
4) O quarto e derradeiro texto citado pelo teologo de Heidelberg a favor da doutrina calvinista é Jo 13,18
"Não o digo de todos, pois conheço aos que escolhi, mas deve se cumprir a santa escritura: O que comigo come ergueu o calcanhar contra mim."
Deste pequeno texto os calvinistas inferem muitas e grandes coisas.
Imaginam eles que tendo escolhido uns regeitou outros antecipadamente no que diz respeito a vida eterna.
Entretanto conforme certifica Euthymio (comm in Loc.) esta passagem se refere aos apóstolos e seu chamamento apenas.
Conhece Jesus a todos os homens e por isso escolheu a estes onze para um propósito e um para outro propósito, entretanto o propósito geral é o mesmo: nosso resgate.
Pois se Judas não lho tivesse traido e ocasionado sua morte enquanto causa instrumental os apóstolos nada teriam a fazer...
E da profecia sobre a traição alegam que Judas ja estava predestinado a trair o Senhor, que foi constrangido a faze-lo pelo próprio Deus e que não podia deixar de te-lo traido.
E a este texto juntam aquele outro que designa Judas como sendo o Filho da perdição.
Entretanto a traição de Judas deve ser compreendida do mesmo modo segundo expusemos da apostasia dos judeus.
Queremos dizer antes de tudo que a profecia não designa expressamente a um individuou em particular, seja Judas ou outro qualquer.
Limita-se a afirmar que o Santo e Bendido seria traido por um de seus ministros.
Tanto poderia te sido Judas como foi como qualquer outro ímpio de sua geração.
E por estar vaticinado que tal homem haveria de trair o Verbo haveremos de crer que não o fez livremente mas constrangido pela própria divindade, ou que a divindade obrigou Judas a mata-la como um homem que se usa dum revolver ou duma faca para cometer sucidio?
Longe de nós tal idéia abominavelmente sacrilega!
Já os muçulmanos em disputação com Mar Thymoteous alegaram que se Jesus pode prever sua regeição e morte é porque os hebreus e Judas foram constrangidos a regeita-lo e a faze-lo morrer.
Diante de tais conjucturas o patriarcas lhes replicou nestes termos: "Por Deus ter sabido desde toda a eternidade que Satanaz pecando daria origem a maldade constrangeu-o a pecar?" in Apology
É pois evidente que o conhecimento prévio de Deus e as sagradas profecias não comportam qadar ou determinação alguma - do contrario como disseram os mesmos muçulmanos nem os judeus nem Judas teriam culpa alguma (nem o Diabo) - Deus e seus profetas tiveram prévio conhecimento dos ações e operações livres que os homens executariam no futuro. Trata-se do conhecimento prévio de atos livres derivados de vontades livres e não de constrangimento ou coerção para o mal e o pecado.
Conheceu pois Cristo a má disposição e vontade de Judas sabendo que, caso lhe concedesse a oportunidade haveria de trai-lo.
Entretanto o Senhor desejou morrer e por isso escolheu Judas para ser instrumento de sua morte e se não tivesse escolhido Judas teria escolhido a qualquer um outro.
Portanto o designio perpétuo do Senhor foi ser traido, padecer e morrer e não ser traido pelo Judas...
Poderia Judas ter deixado de trai-lo?
Penso que isto fosse possivel antes da traição ser consumada, entretanto Jesus, sabendo que a traição seria consumada lho escolheu.
Mas se tivesse visto que não seria capaz de trai-lo teria escolhido a um outro e sido traido de qualquer modo.
Não Judas não foi feito Judas mas escolhido para um propósito eterno conforme sua capacidade natural.
E quanto a seu destino?
Perdeu-se Judas para sempre?
Fe-lo Deus perder-se?
Se se perdeu para sempre ou não isto nada tem a ver com predestinação.
É verdade que muitos dos nossos padres afirmam que o Judas se perdeu para sempre.
Com Origenes, Nisseno e Ambrosiaster julgo que não, mas por hora não entrarei nesta polêmica.
Cada coisa a seu tempo.
Fe-lo Deus perder-se?
Admitindo que Judas se perdeu seriamos levados a crer que se perdeu a si mesmo.
Ou seja que o uso inadequado de sua liberdade - e não a vontade de Deus - foi causa de sua perdição.
Que se tenha perdido para sempre é uma hipótese.
Que Deus mesmo o tenha perdido é uma blasfêmia.
Concluimos pois que Judas tenha sido o agente de sua própria desgraça.
E que se tivesse exercido arrependimento teria não só sido restaurado como reempossado no ofício de apóstolo.
Afinal como aquele que disse: "Perdoai não sete vezes mas setenta vezes sete." poderia deixar de perdoar a um pecador verdadeiramente arrependido?
"Pelo preço do sangue que vendeu poderia ter se salvado caso se arrepende-se." S Leão de Roma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário