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A mãe do Verbo Encarnado

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A consciência histórica do Cristianismo

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terça-feira, 6 de novembro de 2018

CX - S Policarpo de Esmirna e S Pápias de Hierapolis

Policarpo é nome de origem grega que significa 'muitos frutos'.

Segundo Irineu, na carta a Florino, citada por Eusébio, ele - Irineu - jamais havia esquecido as narrativas a respeito de como Policarpo se assentara aos pés de João, o teólogo e fora nomeado pelos apóstolos Bispo de Esmirna ( Tertuliano Praescr XXXII assevera ter sido ele sagrado por S João) Sendo portanto o 'anjo' daquela Igreja, citado no livro da Revelação, muito provavelmente composto por este João, não o apóstolo, mas o ancião, ou presbítero. Teria portanto sido companheiro de Pápias...

Já no livro 'Contra as heresias' assim se expressa Irineu: "Posso recordar eu, Policarpo, o qual foi ouvinte dos apóstolos e conviveu familiarmente com muitos dos que tinham visto o Senhor, o qual foi estabelecido Bispo da Ásia, na Igreja de Esmirna, pelos próprios apóstolos. Nos o conhecemos em nossa infância porque teve uma vida longa e era já muito idoso quando obteve a palma do martírio. Ora ele sempre ensinou o que aprendido tinha com os apóstolos." Adv Haeres III 02-04. Considerando que este Irineu faleceu cerca de 200/210, deve ter convivido com Policarpo entre 140/150.

Já pelos idos de 107 Inácio, outro ouvinte dos apóstolos, enviara-lhe uma elogiosa carta de despedida.

Sabemos ainda, diretamente por Irineu e Indiretamente por Hegesipo, que Policarpo veio a Roma pelos idos de 155, apaziguar os ânimos, devido a questão da data da Páscoa, que os asiáticos, com Polícrates, oficiavam ao 14 de Nisan, fosse qual fosse o dia da semana. E que sendo recebido pelo primaz Aniceto. Consta que nenhuma das partes cedeu em seu costume, mas que por deferência Aniceto entregou a presidência da Eucaristia ao 'Doutor da Ásia e Pai dos Cristãos'. É o que conta Eusébio na História.

Consta ter perecido pelo fogo, no estádio de Esmirna, em meados de 156, com pouco mais de cem anos - Admitido que servia a Cristo por 86 anos e se convertera aos 15 ou 16. Tendo nascido em 56 bem pode ter conhecido o apóstolo João - falecido pouco depois de 70 ou entre 70 e 80 - e certo número de discípulos do Senhor, como o já citado João, o antigo, provável autor do livro da Revelação.

Segundo Irineu Policarpo havia escrito certo número de cartas a diversas congregações e líderes, mas apenas uma chegou até nós, a que fora dirigida aos Filipenses. Segundo P N Harrison temos na verdade duas cartas fundidas numa só. (Primeira carta = Últimos caps e segunda carta = Cap Doze primeiros caps mas pode ser até IX 02 esta última suposição é minha!)

Assim, no que tange a carta maior (aos nove ou doze primeiros caps) a datação corresponderia ao ano 130, o que é absolutamente plausível.

Segue a resenha doutrinal do documento -

A Encarnação do Senhor: "Quem não confessa que Jesus Cristo veio na carne é o anti Cristo." VII,01
O pecado - "Somos todos devedores do pecado."  VI,02
A graça - "Sabeis já que pela graça justificados fostes, não por obras, mas pela graça de Deus comunicada por Jesus Cristo." III
Necessidade do Cristão fazer boas obras - "Caso nossa conduta seja digna dele, com ele reinaremos por mercê da fé." V,02 "Até pelos pagãos deveis ser aplaudidos por vossa conduta irrepreensível e obras santas, para que o nome do Senhor não fique exposto a zombarias." XI,02
A esmola - "Quando façais o bem não o deixeis para depois uma vez que: 'A esmola preserva da morte'" XI,01
Acesso a perfeição ou impecabilidade - "Aquele que tem o amor dentro de si está distante do pecado." III,03
A vivificante cruz - "Quem não aceita o testemunho da cruz é do maligno." VII,01
Ortodoxia - " Guardando a fé imutável."
XI,01

Imortalidade consciente - "E o beato Paulo, pois nenhum deles correu em vão, mas conduzidos pela fé e pela justiça tomaram posse do lugar que lhes estava reservado junto do Senhor porque padeceram." IX,01
Ressurreição da carne - "O que afirma que os mortos não ressuscitam esse é o primogênito do maligno." VII,01

Imitar Jesus - "Fiquei feliz por vós, porque recebestes os imitadores do Amor verdadeiro." I,01
Amor ao próximo - "Ela, a fé, é a mãe de todos nós, seguida pela esperança e precedida pelo amor a Deus, a Jesus Cristo e ao próximo." III,03
Avareza - "É a avareza um tipo de idolatria."
XI,01
Evitar o pecado - "Vos exorto para que eviteis a avareza... e vos guardeis de todo mal."
XI,01





Da Carta sobre o martírio de Policarpo, enviada pela Igreja de Esmirna a Igreja de Filomélio em 156:


Trindade excelsa - "Pelo eterno e celestial sacerdote Jesus Cristo, teu amado Filho, pelo qual glória seja dada a ti, com ele e o Espírito Santo, agora, sempre e pelos séculos dos séculos, amém."
XIV,03Igreja Católica - "Ele lembrou-se da S Igreja Católica espalhada por toda terra." VIII,01
Imortalidade consciente - "Com eles
(os mártires) possa eu ser admitido HOJE na tua presença, como um sacrifício deleitoso." XIV,02
Reverência aos Santos - "Mesmo durante o tempo de sua vida era já reverenciado devido a santidade de sua vida." XIII,02
As relíquias dos Santos - "Mais tarde pudemos nós recolher seus ossos, mais preciosos do que pedrarias e mais valiosos do que ouro, para coloca-los em conveniente lugar e quando possível ali nos reunir jubilosos para comemorar a data de seu martírio."
XVIII,02
Adoração dominical - "Era o dia do Sábado maior."
VIII,01


 

II - S Pápias de Hierapolis


Segundo G Bardy é S Pápias 'Uma das figuras mais misteriosas da antiguidade Cristã... e as poucas notícias que temos sobre ele, tem dado lugar, por parte dos pesquisadores, a intermináveis controvérsias.' in D T C XI sec part, 1944/47.


A respeito dele testifica Irineu ter sido ouvinte de S João e amigo de Policarpo Adv Haeres V,33,04. Eusébio, corrigindo, declara que fora discípulo, não do Apóstolo João, mas de João, o antigo ou ancião, ou ainda Presbítero. Floresceu entre 70 e 140 e é dado por mártir.

