O verbo se fez carne...

O verbo se fez carne...

A mãe do Verbo Encarnado

A mãe do Verbo Encarnado

A consciência histórica do Cristianismo

A consciência histórica do Cristianismo

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

IV Panorama moral do mundo ante Cristão - a vida prática

No momento em que o Cristianismo surge e afirma-se como tal passava a Sociedade por uma crise sem precedentes e comparada apenas com a que passamos no tempo presente, após 1820.

Segundo Nordau a única diferença significativa entre uma e outra crise é que hoje quase todos são atingidos pelo 'mal estar'e estão de certo modo conscientes de que algo 'não vai bem' ou 'não esta certo'. O mal estar hoje ou a percepção da crise é mais amplo e mais generalizado. Durante os primeiros séculos desta nossa Era apenas os espiritos de escol percebiam o fim para o qual as coisas se encaminhavam... recorrendo os 'epicuristas' a bebida, a glutonaria e ao sexo e os estóicos - como lemingues - ao suicidio ou abandono da vida, face ao futuro que lhes estava reservado.

Foi um momento trágico porque a civilização romana representa de algum modo uma solução de continuidade que se estende ininterruptamente, desde o antigo Egito e da antiga Suméria... É Roma a derradeira representante e última herdeira de tais civilizações, passando naturalmente pela Fenícia, Pérsia, Grécia e Etrúria... Todos este cadinho cultural aflui para a metropole do Tibre e parabra das sete colunas, mas não para continuar sua tragetória milenar, mas para agonizar e morrer.

Eis porque o fim de Roma corresponde com propriedade ao fim da Idade antiga ou da Antiguidade. De certo modo, do ponto de vista das instituições econômicas, religiosas e sociais, a morte de Roma é a morte do Egito, da Suméria, da Fenicia, da Pérsia, da Helade, da Etrúria e de todas as civilizações antigas cujo padrão é destruido para ser superado.

Então devemos compreender que a crise teórica representada pelo neo platonismo, e que a crise econômica representada pelo escravismo, repercutissem moralmente produzindo todo um dilúvio de males sociais.

Se a um tempo as massas aderiam ao misticismo ou as religiões orientais como o mitracismo é necessário dizer que tal tipo de espiritualidade não correspondia aos mitos e fábulas sobre os quais estava constituida a vida política e social do Império e mesmo das civilizações antigas. Embora todos fossem avidos por novidades religiosas e cultos exóticos, não havia quem acreditasse mais que os julios fossem descendentes da deusas Vênus, alguns até fingiam, mas ninguém mais cria; como não criam mais na narrativa dos meninos amamentados pela loba, na apoteose de César, etc

E menos ainda nas narrativas de Hesiodo e Homero, postas já em dúvida pelo próprio Platão...

Ninguém mais cria na origem de Atenas, saida em ordem de batalha da cabeça de Zeus; na narrativa de Hera presa de cabeça para baixo, em Dionisio sendo gerado na batata da perna de Zeus, etc

E todos porfiavam-se, a semelhança dos alexandrinos, em deslindar o significado oculto de todas estas 'estórias'... ou parábolas.

E compunham explicações engenhosas, as quais no entanto seriam encaradas como heréticas ou blasfematórias pelos avoengos...

Outros como Luciano não conseguiam ocultar o riso cínico perante tudo quanto os antepassados haviam tido em conta de divino e sacrossanto.

Apesar disto a religião permanecera inalterada, bem como os ritos. E como a religião permeava toda vida social, do nascimento a morte - Cf Fustel de Coulanges 'A cidade antiga' - do cidadão, permeando todos os atos cívicos e políticos, segue-se que tudo estava fundamentado sobre a mentira ou sobre a farsa.

Nasciam, casavam, juravam e morriam os antigos sob o jugo de ritos nos quais já não acreditavam mas nos quais deviam fingir que acreditavam mantendo as aparências a todo custo. Não podiam dizer abertamente que consideravam a narrativa de Hera gerando Marte sentada sobre uma flor, como a mais supina idiotice; mas as ocultas riam-se do conto...

Toda esta artificialidade, para não dizermos hipocrisia, não podia deixar de exercer uma influência nefasta sobre os costumes do povo. Uma vez que as massas ao menos baseiam os atos da vida moral sobre a esfera religiosa, adotar uma religião de aparências não poderia deixar de produzir péssimo efeito.

