11) Recorre em seguida a I Corintios 1,8:
"O qual vos confirmará até o fim para serdes irrepreenssiveis em nosso Senhor Jesus Cristo."
Da expressão CONFIRMAR os calvinistas e alguns grupos de anabatistas e pentecostais inferem a doutrina da 'segurança definitiva do crente'.
Entretanto fazem muito mal em faze-lo.
Pois o verbo aqui é bebaiwsei.
Bebaiwsei ocorre apenas uma segunda vez nos registros, em Fil 1,7
Onde recebe o significado de "cumprimento" ou "realização" ou ainda "concretização"
Entretanto existem variantes da palavra em II Cor 1,21 onde recebe o sentido de "fortalecer"
ou "sustentar", em Hb 2,3 onde recebe o significado de garantir e em Hb 6 ,16 com o mesmo significado de garantia.
Por isso o biblista R N Champlinn reconhece que o termo que melhor traduz esta passagem sem deixar equivocos é "fortalecer" comm in loc
Donde podemos verter dos seguintes modos a dita passagem:
"Ele vos há de fortalecer até o fim para que sejais irrepreenssiveis."
ou -
"Ele vos há de suster/amparar até o fim para que sejais..."
ou ainda -
"Ele vos há de dar garantias de sua parte (garantir) até o fim..."
ou por fim -
"Ele vos há de corresponder..."
Entretanto confirmar não é firmar: quem firma firma sozinho, quem confirma confirma com alguem.
Porque este verbo é da mesma estirpe que conciliar, congrassar, confraternizar, etc
Confirma pois Deus o que o homem firma por sua vontade.
Dai corresponder, corresponder a boa vontade de seus servos.
A boa vontade parte do homem e a graça ou o poder para realiza-la de Deus, o qual sempre sustem, confirma ou garante a boa vontade dos santos.
Que há de extraordinário em Deus confirmar ou corresponder a boa vontade de seus servos se ele é o Sumo Bem?
Haveria algo de estranho se ele sendo bom não confirmasse a vontade daqueles que remiu...
O contexto mesmo da passagem nos aponta este sentido.
Pois o verso sétimo assegura que dá parte de Cristo não faltará dádiva alguma.
Enquanto o verso seguinte (09) assevera que Deus é fiel em suas promessas.
Conclusão: é evidente que o verso oitavo diz respeito a vontade de Deus sempre dispoto a secundar com seu poder a boa vontade do remido.
Portanto se o remido mantiver a boa vontade ou a vontade de obedecer e cumprir os mandamentos de Jesus Cristo será irrepreenssivel, impecavel e perfeito.
Porque Deus abominando o pecado não pode negar-lhe sua assistência.
Por isso um dos padres assim comenta: "Diz isto para que ninguém possa alegar - tive boa vontade e Deus não me auxiliou, pois ele sempre auxilia aquele que tem boa vontade. Pecaste, então é porque não tiveste boa vontade, a falha é de tua parte não de Deus, se houvesse concordância não haveria pecado."
Donde não há nenhuma segurança definitiva da parte do homem que se mantem livre e sob o jugo da tentação, apenas há a fidelidade de Deus e fidelidade total para aqueles que mantem a boa vontade e desejam vencer a tentação.
Garantido da parte de Deus, o qual é sempre fiel e deseja a salvação de todos, ninguém pode estar garantido de si mesmo enquanto livre e sujeito as solicitações do ambiente.
A segurança pois é relativa e unilateral: da parte de Deus apenas, porque ele é bom e imutavel.
Da parte da natureza há risco.
Por isso diz o Senhor: orai e vigiai.
Pois se a salvação do crente estivesse garantida não teria dito tais palavras.
E seu apóstolo: Toma cuidado para que tu mesmo não caias em tentação. Gl 6,1
Nem teria ele composto diversas listas de pecados se não fosse possivel comete-los.
Não se alegue que o dom da persseverança é para a fé apenas e não para a santidade ou o amor...
Pois um a fé sem obras seria inutil posto que é morta em si mesma. Tg 2,26 E aquilo que é morto não pode vivificar a quem quer que seja.
Nemo dat quod nom habet.
A caridade operante conserva a vida da alma porque vive de si mesma.
A fé sendo inferior (I Cor 13,13) deve ser por ela vivificada.
Portanto não há nenhuma segurança definitiva seja para as obras ou a fé.
Conforme esta escrito em Hb 4,1 sg: Eles cairam na descrença, nós porém SE conservarmos a fé.
Este se indica que a posse da fé é condicionada também ela pela vontade.
Não havendo pois nenhuma segurança total para o crente nesta via ou algo semelhante a impecabilidade absoluta por decreto de predestinação e extirpação da vontade livre.
Há uma impecabilidade sim, mas relativa e condicionada pela boa vontade.
Por isso a epistola acima referida classifica aqueles que pecam repetidamente após o batismo como apóstatas e separados de Jesus Cristo para o castigo espiritual.
Porque é dever de todo Cristão manter a boa vontade e conservar-se impecavel e santo após o batismo, correspondendo assim a força e a fidelidade da graça divina.
Ademais o texto em questão aludindo a IRREPREENSIBILIDADE vincula a confirmação ou como pensam os calvinistas a predestinação a santidade de vida ou seja as obras.
Por isso os livros dos judeus que os calvinistas tanto prezam testificam: Andar irrepreensivel diante de sua face é evitar o pecado. II Sam 22,24
O mesmo diz o salmista. (Sl 17,24)
E o Evangelho de Deus manteve este significado: Eles eram justos diante do Senhor e irrepreesiveis na observância de seus mandamentos. Lc 1,6
Paulo mesmo em Efésios por duas vezes relaciona irrepreensibilidade com santidade ou isenção de pecados.
E em diversos passos relaciona-a com pureza, inocência, etc
Enfim em I tess 2,10 que importa ser irrepreensivel NO COMPORTAMENTO.
O que se demonstra por meio das ações e operações.
Para Calvino todavia a eleição ou a predestinação não levou as obras em consideração.
Donde somos levamos a concluir que o comportamento dos predestinados pode ser repreensivel sem que com isto percam a salvação.
I Cor 1,8 todavia afirma que a confirmação é para a irrepreensibilidade.
Não se coaduna pois com a doutrina de Calvino sobre a predestinação.
Porque não diz respeito a qualquer decreto absoluto ou quebra do livre arbítrio mas apenas e tão somente a fidelidade divina.
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