
O bemaventurado Agostinho em sua controvérsia com Pelágio, percebendo que este resvalava pelas vias do naturalismo, não soube evitar o extremo oposto e em suas "Retratações" - que representam suas derradeiras opiniões no campo da teologia - achou por bem negar que os homens tivessem conservado o dom do livre arbítrio após a emergência do mal neste mundo.
Entretanto seja porque viesse a perecer ou porque o pudor lho impedisse jamais chegou as últimas consequências de tal negação, que é o termo final do gracismo: o predestinacionismo duplo ou seja a eleição e a deseleição que é uma regeição positiva da parte de Deus.
Ao que tudo indica a posição do doutor hiponense se assemelhava mais a dos nossos arminianos, os quais, partindo da crença numa depravação total da natureza e da supressão do livre arbitro, postulam a existência duma 'graça preexistente ou preveniente' ou iluminação capaz de restaurar o livre arbitro de cada ser humano no momento mesmo em que toma conhecimento de Cristo.
A tése da reprovação ativa parece ter sido concebida primeiramente por Cesário ou por Goteschalk, sendo absolutamente certo que este professou-a abertamente merecendo ser condenado por diversos sínodos congregados nas Gálias e pelo Santo Metropolita Hincmar de Reims.
Calvino que fora instruido por Corderius nas obras dos escolásticos e legistas soube tomar as premissas de Agostinho e Cesário e tirar deduções teologicas (qiyas) analogas as de Goteschalk.
Deduções que Gomar, Turretini e os 'padres' reunidos em Dordt converteram em dogma sacratíssimo e que Wathefield, Toplady, Warfield e Boetner apresentaram como sendo a quintessencia da ortodoxia cristã.
Assim a pedrinha de gelo que começou a rolar pela montanha nos tempos do Hiponense converteu-se numa terrivel avalanche que veio a destruir a igreja Ocidental e implantar o Qadarismo 'Cristão'.
Entretanto tal Qadarismo não pretende estar fundado sobre o Corão e os hadiths de Maomé e tampouco sobre as palavras de Agostinho e Cesário apenas - as quais consideram retiscentes por sinal - mas sobre as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo e seus abençoados apóstolos, tal a pretenssão do ilustre heresiarca francês no capítulo XXII do terceiro livro das suas Institutas.
Efetivamente Calvino não se satisfaz com o apresentar o qadarismo como agostiniano ou paulino, sua meta é apresenta-lo como apostólico ou melhor, como evangélico ou seja como procedente de Nosso Supremo Mestre Cristo Jesus.
Cumpre pois - a nós que amamos o unigênito filho de Maria - dar pronta resposta a tais insinuações malévolas de que há qualquer tipo de fatalismo - Espiritual ou temporal - contido na sagrada revelação de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, pois onde está o Espírito esta a liberdade, jamais a coerção.
Vamos pois aos textos elencados pelo 'monstro de Genebra':
I - PLANO GERAL
Tratando-se duma doutrina 'vital' para o aperfeiçoamento ético e religioso daqueles que creem, do 'pão dos filhos' que produz frutos 'dulcissimos', de um grave artigo de fé pertinente a divina revelação, esperavamos que Calvino fosse brindar seus leitores com dezenas de dezenas de citações inspiradas.
Digo isto porque a doutrina da Santa Trindade - a mais digna de todas as nossas doutrinas - esta embasada em mais de dez (10) passagens, claras, diretas e objetivas do Novo Testamento e em mais de trinta passagens indiretas, sendo cerca de vinte delas referentes a divindade de Cristo e cerca de dez referentes a divindade do Espírito Santo, conforme tivemos a ocasião de comenta-las - litero gramaticalmente -em nosso tratado contra todos os sectarios na sessão dedicada aos arianos, unitários e testamunhas de Jeová.
O mesmo se pode dizer do Batismo com relação ao qual há dezenas de passagens, da eucaristia, da Igreja e suas notas, etc
Ademais os filhos de Calvino costumam acusar, tanto aos ortodoxos e papistas, quanto aos sectarios que discordam de suas interpretações, de pautarem suas crenças em apenas dois ou três versículos mal interpretados ou distorcidos... o que segundo dizem comporta dsonestidade.
É assim que os calvinistas se referem ao culto dos santos, as preces pelos mortos e a veneração a tributada as imagens com relação a ortodoxia; com relação ao sabado e ao juizo investigativo com relação as adventistas; com relação aos jeovistas no que tange a transfusão de sangue e os homens de série B; com relação aos espíritas no que diz repeito a reencarnação... assim tripudiam os qadaritas de seus adversários alegando que não apresentam evidências bíblicas suficientes tendo em vista a afirmação de dogmas ou mistérios fundamentais.
Por isso que os Zanchius, Bezas, Gomarius, Turretinis, Topladys, Warfields e Boettners da vida tiveram de vir a campo para consertar o encouraçado das Institutas, acrescentando outras tantas dezenas de textos falseados e recortados, os quais Calvino, por honestidade talvez, não quiz empregar em sua demonstração capital. Pois sendo conhecedor sagaz das escrituras judaicas e Cristãs nenhum texto lhe passaria desapercebidamente pelas vistas.
Entretanto tudo quanto este homem habil, erudito e sagaz conseguiu joirar ou peneirar foram apenas três textos.
Evidentemente que três textos apenas seriam determinativos caso fossem todos extraidos do Evangelho e caso seu significado fosse tão claro e tachativo quanto os textos alusivos a Divindade de Cristo, a imortalidade da alma, a ressurreição ou a lei do amor, por exemplo.
Também dariamos a mão a palmatória caso tivessem sido retirados dum contexto absolutamente claro, direto e insofismavel, como por exemplo a doutrina de João sobre o amor, o pecado - a perfeição e impecabilidade dos que estão em Cristo - expostas em sua primeira epistola, a doutrina do Velho Testamento expressa por Apolo nos primeiros capitulos de sua carta aos hebreus ou a doutrina da ressurreição ministrada por Paulo em sua primeira missiva endereçada aos fiéis de Corinto.
Em se tratando da pena apóstolica e dum contexto limitado era de se esperar, no mínimo, que as duas ou três passagens fossem extraidas de duas ou três fontes apostólicas distintas, pois assim não haveria risco de equivoco conforme o siginificado de um dos textos (dos mais claro e insofismavel) elucidaria e apoiaria o sentido dos demais, manifestando que os apóstolos estavam de pleno acordo sobre tal doutrina e sobre sua relevância espiritual.
Pois a verdade foi comunicada aos doze e não a um só, sendo belo o testemunho comum e unanime do colégio apostólico no Espírito Santo, testemunho inequivoco e perfeito.
Assim pela concórdia do testemunho de fontes distintas não há chance de que os ímpios pervertam o sentido dos oráculos.
Entretanto como já foi dito, as 'Institutas', que são a obra basilar do qadarismo "Cristão" só nos oferecem três textos sendo que dois deles pertencem a mesma fonte: o apóstolo Paulo.
Porque o protestantismo é - ao menos quando a aparência ou a forma externa - um paulisnismo e jamais um joanismo, petrismo, tiaguismo ou Cristianismo.
É assaz sabido por todos os contrários que os protestantes costumam entrincheirar-se invariavelmente no 'corpus Paulinum', o qual se torna, por assim dizer, o campo onde cultivam e a mina donde extraem suas exóticas doutrinas.
Não estamos sequer insinuando que algum dia Paulo tenha sequer imaginado algo semelhante tanto ao predestinacionismo ou ao legalismo (judaizante) de Calvino quanto ao fideismo antinominiasta de Lutero.
Houve quem chegasse a tal conclusão, de que Paulo discordava dos demais apóstolos e do próprio Cristo antecipando as loucuras de Agostinho, Cesário, Goteschalk, Lutero e Calvino...
E levado por ela chegou a bradar: Jesus sim! Paulo não!
Conforme sua piedade mal orientada.
Seja como for é melhor ter uma piedade mal orientada do que uma impiedade bem orientada e calculada capaz de atingir em cheio e de macular o cárater santíssimo de nosso Mestre amado apresentando-o como autor do pecado ou como um deus que se deleita na iniquidade.
Não partilhamos de tais conclusões.
Amamos subretudo a Jesus e veneramos a grande memória do apóstolo Paulo, o qual segundo cremos estava de pleno acordo com Jesus, com seus apóstolos e com a pregação incorruptivel e imutavel da Igreja.
Então porque os heréticos vivem a apelar para a autoridade do grande Apóstolo?
O que os leva a repetir incesantemente Paulo para cá e Paulo para lá?
O que os faz apelar teimosamente a sua autoridade e escudar suas abominaveis teorias em suas cartas?