Interessante, misterioso e controverso é Pápias avaliado por Eusébio como sendo uma mentalidade medíocre, talvez porque ouvinte, não ao apóstolo, mas de um discípulo chamado João, muito provavelmente autor do livro da Revelação, admirador da literatura apocalíptica judaica, assim judaizante. Teria este discípulo longevo do Senhor, amiúde confundido com o apóstolo homônimo, se instalado - tal e qual o apóstolo - na Ásia menor e conquistado um bom número de adeptos. Como derradeiro ouvinte do Mestre deve ter atraído a sua localidade certo número de peregrinos e idoso pode ter confundido as coisas e atribuído ao Senhor o quanto lerá nos tais apocalipses dando origem a corrente milenarista ou quiliasta, de que Pápias se fez porta voz e que tanto exasperou os padres gregos...

Penso num ancião esclerosado, que ao fim da vida, agregando resíduos judaicos a fé - como apostasia, milênio, conflagração universal, anti Cristo, Besta, demonismo, inferno, etc - prestou um imenso deserviço a igreja, obscurecendo a simplicidade da autêntica escatologia Cristã e lançando as sementes de futuras dissenções intermináveis, e o fim de tudo isto é uma seita chamada 'apocalíptica' presente em todos os setores da Cristandade, particularmente nas seitas bíblicas ou carismáticas onde a leitura do livro da Revelação ultrapassou a leitura dos Santos e divinos Evangelhos. Tudo isto é a um tempo trágico e patético...

Bem Pápias pertence a esta corrente, assim Irineu, Tertuliano e os elderes que o seguiram devido a antiguidade de seu testemunho, adiciona Eusébio. Podemos dizer assim que Pápias fez, e faz escola e compreender ao mesmo tempo a exasperação de Eusébio.

Como não sabia discernir muito bem entre as fontes autenticamente Cristãs e as fontes hebraicas e fosse filho da cultura, inserido numa cultura de oralidade, compilou ele uma espécie de 'Puranas' do Cristianismo nascente, adicionando narrativas apócrifas já escritas, visões, etc inclinando-se para o miraculoso até o fantástico. Tinha porém boa vontade, pelo que convém ouvi-lo:

"Para ti não hesitarei, adicionar as minhas explicações, o que outrora ouvi eu dos antigos, e cuja lembrança bem guardei, estando seguro de sua veracidade. De fato eu não me comprazia, como a maioria das pessoas, no muito dizer, porém buscava a verdade, não me satisfazia com boatos, mas com aqueles que narravam os mandamentos do Senhor, frutos da verdade. E se sucedia, conhecer eu algum dos que tinham ouvido os antigos, eu me informava a respeito do quanto haviam dito eles, o que havia anunciado André, Pedro, Filipe, Tomé, Tiago, João, Mateus ou qualquer outro dos discípulos do Senhor, assim Aristion e João, o antigo, discípulos do Senhor. Eu não julgava que as coisas conhecidas através do relato escrito, não fossem tão úteis quanto as que ouvimos, por meio da palavra viva e permanente." Eusébio H E III, 39, 1-4Caso prestemos máxima atenção a estas palavras constataremos que há nelas certo vigor e solenidade. Pápias era apenas crente, não tolo e se foi enganado, enganado foi pelo velho presbítero judaizante. Ousarei dizer que apesar de sua crença tosca no milenarismo, era este Pápias homem genial por ocorrer-lhe por a tradição oral no acesso de todos, dando-lhe forma escrita, o que a seu tempo deveria ser um tabu! O fruto de suas pesquisas foi uma obra composta de cinco tomos intitulada 'Exegese ou explicação das palavras do Senhor', pelo fato de acompanhar Mateus e Marcos quanto a opção preferencial por Logias, assim o dito Evangelho de Tomé que temos por apócrifo.

Salvo falta de memória minha foi Pápias repetidamente citado por diversos autores, assim Cláudio Apolinário, Ecumênio, Victor de Cápua, André de Cesaréria e aproveitado por outros tantos - inclusive por Eusébio - até o século XVI, quando cessando de ser copiada, provavelmente devido aos defeitos citados por Eusébio, desapareceu, e com grave dano para a consciência Cristã.

Não vou reproduzir aqui o testemunho favorável a crença
milenarista, pois ainda que não constitua uma Heresia, choca-se com a piedade. O milênio consiste numa intuição a respeito do futuro ou da Era Cristã, mal compreendida ou assimilada pelos hebreus. A Igreja, Reino de Cristo ou cidade de Deus é que concretizará esta era ou período no mundo presente na medida em que nele encarnar-se inspirando uma vida - alias social e política - pautada na Lei de Jesus Cristo ou no Evangelho. Este triunfo, ao menos ético, senão credal, da Instituição Cristã é que corresponde ao milênio, correspondendo os mil anos a uma cifra simbólica que não deve ser matematicamente considerada i é ao pé da letra. Será o derradeiro estádio da História humana, iluminado pela graça de Cristo.

Portanto não devemos esperar nenhum tipo de cataclismo, de evento cósmico ou de mudança radical, mas a expansão paulatina de Pentecostes ou do cenáculo por meio dos Santos Sacramentos fixados por Jesus Cristo.

Tampouco mencionarei ipsa verba os estranhos relatos sobre a morte de Judas, o traidor. Tomou ainda alguns relatos as filhas de Filipe, virgens e profetizas que se haviam instalado em Hierapolis e ali morrido. Segundo tais relatos, Justo Bársabas, teria ingerido veneno mortal e permanecido incólume por antes ter invocado o nome do Senhor. Também a mãe de Manaim teria sido trazida novamente a vida.

Importa conhecer o que ele disse sobre a Escritura canônica, particularmente a respeito de nossos Evangelhos.

A respeito de S Mateus, registrou:

"Ele reuniu ordenadamente, na lingua hebraica, as palavras de Jesus e cada qual interpretou-as conforme sua capacidade." apud Eusébio H EPor hebraico devemos compreender o aramaico, assim o original de S Mateus. A expressão 'logoi' ou palavras parece excluir a parte narrativa deste Evangelho, que muitos, como Jerônimo de Stridon, julgam derivar do Evangelho dos Hebreus. Interpretar aqui, suporta traduzir, indicando que já circulavam versões gregas deste Evangelho.

Já sobre Marcos, declara:

"Marcos, tendo sido amanuense de S Pedro escreveu fiel, porém desordenadamente, tudo quanto recordava das palavras e ações do Senhor. Ele não tinha ouvido o Senhor nem o seguido, mas tomou as lições de Pedro, o qual costumava relata-las conforme a necessidade, não segundo a ordem exata. Assim Marcos não se equivocou, mas registrou segundo havia ouvido e recordava, e sua preocupação era apenas uma - Não omitir nada nem inventar coisa alguma." Junta Eusébio que ele também se referiu a Primeira Carta de S João e a uma das Cartas de Pedro e que conhecia a narrativa da Pecadora perdoada (João VIII), cuja fonte seria o Evangelho dos Hebreus.


Resta explicar porque ele não testemunhou a respeito do quarto Evangelho. Uma vez que parte dos racionalistas como Baur, foram levados a situa-lo na segunda metade do século II, justamente, devido a esta omissão. Uma vez que alguns insistiam indevidamente que S João e João, o antigo eram a mesma pessoa. A prova de que não eram é que Pápias - apud Irineu - conheceu o livro da Revelação. Agora a respeito de que tenha conhecido o Evangelho de João, não temos evidência alguma. Como podia ter conhecimento de uma obra e não da outra, dado que tenham saído da mesma pena? A hipótese mais plausível, como já dissemos, é que ele não conheceu o Apóstolo autor do núcleo daquele Evangelho - morto entre 70 e 80 - mas um discípulo de nome João, autor do Apocalipse. O que confirma do mesmo modo a Tradição, segundo a qual a I Carta de S João, fora escrita antes do quarto Evangelho e para servir-lhe de prólogo, o que explica que sua circulação fosse anterior e mais ampla já que a redação definitiva do quarto Evangelho foi elaborada pela comunidade joanina cerca do ano 90 desta Era.

Aos que quiserem saber mais sobre esta grande controvérsia, em torno da autoria e valor do Livro da Revelação, recomendamos nossa obra - "Foi o livro da Revelação escrito por S João, o apóstolo?"

Eis tudo quanto temos a dizer sobre Pápias de Hierapólis e sua obra.

CIX - S Inácio de Antioquia - Cartas

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Inácio, o 'Teóforo', foi o terceiro Bispo de Antioquia, após o santíssimo Pedro e o abençoado Evódio. (Orígenes e Eusébio) Segundo a legenda pia teria sido ele o menino levado ao Senhor quando disse: Deixai que a mim venham os pequeninos...

Segundo alguns - Constituições Apostólicas 'Inácio de Paulo' - fora discípulo de S Paulo. Segundo outros fora discípulo de S João e companheiro de Papias e Policarpo, ao qual consta ter enviado uma de suas cartas. Teodoreto de Cirro esclarece que S Pedro, antes de prosseguir sua jornada em demanda de Roma, havia determinado expressamente que Inácio sucedesse a Evódio.

"A tradição refere que foi enviado da Síria a Roma para ser lançado as feras, por causa do testemunho pelo Cristo. E enquanto seguia a carreira da Ásia, sob a atenta vigilância dos guardas, ia exortando as Igrejas porque passava com suas cartas." é o que diz Eusébio na 'História'.

O mesmo Eusébio na Crônica, declara que isto acontecerá no décimo ano de Trajano ou seja cerca do ano 107 ou 108 desta Era, o que é repetido por Jerônimo de Stridon nos 'Homens ilustres da igreja' sessão décima sexta. Jerônimo afirma igualmente ter sido ele lançado aos leões e S Crisóstomo alude ao Coliseu ou ao anfiteatro Flavio como ao lugar em que sua sentença foi cumprida. O synaxiarum da Igreja Copta Ortodoxa de Alexandria declara que ele foi lançado as feras e que estas o fizeram em pedaços...

O Codex Colbertinus de Paris (Sec X) contém as supostas atas de seu Martírio, consideradas genuínas por James Usherius, mas certamente interpoladas e inexatas. A cena mais famosa é a de seu interrogatório pelo próprio Trajano, um Loci common, quanto a este tipo de literatura.

Muito provavelmente, esta circunstância, de ter sido deportado, significa que Inácio estava envolvido em algum tido de conflito com outras comunidades Cristãs. Tendo sido condenado como um perturbador da paz pública. Allen Brent

Segundo o já citado 'Heródoto' Cristão, o 'Teóforo' ou portador de Deus "Estando em Esmirna escreveu uma carta a Igreja de Éfeso; onde nomeia seu pastor Onésimo; outra a Igreja de Magnésia sobre o meandro e a seu Bispo Damas; outra a Igreja de Trales e a seu líder Políbios, além destas escreveu a Igreja dos romanos... dirigiu por fim, longe de Esmirna, de trôade, escreveu aos Cristãos de Filadélfia, a Igreja de Esmirna e a seu presidente Policarpo, que ele reconhecia como homem apostólico...."

Tal o cânon de Inácio transmitido por Eusébio: Carta aos efésinos, aos de Magnésia, aos de Trales, aos romanos, aos de Filadélfia, aos esmirniotas e a Policarpo. Num total de sete cartas. "As quais tem uma importância incalculável para a História do Dogma." diz o patrólogo J Quasten

Ressentem, as cartas de Inácio, dupla influência, paulina, preponderantemente; e joanina (F Bleek - 1862). Osterzee (1866) alega que Inácio emprega expressões que existem apenas no quarto Evangelho. Holtzmann que era terminante quando a Hermas e Barnabé, silenciou a respeito de Inácio. Plummer em 1887 insistiu a respeito das cartas de Inácio conterem alusões a João, ausentes nos demais padres apostólicos. Em 1889 Ligthfoot declarou que Inácio conhecia o Evangelho de S João, embora sua dinâmica fosse paulina. Westcott admitiu que sem dúvida estava a par do pensamento joânico. No mesmo ano o biblista T Zahn apontou a familiaridade existente entre o epistolário inaciano e a primeira carta de S João. Em 1895 H Boese e C Pesch chegam por meios diversos a conclusão de que Inácio conhecia o quarto Evangelho. Em 1897 Harnack pronunciando-se a contragosto declara ser improvável mas de modo algum impossível que Inácio conhece a literatura joanina. Respondeu-lhe Loofs no ano seguinte declarando que Inácio não só conhecia o quarto Evangelho como estava bastante familiarizado com a teologia joanina, o que já havia sido exaustivamente demonstrado por Van der Goetz alguns anos antes. Por fim em 1899 Cammerlynch conclui pela plausibilidade de Inácio ter tido conhecimento do quarto Evangelho recebendo o apoio de H R Reinolds.

É o primeiro autor Cristão e insistir a respeito da dignidade episcopal e o primeiro a mencionar os presbíteros, dignidade recém criada, como estamento clerical separado do episcopado e subordinado a ele. Para Clemente de Roma, dez anos antes haviam apenas diáconos e presbíteros, os quais eram, na verdade, os Bispos. Como os primeiros Bispos haviam convivido com o Senhor ou com os apóstolos tomaram o nome de presbíteros ou antigos, ou anciões, a exemplo da Sinagoga. Quando a maior parte destes já havia falecido, os diádocos criaram uma outra dignidade, inferior ou restrita, outorgando-lhe o nome de presbiterato e atribuindo o termo episcopado, com exclusividade, a autoridade suprema estabelecida por Jesus Cristo e conferida pela sucessão apostólica.

