Acautelai-vos quanto aos lôbos em peles de ovelhas pois o anjo das trevas sabe passar por anjo de luz.

Tais os textos de Calvino, Zanchius, Turretini, Toplady e Boettner, os quais, juntamente com o Dr Warfield são como que as colunas do sistema.
Todavia ao examinarmos algumas obras sobre o assunto escritas aqui no Brasil nos deparamos com uma contribuição específica de nossos calvinícolas...
Trata-se de I Jo 2,19:
"Sairam dentre os nossos mas não eram dos nossos pois caso fossem dos nossos teriam permanecido conosco, mas desertaram para que se manifestasse que não eram dos nossos."
Segundo os calvinistas e anabatistas desta terra esta passagem depõe inequivocadamente sobre a doutrina da perseverança do crente ou de sua salvação definitiva.
Conforme dizem entre sí: Uma vez salvo, salvo para sempre!
'Sairam dos nossos' ou seja da Igreja ou do corpo Cristão.
'mas não eram dos nossos' quer dizer que jamais haviam pertencido a igreja ou seja que na verdade não eram Cristãos.
'pois caso fossem dos nossos' ou seja filhos da igreja, cristãos verdadeiros, predestinados, iluminados, espirituais...
'teriam ficado conosco' ou seja não teriam desertado ou apostatado.
'mas desertaram para que se manifestasse que não eram dos nossos' quer dizer que os verdadeiros cristãos ou predestinados jamais podem apostatar.
Conclusão: os predestinados ou salvos perseveram até o fim conforme a graça interna que lhes é disposta. Graça irresistivel por sinal.
Já os não predestinados inda que pertençam a igreja externa e visivel, não pertencem a igreja invisivel dos eleitos.
Assim sendo privados da graça estão dispostos a apostasia.
Tais as conjecturas desses arrogantes e blasfemos.
A este texto os calvinistas acrescentam mais este:
I Pe 2,22: "A porca lavada voltou a revolver-se no lodaçal."
E conjecturam que não é da natureza dos bodes transformarem-se em ovelhas ou da natureza do Joio converter-se em trigo, e exclamam:
Porca sempre porca, bode sempre bode e joio sempre joio!
Querendo dizer com isto que os porcos, bodes e ervas daninhas foram regeitados desde toda a eternidade, que mesmo quando entram na igreja entram aparentemente e que não pertencendo verdadeiramente a ela estavam dispostos a apostasia ou a deserção...
Tais as conjecturas dos sacrilegos!
Agostinho entretanto, discorrendo sobre a proibição de se arrancar o joio antes do tempo nos dá a explicação correta: "É por isso que proibe de arrancar o joio junto o trigo, PORQUE MUITO JOIO ACABARÁ POR TRANSFORMAR-SE EM TRIGO, pois se não demonstrarmos paciência diante de seus erros não haverão de mudar, e caso fossem cortados se arranacaria ao mesmo tempo o tempo durante nosso exercício é capaz de toca-los." in Quaest. Evange XII
Admitia pois o padre hiponense que os homens maus eram capazes de verdadeira conversão e mudança e disto inferia que não era lícito suprimir-lhes a vida.
E Jerônimo de Stridon: "Existe a penitência. Por isso nos proibe de supliciar aos irmãos, pois pode se suceder que sendo herético hoje, amanhã se arrependa e passe a verdade." in Loc
Quanto aos calvinistas todos eles sabem, e muito bem, que a frase escrita por Pedro pode ser compreendida com muito mais simplicidade nestes termos: O pecador batizado regressou ao mundo (ou seja ao pecado).
Por isso que o porco mesmo após o batismo não deixa de ser porco: Pois deixando de ser pecador em ato pela submissão a lei de nosso Senhor Jesus Cristo, não deixa de ser pecador em potência ou seja de ser um homem sugestinado ao pecado, tentado, capaz de vir a pecar e de perder a salvação.
Não queremos dizer com isto que a conservação da santidade ou a impecabilidade seja impossivel após o batismo - muito pelo contrário afirmamos não só que é possivel mas necessária - ou que a graça de Cristo desampare os fiéis, o que queremos dizer é que o homem permanece livre e que sua vontade inclinando-se para o mal pode leva-lo ao pecado e mesmo ao vício que é a apostasia.
Pois se é possivel que o Cristão caia após o batismo, não é licito que viva caindo ou pecando mas que faça penitência, sofra pelo pecado e seja restaurado para fidelidade e não para o vício e a iniquidade.
Na verdade os que se associam a Cristo e que se tornam espigas de trigo ou ovelhas nem por isso deixam de trazer algum joio ou algum sangue de lobo dentro de si mesmos enquanto trazem imagens malignas dentro de si mesmos e enquanto tais imagens sempre haverão de sugestiona-los para o mal ou de tenta-los.
A tentação é a imagem ou fragmento do joio e a herança do lôbo que sempre fica naqueles que se transformaram em espigas de trigo ou em ovelhas.
No entanto a graça do Senhor é poderosa e eficaz para impedir que a boa vontade entre na tentação ou seja de impedir que os santos cheguem ao deleite que é o pecado.
O cão só tornará ao vômito na medida em que sua vontade faça livre opção pelo mal ou o pecado.
Portanto nestes casos de pecado e apostasia não é a graça mas a boa vontade que falha e nos desampara.
Os santos podem apostatar e de fato apostatam porque são livres.
Todavia I Jo 2,19 comporta outras possibilidades de interpretação tão válidas quanto a calvinista e que se harmonizam melhor com a mensagem do Evangelho. Vejamos:
'Sariam dos nossos': Sairam da Igreja.
'Mas não eram dos nossos': Na verdade jamais haviam pertencido a alma da igreja ou sido Cristãos.
'pois caso fossem dos nossos': pois se fossem verdadeiros filhos da Igreja ou membros pertecentes a sua alma.
'teriam ficado conosco': ou seja não teriam abandonado a igreja, desertado ou apostatado.
'mas desertaram para que se manifestasse que não eram dos nossos.' sem embargo apostataram porque não eram verdadeiros filhos da igreja ou membros de Cristo.
Conclusão: Aqueles que amam a Cristo e a Igreja, mesmo se cairem algumas poucas vezes não romperão com a unidade ou seja não apostatarão, restando uma penitência para eles a qual se submeterão.
Já aqueles que não amam o Cristo e sua Igreja mesmo tendo ingressado externamente no corpo da mesma - pela recepção do batismo - por motivos de ordem excusa, não teem como permanecer fixos nela. Mais cedo ou mais tarde tais elementos haverão de apostatar.
Há pois no corpo da igreja dois tipos de pessoas: as sinceras, que entraram verdadeiramente na comunhão de Cristo e na comunhão da graça e as hipócritas ou dissimuladas, que entraram no corpo da igreja sem fé, sem esperança e sem caridade ou seja por fingimento.
Na verdade esta ultima categoria de fiéis jamais entrou na igreja e jamais pertenceu a ela.
Pois jamais desejou estar em contato com Cristo.
Por isso, não sendo dos nossos - ou seja dos crentes verdadeiros e sinceros que estão em Cristo - não são capazes de permanecer conosco ou de permanecer na unidade.
Seu fim é pois a defecção ou a apostasia.
"Porque neles jamais habitou o amor de Deus."
Merecem pois ser classificados como anti-Cristos.
Porquanto entraram no rebanho de Cristo como espias, ou tendo em vista a aquisição de vantagens neste mundo.
Jamais foram dos nossos, pois como hipócritas jamais passaram pela regeneração espiritual, jamais experimentaram os efeitos do batismo, jamais receberam os sacramentos com frutos, tudo profanaram, tudo conspurcaram e por isso se apartaram da comunhão ou formaram seitas a parte.
Portanto segundo cremos não lhes faltou eleição ou chamamento mas boa vontade, sinceridade e sobretudo amor.
Jamais pertenceram a Igreja pois jamais amaram.
Permaneceram mortos nos pecados e por isso tornaram a pecar.
Jamais nasceu neles ou viveu o home novo subsistindo o homem velho.
Jamais entraram no pacto na vida.
A apostasia é pois uma triste realidade.
Todos quanto entraram na igreja sem cuidar da salvação na verdade fingiram que entraram e se fingiram que entraram haverão de sair.
Portanto todo aquele que sai é porque não foi sincero, é porque não acreditou é porque não amou.
E não tendo crido e amado não entrou de verdade.
Não pertenceu pois a igreja, como filho legitimo, como membro de seu corpo místico ou de sua alma.
Portanto tudo quanto conheceu, soube, aprendeu e experimentou juntamente com os filhos da Igreja verdadeiramente desperdiçou...
Malbaratando os veiculos dos dons de Deus.
Não há pois predeterminação alguma para a apostasia, apenas má vontade e má fé.
Quando aos verdadeiros filhos da Igreja: que amam sinceramente ao Cristo, estão de fato garantidos e seguros.
Pois o amor associado a graça lhos preservera do pecado.
As duas interpretações são possiveis, cremos porém que a nossa, firmada na tradição da Igreja e nos homens base, seja superior representando a posse do sentido do texto ou seja da verdade.
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