem a sacralidade da vida humana, a dignidade, a liberdade, o amor a paz, a justiça, a fraternidade, etc A principio a instituição Cristã condenava não apenas o escravismo mas a própria guerra e proibia seus membros de alistarem-se como soldados...

Ela também condenava o culto cívico tributado as divindades tutelares, ao gênio ou anjo de Roma, ao imperador, etc No qual os bem pensantes, como diz Origenes, igualmente não acreditavam, mas que teimavam em manter por ficção, tendo em vista a captação de recrutas i é de futuros soldados.

II - Panorama moral...

Do ponto de vista teórico o mundo antigo tinha tudo para dar certo.

E no entanto este belo mundo sossobrou fragosamente e de tal modo que hoje subsistem dele apenas uns fragmentos esparsos, cinzas frias que sucederam a ruínas fumengantes e escombros...

Havia Roma destruido todas as bibliotecas e Arquivos de sua rival Cartago, pagaram-lhe os germânicos destruindo a ferro e fogo suas quarenta bibliotecas públicas, a primeira das quais fora criada por Augusto e entregue a direção de Asinio Polião. Assim também a Biblioteca de Alexandria, com seus cerca de um milhão de volumes, foi encinerada por decreto do Calida Omar.

"Caso tais livros discordem do Corão, são heréticos; ao fogo com eles. Caso estejam de acordo com o Corão, são inuteis; ao fogo com eles." são as palavras transmitidas pelos próprios cronistas muçulmanos.

Filiponos no entanto, certifica que os monges fanáticos deram cabo de Hipátia. Filóstorgo, o ariano, revindica a façanha para seus correligionários... seja como for a investigação científica atingiu seus máximos limites no mundo antigo...

Justiniano, o imperador herético, seguidor de Juliano de Halicarnaso; é comumente execrado por ter mandado fechar a acadêmia e o líceu de Atenas, após quase mil anos de tradição...

Em que pesem os defeitos de Justiniano devemos compreender bem o que eram a acadêmia e o liceu no tempo em que foram mandados fechar por ele...

No frigir dos ovos, estas duas escolas comportam dois módulos bastante distintos de pensamento e contem em si, desde o principio, germes de um conflito cujas dimenssões haveriam de aumentar paulatinamente até dar origem a uma verdadeira guerra...

Tais as cosmovisões de Platão e de Aristóteles do ponto de vista epistemológico e científico.

Platão de certo modo conserva e amplia as tradições ancestrais, legadas pelos egipcios e fenicios, ao pensamento grego, com suas ilações místicas e quase que religiosas.

Tal conteúdo foi ampliado, por influência dos 'mistérios' - aos quais Platão era bastante afeiçoado - até o maniqueismo ou a compreenssão de que a matéria era má em si mesma ou no mínimo inferior ao elemento imaterial. Efetivamente se os platônicos não eram capazes de encarar este mundo sensivel senão como cópia ou plágio do mundo ideal, seus sucessores os neo platônicos não hesitaram em apresentar a matéria como algo de que os espírito deveria libertar-se a guiza de purificação.

Não é aos Cristãos e sim aos neoplatônicos que devemos atribuir os fundamentos mais remotos do que compreendemos sob a alcunha de idealismo. Pois sabemos que Platão era partidário do realismo absoluto e seu mundo ideal tão material quanto o nosso...

Plotino, Porfirio, Jamblico, Amônio, etc é que imaginaram o mundo de Platão como algo puramente imaterial ou espiritual. Os Cristãos deram continuidade a este padrão de pensamento...

Naturalmente que este modo de encarar o mundo sensivel tem consequências do ponto de vista epistemológico e ciêntifico.

O outro ponto de vista corresponde ao de Aristóteles e do Líceu.

Aristoteles era realista equilibrado, acreditando que o verdadeiro mundo ou o mundo real era este nosso próprio mundo e que os sentidos eram o aparelho adequado para devassa-lo.

Para ele a mente era como uma 'tabua rasa' a ser preenchida por nossas percepções sensoriais.

A inferência lógica é que este mundo merece ser observado, percebido, conhecido e compreendido por nós e que a melhor maneira de conhece-lo é aplicar a atenção dos sentidos. Daí a doutrina da experiência...

Posta em prática pelos já citados Straton, Teofrasto, Dikaiarkos, Arquimedes, Hiparco, Eratóstenes, Aristarco, etc legatários do pensamento aristotélico e 'filhos' do líceu. A tais homens devemos as primeiras descobertas e conquistas no plano científico, como o heliocentrismo por exemplo. Foi graças a eles que a física, a sociologia, a política, a biologia, etc converteram-se em conhecimentos seguros e certos.

Eles lançaram as bases do pensamento científico enquanto os partidários da acadêmia e os sucessores de Plotino chafurdavam cada vez mais no pântano do misticismo.

Durante cerca de três séculos houve, como já foi dito, uma espécie de combate ou duelo entre as duas correntes rivais. Ao fim deste duelo excepcional deu o pensamento aristotélico/empirista mostras de desgaste e esgotamento, caindo sob os golpes do ceticismo a um lado ou da credulidade a outro.

Moralistas declaravam que os domínios do conhecimento físico ou natural eram incertos e inseguros; neo platonizantes procuravam inserir a teúrgia ou seja a magia no santuário da filosofia. Disto tomaram pé os cultos de mistério primeiramente e em seguida os cultos de origem oriental quais sejam judaismo, mitraismo e o próprio Cristianismo... tudo sempre permeado pelo idealismo crasso ou por um espiritualismo absoluto, face ao qual a investigação científica perdia o sentido.

Os céticos descartavam a investigação e os esforços dos aristotélicos como vãos. Os platônicos acreditavam obter conhecimentos mais seguros por via de introspecção ou mesmo de bruxaria... Foi quando no século I desta nossa Era a investigação científica cessou, ao menos enquanto prática sistemática e organizada.

A tenssão social conduziu os ricos, nobres e poderosos as confortáveis pradarias do ceticismo, do relativismo, do sujetivismo, etc enquanto as massas precipitavam-se nos abismos deletérios do idealismo, dos misticismo, da teúrgia e da religiosidade casmurra. Infectado pelas correntes platônicas e platonizantes o Cristianismo não logrou obter qualquer sucesso ou progresso no âmbito do conhecimento científico, sendo afetado inclusive no próprio campo da ética.

A vitória ou o triunfo de Platão, associada ao escravismo, constitiu a chave para que possamos compreender e deslindar os motivos porque veio a perecer o mundo antigo. Pois se a ética platônica era muito semelhante a ética Cristã, serviu tal semelhança como uma espécie de isca... fazendo com que a Cristandade bebe-se da mesma fonte os degetos idealistas, a epístemologia corronpida e o vezo anti científico que havia já contaminado a acadêmia e enfim o próprio Líceu.

Sintomático é que o Cristianismo não combateu nem triunfou de um aristotelismo que já estava agonizante ou morto. Triste e angustioso é saber que o derradeiro rival do Cristianismo no campo da Filosofia, foi a corrente espúria do neo platonismo; corrente ainda mais mística e religiosa que o próprio Cristianismo.

Não matou o Cristianismo a autêntica filosofia, como jamais terçou armas ou incompatibilizou-se com ela pelo simples fato de não a ter conhecido. A Filosofia que faz oposição ao Cristianismo exige mais fé do que ele próprio... Diluira-se o pensamento em misticismo muito antes que o Cristianismo viesse a triunfar.

Destarte quando Justianiano mandou fechar a acadêmia, o Liceu, o pórtico e outras tantas escolas, estavam todas já convertidas em igrejolas de Platão ou em capelas de Plotino.

Seja como for esta diluição do aristotelismo e do pensamento científico/empirista nas cogitações doentias do neo platonismo e do gnosticismo, comporta a suprema tragédia do mundo antigo no plano das idéias. Como o escravismo comporta a suprema tragédia do mundo antigo no plano material ou social.

Estavam pois completamente podres os fundamentos daquele mundo.

O fundamento teórico por assim dizer aluido pelas quimeras neoplatonizantes e o fundamento material corroido pelo regime escravocrata. E o fundamento ético ou moral abalado pela fragilidade do cárater.

Eis porque carecendo de fundamentos sólidos todo aquele mundo estava prestes a cair ou a desabar ruidosamente como uma catedral em chamas...



quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

I - Panorama moral do tempo anterior a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo

Este artigo não tem por fim, como tantos e tantos do gênero, pintar o mundo pagão ou ante Cristão como absolutamente mau, tal e qual não houvesse nele um só fragmento de virtude.

Mesmo teóricos pessimistas e exclusivistas como Agostinho e Calvino não puderam deixar de reconhecer certa aparência de virtude em almas como a de Mucio Scevola ou dos irmãos Graccos. E Cristãos houveram que iluminados pela fé não deixaram de render preito de admiração a Arria, esposa de Peto Tracéias, a qual tendo cortado suas veias disse enternecidamente ao esposo: "Veja querido esposo que não dói."... ou a Paulina, que abriu suas veias por estima ao marido.

Só uma alma vil, cuspida pelo averno seria capaz de deixar de chorar as desditas de Priamo, Hécuba, Heleno e Cassandra...

Só um espírito tacanho e obtuso deixaria de comover-se diante da constância de um Zeno, o qual por suas idéias deixou-se moer numa engenhoca, diante de coragem de um Pitágoras que se deixa torrar ao fogo lento com sua cátedra, diante da serenidade impassível com que o filho de Sofronisco ingere seu cálice de cicuta, diante da paciência com que Calistenes amarga em sua gaiola, e especialmente diante da cena imortal em que Epicteto diz a seu senhor: 'Se puxas minha perna de tal forma acabaras quebrando-a.' e pouco depois 'Bem disse que acabarias por quebra-la.'

Só uma natureza degenerada deixaria de curvar-se perante um Helvidio Prisco, o qual por puro despeito do Imperador Vespasiano - que não suportava a elevação de seu cárater - é enviado ao cepo.

Para nosso delite Epiteto reproduz o último dialogo que o homem teve com o César e o qual nada fica devendo aos 'Atos' dos nossos mártires:

"Quando Vespasiano enviou ordem a Helvídio Prisco para que não viesse ao Senado, Prisco respondeu: "Esta em teu poder permitir que eu seja ou não membro do Senado, desde que eu sou, virei.". "Vá" diz o imperador "Mas não abra a boca!". "Se não solicitas minha opinião, em silêncio fico." replicou ele. "Mas devo solicitar tua opinião." rebate Vespasiano. "E eu devo dizer o que penso ser certo." responde o filósofo. "No entanto se voce o fizer vou condena-lo a morte." arremata o Cesar. "Quando eu reconheco que sou mortal faço minha parte quando voce mata faz a sua, porque sou filósofo e vossa graça Imperador, então cada qual faz sua parte: decretais minha morte e morro, mas não por medo apenas por condição; caso desejais banir-me sem qualquer constrangimento me vou."

Sabiam pois os antigos enfrentar a morte com coragem, tal a esposa de Amilcar e seus filhos lançando-se as chamas que devoravam o templo de Schemoun sob o olhar estupetafo de Scipião... Tal a intrepidez do Jovem Catão que retalha seu ventre para morrer com a República.

Não ignoravam nossos antepassados a virtude.

Caso passemos nossos olhares pelas diferentes culturas dos tempos passados, depara-mo-nos aqui e ali com luminosos clarões. Ora em Mo tse que séculos antes do divino Mestre anunciara aos 'seres' a lei suprema do amor, ora em Confúcio e em sua piedade filial, ora em Mencius e sua devoção para com a justiça que sabe a Platão e sua República, ora em Buda e em seu amor dedicado a todas as criaturas vivas e em seu repúdio aos sacrifícios sangrentos.

Desejando recuar ainda mais nas brumas dos tempos remotos e primitivos damos com a sabedoria singela de um Phta Hotep... ou dum Kaghemeni.

Então não se diga que recusamos fazer justiça aos pagãos virtuosos que precederam a manifestação de nosso grande pedagogo Jesus Cristo.

Nós reconhecemos que em todo tempo e lugar existiram homens que aspiraram pelo ideal virtuoso, pelo bem, pela santidade e pela perfeição; embora nem sempre a natureza mostrasse constância neste caminho e o heroismo ficasse restrito as almas de escol. É como se a vontade se inclinasse para a direção mas o cárater denotasse certa fragilidade...

De fato não poucos a exemplo de Pitagoras, Demócrito, Arquitas, Xenofanes, Platão, Cimas, Cebes, Espeusipo, Antistenes, Crisipo, Clearco, Cleanto, Panécio, Possidonio, etc discorreram sobre a virtude e muitos em termos bastante próximos daquilo que mais tarde veio a ser revelado por nosso abençoado Mestre. Origenes ao que parece fez justiça a tais escritores, acrescentando todavia que parte deles não procedera imaculadamente segundo as belas palavras que haviam escrito...

Então eles parecem ter aspirado pela virtude e desejado uma condição moral de natureza superior, embora nem sempre tivessem tido a fortuna de viver conforme o ideal desejado.

Tomemos os escritos do nobre Musonius Rufus.

Que diz ele?

Diz que a filosofia deve ultrapassar as palavras. Admitindo que muitos pensadores elaboravam discursos bastante belos e elevados, embora nem sempre soubessem proceder deacordo com os mesmos discursos.

E acrescenta que o objetivo da filosofia era 'Purificar a mente da corrupção.'

Além disto nosso homem assevera que a filosofia deve ser cultivada por todos os seres humanos, sejam homens ou mulheres, tendo em vista a vida virtuosa. Apregoa a sacralidade da vida humana, inclusive no que tange aos recém nascidos, e o vegetarianismo.

Ocioso é acrescentar que seu sistema é iminentemente prático pois Rufus encara a virtude como habito que deve ser exercitado diariamente.

Enfim todos os seus discursos destacam-se pela nobreza e a elevação.

Por outro lado é igualmente sabido que o estoicismo exerceu salutar influxo sobre a elaboração das leis durante o período ante Cristão, favorecendo em certo sentido a implantação de nossas instituições. As quais seus mentores haviam de certa forma delineado e desejado... assim a assistência aos escravos e a condenação do infanticídio.

Leis humanitárias como já foi dito estavam sendo urdidas e implantadas algum tempo antes do surgimento ou da afirmação do Cristianismo.

Sócrates havia dado seu testemunho como mártir do humanismo, do pensamento crítico e da liberdade. Platão escrevera já sua República, enfatizando o papel basilar da justiça e fundado sua acadêmia e Aristóteles escrevera já sua Ética, recomendando aos homens uma vida sóbria e equilibrada... Zenon sob o pórtico proclamara já a inflexibilidade radical do bem e da virtude.

Teofrasto, Dikaiarcos, Straton, Arquimedes, Hiparco, Aristarco e outros haviam lançado as bases da pesquisa e do conhecimento cientificos. Em Alexandria florescia uma 'universidade' que nada deve as modernas e a magnífica Biblioteca. Em Atenas, Pergamo e mesmo na Roma de Augusto, Bibliotecas, museus, pinacotecas, etc estavam dispostos a educação dos seres humanos...

Teoricamente falando tudo augurava melhores dias para a humanidade e longa e brilhante tragetória para aquele mundo, cujos mestres e professores aspiravam pelo supremo bem e pela máxima felicidade.

Verificaram-se no entanto tais augurios e concretizaram-se tais esperanças???

Encaminhou-se este velho mundo para o bem e a virtude segundo os preceitos e conselhos de seus sábios mestres e doutos moralistas???

Porque me parece que nobres e elevadas aspirações não faltavam aquele mundo.

Seriam tais aspirações suficientes???

Vejamos no próximo capítulo.

 

Se Jesus foi mau filho ou destratou sua mãe...

Habeis são os protestantes em emitir opiniões que posteriormente são adotadas pelos adversários do Cristianismo e lançadas contra Nosso abençoado Mestre.

Uma destas objeções consiste em afirmar e suster que o divino Mestre jamais tratou a Santa Virgem com verdadeiro afeto filial, destratando-a algumas vezes inclusive para dar exemplo a Igreja Católica... Tal a rematada cegueira e loucura dos sectários.

Disto sacam os materialistas e ateus, e com plena razão, que Jesus Cristo não constitui bom exemplo para os seres humanos...

Eu mesmo quando moleque, ao ouvir as críticas dirigidas pelos fanáticos ao culto tributado pelos romanos a Virgem Mãe de Cristo e as observações nada reverentes que faziam a respeito de sua pessoa, classificando-a como 'Uma mulher ordinária', deduzia já a falsidade do sistema criado pelo Dr Lutero, pois não compreendia como alguém pode amar determinado fruto e rebaixar ao máximo a árvore responsável por sua produção... e estava persudido que a dignidade do fruto deve corresponder a excelência da árvore.

Mais tarde, durante a adolescência, quando lí sobre o respeito tributado pelos muçulmanos a memória da Ahmina, mãe de Maomé e de como ele verteu copiosas lágrimas sobre a sepultura da mesma; e quando li sobre a veneração dedicada a Maha Maya pelos budistas, certifiquei-me a respeito da insensatez protestante.

Partindo deste ou daquele texto pessimamente interpretado julgam eles que o Salvador bendito folgava em desonrar publicamente sua mãe... e que é dever deles imitar semelhante procedimento e proferir as mais grotescas vulgaridades a respeito dela.

A primeira fonte a que os sectários costumam apelar é a narrativa do primeiro milagres ou seja a conversão da água em vinho durante as bodas oficiadas na cidadezinha de Caná da Galiléia, bodas que a segundo reza a tradição, teriam sido as bodas do quarto evangelista... ou seja do próprio S João.

Felizmente nem todos os protestantes primam pela desonestidade.

Felizmente há um erudito do quilate de Russel Normann Champlinn:

"Esta teoria - do desrespeito ou da repreenssão - NÃO SE APLICA AO IDIOMA FALADO POR JESUS, OU SEQUER AO GREGO. A despeito do fato de que em Grego, que não comporta qualquer tipo de desrespeito...

2. A própria forma de tratamento em questão não envolve qualquer laivo de desprezo, e nem mesmo a qualquer tipo de reprimenda. AUGUSTO ASSIM SE DIRIGIU A CLEOPATRA, RAINHA DO EGITO (apud Dio Cassio, in Lange) e Jesus, mais tarde, assim tratou a Maria Madalena, e respeitosamente segundo lemos em João 20,15. NOS ESCRITOS CLÁSSICOS DAS TRAGÉDIAS GREGAS, ESTA FORMA DE TRATAMENTO É CONSTANTEMENTE DIRIGIDA A RAINHAS E SENHORAS DE DISTINÇÃO." R N Champlinn loc cit

Quanto a expressão: "Que tenho eu contigo." pode muito bem ser traduzida como: "Que temos eu e tu a ver com isto." e compreendida como um simples "Não te importes com esta questão, não nos diz respeito."

O que tampouco implica qualquer tipo de repreenssão.

Por outro lado caso a Virgem merecesse qualquer tipo de reprenssão por ter solicitado a intervenção do Senhor, mais digno de repreenssão seria ele por te-la repreendido e em seguida executado seu pedido e convertido em água e vinho. Digam os protestantes aquilo que quizerem, gritem e batam os pés, o certo, o exato, é que por fim Jesus atendeu a súplica de sua mãe e concedeu o que ela lhe pediu...

Para que os protestantes tivessem um pingo de não deveria existir qualquer milagre ou evento denominado Bodas de Caná... a simples existência da narrativa intitulada 'as bodas de Caná' implica no fato de que, em que pesem os obstáculos postos pelos protestantes e toda verborragia de seus comentaristas, Jesus Cristo atendeu a súplica de sua mãe. E ponto...

E ele poderia muito bem ter se feito surdo e deixado de atende-la, mas não o quiz fazer porque não era animado pelos mesmo espírito que os protestantes.

A segunda passagem a que recorrem os protestantes diz respeito a aclamação dirigida a Nosso Senhor  por uma mulher do povo: Bendito o ventre que te gerou e os seios que te amamentaram.

Aclamação a qual o próprio Salvador teria oposto a seguinte observação: "Antes benditos aqueles que escutam a palavra divina, creem e executam."

Diante disto alegam os fanáticos que a Virgem não seria bendita ou que sua ligação com o divino Mestre não seria digna de consideração.

No entanto se desejamos compreender o sentido da aclamação feita pela mulher judia, devemos ter em mente que os judeus costumam valorizar excessivamente os laços de parentesco ou sangue com que estavam ligados ao patriarca Abraão, asseverando inclusive que tais laços equivaliam a bem aventurança celestial e a título de salvação eterna...

Naturalmente que a concepção materialista que inspirara a aclamação feita pela mulher estava errada, precisando ser corrigida pelo Mestre imortal.

Caso a única ligação existente entre Nosso Bom Mestre e sua mãe fosse puramente material, biológica ou carnal, restringindo-se a geração física, pouco seria o merecimento obtido pela Virgem.

Ocorre no entanto, como diz S Ambrósio, que "Antes de gera-lo em suas entranhas a Virgem gerou o Verbo pela fé em seu coração.", eis porque o próprio Espírito Santo declarou: "Bendita és tu que acreditaste nas palavras que te foram dirigidas."

Portanto, quando disse o Salvador que 'Antes são bem aventurados os que ouvem a palavras, acreditam e executam.' de modo algum exclui a Virgem sua mãe. Pois ao contrário do que supõe a tolice protestante foi pela fé dela e pelo sim proferido por ela que "O Verbo se fez carne e habitou entre nós."...

Só mesmo a mente desviada para conceber a Santa Mãe do Senhor como uma hesitante, incrédula ou mulher de pouca fé. Quando as mesmas santas e divinas escrituras declaram: 'As gerações todas me proclamarão Bem aventurada.' E por que? Porque acreditou!

Merece pois a Virgem ser tida em conta de Santa, bendita e Imaculada, não apenas por ter gerado em suas entranhas o corpo de seu próprio Criador, mas sobretudo e antes de tudo por ter acreditado nele e colaborado com ele. Porque seus laços com o divino Mestre, ao contrário do que supunha a mulher judia, não se limitavam a superficialidade da carne e do sangue, mas comportavam, pela fé, a esperança e a caridade, um íntimo parentesco espiritual.

Então podemos já dizer e declarar que se a nós não é dado escolher nossas próprias mães, tal foi concedido a natureza divina, eterna e imortal, a qual desde toda eternidade selecionou aquela que seria, juntamente com o Espírito Santo, agente o mistério sublime da encarnação. E se nós sendo maus saberiamos escolher as melhores mães para nós mesmos, como deixar de crer que Deus escolheu para si a mais excelente dentre todas as mulheres? Como crer ou supor que a Natureza perfeita escolheria para si uma mãe ordinária? Como ousar supor que a Natureza Santa e abençoada escolheria para si uma mãe defeituosa e grosseira quando mesmo uma criança humana não deixa de escolher para si o melhor dos brinquedos disponíveis???

Aqui a loucura protestantes manifesta-se a plena luz do dia... e por isto blasfemam dizendo que o Senhor tratou sua mãe com rispidez ao referir-se a ela sob o termo de 'mulher' o que, como já foi dito, esta de pleno acordo com a cultura do tempo e o trato em vigor naquela época.

Ou que insinuou não haver qualquer ligação entre ambos, ou ainda que ela não faz juz ao título de bendita... e outras obcenidades e impudicices com que bridam não só a mãe mas antes de tudo ao Filho divino. Pois deleitam-se eles em pensar que a mãe daquele que adoram era igualzinha as mães deles... assim imaginam um deus demasiado vulgar.

A guiza de justificação, tendo em vista a fundamentação de seus preconceitos, alardeiam os protestantes que Jesus não estava sujeito a sua mãe e que não lhe devia qualquer tipo de consideração porque era divino ou deus...

E os pastores por puro e simples ódio a 'mulher' vão alimentando esta teologia putrefata, mesmo quando não ignoram o que esta por detrás disto tudo.

Seus mestres e doutores no entanto estão perfeitamente cônscios de que todo e qualquer ataque a maternidade divina de Maria, é tiro dado no próprio pé na medida em que põe em duvida a Cristologia Calcedoniana... atingindo não a Virgem, mas a união hipostática existente entre as duas categorias divina e humana de Nosso Senhor, a comunhão de bens, as operações teândricas, etc Tudo isto fica exposto ao chumbo grosso fundamentalista...

E das 'cinzas' de Calcedônia, que é o selo da Ortodoxia Católica e perfeito complemento da teologia nicena ou atanasiana, surge a 'fênix' nestoriana (jamais professada pelo próprio Nestório - cf o 'Bazar de Heráclides' - mas por alguns de seus seguidores fanáticos) e a fênix monifisita ou eutiquiana...

Rios de tinta ja foram escritos a respeito de como os protestantes por puro e simples preconceito ou ódio teológico, tem chafurdado miseravelmente no pântano das cristologias furadas dos sucessores de Nestório, de Eutiques e de Juliano de Halicarnasso; na prática banidas e repudiadas por todas as Igrejas apostólicas a partir do século XIII. Vivem no entanto as aberrações Nestoriana e Eutiquiana nas tabas de Lutero...

No frigir dos ovos alardear que Nosso Senhor não estava obrigado a honrar sua mãe ou a trata-la com deferência porque era deus ou divino é pura e simples balela caso admitamos com a ortodoxia que além de deus, era o Cristo igualmente perfeito homem, em tudo igual a nós exceto no pecado...

Corrijamos pois a teologia capenga dos protestantes: Cristo ou Jesus não é deus, mas verdadeiro Deus e verdadeiro homem e como verdadeiro homem submisso a lei moral ou a lei da consciência, enquanto emanação da vontade divina. Como autêntico representante da raça humana estava Jesus, sob pena de pecado, obrigado a observar os preceitos sagrados do decalogo, dentre os quais: Honrar pai e mãe, inclusive sendo tolerante e condescendente quando pecam por ignorância... o que sequer se aplica a Virgem Santa... Destarte não poderia o Salvador ter destratado ou menosprezado sua santa mãe sem ter pecado e como tal se mostrado puramente humano...

Eis porque os ateus, materialistas e incrédulos acabaram embarcando no reboque do protestantismo.

Por outro lado, caso os protestantes admitam a condição humana do Salvador e insistam sobre a separação existente entre a Virgem e a condição divina, a qual ela proveu de um corpo físico e alma racional; devem admitir com os nestorianos que a ligação entre as duas naturezas ou categorias era meramente externa e artificial. E que na verdade existem dos Cristos ou dois jesuses, um humano e um divino bem separados um do outro e unidos apenas moralmente, como o esposo e a esposa pelos laços do matrimônio... Se os protestantes desejam que paguem tributo a esta teologia asquerosa e apresentem a humanidade dos jesuses ou dois cristos separados para sua suprema vergonha. Só assim a mãe do homem não será igualmente mãe de Deus pela intima ligação existente entre as duas naturezas, a qual assemelha-se a ligação existente entre nossas almas e corpos... a qual nos permite classificar nossas mães como nossas verdadeiras mães e não como 'mãe de nossos corpos'...

Fossem honestos, nossos protestantes principiaram por tratar suas mães consoante Cristo tratava a sua e apresenta-las dizendo: "Eis a mãe do meu corpo." Eles no entanto aplicam sua teoria ao Redentor apenas, por ódio a Virgem e destarte partem o mistério em dois e tomam o caminho da blasfêmia. Afinal se Deus não tem mãe, também não tem sangue, nem corpo, nem cruz, nem morte... alias Deus nem sofre...

Posto esta que este Deus não é o Deus plenamente encarnado dos Cristãos mas um híbrido externo e monstruoso. Um Frankestein teológico construido pelos anti marianos...

Aqui tudo é péssimo: a moral, a exegese, a teologia, etc um acervo abominável de sofismas e sandices assadas no forno do livre exame.

Nós no entanto como cremos que Deus verteu seu sangue, padesceu e morreu no complemento de sua natureza humana cremos igualmente que Deus teve mãe pelo complemento da mesma natureza com o qual ele é um só e não dois.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Jesus e o vegetarianismo. Porque Jesus não abraçou o regime vegetariano???

Sei quão polêmico é abordar o tema do vegetarianismo, mormente quando nossa perspectiva é Cristã ou melhor Católica.

Para alguns dos nossos o hábito que comer carne vermelha é quase que um dogma de fé uma vez que Jesus deve ao menos ter comido carne de carneiro durante a Páscoa dos judeus, a qual correspondia a um ritual carnivoro. Que Jesus Cristo tenha ingerido carne branca ou alimentado-se de peixes é afirmado narrativa evangélica...

Nem nós aqui propomos ou sustentamos o vegetarianismo absoluto. Nosso questionamento aqui diz respeito apenas a carne vermelha ou ao consumo da carne de nossos irmãos mamiferos quais sejam cavalos, porcos, bois, cabras, etc animais nos quais apresenta-se já elevado indice de inteligência e impulsos de natureza sentimental, o que não pode mais ser ignorado pelo homem moderno.

Durante o passado século, e até algumas décadas, era comum ouvirmos as pessoas mais rudes e ignorantes, mormente quando inspiradas pela fé Cristã, exclamarem que os animais não tinham alma ou espírito imortal porque não pensavam e não partilhavam de nossos sentimentos...

Sem embargo disto Voltaire já havia refletido sobre as capacidades dos animais e salientado que são capazes de pensar e de sentir em termos muito próximos dos nossos. Naturalmente que ele sacou as inferências em termos bastante escandalosos para o tempo...

Ou eles e nós partilhamos do mesmo espírito imortal em niveis ou escalas diversas; ou somos ambos - os animais e nós - isentos de esperança para a imortalidade...

Devo dizer ainda que os preconceitos 'cristãos' determinaram que não poucos, diante dos fatos, chegassem a segunda conclusão e despenhassem nos abismos do materialismo.

Tais as consequências dos falsos dogmas que nada tem de Cristãos.

Como a suposição de que os animais não pensam, não sentem e, por consequência, que não são dotados de qualquer espírito imortal que sobreviva a morte.

Perante os fatos esta suposição miserável e tola deve ceder. Ou mais uma vez e cada vez mais a instituição Cristã será levada a barra do tribunal da consciência e velipendiada pelos materialistas e ateus... Graças a dogmas falsos que jamais foram revelados pelo Senhor Jesus Cristo ou expressamente ensinados por ele.

Agora percebermos que alguns Cristãos sequer desejam ouvir o que temos a dizer sobre os animais superiores e a condição deles por causa do liberalismo econômico ou do mercado, parte do qual dedica-se a matança de mamiferos tendo em vista motivos de ordem dietética...

Devemos manter vivo o costume de comer carne e combater o vegetarianismo como uma praga ou heresia porque ameaça o mercado carnivoro.

Sabem os escravos e servos do mercado para onde tais ilações a respeito da condição dos mamiferos superiores podem levar e por isso, alguns deles ousam alegar que Jesus era carnivoro até converte-lo em patriarca da carniçaria. Com isto eles pensam, como todo idiota, ter cortado passo a questão...

Veremos no entanto que não é bem assim.

Para começo de conversa diremos que esta recusa a refletir a respeito da condição dos mamiferos ou dos animais superiores por parte dos paladinos do liberalismo econômico, é analoga a recusa dos escravistas dos séculos XVI - XIX face a condição dos indios e negros, a respeito da qual eles se recusavam discutir apenas porque auferiam beneficios de ordem econômica.

Por isso auferir vantagens de natureza financeira constitui sempre péssima motivação ou argumento nos pódromos da filosofia ou do pensamento humano.

Todavia da mesma maneira e modo como nossos antepassados ousaram refletir a respeito da condição dos homens que pertenciam a outras raças humanas - que eram considerados 'inferiores' e que por isso mesmo sujeitos ao trabalho escravo - devermos dar um passo além e ousar refletir livremente a respeito da condição dos animais superiores ou mamiferos, partindo dos dados que nos tem sido apresentados pela ciência e tirando as consequências lógicas...

Há mais de cem anos o engenheiro Garcia Redondo abordava já o tema pisado por Voltaire e antecipava-se as conclusões tiradas pela ciência contemporânea, então nós não podemos esperar mais.

Quanto a alegação de que Jesus Cristo era carnivoro rebato dizendo que ele jamais foi descrito saboreando um churrasco!!! Ou melhor dizendo consumindo qualquer tipo de assado ou de carne vermelha mas apenas e tão somente peixe...

No que tange ao ritual da Páscoa, por mais que lhe repugnasse a consciência, é certo que como judeu inserido na cultura judaica, Jesus jamais poderia ter se furtado a ele ou recusado a manducar o cordeiro pelo simples fato de dizer respeito a festa religiosa mais importante dos judeus, povo semita de origem pastoril e portanto afeito ao padrão carnivoro.

Então aqui não se pode alegar que Jesus agia livremente, mas que era de fato constrangido pela lei religiosa.

No que diz respeito ao quotidiano no entanto e aos atos que são por assim dizer livres, não há qualquer registro de Jesus comendo carne de caça. Efetivamente a dieta do Salvador é amiude descrita como correspondendo a pão e peixe, o único tipo de criatura viva que ele de bom grado ingeria...

Nem se diga que a diferença é irrelevante ou que entre um boi, um porco e um peixe não há qualquer diferença. Bastam as conexões neuronais para certificar a larga, ampla e profunda diferença que há entre um mamifero e um peixinho do lago de Genezareth...

Supor absoluta igualdade entre mamiferos e peixes é rematada obra de má fé, desonestidade, patifaria... Basta mencionar que pertence a classes distintas e que homens não são peixes...

Os mesmos homens que são animais e mamiferos. Posto esta que o homem e demais mamiferos possuem a sensibilidade orgânica no mais alto gráu. Assim os niveis de percepção e consciência...

Não insistirei demasiadamente a respeito porque basta a nosso contraditor ler qualquer jornal ou revista ao invés de proferir tolices dignas dum pascácio...

Rebaterei dizendo que é estranha essa preferência de Jesus por pães e peixes já que estava inserido numa cultura amplamente carnivora. Mas nós jamais damos com o divino Mestre satisfazendo seus instintos carniceiros...

Também rebaterei a insinuação lançada por alguns a respeito de que o consumo de carne vermelha seja indispensável a espécie humana...

Basta dizer que Pitagoras, Teofrasto, Musônio Rufo, Apolônio de Tiana, Plutarco, Voltaira, Russeau, Tolstoi, etc foram adeptos do vegetarianismo sem que suas faculdades mentais tenham sofrido qualquer tipo de danos. Eu poderia ter citado outros tantos homens ilustres no campo da investigação científica, no entanto, como não desejos ser prolixo e fastidioso passarei logo a Repúblia dos Cristãos...

Em suas apologias Quadrato de Atenas, Aristides e Justino aludiam já a pessoas que tendo aderido ao celibato e a uma vida regular recusavam o uso de carne vermelha. Lamentavelmente o maniqueismo e o gnosticismo convertendo o vegetarianismo em dogmas por questões de ordem filosófica tolheram passo a esta instituição genuinamente Cristã, a qual deveria pouco a pouco ter conquistado todo corpo de Jesus Cristo.

Basta dizer no entanto que os pais do monaquismo Paulo e Antão eram vegetarianos, como Macarios e muitos outros. Dentre os padres antigos avulta Crisóstomo como adepto do vegetarianismo e após ele muitos outros santos Ortodoxos e romanos como S Filipe Neri, S Francisco de Paula, etc Dentre os protestantes John Wesley também abraçou esta nobre causa.

Então nem se pode dizer que o vegetarianismo seja uma heresia ou coloca-lo sob suspeita por causa dos adventistas ou da Sra White. Alias se os adventistas converteram o vegetarianismo como dogma partindo de considerações éticas nem merecem ser confundidos com os gnósticos e maniqueistas e tampouco ser sujeitos a qualquer tipo de censura. Pois nós também consideramos o vegetariamos como imperativo categórico a consciência Cristã esclarecida e uma condição para o progresso espiritual em Jesus Cristo.

Não porque tal alimento seja mau em si mesmo ou porque os animais carnivoros sejam maus em si mesmos como cogitavam os heréticos de outrora; mas justamente porque estando tais criaturas tão próximas de nós nos domínios do intelecto e do sentimento, não se compreende a que título possam ser imoladas e consumidas por nós. Mormente quando o homem tem a sua disposição já não digo vegetais, nem mesmo ovos e leite, mas aves e peixes, que são seres de condição inferior do ponto de vista físico, intelectual e moral.

Sirva-se pois aquele que necessitar de carnes brancas, mas abandone o uso de carnes vermelhas que tão perto esta do canibalismo e da antropofágia. E se deseje de fato imitar a dieta do Salvador que se limite a consumir pão e peixe uma vez que nossa páscoa já não consiste na manducação de cordeiros mas na ingestão de pão e vinho sob os quais repousa o Logos ou Verbo divino.

Certamente que Jesus não abordou este tema de dieta para não reforçar qualquer tipo de farisaismo. O qual desse vezo para que qualquer um se vangloria-se ou se considera-se superior aos demais. No entanto, é defeso a consciência Cristã examinar o assunto partindo dos principios e valores constituitivos do próprio Cristianismo e reformar-se a si mesma tendo em vista um nivel mais elevado de perfeição; mormente quando o que esta em jogo é a vida, sob quaisquer de suas manifestações.

Portanto que ninguém ouse fazer apologia da carniçaria ou converter o consumo de carne vermelha em dogma e subverter a consciência Cristã com o intuito de satisfazer interesses de outra ordem, completamente alheios a evolução e progresso espiritual dos seres humanos. Deixemos portanto, e sem qualquer receio, de sermos túmulos ambulantes para nos convertermos em templos vivos de Jesus Cristo, que com o Pai e o Espírito Santo é um só Deus Bendito para todo sempre.

Jesus, a figueira e a incredulidade... tentativa de resposta ao pensador Bertrand Russel

Há no evangelho uma narrativa aparentemente desconsertante a respeito duma figueira que Jesus fez secar.

Segundo o primeiro Evangelho estava Jesus passando perto duma figueira quando sentiu o estomago roncar ou seja sentiu fome, assim sendo aproximou-se da árvore frutífera em busca de frutos e não tendo dado com eles, proferiu uma 'anatema' fazendo-a secar...

Desde então tantos quantos tem permanecido insensiveis face ao corte de milhares de espécies de árvores em vias de extinção tem clamado contra a insensibilidade do Senhor Jesus Cristo, e até mesmo classificado seu ato como supinamente cruel e indigno dum espírito elevado quanto mais de um 'deus'...

Acontece que estes mesmos críticos parecem não incomodar-se quando raríssimos exemplares de embuias ou canelas são convertidas em mesas, cadeiras ou pratelerias pela indústria capitalista... arboricidio cometido em larga escala e a luz da civilização... no entanto os críticos de Jesus tomam assento sobre tais peças...

Então esses mesmos que pouco ou nada fazem pelas espécies em extinção debastadas pelas madeireiras 'descem a madeira' em Jesus Cristo por causa da figueira que ele por pura maldade teria feito secar ou matado...

Dentre os que mostraram-se indignados perante a narrativa, destaca-se o pensador inglês Bertrand Russel, o qual manifestou toda sua revolta num debate que teve com o Padre Compleston, debate do qual resultou em parte o livro 'Porque não sou Cristão', ora um dos motivos elencados pelo matemático britânico era justamente a insensibilidade ou crueldade de Jesus o qual fizera secar um pobre arvoredo por motivo fútil ou melhor sem qualquer motivo.

Para complicar ainda mais a questão o segundo evangelista Marcos, fez observar que 'Não era tempo de figos.' portanto Jesus não poderia ter dado com figos na pobre árvore e muito menos ter ido procura-los, salvo fosse verdadeiro energúmeno como alega o Dr Binet Sanglé em sua monografia a respeito da loucura de Jesus, o qual comenta este e fato a saciedade pretendendo tirar largo proveito dele. Jesus foi procurar figos numa figueira mesmo sabendo que não haveria de encontra-los por não ser tempo de frutos, esta atitude só se justifica num doido conjectura o mesmo clínico francês e com ele o matemático inglês e outros tantos críticos.

Dentre os Cristãos, mesmo ortodoxos e conservadores, não poucos repudiam a narrativa enquanto outros tantos sentem na mente o travo dos Evangelhos apócrifos da infância nos quais Jesus, como uma divindade pagã, fustigava plantas, animais e homens por mero capricho ou mesquinharia. Ocorre-me de ter lido numa dessas narrativas o relato de como Jesus havia maltratado seu professor na escola bem como alguns de seus amiguinhos... Há quem diga que este fragmento de Marcos, no qual Jesus 'despeja sua colera sobre a figueira' pertencem a tal gênero de estórias...

Isto é o que esta escrito e tal o veredito dos críticos.

Diante dsisto que temos nós a dizer???

Diremos primeiramente que Jesus não fez matou uma árvore em vias de extinção para com ela fabricar qualquer tipo de móvel ou tralha...

Num segundo momento convem esclarecer que a figueira era um tipo de árvore frutifera assaz comum na Palestina do tempo de Cristo sendo comumente mencionada no Testamento antigo - cerca de dez vezes - no Talmud e nas sifras dos judeus.

Neste sentido sendo a maior e mais difundida, era a figueira o protótipo de árvore frutífera naquele pais.

Figueira e árvore frutifera; figos e frutos eram como que expressões analogas, quase que uma sinonimia.

Por outro lado é assaz sabido que para excitar os homens de boa vontade na busca pela verdade, o Verbo encarnado servia-se comumente de parabolas ou comparações tomando por exemplo os vegetais, animais e oficios do campo, assim a mostardeira, a videira, os passarinhos, os peixes, o pastoreio, o vinho, etc

Assim querendo ilustrar a natureza racional que não produz obras virtuosas e nobres, refere-se a árvore que não dá fruto. Os evangelhos a excessão de Lucas empregam o termo genérico de árvore sem explicar qual fosse ela, Lucas no entanto refere que a árvore citada pelo Salvador na comparação era uma figueira (Lc13,6), ora a narrativa ou fragmento de Lucas reproduz praticamente a atitude do divino Mestre face a figuieira sem frutos tal como descrita em Mateus e em Marcos.

Portanto Jesus não limitou-se a fazer secar a figueira como supõe alguns, mas após faze-la secar explicou o significado da ação cometida por si ou seja ele exerceu a ação tendo em vista extrair um ensinamento dela.

Destarte percebemos já a finalidade dídática do ato envolvendo a figueira, tipo de atividade ou ação caracteristica dos profetas israelitas e mesmo de alguns filósofos gregos.

No caso a figueira que secou ou que viria a ser cortada pelo agricultor, significaria o ser racional que não produz ações virtuosas e nobres. No sentir de Jesus da mesma maneira como o fim de uma árvore frutifera era produzir frutos e bons frutos o fim da vida racional era produzir obras e boas obras... dai ter esclarecido que a árvore sendo boa ou sadia produzia frutos saborosos enquanto que sendo má ou doentia produzia frutos desagradáveis, querendo significar que a natureza boa produzia boas obras, enquanto que a natureza má produzia obras más.

Implicava pois a ação de Jesus num ensinamento ético importantíssimo tanto para os apóstolos quanto para a Cristandade e ao próprio gênero humano.

Por outro lado, como crianças, o povo daquele tempo carecia de lições sensiveis tendo em vista compreender o ensinamento divino. E Jesus, como grande pedagogo, devia acomodar-se até onde fosse possivel ao nivel deles.

Resta esclarecer a derradeira objeção sempre mencionada pelos contrários de que na narrativa Jesus foi procurar figos quando não era tempo de figos.

A respeito desta aparente 'insensatez' manifestada pelo divino Mestre devemos compreender que a ação do Senhor, para ser perfeita, deveria conter todos os significados de natureza ética.

Neste caso procurar os frutos fora do tempo parece significar ue a manifestação da morte física ou do juizo final é sempre repentina ou imprevisivel ou que a morte do crente pode sobrevir num momento dificil, no qual o exercicio da virtude ou a prática das obras exija certo sacrificio ou violência até o heroismo. Importa dizer que o membro de Jesus Cristo, por obras da divina graça, deva produzir obras santas e piedosas mesmo quando as condições externas foram as mais adversas. Pois a morte e/ou Jesus podem requisitar-nos justamente em tais momentos de dificuldade...

Daí a necessidade de vigiar na comunhão com Jesus Cristo e de sempre estar o Cristão disposto aos maiores sacrificios pelo Reino dos céus tendo em vista a prática regular e inflexivel da virtude.

O Senhor se manifestará a nós numa hora qualquer da vida. Hora que não nos é dado saber nem conhecer.

Então, ao contrário da figueira que não pode adubar a si mesma, devemos sempre lançar o adubo divino da graça e dos sacramentos em nossas almas imortais para mante-las fecundas e produtivas em todo tempo e lugar e assim manter-nos sempre dignos do Senhor Jesus Cristo, o qual vindo a nós nos tempos mais adversos sempre encontrará alguma obra boa pela qual seremos identificados como membros vivos do seu corpo, dispostos para a vida eterna.

Tal o significado do Senhor ter ido buscar frutos a figueira quando não era tempo de frutos. Isto diz respeito a natureza racional que podera ser vizitada em tempo inadequado para o bem, devendo mesmo assim estar preparada para deitar frutos bons.

Destarte Jesus sacrificou uma dentre milhões de figueiras não por motivo material e futil, como a indústria madeireira, mas com o nobre objetivo de satisfazer a condição primitiva da mentalidade de seus ouvintes e de fecunda-las com um ensinamento util e proveitoso.

Devo acrescentar por fim que a narrativa sem enquadrar-se nos moldes do naturalismo nem por isto deixa de ser ilustrada pelo fato comprovado segundo o qual algumas pessoas possuem a faculdade de secar arvoredos, de acelerar o crescimento dos vegetais e o amadurecimento de frutos, de mumificar certos frutos e pequenos animais, etc Todas estas capacidades puramente mentais tem sido fartamente verificadas e comprovadas pela metapsiquica ou parapsicologia. É possivel ou provavel que o divino Mestre possui-se a dita capacidade em mais alto gráu tendo em vista sua condição excepcionalmente perfeita.

Basta-nos porém ter elucidado a questão de Jesus ter feito secar a figueira.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

As riquezas e Jesus

Por uma questão de honestidade convem jamais ocultar os pressupostos...

E colocar todas as coisas em pratos bem limpos.

Coisa supinamente desonesta seria disfarçar ou ocultar o teor dos dicursos daquele que encaramos não como simples emissário ou arauto mas como o mesmo Ser divino.

Então devemos saber e muito bem que os discursos de Jesus, embora não pertençam ao gênero de estudos que mais tarde receberam o nome de Economia, e que diz respeito a produção e distirbuição de bens materiais, nem por isto deixaram de abordar o problema das riquezas, que é um problema essencialmente econômico, numa perspectiva visceralmente distinta daquilo que convencionou-se chamar doutrina liberal.

Nem poderia Jesus deixar de abordar tal assunto na medida em que diz respeito a atividade humana, englobando a personalidade humana e as relações humanas. Nem poderia aquele que veio recuperar o homem como um todo por de lado qualquer aspecto pertinente a entidade ou ser que veio recuperar.

Eis porque enquanto o liberalismo através de seus profetas, proclama qual uma 'shahada' que o setor econômico é livre, autônomo e independente face a igreja ou a quaisquer imperativos de ordem ética ou moral e que a economia seja por assim dizer 'tão exata quanto a matemática, a física ou a química' e por assim dizer amoral.

Efetivamente a matemática, a física e a química, enquanto teorias não aplicadas e exatas, estão fora do úniverso ético dos principios e valores ou da moralidade, sendo de fato fenômenos amorais.

O mesmo se daria quanto a economia caso abstraissemos o elemento humano, cuja existência comporta uma dimenssão ética ou axiológica guiada por determinados principios e valores. Acontece que a economia é realizada por homens ou seja por seres cuja natureza é ética ou moral, e por seres que na produção e distribuição de bens materiais relacionam-se entre si uns com os outros.

Destarte não pode a economia situar-se no plano do amoral, mas apenas do imoral ou do anti ético na medida em que pleiteia colocar-se fora da esfera dos principios e valores ou subordinar tais valores as necessidades materiais e externas do mercado, apresentando-se a si mesma como fonte de tais principios e valores e como fator determinativo duma moral relativista inaceitável do ponto de vista do humanismo clássico, quanto mais do humanismo Cristão.

Efetivamente nem os socráticos nem os Cristãos poderiam convir com as pretenssões economicistas dos teóricos que proclamam a soberânia do mercado no terreno das relações que por serem humanas deveriam ser determinadas por principios e valores de ordem tanto mais elevada.

Perceba-se que por mais que os liberais e seus advogados infiltrados na instituição Cristão batam os pés que a um conflito insuperável entre as duas cosmovisões ou modos de encarar o mundo.

Pretende não só a igreja, mas o Cristo e o Evangelho, ou como queiram, a consciência Cristã, iluminar todos os setores da vida humana sem excessão e postular, como os simples teistas naturalistas postulam, uma ética médica, uma ética jurídica, uma ética política e uma ética econômica pautada em principios e valores universalmente válidos e irreformáveis enquanto expressões duma vontade ou lei divina. Postulam todos os humanistas até os confins do deismo a existência duma lei natural que se estenda a todos os setores da atividade humana e os Cristãos que essa mesma lei natural seja enriquecida pela graça de Cristo.

Conclue-se que em termos de capacidade ou atividade humana as pretenssões da Igreja ou melhor do Evangelho e da consciência Cristã sejam totalizantes ou holisticas. 'Nada do que é humano me é indiferente.' é frase que bem poderia ser posta na boca de Jesus Cristo... assim o discurso Cristão não contempla as pretenssões de autonômia absoluta revindicadas pelo economicismo de fundo materialista e ateu > Hayeck, Friemann, etc

Que Cristãos ou mesmo Católicos tenham forjado discursos incoerentes até o mais monstruoso hibridismo só serve para demonstrar até onde chegam os interesses econômicos engendrando infidelidades.

Já foi proclamado pelas autoridades da Igreja papista - e aqui com plena razão - (com forte eco nas Igrejas Ortodoxa e Anglicana) que a vida da Igreja ou a consciência Cristã é incompátivel com as exigências do liberalismo econômico. A igreja jamais admitiu a restrição dos economicistas que pretendem eles mesmos julgar a extenssão da consciência Cristã ou invés de serem eles mesmos julgados por ela.

Então eles se consideram a si mesmos como um padrão de verdade superior a consciência Cristã no domínio dos principios e valores ou seja no domínio da ética. E assim apresentam-se como fonte de principios e valores para a consciência Cristã... acontece que estes principios e valores são ditados pelas relações de produção e distribuição de bens materiais e no caso ditados por necessidades de ordem econômicas e relativas... Posto esta que os novos principios que os advogados do liberalismo pretendem impor a consciência Católica são de fundo naturalista, retalivista, materialista e ateu.

Não há como fugir disto.

Pretendem o liberalismo fiel ou prostituido (isto é pseudo Cristão) impor a consciência Cristãs principios expurios que estão em plena e frontal contradição com nossa fé.

Querem eles que sendo adoradores ou servos de Jesus Cristo e que encarando esse Verbo como nosso Deus e Criador admitamos que ele jamais pronunciou-se sobre questões de ordem econômica ou que, não passasse dum ignorante a respeito da matéria em questão e que caso tivesse abordado tais assuntos tivesse incidido em erro!!!

Agora veja que a doutrina economicista dos liberais bem pode ser aceita pelos arianos e unitários que encaram o Mestre amado apenas e tão somente como um instrutor elevado mas fálivel... não há real incompatibilidade entre o protestantismo moderno ou liberal e entre as seitas unitárias e o discurso economicista. O mesmo porém não se dá entre a fé da igreja Ortodoxa e Católica, nicena ou atanasiana e o discurso liberal, que ou mente cinica e descaradamente ou atribui erro a Jesus Cristo quanto a matéria em questão, insinuando que ao menos neste ponto Smith, Ricardo, Mises, Haieck e Friedmann foram mestres muito mais competentes do que ele.

Vejam até que ponto chega o discurso liberal em sua impudência???

Afirma em alto e bom som que aquele que não pode enganar-se nem enganar-nos falho miseravelmente ao abordar as relações econômicas porque não soube antecipar as desumanas e cruéis propostas da escola de Manchester ou da Escola austriaca...

Não fantasio este ensaio mas transcrevo a argumentação de um liberal, supostamente Ortodoxo, que terçou armas comigo a respeito da matéria, querendo a fina força impor as téses de Fridmann e outros a consciência e lei dos Católicos. Nosso homem em sua cegueira não hesitou em afirmar que todos os nossos pensadores, escolásticos e padres da Igreja, que precederam a heresia liberal, não passavam de verdadeiros idiotas em matéria de economia... diante de tão pouca reverência decidi recorrer imediatamente ao Evangelho e opor-lhe as palavras do Verbo; porque ele dissera - e mentira - que Jesus jamais abordara assuntos de ordem econômica...

Jamais pensará que os liberais fossem assim tão desonestos a ponto de ultrapassarem largamente seus êmulos comunistas...

Porque tantos quantos leram nossos Evangelhos sabem muito bem que Jesus não só referiu-se claramente a respeito das riquezas ou seja da produção e distribuição de bens, como manifestou-se claramente em sentido negativo face aos imperativos do liberalismo condenando-o inexoravelmente.

Dizem alguns liberais que é impossivel pintar Jesus como sendo um Comunista. Compreendida a dita expressão no sentido de membro do partido comunista ou como marxista ortodoxo posso até convir com ele pelo simples fato de Jesus Cristo não ter sido ateu ou materialista...

Direi no entanto, com o patriarca Revel - Nem Marx, nem Jesus - que para mim é modelo de probidade intelectual, que nem com milagre e rezas a tudo o que é Santo, seria possivel transmutar Jesus em liberal do ponto de vista econômico.

Aqui já não me importa o argumento podre dos liberais - que alias equivale a chover no molhado - mas apenas o fato inconteste de que Jesus nem batizou nem Crismou a hidra liberal...

Claro que eu sei e muito nem que neste ponto, que consiste em negar até a morte a existência de outra hipótese chamada socialismo, comunistas e liberalis se dão as mãos. Sujas e desonestas por sinal...

Folgam os comunistas em apontar todos os não comunistas como burgueses ou liberais e folgam os liberais em apontar todos os socialistas como comunistas e lacaios do partido vermelho.

Uns e outros recorrem 'dualismo binário' como a uma autêntica tabua de salvação. Que lhes permite repudiar formalmente a existência do humanismo Cristão ou Católico, com seus ideais de justiça e fraternidade... e nutrem verdadeira aversão pelos termos socialismo, fraternalismo, cooperativismo, mutualismo, personalismo, comunitarismo, georgismo, etc Que representam a continuidade dos ideais enunciados por Jesus Cristo, pelos apóstolos, pelos martires, pelos padres e pelos escolásticos da Idade Média até nossos dias a par dos sistemas materialistas rivais que são filhos um do outro. Refiro-me ao liberalismo e ao comunismo...

Então nós rebatemos a crítica e apresentamos um e outro como dois sistemas bastante solidários já pela origem recente, já pelo viez comum do materialismo crasso, já pelo ateismo dos principais teóricos, já pelos sofrimentos e dores com que acometeram a pobre e infeliz humanidade... e apostamos numa terceira via cuja raiz chega aos teóricos gregos Sócrates, Platão e Aristoteles; dos quais nós os Cristãos humanistas ou personalistas, por sucessão somos os legitimos herdeiros.

Na medida em que resistimos as pretenssões do discurso liberal e aos ataques lançados por liberais e comunistas a civilização tradicional e as culturas menos adiantadas, tendo em vista de apresenta-las ao grande público como uma alternativa plenamente má e de incompatibiliza-las face a cultura moderna.

Isto no entanto será profundamente discutido quando chegarmos a descrever e a julgar a Civilização Cristã, Católica e Ortodoxa de Bizâncio, que é tão pouco conhecida aos estudantes e mesmo aos pesquisadores ocidentais.

Cumpre aqui traçar já os termos da discussão e cortar passo a tantos quantos pretendam conciliar o Reino de Cristo com o Reino do dinheiro, do lucro e do mercado; pois são Reinos tão distantes quanto o céu da terra e o Oriente do Ocidente. Assim quem desejar ser cidadão de um não poderá ser cidadão de outro.

Nosso Reino é de certo modo a concretização daquela República idealizada pelo Filósofo e cujo fundamento é a mais estrita justiça. Nosso Reino é a cidade de Deus, supremo Legislador face ao qual devem ceder todas as vontades e ambições humanas. Então nossa família é a de Platão, de Jesus, de Agostinho e não a de Mises ou Fridmann.

São dois Reinos ou cidades rivais que haverão de conflitar e de chocar-se uma contra a outra. Que isto fique acento e bem claro aos falsos profetas.

Nem poderia uma Igreja ou crença que teve suas origens num autêntico mosteiro, perder suas raízes e converter-se; como disse Weber, em empresa nos moldes capitalistas. Isto aconteceu ao protestantismo e deveria acontecer facilmente porque ele condenou e destruiu os mosteiros

Mosteiros que serviam de exemplo e modelo a sociedade Católica moderando suas ambições e desejos. Uma Sociedade da qual desaparesçam por completo as instituições ascéticas estava mesmo posta para assistir ao triunfo do consumismo no mais alto gráu.

No entanto os mosterios foram derrubados e suas riquezas usurpadas. Assim, deixando de ser postas a serviço dos membros vivos de Jesus Cristo, converteram-se no lastro do capital econômico. E os pobres e os campônios, deixando de ser assistidos pelos monges, perderam suas terras comunais e tiveram de converter-se em operários... Tais foram as façanhas dum sistema que principiou pugnando contra as instituições mais sagradas do Cristianismo e que fez cambiar as energias do corpo Cristão das atividades humanitárias e divinas para atividades materiais e econômicas.

Tudo isto foi uma luta contra o Catolicismo e sua concepção orgânica e harmoniosa de vida. Esta luta ou conflito prossegue até hoje e mesmo o seio da igreja hodierna converteu-se já em campo de luta... e combatem a um lado aqueles que levam sua fé no Verbo até as últimas consequências e que aspiram por viver de modo coerente com a tradição e lei da Igreja e aqueles que desejam viver segundo a lei co liberalismo econômico repudiando na prática a vontade do Verbo.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Jesus e as riquezas

Outro assunto bastante discutido diz respeito a posição de Jesus face aos fundamentos da economia moderna que é o acumulo irrestrito de bens materiais ou de riquezas, como costumam dizer.

Sintomática é a narrativa do jovem rico, o qual sendo gentilmente convidado pelo Mestre a declinar de suas riquezas materiais para tomar posse das verdadeira riquezas imateriais, optou por permanecer ligado ao gênero de riquezas que possuia...

Hoje multiplicam-se os jovens ricos que recusam-se a tomar o jugo da vida moderada no serviço do Mestre.

Já no terreno das parabolas ou comparações damos com o rico Finéias, nababo que todos os dias regalava-se com toda sorte de iguarias, enquanto a sua porta, os pobres, a exemplo de Lazaro, definhavam... e diz o Evangelho, que morrendo o rico foi castigado, enquanto que o Lazaro foi recompensando por sua paciência...

Daí a sentença: É mais fácil uma corda passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos céus.

Como parte da Cristandade considerou esta palavra inaceitável, alteraram sua estrutura e forjaram interpretações capiciosas e torno de camelos e de buracos nas paredes das muralhas...

Apesar disto corda jamais passa pelo fundo da agulha e rico jamais entra no reino dos céus...

Com Lazaro e o jovem rico 'cegos guias de cegos' passam os opulentos as zonas tenebrosas do mundo espiritual onde muito haverão se sofrer e penar.

Pois violaram descaradamente o mandamento do Senhor: Não acumuleis tesouros na terra onde a traça e a ferrugem tudo destroem, antes juntai tesouros nos céus...

Todavia, para tanto é necessário delapidar as 'riquezas iniquas': dando de comer a quem tem fome, de beber a quem tem sede, vestindo os nus, abrigando os desabrigados, remindo os cativos, etc

O fruto de tais prodigalidades sera uma hoste de amigos no mundo espiritual, dispostos a acolher-nos benignamente nos 'tabernáculos eternos'.

Aqueles que com a graça de Cristo triunfam da avareza merecem ser contados entre os espiritualmente pobres dispostos ao Reino dos céus.

Aqueles que cogitam em servir a dois senhores, isto é a Cristo Jesus e as riquezas materiais, separam-se da verdadeira videira e tornando-se ramos secos são dispostos ao 'fogo' ou a dor no plano espiritual.

Pois conservando a mentalidade materialista no mundo espiritual haverão de experimentar certo desconforto.

Diante de tais sentenças e palavras não há como sustentar a opinião dos liberais segundo a qual o Evangelho desconsidera os problemas de ordem econômica.

Muito pelo contrário delas resulta muito claramente que Jesus pretendeu exercer juizo a respeito de como os homens obtem e administram tais riquezas, subordinando o econômico a outras finalidades e recusando-se a reconhecer sua autonomia nos moldes do liberalismo clássico.

Então já nos deparamos com uma oposição declarada e insuperável entre o modelo Cristão que é um modelo vida e um modelo integral que pretende atingir todos os aspectos da condição humana e o modelo liberal que supõe um esquema compartimentado de existência.

O Cristianismo Católico no entanto é irredutivel face a 'compartimentação da vida em setores radicalmente separados ou isolados' compartimentação que classifica, a luz do Evangelho, como artificial e perniciosa.

Considera a filosofia Católica que todos os setores e aspectos da vida devem estar unidos entre si pelo aspecto da promoção humana ou do bem comum.

Do contrário não mereceria o Cristianismo ser contado entre os humanismos.

Cristo no entanto encarnou-se para redimir o homem como um todo. Eis porque a Redenção cristã não deve ser encarada como uma espécie de meia redenção que toca apenas ao elemento imaterial ou espíritual.

Mas apresentada nos termos duma redenção total que veio remir o homem como um todo ou seja como espírito, alma e corpo.

Eis o que faz o Catolicismo encarar todas as dimenssões da atividade humana não só como organicamente correlatas mas como coordenadas por um eixo de natureza transcendente chamado ética. Segundo esta concepção integralizante de vida a origem dos principios e valores que regulam as ações e operações humanas procede em última instância da vontade divina e não do mercado ou de suas necessidades, correspondendo a uma Lei universal absolutamente valida e verdadeira.

Posto esta que as necessidades do mercado correspondem a uma ética relativista imcompátivel com o sentir da Igreja e com a Consciência Cristã, consciência que vive e que se nutre de principios e valores que deitam suas raizes no mundo espíritual e eterno; para além de todas as cogitações relativas da vontade humana.

Eis porque a igreja, na esteira de seu divino Mestre e fundador condena as prentenssões dos teóricos do liberalismo como autênticas expressões dum economicismo em choque contra o humanismo sempre sustentado por ela no decorrer das Eras e idades. De fato pretende a Igreja Católica julgar os interesses do econômico e subordina-lo a outros interesses os quais encara como tanto mais nobres e importantes.

O liberalismo econômico em contrapartida rebela-se contra o espírito da Igreja a qual pretende - por sinal como filho do protestantismo que é - julgar e condenar como obscurantista. Deve a Igreja, a exemplo de seu Mestre e Senhor, folgar neste juizo porque partindo do liberalismo econômico equivale a um elogio... ferreteia o liberalismo econômico a Igreja porque esta tem recobrado o antigo ideal de redimir o homem como um todo sem olvidar de seu corpo e de suas necessidades materiais.

Na medida em que afirma certos direitos como inerentes a pessoa e certas necessidades como inerentes ao homem, exigindo que sejam satisfeitas sem consideração pelas necessidades artificiais do mercado, incompatibiliza-se a Igreja de Cristo com a lei do capitalismo. Pois o deus do liberalismo que lhe dita leis é o Mercado... e as necessidades do mercado são indiscutiveis...

Ignoram os teóricos liberais que o mercado foi criado pelos homens e não os homens para o mercado.

A existência humana possue um significado muito mais elevado do que lhe atribui o materialismo economicista seja ele liberal ou comunista. Presume a igreja que a condição humana não cabe nos moldes estritos do econômico, ficando sempre algo de fora como que sobrando...

Daí a linguagem diferente pois enquanto o liberalismo soi competição entre rivais e competição que na maioria das vezes foge aos padrões da justiça a Igreja propõe outro regime, de colaboração ou de auxilio mutuo entre irmãis, entre irmãos que se amam e respeitam e sobretudo entre irmãos que veneram o principio comum da justiça antes de chegar a caridade. Pois caridade sem justiça, como escreveu Tomás, é pura e simples hipocrisia: fermento de fariseus.

Resta dizer que a doutrina proposta por Jesus Cristo a respeito o acumulo de bens materiais esta de pleno acordo com a doutrina proposta por:


  • Confúcio:  "O homem que só se ocupa em comprar e vender é um mediocre."
  • Platão: "Jesus plagiou a máxima platônica: 'É impossivel que um homem muito rico seja virtuoso.'"
  • Sócrates: "Quantas coisas a respeito das quais o homem não precisa para viver oh atenienses."
E por todos os educadores, pensadores e filósofos da antiguidade.

Obviamente que nem Jesus nem tais pensadores propunham a carência, a miséria ou a necessidade - como insinuam malevolamente os liberais - como ideais para o comunidade ou para a pessoa humana.

Julgo que toda pessoa medianamente instruida tenha lido o "Robson Cruzoé" de Defoe.

Pois bem, logo nas primeiras páginas damos com o sábio discurso proferido pelo pai de Robson, contra o acumulo excessivo de riquezas e a favor da vida sóbria e moderada.

Semelhante discurso foi cunhado justamente na filosofia de vida proposta por Confúcio, Sócrates, Jesus e outros sábios mestres... consiste ele em suster que o homem deve buscar para si e para sua família o suficiente para que vivam ao abrigo da miséria e até mesmo com certo conforto. Sem cogitar no entanto a acumular para toda geração futura ou como se seu destino final estivesse posto exclusivamente aqui no mundo material e finito, ou como se tivesse que viver eternamente neste plano...

Eis porque deve o homem contentar-se em grangear uma vida digna e comoda para si e os seus e não em cobiçar uma fortuna que não conheça limites e que absorva todos os seus cuidados a ponto de faze-lo deixar de viver integralmente por deixar de cultivar todas as potencialidades do seu ser, como o intelecto e o sentimento.

Na verdade o discurso do pai de Robson sobre as ocupações excessivas do homem rico, que deixa de ser senhor de seus bens para tornar-se servidor dos mesmos, já havia sido antecipado por Paulo de Tarso, o qual assim se exprime numa de suas epistolas: "Buscai viver dignamente com aquilo que possuis sem cobiçar ilimitadamente pois a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro."

Não diz ele que a raiz dos males seja o próprio dinheiro, como não dizem os sábios que a pólvora ou a faca sejam coisas más. Alude apenas ao uso ou abuso que se faz do dinheiro como da faca, da pólvora e de tantas outras coisas e instituições... abuso é o apego excessivo ao dinheiro ou a busca desordenada por bens de natureza material. Abuso é o 'amor' ou a estima ao dinheiro, o qual por assim dizer obscurece valores como a solidariedade e a justiça e subverte a condição humana tal e qual foi disposta pela Lei universal.

Implica a proposta de Jesus a respeito do acumulo irrestrito de bens materiais o primado do Ser sobre o ter, que é a viga mestra daquilo que classificamos como humanismo. Implica ela em reconhecer a existência de principios e valores superiores aos de natureza material ou econômica e em afirmar outros tipos de existência que transcendem a aquisição e distribuição de bens materiais como sejam o bem, o verdadeiro, o belo, enfim o ideal de que vivem a ética, a arte, a poesia, a ciência, e outras dimenssões mais elevadas de nossas faculdades.

Implica a aceitação de tais capacidades e faculdades na negação do economicismo crasso proposto nos termos do liberalismo e representado pela ditadura do capital e pelas necessidades soberanas do mercado. Ora Jesus, e todos os pensadores da antiguidade estão em oposição a este novo 'modus vivendi' peculiar a Idade contemporânea.

Que isto choque muitos daqueles que sustentam o sistema vigente é absolutamente natural. Por outro lado, para tantos quantos são capazes de perceber ou de captar a tensão existente entre as estruturas materiais de produção que caraterizam este nosso tempo e a própria sociedade econômica; e entre os principios e valores pertencentes ao domínio do ideal e que por isto mesmo tornam-se presos duma angústia cada vez mais intensa, para não falarmos em melâncolia ou mesmo em agônia invencivel, verificar que o posicionamento de Jesus e de tantos outros mestres antigos choca-se com este estado anômalo de coisas traduz-se numa vivificação das esperanças.