
Explanação sobre a oração Dominical e a última Ceia.
Se é Deus que induz os homens a tentação e por quem ou quantos sua carne foi imolada e seu sangue vertido.
Estudo com base nos paralelos sagrados das escrituras e no sentido do original grego.
01) - "E não nos induzas a tentação, mas livra-nos do mal." Mt 6,13
As traduções correntes ou comuns dizem: Não nos deixeis cair ou entrar em tentação.
Donde os calvinistas fazem grande clamor e bulha dizendo que o texto foi alterado.
Porquanto o original grego contem a palavra COLOQUES, PONHAS OU INDUZAS, dando a entender claramente que é Deus mesmo que nos induz, põe ou coloca em tentação.
Entretanto se Deus nos induz, põe ou coloca em tentação, necessariamente nos tenta e nos tentanto é tentador.
A escritura porém apresenta Satanaz apenas - e não Deus - como sendo o verdadeiro tentador. Mt 4,3 e I Tes 3,5
E outra escritura assim se expressa: "Ninguém quando for tentado, diga: É Deus que me tenta, POIS ELE É INASCESSIVEL AO MAL E A NINGUÉM TENTA." Tg 1,13
Asseverando que: "Cada qual é tentado por sua própria inclinação." v 14
Ora esse Tiago sabia muito bem o que estava dizendo porquanto era um dos doze e sobretudo porque dentre eles soube esperar a ressurreição de seu Senhor sem comer e beber.
Pelo que registrou Jerônimo - "Jesus lhe apereceu e lhe disse: Agora pois justo come teu pão e bebe teu vinho pois o Filho se levantou entre os dormentes."
E o beatíssimo Paulo corrobora seu testemunho nestes termos: Tentação não pode haver que ultrapasse vossas forças, fiel é Deus e não permitirá que sejais tentados acima de vossas forças, mas ele mesmo vos concederá meios de suporta-la e de vence-la. I Cor 10,13
Como pois haveremos de compreender este pedido: Não nos coloqueis em tentação.
"Muitos interpretando-o dizem assim: explicando como devemos entender a palavra 'induzas'. Deus a ninguém induz em tentação, mas permite que seja levado aqueles a quem nega seu auxilio." Isto diz Agostinho, o qual é sempre citado e louvado pelos calvinistas.
Entretanto se quereis outra interpretação tendes esta:
Faz-se mister ir ao grego em busca dum solução mais convincente.
Para não ser pedante irei logo ao assunto e direi que a palavra traduzida por "INDUZAS", "PONHAS" ou "COLOQUES" é EISENEGKHV e que a tradução axigida pelos calvinistas é possivel, exprimindo um dos significados - e até o mais corrente deles - da palavra.
De modo que a tradução comum: Não nos deixeis cair em tentação é de fato um arranjo inaceitavel que nós não podemos aprovar.
Ou caminhamos na luz ou não caminhamos.
Torcer os textos, por mais que a intenção seja boa, jamais será caminho certo para aqueles que vivem em Deus.
Por outro lado existe uma construção ao menos no corpo do Novo Testamento, alias do próprio evangelho, que a nossa palavra assume um significado totalmente diverso.
Trata-se de Lc 5,18, onde se lê: "Kai idou andreV feronte epi KlinhV anqrwpon oV hn paralelumenoV kai ezhtoun auton EISENEGKHV kai qeinai enwpion autou."
E que assim é regularmente vertido: E os homens trouxeram numa cama um homem paralitico e procuravam faze-lo entrar e po-lo diante dele.
Portanto neste passo ao menos eisenegkhV siginifica fazer entrar.
Atribuido este sentido a Mt 6,13 temos:
"E não nos façais entrar em tentação."
A tentação entra em nós quanto somos sugestionados e nós entramos nela quando consentimos e nos deleitamos.
Entrar aqui significa ser vencido por ele, pela tentação.
Não nos façais ser vencidos por ela é o significado do texto.
Mas pode Deus fazer com que sejamos derrotados pela tentação?
Sim pode.
Como?
Se não nos ajudar a vence-la faz com se sejamos derrotados por ela.
Pois disse certa vez: Quem não ajunta comigo dispersa.
e tambem:
Quem não esta comigo esta contra mim.
Assim toma a omissão pela ação.
Pois quando não fazemos o que deveriamos ter feito para evitar uma ação determinada causa-mo-la.
Assim se Deus não fortalece o homem para que resista a tentação, faz com que ele entre nela pu que seja vencido por ela.
Mas acaso pode Deus deixar de assistir ou de auxiliar a todo aquele que é tentado?
Sim, pois a promessa de ajuda ao que é tentado é condicional, passa pois pelo cumprimento de seus deveres, sendo um dos mais prementes: vigiar e orar.
Ou seja suplicar pela graça e divina benevolência.
Recitar a oração dominical: Não nos façais entrar em tentação ou ajudai-nos para que não sejamos vencidos pela tentação já é obter o que se pede e saborear a vitória.
02) Mc 14,24: "Este é o meu sangue do Novo Testamento, que por muitos é derramado." = a Mt 26,28
Este texto é comumente alegado pelos calvinistas como favoravel a sua tése segundo a qual o sangue do Senhor não foi derramado por todos mas apenas penas eleitos.
Entretanto quando fazem petição a ele os calvinistas não parecem agir de boa fé.
Pois os calvinistas admitem apenas a salvação de alguns poucos e não da maioria ou de muitos.
Para favorece-los o texto sagrado deveria apresentar a seguinte forma: por alguns é derramado.
Todavia Pollwn jamais significa alguns ou poucos.
Sem embargo quando consultamos a tradição paulina sobre a referida palavra de Jesus, a diferença salta logo a vista:
"Este calice do meu sangue é derramado por vós." Lc 22,20 e I Cor 11,24
Aqui a restrição parece ser bem maior.
Pois por vós devemos compreender apenas aqueles que estavam com ele durante a ceia: os apóstolos, alguns discípulos talvez e algumas mulheres servidoras.
Não mais de trinta pessoas...
Admitido que Jesus dirigiu-se apenas a eles com o dizer VÓS (ao invés de muitos) ESTARIAMOS OBRIGADOS A CONCLUIR QUE APENAS ELES FORAM RESTAURADOS PERDENDO-SE TODO O RESTO DA HUMANIDADE.
Moral da História: Textos semelhantes da escritura devem ser harmonizados ou lidos paralelamente ao lado uns dos outros para que o sentido seja apreendido.
Se os calvinistas entrincheiram-se em Mt e Mc e batem seus pés, também nós poderiamos nos entrincheirar-nos na tradição paulina e assim reduzir o número de eleitos e predestinados ao colégio apostólico. (conforme o sentido do pronome vós)
Respeitamos porém ao sagrado Evangelho e assim nos recusamos a chicana...
E confessamos que nossa tradição harmoniza perfeitamente os textos sagrados, postulando que Jesus assim se expressou:
"Este é o calice do meu sangue, derramando por vós (a sua shahaba) e por todos (os demais seres humanos) para a remissão dos pecados."
Isto disse Jesus, entretanto Mt e Mc registraram metade de suas palavras enquanto Lc e Paulo registraram a outra metade.
Por isto que existem quatro ressenções e não uma apenas, porque uma completa e aperfeiço-a a outra.
Devemos pois seguir o exemplo de Taciano e estudar o Evangelho na unidade buscando a harmônia e evitando isolar as partes. Do contrário corremos o risco de perder o sentido.
Aqui dirá o calvinista: O 'muitos' ainda permanece e exclui o 'todos' de modo que seus esforços foram vãos.
Seriam vãos caso não conhecessemos os originais sagrados ou seja a lingua em que os registros foram codificados.
Como tal não se dá, julgue o estimado leitor se nossa exercitação é ou não vã.
Pois sabemos que a expressão 'muitos' é tradução do grego Pollwn.
E que Pollwn (e afins cf Gingrich, 1983) significa quase sempre: muitos, maioria, multidão, etc
Digo quase sempre porque existe de fato nos registros sagrados ao menos uma passagem em que Polloi (expressão praticamente idêntica a pollwn) significa indubitavelmente todos ou totalidade.
Trata-se de Rom 5,19: "Amartwloi Katestaqhsan oi polloi outwV kai dia upakohV tou enoV dikaioi Katastaqhsontai oi polloi."
Aqui polloi refere-se ao pecado ancestral de modo que as traduções: AM, Jerusalem, Nacar-Colunga, Diodati, etc vertem o objeto do mesmo por TODOS (os homens) e não por muitos.
