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domingo, 24 de março de 2013

LXXXVIII - A sorte de André





"Então Egeas mandou tirar André da prisão e disse: 'Porque ousaste proceder de tal modo, fazendo com que minha esposa se apartasse de mim após tantos e tantos anos de submissão? Assim expuseste minha reputação diante de toda Acaia. Eis porque haverás de receber paga por tudo quando tramaste contra mim."

E determinou que fosse despido de suas vestes, açoitado e pregado apenas pelos pulsos; para que assim sofresse mais; e que puzessem uma corda suspensa ao pescoço para que aos poucos se enforcasse enquanto o corpo fosse pendendo para baixo.

Assim por toda Patras foi anunciada a sentença e grande número de pessoas congregou-se para assistir a execução; e como soubessem que André era um homem honesto, e que não havia cometido crime algum, principiaram a murmurar contra o proconsul.

E estava a arrastar o apóstolo ao local estipulado para a execução quando o Eupátrida Stratócles aproximou-se deles e fustigando-os com o látego exclamou: 'Assim agradecei a este que levais manietado porque foi ele quem me ensinou a conter o furor e a indignação; do contrário já vos teria moído a pancadas como mereceis.' e tomando André pela mão tirou-o do meio deles.

E tendo um emissário retornado a Egeas informou-o: 'Eis que Stratócles ameaçou-nos, deu com o látego em face, injuriou-nos e tomou o estrangeiro de nossas mãos.'

Egeas replicou: "Vai dá cumprimento a minha ordem e executa o prisioneiro; e se Stratócles intervir novamente não o molesteis nem incomodeis com palavras; pois não quero envolver-me em disputa com a gente ilustre do lugar e ser levado a juízo perante o senado; procede pois com toda prudência."

André no entanto percebendo que Stratócles respirava ódio contra o proconsul disse:

"Quisera estar eu mesmo dentro do teu espírito para livrar-te o mal; para remover este temperamento acre te dar a paz e te converter em digno servo de Jesus Cristo. E eis o que vos digo: 'Quando um homem deseja  que percais o controle e não perdeis sente-se como se tivesse sido espancado e ferido; quando alguém aspira que percais a paciência e não perdeis é como se tivesse levado uma bofetada. Assim se tem poder mas não consegue atemorizar-te atemoriza-se ele por dentro."

E dizendo isto fitou a cruz que haviam preparado para ele e aproximando-se dela disse:

"Salve bendito lenho da cruz! Leito preparado para o repouso meu! Fim pelo qual tanto tenho esperado! Teus braços falam do infinito e eu tenho aguardado para decifrar o teu mistério.

Salve instrumento de vitória e emblema de salvação!

Salve madeiro vivificante hoje tú serás árvore viva e eu serei o teu fruto."

Então vieram os fâmulos de Egeas e suspenderam-no no alto da Cruz, pregando apenas as mãos.

Para que ou viesse a enforcar-se ou fosse devorado vivo pelos cães.

Entrementes, enquanto o povo lamentava; André entre as dores da agonia, sorria levemente. Ao que Stratocles perguntou: Servo do Deus da verdade como se explica que tu sorris enquanto nós pranteamos?

E André respondeu: "De fato ouso rir neste momento por saber que Egeas pretendeu matar-nos quando na verdade apenas conduz aqueles que estão em Cristo a verdadeira vida."

Todavia mal André havia sido crucificado grande número de cidadãos clamava em alta voz contra a maldade do proconsul; e a confusão e o tumulto aumentavam na cidade.

E como estivesse ainda em seu tribunal na Basílica determinou Egeas que o suplício fosse interrompido.

Diante disto toda congregação encheu-se de alegria, e correram Maximila, Iphidâmia e Stratócles a André com o objetivo de informarem que estava salvo.

André no entanto respondeu e disse: "Oh apatia, ignorância e rebelião. Nada do que ensinei pode libertar-vos dos cuidados terrenos. Assim estais presos e encadeados a esta existência curta e tormentosa. Assim vos apegais a um mundo que passa. Não podeis compreender o que foi prometido aos santos na luz. Não sabeis o que esta reservado aos justos na glória. Pois estou prestes a abandonar este corpo para ter com aquele que foi crucificado primeiro. E desejais frustrar meu intento!"

E tendo Egeas mandado tira-lo da cruz gritou o apóstolo:

"Afasta-te de mim obreiro da iniquidade! Não hás de atrasar minha partida! Pestilencioso, sedutor, assassino, roubador!"

Egeas mesmo fora de si, aproximou-se da cruz com o intuito de libertar o homem porque o povo ameaçava rebelar-se.

André então suplicou entre lágrimas: "Não permitas Senhor que esta vergonha se suceda. Pois foste fiel ao mistério até o fim. Assim recebe-me Jesus nos tabernáculos da eternidade e não permitas que eu seja confundido nesta hora extrema."

Um soldado no entanto fez notar ao proconsul que o velho estava perdido.

Entre os clamores e ameaças do povo Egeas retirou-se cheio de angústia.

Pouco tempo depois André rendeu seu espírito.

Sendo retirado da cruz por Maximila e Stratócles, e em seguida sepultado.

Ele sofreu as calendas de Novembro no trigésimo dia."

Até aqui os 'Atos de André'

Hoje seus restos encontram-se na catedral de Patras.

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