Em 1886 o sectário presbiteriano W D Killen - seguindo a tradição de seu mestre João Calvino (Institutas I,13,29) e da maior parte dos assim chamados reformadores - alegou que nenhuma das cartas de Inácio era autêntica, mas que todos haviam sido falsificados, e adivinhem por quem??? Pelo Bispo de Roma Calixto, o qual sequer era papa... Para este autor Calixto passou-se pelo mártir Inácio com o objetivo de justificar, sua invenção, o episcopado monárquico. Isto teria acontecido cerca de 220 d C e portanto até aquela data vigorado o sistema presbiteral.

No entanto, como veremos, todos os doutores posteriores a Inácio, assim Hegesipo, Irineu e Tertuliano, etc seguirão a mesma linha que ele. Insistindo a respeito da sucessão apostólica dos Bispos como fundamento pétreo da verdadeira Igreja. Todos os autores citados escreveram antes de 220... tendo Irineu falecido cerca de 205 ou 215, Hegesipo escrito em 170 ou 180 e Tertuliano desde 195...

No mais, basta dizer que duas das cartas de Inácio foram textualmente citadas por Orígenes - In Luc VI,04 - pelos idos de 220 e antes dele por Irineu no Livro contra as Heresias V,28,04, o qual remonta a 180. O próprio Policarpo na Carta aos de Filipos - 130 - prontifica-se a enviar-lhes, segundo haviam solicitado, a coleção das cartas de Inácio enviadas das Igrejas. Foram ainda empregadas, posteriormente, por Atanásio, Crisóstomo, Teodoreto e Severo, bons conhecedores da lingua grega e das tradições, com absoluta segurança.

Diante disto os críticos, movidos por preconceitos religiosos, tiveram de questionar não apenas a autenticidade de Orígenes, mas mesmo de Policarpo, e pasmem, de Eusébio i é da História Eclesiástica. Segundo eles, esta corresponderia a uma falsificação e aquelas a interpolações... Dado que - em 107 - o episcopado 'NÃO PODERIA existir.', ou seja, porque não esta de acordo com suas teorias prediletas...

A respeito das Cartas de Inácio há três versões. Uma ampliada, constando de dez cartas. A versão intermediária, encarada como autêntica - Um dos principais defensores da autenticidade foi o Bispo J B Ligthfoot -  pela maior parte dos estudiosos e uma versão resumida editada pelo Dr Cureton em 1845.

Feitas estas observações passo a resenha doutrinal da obra:


