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A consciência histórica do Cristianismo

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terça-feira, 12 de março de 2013

XLI - Aspectos da vida de Jesus > A organização familiar




Jesus e o divórcio


Afirma a igreja papalina, sediada na Itália, que Nosso abençoado Reparador era anti divorcista e que condenou o divórcio em absoluto.

Aos que foram vitimados pela traição ou seja pelo adultério, a igreja dos latinos iguala aos agressores ou adulteros; punindo-os com a proibição de um novo matrimônio. É a lei do desquite, os conjuges separam-se mas permanecem casados até que a morte os separe...

Grosso modo a parte adulterina, sem fé ou apego a virtude, contrai novo matrimônio sem dar a mínima a opinião do papa; enquanto a parte inocente, tendo fé, é constrangida a abraçar o celibato!!!

Caso Nosso Senhor e Mestre tivesse sancionado o sistema injusto e irracional do papa, teriamos já uma forte evidência contra sua divindade.

Felizmente somos informados pelo próprio Evangelho ou seja pelas palavras mesmas do augusto Redentor, que ele de fato proibiu o divórcio 'exceto em caso de imoralidade grave (porneia)' segundo podemos ler na narrativa de S Mateus. Curialista houve que ousou dizer ter desejado S Mateus enganar os judeus ao ensinar-lhes que o Senhor havia feito uma excessão quando da verdade não fizera excessão alguma, condenando o divórcio em absoluto.

Curioso é que ao anatematizar tantos quantos ensinam que o divórcio é proibido 'exceto em caso de fornicação.', o papa romano anatematiza o próprio Jesus Cristo.

Mas não é apenas o Evangelho que nos informa a respeito da excessão decretada por Jesus.

Toda tradição patrística oriental, seguida pela Igreja Grega ou Ortodoxa, admite a concessão do beneficio do divórcio em caso de adultério a parte inocente ou como se diz a vítima; permitindo que se case outra vez.

E se Jerônimo de Stridon faz verdadeira ginástica mental tendo em vista negar o beneficio do divórcio, S Basilio, S Gregório, S Crisóstomo, etc afirmam unanimemente a 'excessão' decretada por Nosso Senhor, recebendo destarte os anatemas do líder da igreja italiana.

E no entanto, apesar desta excessão, não pode ser o Redentor classificado - ao menos formalmente - entre os divorcistas.

E por que?

Porque ao menos formalmente Jesus restringiu o divórcio, ou seja, dificultou sua concessão.

Importa no entanto descobrir qual fora a intenção do Mestre ao proceder deste modo.

Porque a intenção é o espírito da lei.

Ao tempo de Augusto e Herodes, isto é, ao tempo em que viveu Nosso Senhor; estavam os rabinos fariseus cindidos em duas escolas a respeito do problema do divórcio: uma, presidida por Shamai, sendo conservadora e fiel aos preceitos da taurat, restringia o divórcio as situações de 'erwath dabhar’ ou 'imoralidade grave'; a outra, presidida por Hilel, concedia-o sob qualquer alegação e pretexto.

Jesus parece ter optado pela solução conservadora de Shamai.

E nós devemos tentar descobrir o 'pôrque' desta opção.

A bem da verdade já ao desposar uma Virgem acenava o judeu com a possibilidade dela recuperar sua 'liberdade' e contrair novo matrimônio, após ter sido repudiava por não ter o marido 'Encontrado graça nela diante de suas vistas.'...

Este aceno com a liberdade o entanto era ficiticio.

Pois a mulher divorciada além de não conseguir casar-se novamente, ficava com a reputação manchada.

Grosso modo os hebreus, mesmo idosos, optavam por desposar uma Virgem ou uma mocinha na flor da idade.

Cogitar pura e simplesmente em desposar uma mulher da 'rodada' e despedida pelo primeiro conjuge, equivalia a expor-se aos motejos da comunidade.

Ao contrário do que ocorre hoje - quando o divórcio trás liberdade e segurança para a mulher e uma nova oportunidade para se refazer a vida - naquelas priscas eras divórcio era sinônimo de desgraça e infâmia. Entre a repudiada e a prostituta havia uma distância demasiado curta...

Para compreendermos o pleno significado do divórcio no tempo de Jesus, não podemos deixar de considerar a questão econômica e a questão do machismo.

Naquele tempo e cultura a mulher era destinada aos trabalhos do lar ou seja a governar a casa e a cuidar dos filhos. Não se cogitava entre os antigos hebreus que a mulher exercesse - como no Egito ou mesmo em Roma - qualquer tipo de profissão da qual resultasse sua indenpendência financeira e certa igualdade face ao homem seu marido.

Na cultura hebraica como na grega, a mulher não tinha ocupação, não trabalhava fora, não ganhava dinheiro, não se sustentava e ficava por assim dizer na dependência do conjuge.

Casada era, bem ou mal, sustentada pelo esposo; devendo no entanto ser estritamente fiel, cuidar da casa e procriar...

Repudiada não tinha direito a qualquer tipo de 'pensão' ou ressarcimento devendo regressar a casa de seus pais para lá levar uma vida miserável a custa deles. Caso não tivesse pais vivos seguia para a casa dos filhos porventura casados para viver num quartinho sob a tutela do filho e da nora...

Caso não tivesse nem pais nem filhos casados...

Não era nem um pouco raro, mas até comum; tais mulheres cairem na prostituição, para poderem viver após terem sido repudiadas. Pois tal e qual no islam, nas culturas machistas, a partilha dos bens jamais é justa; ficando o marido com a parte do leão.

Apenas as mulheres de condição mais elevada, logravam 'viver' comodamente após um divórcio.

A mulher modesta ou pobre jamais se recuperava deste tremendo golpe.

Neste caso o divórcio favorecia amplamente um estado de opressão exercido pelo homem.

E tanto mais fácil fosse obte-lo; mais mulheres seriam expostas a dor e ao sofrimento.

Eis porque diante destas condições históricas especificas restringiu Nosso Senhor o divórcio, com o intuito de proteger a mulher e de salvaguardar seus intereses.

Não esta em fóco aqui qualquer tipo metafisico ou abstrato de família; mas uma necessidade premente: salvaguardar a dignidade da mulher.

Portanto aqueles que afirmam e dizem que Jesus apontou para um ideal de indissolubilidade, tal e qual correspondesse ele a vontade eterna de deus para dos mortais; laboram em tremendo erro.

O fóco aqui era humano: a defesa e a proteção da mulher sujeita a um regime cruel e desumano pela escola de Hilel.

Os fundamentalistas no entanto, costumam alegar - como sempre - que Nosso Senhor aludindo as condições da humanidade primitiva - Adão e Eva - (Sempre segundo as fantasias dos hebreus) asseverou que nos tempos mais remotos vigorava a monogamia indissoluvel.

Tivesse Jesus desejado ministrar semelhante ensinamento estariamos mais uma vez diante de outra evidência contrário a sua condição divina.

Pois os estudos de natureza histórica, etnologica, antropológica, sociológica, etc esclareceram já, para além de toda dúvida que o estado primitivo do homem era a poligâmia e o casamento grupal, dos quais fazem éco, as próprias tradições patriarcais dos judeus. Não havia monogamia indissoluvel alguma 'no principio'.

Os sacerdotes judeus no entanto, ao comporem a estorinha de Adão e Eva, atribuiram este estado ideal concebido por eles - a monogamia indissoluvel - aos tempos mais remotos e primitivos.

Daí Jesus, desejando beneficiar a mulher ameaçada pelo divorcismo, ter apelado ao livro e a tradição deles; judeus, na medida em que favorecia seu objetivo. Sem no entanto cogitar sobre a veracidade ou não de tais narrativas.

Aludiu ele a Adão, Eva, Genesis, etc porque estava inserido numa cultura que encarava tais obras como sagradas e buscando persuadir pessoas que acreditavam em tais narrativas; assim ele tira proveito delas com o intuito de convencer seus ouvintes.

A veracidade de tais narrativas jamais foi posta aqui... porque qualquer duvida suscitada em torno delas seria encarada como suprema impiedade pelos judeus. De modo que nem mesmo os doze apóstolos haveriam de suportar o anuncio de Jesus.

Em suas disputas e debates com os hebreus - tendo em vista a educação deles - é perfeitamente normal e compreenssivel que ele empregue a linguagem deles, isto é, que recorra a seus livros religiosos tendo em vista corroborar seus ensinamentos e ganha-los para a verdade. Ele certamente faria o mesmo na China com a Tripitaca, na India com os Vedas e na Grécia com a Iliada e a Odisseia... sem querer com isto confirmar a historicidade de tais narrativas. Assim o Pentateuco e o uso que o divino Mestre faz dele.

Vergonhoso aqui são os Cristãos continuarem empregando tais argumentos desonestos e ensinando que a taurat ou o pentateuco possui fundamento histórico.

Não possui, o estado primitivo da humanidade era a poligamia grupal, o que implica incesto inclusive. Assim viviam nossos remotos antepassados.

O ideal monogâmico é de origem bem mais recente e a 'indissolubilidade' uma invenção mais nova ainda.

Disto decorre que antes de chegarmos a nossa idéia de Família já havia a instituição em fóco passado por inumeras transformações e formas no decorrer do processo histórico. Formas estas que ainda subsistem noutras partes do mundo, sociedades e culturas...

Portanto a 'forma' da instituição familar não conhece modelo primitivo que corresponda ao ideal Cristão de 'ortodoxia' ou unidade, ou estabilidade. É como todas as instituições um vir a ser que muda de forma tanto no tempo quanto no espaço.

Jesus tinha plena consciência quanto a isto.

Ao contrário daqueles que torcendo suas palavras apresentam-no como um tosco partidário duma forma familiar metafisica ou abstrata em termos imutáveis e irreformáveis.

A mente de Cristo em nada se opõe que os conceitos monogâmico, indissoluvel, heterossexual, patriarcal, etc venha a ser superados e substituidos por outros desde que a promoção da dignidade humana seja garantida. Nada no Santo Evangelho há que nos deva chocar ou constranger na medida em que a instituição familiar adquira novas formas; será tarefa do Cristianismo Católico acolher tais formas e transmuta-las a luz da fé, da esperança e da caridade; tal a legítima função da igreja, a qual, lastimamos nós, ainda não foi suficientemente compreendida por ela.






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