Em que pese as diversas traduções que neste passo, vertem Polloi literalmente por MUITOS, é evidente que o contexto exige que polloi seja vertido por TODOS, a menos que admitamos que nem todos foram afetados pelo pecado ancestral, coisa que nenhum ortodoxo - quanto mais protestante - pode admitir.
O contexto, indicando que o pecado em questão é o pecado ancestral, obriga-nos a extende-lo não a MUITOS (excluindo alguns) mas a TODOS os seres humanos.
A teologia protestante/calvinista fundamentada numa concepção hipertrofiada do pecado ancestral jamais poderia ter admitido a tradução MUITOS ao invés de TODOS neste passo, pois da vezos ao pelagianismo ou ao naturalismo.
Conclusão: do mesmo modo como podemos traduzir POLLOI por TODOS neste verso, podemos traduzir do mesmo modo os versos de Mt e Mc, onde nos deparamos com este advérbio.
"Este é o cálice do meu sangue derramado por vós e por todos (pollwn) para a remissão dos pecados." é uma tradução perfeitamente legítima do texto sagrado - por inferência paralela de Rom 5,19 - de pleno acordo com o sentido das demais escrituras e segundo a tradição da Santa Mãe Igreja.
UMA OUTRA SOLUÇÃO POSSIVEL -
Entretanto sem postular doutrina ouso sugerir outra solução.
Com o devido respeito pela mãe Igreja penso de minha parte que talvez a união das palavras MUITOS (Mt e Mc) e VÓS (Lc e I Cor) poderia formar a seguinte expressão:
"Este é o sangue do calice oferecido por muitos e por vós."
Com o seguinte sentido:
Este calice com meu sangue é oferecido por muitos de vós, tomando-se muito como maioria.
Neste caso Jesus estaria querendo dizer: este calice com meu sangue é oferecido pela maioria de vôces.
Ou seja pela maioria dos que estavam ali com ele, ou seja, dos apóstolos.
Neste caso o sentido de maioria fica bastante claro:
"Não disse que derramara seu sangue por todos tendo em conta a presença daquele que haveria de trai-lo e para o qual seu sangue nada aproveitaria."
Conforme reza a glosa dos latinos.
Neste caso Jesus não estaria designando nem todo seu sangue nem todos ou a maioria dos fiéis, mas apenas aquela primeira eucaristia ou antecipação do sacríficio - segundo o cálice contendo o tipo de seu sangue penetrado e envolvido pelo Logos divino - oferecido em benefício dos apóstolos somente, a excessão de Judas, o qual recebendo o sacramento do Logos com má disposição não pode aproveita-lo, perpetrando sacrílégio semenlhante aquele perpetrado pelos Cristãos de Corinto. I Cor 11,29
Aquela ceia ou o sangue oferecido naquela ceia nada aproveitou para Judas, aquela antecipação do sacríficio e manducação do Logos não lhe trouxe beneficio algum.
Isto não significa todavia que o sacrificio em sí e o resto da efusão do sangue não lhe tenham sido uteis mais tarde, ou que venham a se-lo.
Por isso disse: a maioria de vocês querendo excluir aquele que pouco depois haveria de entrega-lo e de consumar o pecado que já acalentava no espírito quando manducou e profanou o sacramento.
Assim passamos da letra a um sentido tanto mais espiritual.
Considerações: Mesmo se tivessemos de receber a ambos os textos conforme o significado que os protestantes lhes atribuem, ainda assim eles não favoreceriam o calvinismo.
Pois o primeiro estaria afirmando que Deus tenta aos seres humanos ou sugestiona para para o mal, com o objetivo de provar - do mesmo modo como o Testamento Velho refere a Abraão e Isaac - e não que Deus deseja que os homens executem o mal, ou que lhos faça fazer o mal.
O segundo implicaria apenas na admissão de que o sangue de Cristo não aproveitou a todos porque nem todos quizeram fazer uso dele ou que regeitaram-no livremente. Implicaria pois na doutrina da condenação eterna mas não na da predestinação.
Pois do fato de que algumas pessoas não foram beneficiadas pelo sangue de Cristo não podemos inferir que foram antecipadamente de tal benefício, mas apenas e tão somente que não foram beneficiadas porque não quizeram se-lo.
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