  • Trindade excelsa - "Assim portadores sois de Deus, do Cristo e do Espírito Santo." Efésios IX "Na fé, no amor, no Filho, no Pai, no Espírito Santo..." Magn XIII,01
  • Encarnação do Verbo - "Assim nosso Deus Jesus Cristo, segundo a economia do Pai, habitou o seio de Maria, procedendo de Davi e do Espírito Santo." Efésios XVIII "Fora do tempo, atemporal, invisível, mas que se tornou visível para nós, sendo impalpável e impassível se tornou palpável e passível a ponto de poder sofrer por nós." Policarpo III,02 "Caso blasfeme contra seu Senhor, declarando que não se encarnou. Aquele que ousa faze-lo o arrenega de todo e faz-se portador da morte." Ismirn V,02
  • Natureza divina do Cristo - "Segundo a fé e a caridade em Nosso Senhor Jesus Cristo imitadores sois de Deus." Efésios I,01 "Constatei assim que sois imitadores de Deus." Tral I,02 "Jesus Cristo estava com o Pai antes dos séculos e por fim se manifestou."  Magn VI,01
  • Natureza humana de Cristo - "Sede surdos quando não vos anunciarem a Jesus Cristo filho de Davi, nascido de Maria, o qual nasceu, comeu, bebeu, foi condenado sob Pôncio Pilatos, que verdadeiramente foi crucificado e morreu a vista do céu, da terra e dos abismos..."  Tral IX,01 "Os incrédulos e ímpios declaram que ele sofreu apenas aparentemente." Tral X,01 "Ele sofreu verdadeiramente e verdadeiramente ressuscitou, não apenas na aparência como dizem os incrédulos." Ismirn II,01 "Sei e creio que mesmo após a ressurreição conservou a carne... Assim após a ressurreição comeu e bebeu junto com eles como ser de carne embora já na unidade do Pai." Ismir III,01 sgs "Instruo as igrejas na Unidade na carne e no espírito de Jesus." Magn I,02
  • A unidade das duas naturezas - "Há um só médico carnal e espiritual, gerado e não gerado, Deus feito carne, Filho de Maria e Filho de Deus, antes passível e agora impassível." Efésios VII,01 "Filho do homem e Filho de Deus." Efésios XX,02
  • Comunicação de Bens - "SANGUE DE DEUS." Efésios I,01
  • Nascimento do Senhor - "Ao poder deste mundo ficou oculta a Virgindade de Maria e seu parto." Éfesios XIX,01
  • Batismo do Senhor - "O Senhor foi batizado para santificar o elemento da água." Efésios XVIII
  • O Evangelho - "Convém seguir os profetas, mas acima de tudo o Evangelho no qual a paixão é mostrada e a ressurreição testificada." Ismirniotas VII,02
  • A Sucessão apostólica - "Assim aquele que é o dono da casa administradores envia para chefia-la e é necessário que nos recebamos a eles como se fossem a pessoa que os enviou." Efésios VI,01
  • Hierarquia eclesiástica - "Sem eles, diáconos, presbíteros e bispos não há Igreja." Tral III,01 "Não pode haver cabeça sem membros ou membros sem cabeça e Deus mesmo é o fiador desta Unidade."  id XI,01
  • O Bispo - "A fim de que congregados na mesma obediência e submissos ao Bispo e ao presbítero santificados sejais em todas as coisas." Efésios II,02 "Jesus Cristo vida nossa é inseparável do pensamento do Pai, tal e qual os Bispos, estabelecidos por toda terra são inseparáveis do pensamento de Cristo." Id III.02
  • Igreja eterna - "A Igreja que foi grandemente abençoada com a plenitude de Deus Pai predestinada foi antes dos séculos para subsistir para sempre e reter uma glória que jamais passa." Efésios I,01
  • Igreja Incorruptível - "Como sinal de incorruptibilidade de sua Igreja." Efésios XVII,01
  • Igreja Católica - "Onde esta o Bispo esta a Igreja Católica." Ismirniotas VIII,02
  • Unidade da Igreja - "Indispensável é a unidade sem fragmento a fim de que em Deus estejais." Efésios IV,02 "Nada que seja feito isoladamente pode ser digno de louvor. Pelo contrário congregai-vos em comum." Magn VII,01 "Tudo quanto fiz pude pela causa da Unidade uma vez que não pode Deus habitar onde haja divisão e cólera." Filadelf VIII,01 "Fugi as divisões que são raiz de todo mal." Ismirn VII,02 "Preocupa-te com a unidade, pois nada há de mais excelente." Policarpo I,02
  • Livre arbítrio - "Orai por todos os homes pois a possibilidade de conversão." Efésios X,01
  • A graça do Senhor - "Fora dele nada tem valor." Efésios XI,02 "Todo laço de iniquidade quebrado foi quando nosso Deus apareceu em forma de homem." Id XIX,03 "Ele tudo suportou por nossa salvação." Ismirn II,01 "Na graça dispostos estais para fazer qualquer boa ação diante de Deus." Policarp VII
  • Sinergia - "São ambas de Deus e nossas e sucedidas pela santidade e pela perfeição." Efésios XIV,01"Caso vocês desejem fazer o bem Deus sempre estará disposto a vos ajudar." Ismirn XI,02 "É obra de Deus e vossa." Policap VII "Reabilitados pelo sangue de Deus realizais até o fim a obra que convém a vossa natureza." Efésios I,01
  • Necessidade de obras (ao menos 'a posteriori') - "Que sejais reconhecidos por vossas obras." Efésios IV,02 "Pessoas há que falsamente portam o 'nome' mas procedem de modo diferente e indigno de Deus..." Id VII,01 "Que por vossas obras eles se tornem discípulos nossos." Id X,01 "Melhor calar e ser do que falar e não ser bom..." Id XV,01 "Tudo façamos como se ele habitasse dentro de nós, como em templos seus." Id XV,03 "Não basta portar o nome Cristão, é necessário se-lo de fato." Magn IV,01 "Que vosso depósito sejam as obras e que possais retirar as somas a que fazeis jus." Policarp VI,02
  • A perseverança como impulso que parte do homem - "Caso nele perseverarmos e evitando as ameaças do mal." Magn I,02
  • O mérito - "Caso ameis apenas os bons discípulos mérito algum tereis." Policarp II,03 "Mesmo as coisas que no dia a dia realizais são espirituais se as realizais em Cristo Jesus." Efésios VIII,01
  • Acessibilidade a perfeição: "Quem professa a fé não peca, quem esta no amor não odeia e assim pelos frutos se conhece a árvore. Os que alegam em Cristo estar são reconhecidos por suas boas obras." Efésios XIV,02 "Não podeis realizar as coisas da infidelidade nem os da infidelidade as coisas da fé." Efésios VIII,01
  • O solifideismo (falsa doutrina) - "Aqueles que tem opiniões estranhas sobre a graça de Cristo, não cultivam o amor, não se preocupam com o órfão, o estrangeiro e a viúva e desprezam o prisioneiro, o liberto, o faminto e o sedento." Ismirn VI,02
  • Sacramento do Batismo - "Sem o Bispo não é permitido Batizar ou celebrar o ágape." Ismirn VIII,02 "Vosso Batismo vos sirva de escudo." Policarp VI,02
  • Sacramento da Eucaristia - "Anseio apenas pelo pão de Deus que é a carne de Cristo e quero beber apenas de seu sangue, prova de amor inexaurível, pelo que não sinto prazer nos alimentos comuns." Rom VII,03 "Há na Eucaristia uma só carne de Cristo e um só cálice do elemento de seu sangue." Filadelf IV,01 "Eles repudiam a Eucaristia porque não podem crer que a Eucaristia seja a carne de nosso Redentor Jesus Cristo..." Ismirn VII,01
  • Sacrifício eucarístico - "Achegai-vos do único templo de Deus e do único ALTAR e do único Senhor Jesus Cristo." Magn VII,01 "Um único ALTAR assim como um só Bispo." Filadelf IV "Quem não esta junto ao ALTAR privado esta do Pão de Deus." Efésios V,01 "Quem esta dentro do santuário puro é, mas aquele que permanece do lado de fora é imundo i é aquele que procede sem Bispo, presbitério ou diácono." Tral VII.02
  • Sacramento do Matrimônio: "Convém que aqueles homens e mulheres que se casem, efetuem sua união com assentimento do Bispo de modo que sua união seja feita no Senhor e não na carne apenas." Policarp V,01
  • A Santa e vivificante Cruz - "Somos guindados pela alavanca da Cruz." Efésios IX,01 "(As ervas daninhas) não são ramos de sua cruz." Tral XI,01 "Pela Cruz, Cristo vos chama a sua paixão, como membros dela que sois." Id, id "Como pregados em carne e espírito a Cruz de Cristo." Ismirn I,01
  •  A imortalidade da alma - "Meu espírito imola-se por vós, não apenas agora, mas quando a Deus chegar." Tral XIII,03 "Não me impeçais de viver, não queirais que morra eu, não me prendais a este mundo, não tenteis seduzir com a matéria quem tem sede de Deus. Deixai que eu receba a luz pura, pois quando lá tiver chegado serei pleno... corre dentro de mim uma água viva que murmura: Vem para teu Pai." Rom VI,02 sgs
  • Ressurreição da carne - "Antes exercessem o amor ao invés de disputar e talvez assim obtivessem acesso a boa ressurreição." Ismirn VII,01
  • O celibato - "Se alguém pode permanecer na castidade, para a glória da carne do Senhor, permaneça também humilde." Policarp V,02 Alude ainda as 'Virgens que são viúvas.' em Smirn XIII.01
  • Adoração Dominical - "Aqueles que viviam na antiga ordem das coisas, tendo chegado a uma nova esperança, não observam mais o sábado mais o dia do Senhor, no qual nossa vida levantou-se por meio dele, da morte." Magn IX,01
  • As heresias - "Aqueles que para granjear fama, misturam Jesus Cristo, consigo mesmos são como aqueles que misturam vinho licoroso com veneno mortal." Tral VI,01 "Os lobos tem afastado muitos da unidade. Apartai-vos destas ervas daninhas que Jesus Cristo não plantou porque elas não pertencem a seu Pai... E aquele que caminha em ensinamentos estranhos, não tem parte na paixão do Senhor." Filadelf II,02/III,01 e sgs
  • Os judaizantes: "Tolice ter Cristo na boca e judaizar. Não foi o Cristianismo que acreditou no Judaismo mas o Judaismo que acreditou no Cristianismo." Magn X,03 "Se alguém vos interpreta judaismo, não creiais pois é melhor ouvir o Evangelho de um circunciso do que a Torá de um incircunciso." Filadelf VI,01
  • Ética, o amor - "O começo é a fé, o fim é o amor." Efésios XIV,01
  • Ética, a paz - "Coisa valiosa é a paz." Efésios XIII,01
  • Ética, a mansidão - "Diante da ira sede mansos... e da ferocidade pacíficos." Efésios X,02
  • Ética, a humildade - "Face ao orgulho permanecei humildes." Id,id     


CVIII - S Clemente de Roma - Carta aos coríntios











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Klemandros, Klimet ou Clemente é identificado por Orígenes com o Clemente citado por Paulo em Fil 4,3 - Onde um certo Clemente é citado como colaborador seu - o que é corroborado por Eusébio.

S Irineu assevera que Clemente de Roma havia sido ouvinte dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo. Tertuliano na Praescr XXXII opina que Clemente fora sagrado Bispo de Roma por S Pedro e S Epifânio esclarece que Clemente, abriu mão da liderança em favor de Lino. 

Segundo se crê era parente dos Imperadores Vespasiano, Tito e Domiciano e membro da família Flavia. Dión Casio 'Hist Rom' LXVII,14 Batizado por S Pedro foi acusado de iniciar-se na religião dos judeus, o que produziu escândalo na Sociedade de seu tempo.

Foi ele que, graças a seu prestígio, unificou as comunidades rivais, petrina e paulina da cidade de Roma. Pois Pedro constituira por sucessor a Lino de Volterra e Paulo a Anakletos, os quais, segundo S Epifânio e S Rufino foram simultaneamente Bispos dos romanos.

Além disto Clemente teria convertido os nobres Sisino e Teodora, e cerca de quatrocentos cidadãos romanos. Foi o quanto bastou para Trajano bani-lo para as minas de cobre de Galipoli na Crimeia. No entanto como continuasse a exercer proselitismo e a converter os mineiros, a ponto de criar uma Igreja subterrânea. Diante disto o procônsul mandou atira-lo ao Mar Negro com uma âncora ou pedra de moinho atada ao pescoço. Isto deve ter ocorrido por volta do ano 100.

Clemente de Alexandria e Orígenes atribuem-lhe explicitamente a carta aos Coríntios. A qual tendo sido escrita por volta do ano 96 constitui o mais antigo testemunho escrito a respeito da fé Cristã escrito após as obras canônicas e a Didaké, se bem que esta fosse obra anônima e conjunta. A primeira carta de Clemente aos Coríntios é a primeira obra assinada e unitária composta após os escritos que formam o corpo do Novo Testamento. Curiosamente a Revelação e quiçá a forma definitiva do quarto Evangelho são posteriores a obra de Clemente, a qual seria contemporânea aos Escritos inspirados, o que lhe confere um valor excepcional.

Em torno da figura de Clemente romano foi elaborada imensa massa de material, em grande parte fabuloso, chamada 'literatura clementina' - assim os 'Reconhecimentos' (recognitiones) e as Homilias. São ambas recensões de uma obra bem maior cujo núcleo corresponde talvez ao 'Kerygmata Petrou' e se foi avolumando e sendo reelaborado até o começo do século IV. O original deve ter sido elaborado na Palestina ou na Síria por volta da secunda parte do século II. Os ebionitas achavam-se em posse de uma versão pelos idos do século IV segundo foi constatado por Epifânio, Jerônimo e outros. A versão que possuímos foi elaborada por um ariano pelos idos do século IV. Outros supõem que houve um original ortodoxo sucessivamente interpolado pelos heréticos.

Reconhecimentos é uma espécie de novela mexicana em que pai, mãe e filhos; separados desde que estes eram crianças tornam a encontrar-se devido a mediação de S Pedro. São Pedro, a seu tempo, é apresentado como antagonista de Simão, o Mago; o qual passa a seguir de cidade em cidade, de Jerusalém a Antioquia. Muito provavelmente o curso da obra fazia Pedro seguir Simão até Roma, terminando com a famosa cena em que é elevado aos céus por obra de magia e derrubado, diante de Nero, pelas orações de Pedro e dos cristãos...

As Homílias concentram-se na exposição da doutrina.

Não é possível dizer se há ou o que há de autêntico nessa massa de literatura, embora nos pareça exagerado classifica-la como fictícia por inteiro. A única coisa de certa é que sob a forma atual não pode ter sido elaborada por Clemente romano.

Feitas as devidas apreciações bio bibliográficas passo a resenha da obra:



  • I,02 - Obras: "Vossa fé era firme e cheia de todas as virtudes... Vocês procediam sem fazer acepção de pessoas, conforme as ordenações divinas... II,01: "Vocês guardavam zelosamente as palavras dele em vossos corações e os sofrimentos dele estavam sempre diante de vossos olhos... II,03 Repletos de santa resolução e ânimo para todo bem."...II,07 "Jamais vos arrependestes de ter feito o bem 08 ...os preceitos e estatutos do Senhor estavam gravados em vossos corações." XIII,03 "Firme-mo-nos em tais mandamentos e preceitos; e com humildade nos submetamos a suas palavras."
    XXI,01 - XXI,08 - XXXII,01 - XXXIV,01 - XXXVII,02
  • Amor - "Quem diz ter o amor de Cristo observe os mandamentos de Cristo." XLIX,01 "Sem amor nada pode agradar a Deus." 05 "O amor é coisa divina e divina e seu valor transcende as nossas palavras." L,01
  • Justificados para as obras: "Assim os que pela fé justificados foram sejam adornados com boas obras a exemplo do Senhor." XXXIII,07
  • Virtudes - Benevolência, mansidão e humildade. XXX,08 Justiça, verdade, paciência, concórdia e paz. LXII,02
  • Solidariedade: "Sejamos bons uns para com os outros conforme a piedade e a ternura daquele que nos fez." XIV,03 "O que possui algo assista o pobre e o pobre a Deus agradeça por este se servir de alguém para aliviar suas necessidades." XXXVIII,01 "Associe-mo-nos aos santos porquanto os que deles se aproximam tornam-se santos." XLVI,02
  • A Perfeição: "Aproxime-mo-nos dele pela santidade da alma e lhe estendamos as mãos puras e sem mancha." XXIX,01
  • Fideísmo: "... A vossa fé se obscureceu. Porque não anda mais segundo as diretrizes de seus preceitos, SEM SE COMPORTAR DE MANEIRA DIGNA." III,04
  • I,03 - Hierarquia: "Submissos aos líderes e prestando aos presbíteros que estavam convosco as honras devidas." "Os grandes não existem sem os pequenos nem os pequenos sem os grandes, em tudo há uma mistura, e isto procede da necessidade. Tomemos o nosso corpo - A cabeça não se pode locomover sem os pés e os menores membros são necessários a saúde do corpo inteiro. Todos convivem em mútua submissão para consolidar a saúde de todo corpo." XXXVII,04 e sg "Coisa horrenda e indigna da conduta Cristã saber que a sólida e veneranda Igreja de Corinto por causa de um ou dois elementos ousou levantar-se contra seus presbíteros. Tais rumores não chegaram apenas até nós mas até mesmo aos contrários e assim graças a vossa tolice é injuriado o nome do Senhor com grande perigo para vós!" XLVII,06 "Vós que lançastes os fundamentos da rebelião, submetei-vos aos presbíteros e deixai-vos corrigir com o arrependimento dobrando vossos corações." LVII,01
  • II,06 - Cismas e divisões: "Toda briga e divisão eram abomináveis para vós." "Brigas, ódios, disputas, divisões e intrigas, nada disto é necessário." XLVI,02 "Assim por que rasgamos e esquartejamos o corpo de Cristo. Por que nos rebelamos contra o corpo de que fazemos parte? oh loucura! Esquecemos que somos membros uns dos outros e olvidamos as palavras de Jesus! A divisão perverte a muitos. Enfraquece uns, escandaliza outros, levando-os a dúvida e entristece a todos." XLVI 07-09
  • Tradição: "Abandonemos as preocupações inúteis e vãs para seguir a norma imaculada da nossa tradição." VII,02
  • Livre arbítrio: "O Senhor concedeu a faculdade da conversão aos que desejarem se converter a ele." VII,05 "Na sua vontade soberana ele decidiu que todos os amados se possam arrepender." VIII,05 "Lutemos para sermos contados no número dos que herdarão as santas promessas." XXXV,04
  • Cânon do Antigo Testamento - Em XVI,16 parece citar o livro da Sabedoria: Esperou no Senhor... que o liberte e o salve se o ama. Menciona Judite juntamente com Ester. LV,04
  • Estabilidade de Deus (Deus não se encoleriza): "Na paciência de sua vontade coloquemos os nossos olhares e consideremos como permanece isento de cólera para com os seres criados." XIX,01
  • Ressurreição dos corpos: "Que haverá de fantástico ou de extraordinário em que o Senhor do universo ressuscite aqueles que o serviram santamente na esperança e sinceridade da fé?" XXVI,01
  • Justificação universal: "Pela fé Deus justificou TODOS os homens desde o princípio." XXXII,04
  • Pecado: "Quem são os inimigos do Senhor: Aqueles que se opõem a sua vontade." XXXVI,06
  • Ritual/calendário: "Devemos fazer tudo quanto o Senhor mando fazer no determinado tempo. Ele mesmo determinou que as ofertas e funções litúrgicas fossem oficiadas não ao acaso ou aleatoriamente mas em circunstâncias e mesmo horas determinadas. E por sua soberana vontade designou onde e por quem deseja que tais cerimônias sejam oficiadas, a fim de que cada coisa seja feita santamente e deleitosa seja a sua vontade." XL,01-03
  • Sucessão apostólica: "Os apóstolos receberam do próprio Senhor Jesus Cristo o Evangelho que nos comunicaram. Jesus foi enviado pelo Pai. Cristo procede do Pai e os apóstolos de Cristo. As duas coisas, na mesma ordem, procedem do Pai. Eles receberam instruções infalíveis, segundo a evidência da ressurreição e foram brindados com a graça do Espírito Santoe assim comunicaram o Reino. Nos campos e nas cidades anunciaram a boa nova e assentaram as primícias, e pelo poder do Espírito Santo constituíram Bispos e diáconos para os futuros crentes." XLII,01-04 "Julgais inusitado que os pregoeiros de Jesus Cristo tenha estabelecido tais ministros? Já Moisés tendo limitada ciência, não teria tomado todas as providências para que não houvesse desordem no antigo Israel?" XLIII,01 e 06 "O Senhor mesmo informará aos apóstolos a respeito das disputas que ocorreriam por causa da liderança. Destarte, tendo em vista o futuro, eles estabeleceram os ofícios de que falamos e quando estes morreram, outros homens qualificados os sucederam. Os que estabelecidos foram por eles ou por outros homens, sempre com a vênia da Igreja, tem servido o rebanho de Jesus Cristo dignamente e são estimados por todos. Por isto julgamos que não seja lícito dedigna-los. Para nós não seria justo exonerar aqueles que exercem o episcopado de modo santo e irrepreensível." XLIV,01-04
  • Inspiração da Escritura: "Vos curvastes sobre as santas Escrituras, essas verdadeiras Escrituras doadas pelo Espírito Santo. Sabei que nada de injusto ou falso nelas esta escrito." XLV,02
  • Trindade Excelsa: "Temos um só Pai, um só Cristo e um só Espírito de graça, que sobre nós foi derramado." XLVI,06 "Pela vida do Pai, pela vida do Senhor Jesus Cristo e do Espírito Santo que são a fé e a esperança dos bem aventurados." LVIII,02
  • Imortalidade da alma: "Aqueles que pela graça do Senhor se tornaram perfeitos no amor FORAM RECEBIDOS NOS LUGARES DOS PIEDOSOS." L,03
  • Igreja: "Melhor é para vós ser mantidos no rebanho de Jesus Cristo inda que sendo pequeninos do que grande ser e estar fora deste rebanho." LVII,02

CVII - Primórdios da literatura Cristã: O didaqué

  Didache kyriou dia ton dodeka apostolon ethesin ou 'Ensino do Senhor ministrado pelos doze apóstolos as nações' é seu título.

Conforme Rodorf, segundo alguns estudiosos a Didaké seria uma coleção de escritos anteriores a destruição do tempo de Jerusalém e portanto registrada entre os anos 60 e 70. J A T Robinson situa-a entre 70 e 80 e alguns outros entre 80 e 90. Assim de modo geral sua data de sua composição dicaria situada entre 60 e 90 desta Era, correspondendo o termo médio a 75. A imensa maioria dos autores concordam que pertence ao século I, ficando excluída a datação tardia, situada para além do ano 100 ou seja no século II.

Segundo a maior parte dos críticos ele teria sido composto pelos Cristãos estabelecidos no Norte da Síria ou da Judeia. Além disto teria sido composto por mais de uma pessoa. Embora não se possa demonstrar que tenha sido elaborado por qualquer apóstolo é certo que as tradições nele contidas remontam ao tempo dos apóstolos, tendo sido preservadas pelos comunidades.

S Eusébio - que menciona-o expressamente na 'História eclesiástica' associa-o ao Apocalipse de João, ao Apocalipse de Pedro, ao Pastor de Hermas e a Epistola de Barnabé que são obras legadas pela mais remota antiguidade e compostas entre os anos 90 e 130 desta Era. S João Damasceno afirma sua canonicidade.

A igreja no entanto recebendo a opinião de S Atanásio e de Rufino de Aquileia - que o declararam pseudo epigráfico -  julgou por bem não incorpora-lo as Escrituras. Recomendava no entanto sua leitura, a exemplo de Damasceno.
No entanto após ter sido referenciado por Niceforo Calixto 'Xanthopoulos' (1320) o mais remoto testemunho da literatura Cristã acabou 'desaparecendo'.