Pela porta sagrada da religião entrava a duplicidade.

No que diz respeito a família, a principal chaga constituia a repudio dos nascituros. Que eram lançados a cloaca máxima ou abandonados em qualquer logradouro público onde morriam de fome ou eram pegos por vendedores de escravos e criados para serem vendidos.

É bem verdade que Musonius Rufo e os estóicos de seu circulo parecem ter condenado esta abominável prática, a qual, sem embargo, continuou a ser posta em prática no decorrer dos séculos seguintes. Apenas a conversão dos cidadãos ao Cristianismo no século VI foi capaz de por fim a este mal, bem como ao aborto.

A Idade Média, digam o que quizerem, ignorou tal gênero de crimes, os quais ressurgem e avolumam na mesma medida em que a sociedade afasta-se da fé ancestral ou seja da fé Católica. Pois o principio da fé Católica quando sinceramente cultivada, é incompátivel com o infanticidio.

Outro sério problema eram os jogos de gladiadores, um tido de esporte sanguinário e carniceiro que atraia as multidões ociosas.

Prisioneiros de guerra, escravos fugidos, cristãos e criminosos vulgares, além de animais ferozes, eram postos para lutar uns com os outros até a morte nos assim chamados circos.

Em cada solenidade milhares de almas eram imoladas e o sangue corria solto. O paganismo antigo jamais opoz-se a este tipo de 'distração', o qual acompanhou o império até seus estertores, até ser suprimido pelos bárbaros ou pelos Cristãos.

Devemos mencionar ainda o costume, disseminado mesmo entre os homens mais sabios e virtuosos, de recorrerem ao suicidio face a situações de relativa gravidade. Houve mesmo quem fizesse apologia desta prática, sem cogitar no entanto, de que ela implica certa concessão a fragilidade humana ou a covardia.

Este problema também só pode ser superado após a adoção do modelo Cristão.

Quanto aos sacrificios religiosos, é certo que se haviam diminuido consideravelmente mesmo antes da aparição do Cristianismo, por salutar influxo da filosofia, nem por isto haviam desaparecido por completo, sendo esporadicamente realizados por ocasião de invasões estrangeiras, catastrofes naturais e epidemias; mormente nas regiões mais afastadas do Império.

Basta dizer que após a derrota de Canas dois gauleses e dois gregos foram sepultados vivos no forum boarium. Em 81 a C foi sancionada uma lei probitória quanto a este gênero de sacrificios... um ano antes no entanto Marcus Marius Gratidianus foram torturado, seviciado, martirizado, decapitado e oferecido aos manes de Quinus Catulus pelas mãos de Sérgio Catilina conforme podemos ler nos fragmentos de Cícero e Salústio, na Petição de Quintus e em Seneca (De ira III,18)

No entanto, durante as invasões bárbaras do século V, a elite romana, em especial as familias senatoriais, solicitaram permissão dos papas Ciricio e Leão para oferecer tal gênero de sacrificios aos deuses marciais. Permissão que com grande agravo de tais famílias foi negada pelos Bispos de Roma.

Também os germanos e gauleses oficiavam tal gênero de sacrificios em suas ilhas e bosques, conservando como trófeus as cabeças das vítimas.

Num e outro caso, a supressão deste rito desumano e abominável deve-se a autoridade da Igreja Católica.

Convem mencionarmos ainda a chaga do argentarismo. Não poucos nobres e senadores romanos viviam de emprestar dinheiro a juros...  Mandando a principio escravizar e posteriormente assassinar os insolventes.

Formou a agiotagem romana verdadeira máfia na capital do Império, muitas vezes presidida pelo próprio Imperador ou por seus válidos.

Somente o triunfo da Igreja pode suprimir esta prática por algum tempo.

Assim, apesar dos progressos da filosofia, de Sócrates, de Platão e de Aristóteles... ainda assim o Império era achacado por vícios deploráveis como a agiotagem, os sacrificios humanos, os jogos sangrentos, a exposição de menores, a hipocrisia religiosa, a vadiagem, o deboche, o escravismo... e cada uma destas enfermidades cruéis ia tirando a vida do corpo social até converte-lo num cadaver.

Os bárbaros a semelhança de corvos foram atraidos pelo odor putrefado do cadaver. Porque moral, social e materialmente falando o império romano não passava dum cadaver nauseabundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário