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A consciência histórica do Cristianismo

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quarta-feira, 13 de março de 2013

XLIII - Aspectos da vida de Jesus > Intecionalidade e ética.





Desde que Franz Brentano (1874) retomou o tema da intencionalidade - enquanto 'Estado de consciência voltado para um determinado resultado a ser adquirido.' - alegando ter ido busca-la na Escolástica medieval, ela não mais saiu de cena.

Husserl susentará que a consciência é sempre intencional, sendo sempre dirigida para um objeto real ou imaginário.

Na esteira de ambos, M Weber, relaciona a intencionalidade ao fato social, alegando que todo aquele que implementa determinada ação busca determinado resultado e regula as ações pelo resultado desejado.

Elizabeth Anscombe (1958) sustenta que o homem é responsável tanto pelas consequencias intencionais ou desejadas por seus atos, quanto pelas consequências não intencionais quando previstas.

No campo do direito há inumeros tratados sobre o assunto. Basta dizer que um crime Não intencional ou culposo é punido com muito menos rigor do que um crime intencional ou calculado, doloso. Esta distinção é basilar no terreno do direito criminal ou penal.

Jurista algum ousaria desconsiderar o papel da intencionalidade na gênese de um crime.

Paulo Freire susteve que não pode haver educação politicamente neutra, partindo das mesmas premissas que envolvem a intencionalidade do educador.

Na aurora da civilização no entanto era completamente desconhecido o fator da intencionalidade do ato moral.

Assim lemos na narrativa a respeito de Osa, lemos que foi fulminado por Javé pelo simples fato de ter tocado a arca do pacto com a intenção de evitar que ela caisse (!!!) Logo com uma intenção nobre e virtuosa, e no entanto javé castiga Osa sem considerar suas intenções, ou seja, pelo simples fato de ter tocado a arca...

As narrativas mitológicas estão repletas de situações em que o sujeito é punido porque executou determinada ação 'sem querer' i é sem intenção; merecendo por isso o ódio e a punição por parte dos deuses imortais; para os quais a intenção nada significava.

Efetivamente a distinção entre culpa e dolo, isto é, entre não intencionalidade e intencionalidade; surge apenas com os romanos; cujos juristas estavam impreganados pela Filosofia estoica.

A Filosofia estóica no entanto deita suas raízes na reflexão ética iniciada por Sócrates, Platão e Aristóteles; a qual por sinal leva adiante, amplia e aprofunda.

Beberam os estóicos romanos no manancial da reflexão filosófica inaugurada pelos antigos gregos em torno da ética e da axiologia i é dos principios e valores que constituem o fundamento do mundo moral.

De certo modo a evolução ou ascenssão que percebemos de Sócrates a Zenão e aos moralistas e juristas romanos; corresponde a um processo natural, e seria demasiado estranho caso não tivesse ocorrido.

Pois os antecedentes encaminhavam toda dinâmica para tais fins, como sejam a condenação da escravidão e a formulação do nexo existente entre intencionalidade e a ação moral.

Acontece que nosso Jesus jamais frequentou a acadêmia, o Líceu ou o pórtico... e no entanto, coisa inusitada, em seus discursos ele alude repetidamente a intencionalidade, vinculando-a a responsabilidade e ao mérito, enquanto base de toda vida moral...

É bem verdade que os profetas hebreus haviam dado um grande passo na senda da ética ao colocarem a virtude ou o cárater acima dos atos religiosos propriamente ditos. Buda havia enunciado o mesmíssimo principio no extremo Oriente.

Antes dos estóicos e de Jesus no entanto, o fator da intencionalidade não havia sido posto as claras.

Assim sendo toda economia moral era baseada nos atos materiais.

Naquilo que era executado e não naquilo que era pretendido ou objetivado.

Era um ato considerado criminoso ainda que o autor não tivesse a intenção de pratica-lo. Era uma ato considerado meritório mesmo quando executado aleatoriamente ou seja sem a mínima intenção.

Apenas a ação em si ou o elemento exterior era considerável; jamais o móvel interior.

Jesus no entanto inverte o esquema.

Colocando ou pondo em primeiro plano o móvel interior, a intenção ou o desejo daquele que executou a ação e não a ação em si mesma.

É mais importante desejar alimentar um faminto mesmo sem poder faze-lo, do que alimenta-lo sem desejar faze-lo ou tendo em vista qualquer outro fim como por exemplo o aplauso dos vizinhos.

Daí ter dito: "Se executais ações que vossos corações aborrecem, errais."

Qual a diferença entre a esmola do afortunado e da viúva senão a imolação da alma? Presente na mente da pobre mulher mas não na do nababo.

Acompanhavam com grande dificuldade e sacrificios a multidão a Nosso Senhor. Diante disto que faz ele? Louva-a?? De modo algum, antes declara: Me acompanhais por causa de pão e peixe e não por causa da boa doutrina...

Por outro lado terá grande merecimento no mundo futuro 'Aquele que der a um de meus emissários um simples copo de água fria.'

Pois um contribui com barras de ouro; mas só para aparecer diante dos homens mortais... enquanto outro limita-se a dar um copo de água fria por amor a glória de Jesus...

Então aquele ouro vale água; mas aquela água vale ouro... segundo o poder da intenção.

Valor algum tem a virtude dos fariseus porque o objetivo deles era a ostentação e a busca por aplausos e louvores... e não a glória de Deus.

Eles tudo executavam minuciosamente e obedeciam para serem admirados pelos homens...

Eles afetavam uma piedade extrema para granjear a aprovação dos homens...

Não cogitavam primeiramente em Deus e na imortalidade e por isso suas ações não adquiriam o status de divinas e imortais.

Distingue o Mestre amado aquele que pratica a virtude pela virtude sem considerar qualquer outra coisa e aquele que pratica a virtude tendo em vista algum beneficio ou alguma vantagem social; como os fariseus que buscavam prestigio.

Para ele entre o ato puramente externo e a virtude há grande diferença.

Entre a virtude real e a virtude aparente há um abismo: a intenção.

Quanto a virtude real a intencionalidade do ato se esgota em si mesma; quanto a virtude aparente a intencionalidade esta voltada para alguma outra coisa que não pertence ao ato... um favor, um benefico, uma vantagem, uma promoção, um aplauso, um elogio...

Então já vimos que se Brentano depara com o conceito de intencionalidade na Escolástica é porque os Escolásticos encontraram-no nos padres da Igreja e estes no Evangelho ou seja nas palavras mesmas de Jesus, cuja moral, dando mais um passo a frente, passa a considerar o elemento interno motivador da ação e não apenas a ação.









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