E por meio milênio foi seu conteúdo ignorado, até que em 1873 foi redescoberto por Philotheos Bryennios, metropolita de Nicomédia, no Codex Hierosolymitanus (1056).
Cerca de trinta anos depois parte da versão latina foi localizada por J Schlecht.

Hitchcock e Brown traduziram-no para o Inglês em 1884. No mesmo ano foi produzida a versão alemã por Adolph Harnack e no ano seguinte Sabatier publicou a versão francesa.

Desde então passou a fazer parte da coleção conhecida sob a alcunha de 'padres apostólicos'; porque segundo se crê, e já dissemos, seus redatores teriam sido ouvintes ou discípulos dos Santos Apóstolos.

Quanto aos primeiros capítulos parece uma reelaboração de escritos judaicos e ensinamentos rabínicos de teor moralizante.

Tudo segundo o esquema bastante conhecido dos dois caminhos.

Esquema comum a tradição judaica testemunhada pelos essênios (manuscrito zadoquita ou de Damasco) e a tradição evangélica, adotado igualmente por Hermas e pelo redator da Carta de Barnabé. 

Os demais capítulos dizem respeito a vida sacramental da Igreja.

Segue a súmula do livro enfatizando os elementos credais ou os artigos de nossa imaculada fé:


  • A primazia do amor: "Antes de tudo cabe amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a nós mesmos." I, 2. O amor não nos deve impedir de corrigir quando necessário for. II,7
  • Condena o assassinato, o adultério, o roubo, a inveja, a mentira, a hipocrisia, o ciúme, a cólera, a agressão, a avareza e a busca pela vingança. Caps II e III. "Não seja ávido pelo dinheiro oh filho meu." III,5 "Nem seja como aquele que estende a mão na hora de receber e retira na hora de doar." IV,5, "Não repudie o necessitado. DIVIDA TUDO COM SEU SEMELHANTE E JAMAIS DIGA QUE AS COISAS LHE PERTENCEM. Se vocês estão unidos nas coisas que jamais morrem, quanto mais nas perecíveis. IV.8 Acusa severamente os 'Que defendem os ricos.' V,2
  • Recomenda cultivar: A mansidão, a paciência, a misericórdia, a serenidade (Cap III) e sobretudo a justiça: "Julgue sempre de modo justo." IV,3 SEM FAZER ACEPÇÃO DE PESSOAS. Id, V,2
  • 'Não se deve sequer planejar o mal contra o próximo.' II, 6 ou ainda 'Odiar a quem quer que seja.' II,7
  • A necessidade das obras: "Dá a quem te pede e jamais peça para devolver..." I,5 "Que sua palavra não seja falsa ou vazia mas comprovada pela prática." II,5
  • A doutrina da graça capacitante: "Não te deixes levar pelos teus impulsos." I, 4 ; "Evite até mesmo a aparência do mal." III,1 e por fim: "Assim deveis ser encontrados perfeitos..."
  • A necessidade de observar a Lei moral: "Não matar, não roubar, não trair, não mentir, etc...".  II,2 Cumpre observar a condenação do aborto: "Não matarás a criança no ventre de sua mãe." "Jamais viole os mandamentos do Senhor." IV,13 "SE PUDER CARREGAR TODO JUGO DO SENHOR VOCÊ SERÁ PERFEITO. Se não for possível, faça o que puder." VI,2
  • A condenação ao acumulo excessivo de bens: "Não sejas soberbo ou insolente, não te associes aos poderosos mas aos pobres que são justos." III,9
  • Inculca respeito para com os ministros da palavra: "Recorda noite e dia o predicante da palavra e honra-o como se fosse aquele Senhor que o enviou; pois onde a boa nova é ensinada ali esta o Senhor." IV,1
  • Condena o sectários e enfatiza a Unidade: "Que ninguém ouse provocar divisões mas que se promova a concórdia." IV,3
  • Salienta o vínculo social ou comunitário existente entre os Cristãos: Busque estar diariamente na companhia dos irmãos para encontrar apoio nas palavras deles. IV,2
  • Reconhece a Penitência: "Aquilo que ganhas com o suor do teu rosto FAZ OFERENDA DE REPARAÇÃO PELOS PECADOS." IV,6
  • Refere ao Batismo em nome da Santa Trindade: "Batizai em água corrente em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo." VII,1
  • Atribui personalidade ao 'Espírito' declarando que ele prepara os santos. IV,10
  • Mas admite o Batismo por efusão quando não houver água suficiente para mergulhar: "Se não houver água corrente seja a água derramada três vezes sobre a cabeça do neófito." VII,3
  • Da testemunho da Penitência Batismal especificando que antes do Batismo Batizador e Batizando devem exercer jejum.
  • Aprova as orações repetidas recomendando que o Pai Nosso seja recitado três vezes ao dia, ou seja, pela manhã, pela tarde e pela noite. Prática que remonta ao livro de Daniel.
  • Testifica que a congregação Cristã exercia jejuns pela quarta e pela sexta feira em memória dos sofrimentos de Nosso amado Mestre.
  • Descreve a Eucaristia como 'Comida e bebida espirituais.' e adverte que apenas os batizados deveriam recebe-la.
  • Afirma a Ortodoxia da Igreja: "Se alguém anunciar tudo o que foi anunciado antes podeis recebe-lo.". "Assim nada acrescente e nada retire." IV,13
  • Ensina que o supremo critério de Ortodoxia é a vida (Ortopraxia): "Aquele que diz ser predicante e profeta QUE VIVA COMO O SENHOR. Assim sabereis discernir..." e "Todo o que declara estar na verdade mas não põe em prática é sedutor e falso profeta." XI,8
  • Alerta contra o simonismo ou teologia da prosperidade: "SE PEDIR DINHEIRO É FALSO PROFETA." XI,6  e completa "Se quiser viver convosco que exerça algum trabalho digno."
  • Testifica que os Santos congregavam no 'Dia do Senhor' ou seja no Domingo da ressurreição. XIV,1
  • Refere-se a confissão pública dos pecados como veículo de purificação. Id
  • Refere-se ao ofício Cristão como a um sacrifício. Id
  • Refere-se aos predicantes como nossos 'Sacerdotes'. XIII,3
  • Especifica que os predicantes e profetas são os Bispos e diáconos. XV,1 e especifica que 'Não devem ser apegados ao dinheiro.'
  • Testifica quanto a ressurreição dos mortos, o derradeiro julgamento e uma espécie de purificação pelo fogo.

Tais os elementos da fé com que nos deparamos neste escrito antiquíssimo que parte dos antigos não exitou atribuir aos S Apóstolos do Senhor e que com toda certeza foi composto por aqueles que tiveram o privilégio de escutar a instrução de seus abençoados lábios.

Instrução pura, imaculada, correta e isenta de erros.