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A mãe do Verbo Encarnado

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A consciência histórica do Cristianismo

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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Jesus e as riquezas

Outro assunto bastante discutido diz respeito a posição de Jesus face aos fundamentos da economia moderna que é o acumulo irrestrito de bens materiais ou de riquezas, como costumam dizer.

Sintomática é a narrativa do jovem rico, o qual sendo gentilmente convidado pelo Mestre a declinar de suas riquezas materiais para tomar posse das verdadeira riquezas imateriais, optou por permanecer ligado ao gênero de riquezas que possuia...

Hoje multiplicam-se os jovens ricos que recusam-se a tomar o jugo da vida moderada no serviço do Mestre.

Já no terreno das parabolas ou comparações damos com o rico Finéias, nababo que todos os dias regalava-se com toda sorte de iguarias, enquanto a sua porta, os pobres, a exemplo de Lazaro, definhavam... e diz o Evangelho, que morrendo o rico foi castigado, enquanto que o Lazaro foi recompensando por sua paciência...

Daí a sentença: É mais fácil uma corda passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos céus.

Como parte da Cristandade considerou esta palavra inaceitável, alteraram sua estrutura e forjaram interpretações capiciosas e torno de camelos e de buracos nas paredes das muralhas...

Apesar disto corda jamais passa pelo fundo da agulha e rico jamais entra no reino dos céus...

Com Lazaro e o jovem rico 'cegos guias de cegos' passam os opulentos as zonas tenebrosas do mundo espiritual onde muito haverão se sofrer e penar.

Pois violaram descaradamente o mandamento do Senhor: Não acumuleis tesouros na terra onde a traça e a ferrugem tudo destroem, antes juntai tesouros nos céus...

Todavia, para tanto é necessário delapidar as 'riquezas iniquas': dando de comer a quem tem fome, de beber a quem tem sede, vestindo os nus, abrigando os desabrigados, remindo os cativos, etc

O fruto de tais prodigalidades sera uma hoste de amigos no mundo espiritual, dispostos a acolher-nos benignamente nos 'tabernáculos eternos'.

Aqueles que com a graça de Cristo triunfam da avareza merecem ser contados entre os espiritualmente pobres dispostos ao Reino dos céus.

Aqueles que cogitam em servir a dois senhores, isto é a Cristo Jesus e as riquezas materiais, separam-se da verdadeira videira e tornando-se ramos secos são dispostos ao 'fogo' ou a dor no plano espiritual.

Pois conservando a mentalidade materialista no mundo espiritual haverão de experimentar certo desconforto.

Diante de tais sentenças e palavras não há como sustentar a opinião dos liberais segundo a qual o Evangelho desconsidera os problemas de ordem econômica.

Muito pelo contrário delas resulta muito claramente que Jesus pretendeu exercer juizo a respeito de como os homens obtem e administram tais riquezas, subordinando o econômico a outras finalidades e recusando-se a reconhecer sua autonomia nos moldes do liberalismo clássico.

Então já nos deparamos com uma oposição declarada e insuperável entre o modelo Cristão que é um modelo vida e um modelo integral que pretende atingir todos os aspectos da condição humana e o modelo liberal que supõe um esquema compartimentado de existência.

O Cristianismo Católico no entanto é irredutivel face a 'compartimentação da vida em setores radicalmente separados ou isolados' compartimentação que classifica, a luz do Evangelho, como artificial e perniciosa.

Considera a filosofia Católica que todos os setores e aspectos da vida devem estar unidos entre si pelo aspecto da promoção humana ou do bem comum.

Do contrário não mereceria o Cristianismo ser contado entre os humanismos.

Cristo no entanto encarnou-se para redimir o homem como um todo. Eis porque a Redenção cristã não deve ser encarada como uma espécie de meia redenção que toca apenas ao elemento imaterial ou espíritual.

Mas apresentada nos termos duma redenção total que veio remir o homem como um todo ou seja como espírito, alma e corpo.

Eis o que faz o Catolicismo encarar todas as dimenssões da atividade humana não só como organicamente correlatas mas como coordenadas por um eixo de natureza transcendente chamado ética. Segundo esta concepção integralizante de vida a origem dos principios e valores que regulam as ações e operações humanas procede em última instância da vontade divina e não do mercado ou de suas necessidades, correspondendo a uma Lei universal absolutamente valida e verdadeira.

Posto esta que as necessidades do mercado correspondem a uma ética relativista imcompátivel com o sentir da Igreja e com a Consciência Cristã, consciência que vive e que se nutre de principios e valores que deitam suas raizes no mundo espíritual e eterno; para além de todas as cogitações relativas da vontade humana.

Eis porque a igreja, na esteira de seu divino Mestre e fundador condena as prentenssões dos teóricos do liberalismo como autênticas expressões dum economicismo em choque contra o humanismo sempre sustentado por ela no decorrer das Eras e idades. De fato pretende a Igreja Católica julgar os interesses do econômico e subordina-lo a outros interesses os quais encara como tanto mais nobres e importantes.

O liberalismo econômico em contrapartida rebela-se contra o espírito da Igreja a qual pretende - por sinal como filho do protestantismo que é - julgar e condenar como obscurantista. Deve a Igreja, a exemplo de seu Mestre e Senhor, folgar neste juizo porque partindo do liberalismo econômico equivale a um elogio... ferreteia o liberalismo econômico a Igreja porque esta tem recobrado o antigo ideal de redimir o homem como um todo sem olvidar de seu corpo e de suas necessidades materiais.

Na medida em que afirma certos direitos como inerentes a pessoa e certas necessidades como inerentes ao homem, exigindo que sejam satisfeitas sem consideração pelas necessidades artificiais do mercado, incompatibiliza-se a Igreja de Cristo com a lei do capitalismo. Pois o deus do liberalismo que lhe dita leis é o Mercado... e as necessidades do mercado são indiscutiveis...

Ignoram os teóricos liberais que o mercado foi criado pelos homens e não os homens para o mercado.

A existência humana possue um significado muito mais elevado do que lhe atribui o materialismo economicista seja ele liberal ou comunista. Presume a igreja que a condição humana não cabe nos moldes estritos do econômico, ficando sempre algo de fora como que sobrando...

Daí a linguagem diferente pois enquanto o liberalismo soi competição entre rivais e competição que na maioria das vezes foge aos padrões da justiça a Igreja propõe outro regime, de colaboração ou de auxilio mutuo entre irmãis, entre irmãos que se amam e respeitam e sobretudo entre irmãos que veneram o principio comum da justiça antes de chegar a caridade. Pois caridade sem justiça, como escreveu Tomás, é pura e simples hipocrisia: fermento de fariseus.

Resta dizer que a doutrina proposta por Jesus Cristo a respeito o acumulo de bens materiais esta de pleno acordo com a doutrina proposta por:


  • Confúcio:  "O homem que só se ocupa em comprar e vender é um mediocre."
  • Platão: "Jesus plagiou a máxima platônica: 'É impossivel que um homem muito rico seja virtuoso.'"
  • Sócrates: "Quantas coisas a respeito das quais o homem não precisa para viver oh atenienses."
E por todos os educadores, pensadores e filósofos da antiguidade.

Obviamente que nem Jesus nem tais pensadores propunham a carência, a miséria ou a necessidade - como insinuam malevolamente os liberais - como ideais para o comunidade ou para a pessoa humana.

Julgo que toda pessoa medianamente instruida tenha lido o "Robson Cruzoé" de Defoe.

Pois bem, logo nas primeiras páginas damos com o sábio discurso proferido pelo pai de Robson, contra o acumulo excessivo de riquezas e a favor da vida sóbria e moderada.

Semelhante discurso foi cunhado justamente na filosofia de vida proposta por Confúcio, Sócrates, Jesus e outros sábios mestres... consiste ele em suster que o homem deve buscar para si e para sua família o suficiente para que vivam ao abrigo da miséria e até mesmo com certo conforto. Sem cogitar no entanto a acumular para toda geração futura ou como se seu destino final estivesse posto exclusivamente aqui no mundo material e finito, ou como se tivesse que viver eternamente neste plano...

Eis porque deve o homem contentar-se em grangear uma vida digna e comoda para si e os seus e não em cobiçar uma fortuna que não conheça limites e que absorva todos os seus cuidados a ponto de faze-lo deixar de viver integralmente por deixar de cultivar todas as potencialidades do seu ser, como o intelecto e o sentimento.

Na verdade o discurso do pai de Robson sobre as ocupações excessivas do homem rico, que deixa de ser senhor de seus bens para tornar-se servidor dos mesmos, já havia sido antecipado por Paulo de Tarso, o qual assim se exprime numa de suas epistolas: "Buscai viver dignamente com aquilo que possuis sem cobiçar ilimitadamente pois a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro."

Não diz ele que a raiz dos males seja o próprio dinheiro, como não dizem os sábios que a pólvora ou a faca sejam coisas más. Alude apenas ao uso ou abuso que se faz do dinheiro como da faca, da pólvora e de tantas outras coisas e instituições... abuso é o apego excessivo ao dinheiro ou a busca desordenada por bens de natureza material. Abuso é o 'amor' ou a estima ao dinheiro, o qual por assim dizer obscurece valores como a solidariedade e a justiça e subverte a condição humana tal e qual foi disposta pela Lei universal.

Implica a proposta de Jesus a respeito do acumulo irrestrito de bens materiais o primado do Ser sobre o ter, que é a viga mestra daquilo que classificamos como humanismo. Implica ela em reconhecer a existência de principios e valores superiores aos de natureza material ou econômica e em afirmar outros tipos de existência que transcendem a aquisição e distribuição de bens materiais como sejam o bem, o verdadeiro, o belo, enfim o ideal de que vivem a ética, a arte, a poesia, a ciência, e outras dimenssões mais elevadas de nossas faculdades.

Implica a aceitação de tais capacidades e faculdades na negação do economicismo crasso proposto nos termos do liberalismo e representado pela ditadura do capital e pelas necessidades soberanas do mercado. Ora Jesus, e todos os pensadores da antiguidade estão em oposição a este novo 'modus vivendi' peculiar a Idade contemporânea.

Que isto choque muitos daqueles que sustentam o sistema vigente é absolutamente natural. Por outro lado, para tantos quantos são capazes de perceber ou de captar a tensão existente entre as estruturas materiais de produção que caraterizam este nosso tempo e a própria sociedade econômica; e entre os principios e valores pertencentes ao domínio do ideal e que por isto mesmo tornam-se presos duma angústia cada vez mais intensa, para não falarmos em melâncolia ou mesmo em agônia invencivel, verificar que o posicionamento de Jesus e de tantos outros mestres antigos choca-se com este estado anômalo de coisas traduz-se numa vivificação das esperanças.









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