O que os leva a repetir incesantemente Paulo para cá e Paulo para lá?
O que os faz apelar teimosamente a sua autoridade e escudar suas abominaveis teorias em suas cartas?
Se conhecemos como devemos as Santas escrituras temos a resposta diante de nós.
Os hereges recorrem a autoridade e aos escritos do apóstolo das nações por duas razões: Paulo escreveu mais e abordou mais matéria do que os demais apóstolos de modo que suas obras compreendem cerca de um terço no Testamento Novo, igualando-se e até ultrapassando o límite dos Evangelhos e das epístolas dos demais apóstolos mais o apocalipse.
Esta é a primeira razão porque tanto recorrem a ele: devido ao volume de seus escritos.
Entretanto se a linguagem do apóstolo Paulo tivesse sempre sido tão clara, tão simples e tão lúcida quanto a de Nosso Senhor ou a de seus pescadores não haveria espaço para as manobras da iniquidade.
Alheio aos ofícios da pesca Paulo era um homem assaz instruido tanto na sabedoria dos gentios quanto nos oraculos sagrados tendo estudado na academia de Atenodoro e se assentado aos pés do grande Rabban Gamaliel neto de Hilel.
Separou-o pois o Sábio Supremo para que lançasse as bases da teologia Cristã e alimentasse com alimento tanto mais sólido aqueles que até então só eram capazes de ingerir leite e liquidos.
Pois o tempo de criança estava marcado devendo a Santa Igreja - rompendo com as coisas da infância - desligar-se da mãe, ao invés de converter-se numa seita obscura...
Paulo foi o escolhido para cortar o cordão umbilical que ainda unia a mãe Igreja a sinagoga dos infiéis, para separar as duas leis (a de Mosaica da Cristã) e para expor a econômia da divina graça, que os infiéis sempre ignoraram e ignoram como perfeitos naturalistas que são.
Entrando na liça contra os judaizantes - as vezes até mesmo contra a mentalidade obtusa de alguns dos Santos de Jerusalem - Paulo teve de empregar e muitas vezes de forjar uma linguagem técnica e complicada que torna algumas de suas obras bastante dificeis de serem lidas e compreendidas pelo vulgo...
Quem o afirma não sou eu, nem o Papa romano, nem o Patriarca de Constantinopla, mas a escritura inspirada mesma na pessoa do apóstolo Pedro, o qual assim se expressa:
"Assim procede ele em todas as suas cartas nas quais há passagens dificeis de serem compreendidas que os ímpios e ignorantes falseiam para sua própria ruina." II Pe 3, 16
Há quem se arrogue de poder compreender com facilidade o que o Apóstolo Pedro, um dos grandes hierarcas do colégio apostólico, confesava humildemente ignorar, nós não, porque não somos dos pretenciosos e arrogantes.
Nós não, e por isso sempre que nos deparamos com um texto obscuro e dificil lavrado pelo apóstolo das nações, após esgotar todos os recursos da tradição apóstolica, da gramática e da cultura judaica, não ousamos apelar a tal texto com o intuito fundamentar qualquer doutrina ignorada pela Igreja de Deus, especialmente quando ela é claramente impugnada pelas palavras do Senhor e dos demais apóstolos. Neste caso, como Pedro e com Pedro, confesamos humildemente nossa limitação e nos submetemos humildemente ao veredito daquela igreja que o próprio apóstolo indigitou como "Coluna e esteio da Verdade".
Longe de nós tomar as palavras obscuras do apóstolo e lança-las contra Jesus, contra os apóstolos ou contra a Igreja de que Paulo, também Paulo, como batizado era filho dedicado e amoroso.
Os heréticos porém agem doutra forma: escolhem justamente as epistolas e passagens mais dificeis do apóstolo para sobre elas edificar seus sistemas e seitas.
Recorrem a Paulo e buscam refúgio em sua autoridade não porque lhe compreendam e recebam a mensagem ou o pensamento, mas apenas e tão somente porque sua linguagem dificil permite, que sob ela, acobertem suas próprias idéias.
Assim eles tomam as palavras vazias do apóstolo - cujo sentido ignoramos como eles mesmos ignoram - e com elas revestem suas opiniõezinhas...
E de suas sentenças fazem andrajos com que cobrem novidades profanas...
Porque não teem um pingo de respeito para com a memória veneranda do apóstolo e pouco se lhes dá apresenta-lo como mestre ímpio e fautor de abominações monstruosas alheias ao Evangelho.
É assim que lho apresentam como adversário das obras e consequentemente como inimigo do igualmente apóstolo e inspirado Tiago. Pois o bemaventurado 'irmão do Senhor' afirmava em alto e bom som que a fé não basta para colimar o processo de nossa salvação.
Nega Tiago que a graça seja o começo e principio de nossa salvação, que nos justifique e nos faça reviver e que a santificação e a perfeição sejam suas filhas? Nega o grande apóstolo o que pertence a graça e que Paulo tão galhardamente vindica?
Não, certamente que não o nega pois do contrário seria um apóstata e suas palavras palavras mentirosas!
Tiago não nega nem a Paulo, nem a João e tampouco a Jesus; nega sim e com plena razão a Lutero, Calvino, Agostinho... ao solifideismo, ao anti-nomiasmo, ao gracismo, enfim a tudo o que é protestantismo, porque não há sombra de nada disto nem no Evangelho, nem em João, nem em Pedro, nem em Judas, nem em Apolo ou em quaisquer registros inspirados, os quais reproduzem todos incessantemente o que já fora dito e escrito justamente por Paulo: ESTAI DE PRONTIDÃO PARA TODA BOA OBRA!!!
Evidentemente porque as boas obras são requisitos ou condições esseciais para que aqueles todos que foram justificados pela graça, pela fé e pelo batismo perseverem na justificação recebida e obtenham a salvação pela submissão aos santos mandamentos de Jesus Cristo, o qual disse: Aquele que me ama observa meus mandamentos.
Não os preceitos civis, penais ou culturais dos antigos hebreus cuja revogação Paulo publicou aos romanos, mas a lei perpétua da justiça e da caridade gravada pelo Espírito Santo no coração do homem novo para a observância, conforme Jesus é verdadeiro e fiel salvador: para aqueles que lho obedecem e não para os rebeldes aos quais dirá: Apartai-vos de mim porque não vos conheço, sois obreiros de iniquidade.
Porque Jesus não veio para nos redimir nos pecados, mas dos pecados, predispondo-nos e capacitando-nos para a observancia, santidade e perfeição através de sua graça eficaz e nos concedendo plena vitória sobre a tentação, o mal e o pecado, conforme esta escrito: onde prevaleceu o pecado, hoje super abunda a graça.
Graça que é incompativel com o pecado e não complacente para com ele.
Tal a econômia de nossa salvação conforme foi exposta uma única vez pelos Santos. Paulo discorre amiude sobre ela em sua carta aos romanos, a qual segundo o Crisóstomo é a mais profunda, logo dificil, de suas obras.
Não é para admirar que Calvino tenha tomado um fragmento desta carta e outro da carta aos Efésios para sobre tais fragmentos edificar seu castelo predestinacionista e obscurecer a bela doutrina da restauração, tal e qual fora enunciada pelo Verbo da vida e seus santos e abençoados apóstolos.
Por fim apresenta Calvino uma terceira referência, esta sim, extraida do Evangelho e constituido - como palavra de Cristo que é - verdadeira, infalivel e incontestavel palavra de Deus para todos os que creem.
Pois o terreno do Evangelho é de última instância para os que professam a divindade de Verbo e com relação a ele não há apelação possivel.
Como não se pode apelar de João ou Tiago a Policarpo ou Papias e tampouco de Papias e Policarpo a Agostinho e Jeronimo, assim também não podemos apelar de Jesus a Paulo ou Pedro e menos ainda a algum dos profetas de outrora. (a Moisés e Salomão menos ainda!)
Existe uma hierarquia espiritual na econômia da divina revelação e o ápice desta hierarquia é ocupado pelo médico e soberano de nossas almas: Jesus Cristo Filho da Virgem.
Toda questão de doutrina é definitivamente resolvida por ele e quanto aos que se recusam ao obedece-lo não há o que discutir, resta-nos apenas entrega-los a divina e suprema misericórdia.
Iniciemos pois a refutação de Calvino pela parte final ou seja pelo último texto apresentado por ele, pela pena Evangélica, assim tributamos o devido respeito para com ela e observamos a ordem sobrenatural das coisas santas, ordem divina que deve reger a instituição Cristã!
Ao Evangelho, antes de tudo ao Evangelho!
Depois nos haveremos com Paulo ou melhor com o paulo de Calvino, recortado e empregado por Calvino ou com o Calvino disfarçado de Paulo e oculto sob suas palavras...
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