O verbo se fez carne...

O verbo se fez carne...

A mãe do Verbo Encarnado

A mãe do Verbo Encarnado

A consciência histórica do Cristianismo

A consciência histórica do Cristianismo

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

I - Panorama moral do tempo anterior a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo

Este artigo não tem por fim, como tantos e tantos do gênero, pintar o mundo pagão ou ante Cristão como absolutamente mau, tal e qual não houvesse nele um só fragmento de virtude.

Mesmo teóricos pessimistas e exclusivistas como Agostinho e Calvino não puderam deixar de reconhecer certa aparência de virtude em almas como a de Mucio Scevola ou dos irmãos Graccos. E Cristãos houveram que iluminados pela fé não deixaram de render preito de admiração a Arria, esposa de Peto Tracéias, a qual tendo cortado suas veias disse enternecidamente ao esposo: "Veja querido esposo que não dói."... ou a Paulina, que abriu suas veias por estima ao marido.

Só uma alma vil, cuspida pelo averno seria capaz de deixar de chorar as desditas de Priamo, Hécuba, Heleno e Cassandra...

Só um espírito tacanho e obtuso deixaria de comover-se diante da constância de um Zeno, o qual por suas idéias deixou-se moer numa engenhoca, diante de coragem de um Pitágoras que se deixa torrar ao fogo lento com sua cátedra, diante da serenidade impassível com que o filho de Sofronisco ingere seu cálice de cicuta, diante da paciência com que Calistenes amarga em sua gaiola, e especialmente diante da cena imortal em que Epicteto diz a seu senhor: 'Se puxas minha perna de tal forma acabaras quebrando-a.' e pouco depois 'Bem disse que acabarias por quebra-la.'

Só uma natureza degenerada deixaria de curvar-se perante um Helvidio Prisco, o qual por puro despeito do Imperador Vespasiano - que não suportava a elevação de seu cárater - é enviado ao cepo.

Para nosso delite Epiteto reproduz o último dialogo que o homem teve com o César e o qual nada fica devendo aos 'Atos' dos nossos mártires:

"Quando Vespasiano enviou ordem a Helvídio Prisco para que não viesse ao Senado, Prisco respondeu: "Esta em teu poder permitir que eu seja ou não membro do Senado, desde que eu sou, virei.". "Vá" diz o imperador "Mas não abra a boca!". "Se não solicitas minha opinião, em silêncio fico." replicou ele. "Mas devo solicitar tua opinião." rebate Vespasiano. "E eu devo dizer o que penso ser certo." responde o filósofo. "No entanto se voce o fizer vou condena-lo a morte." arremata o Cesar. "Quando eu reconheco que sou mortal faço minha parte quando voce mata faz a sua, porque sou filósofo e vossa graça Imperador, então cada qual faz sua parte: decretais minha morte e morro, mas não por medo apenas por condição; caso desejais banir-me sem qualquer constrangimento me vou."

Sabiam pois os antigos enfrentar a morte com coragem, tal a esposa de Amilcar e seus filhos lançando-se as chamas que devoravam o templo de Schemoun sob o olhar estupetafo de Scipião... Tal a intrepidez do Jovem Catão que retalha seu ventre para morrer com a República.

Não ignoravam nossos antepassados a virtude.

Caso passemos nossos olhares pelas diferentes culturas dos tempos passados, depara-mo-nos aqui e ali com luminosos clarões. Ora em Mo tse que séculos antes do divino Mestre anunciara aos 'seres' a lei suprema do amor, ora em Confúcio e em sua piedade filial, ora em Mencius e sua devoção para com a justiça que sabe a Platão e sua República, ora em Buda e em seu amor dedicado a todas as criaturas vivas e em seu repúdio aos sacrifícios sangrentos.

Desejando recuar ainda mais nas brumas dos tempos remotos e primitivos damos com a sabedoria singela de um Phta Hotep... ou dum Kaghemeni.

Então não se diga que recusamos fazer justiça aos pagãos virtuosos que precederam a manifestação de nosso grande pedagogo Jesus Cristo.

Nós reconhecemos que em todo tempo e lugar existiram homens que aspiraram pelo ideal virtuoso, pelo bem, pela santidade e pela perfeição; embora nem sempre a natureza mostrasse constância neste caminho e o heroismo ficasse restrito as almas de escol. É como se a vontade se inclinasse para a direção mas o cárater denotasse certa fragilidade...

De fato não poucos a exemplo de Pitagoras, Demócrito, Arquitas, Xenofanes, Platão, Cimas, Cebes, Espeusipo, Antistenes, Crisipo, Clearco, Cleanto, Panécio, Possidonio, etc discorreram sobre a virtude e muitos em termos bastante próximos daquilo que mais tarde veio a ser revelado por nosso abençoado Mestre. Origenes ao que parece fez justiça a tais escritores, acrescentando todavia que parte deles não procedera imaculadamente segundo as belas palavras que haviam escrito...

Então eles parecem ter aspirado pela virtude e desejado uma condição moral de natureza superior, embora nem sempre tivessem tido a fortuna de viver conforme o ideal desejado.

Tomemos os escritos do nobre Musonius Rufus.

Que diz ele?

Diz que a filosofia deve ultrapassar as palavras. Admitindo que muitos pensadores elaboravam discursos bastante belos e elevados, embora nem sempre soubessem proceder deacordo com os mesmos discursos.

E acrescenta que o objetivo da filosofia era 'Purificar a mente da corrupção.'

Além disto nosso homem assevera que a filosofia deve ser cultivada por todos os seres humanos, sejam homens ou mulheres, tendo em vista a vida virtuosa. Apregoa a sacralidade da vida humana, inclusive no que tange aos recém nascidos, e o vegetarianismo.

Ocioso é acrescentar que seu sistema é iminentemente prático pois Rufus encara a virtude como habito que deve ser exercitado diariamente.

Enfim todos os seus discursos destacam-se pela nobreza e a elevação.

Por outro lado é igualmente sabido que o estoicismo exerceu salutar influxo sobre a elaboração das leis durante o período ante Cristão, favorecendo em certo sentido a implantação de nossas instituições. As quais seus mentores haviam de certa forma delineado e desejado... assim a assistência aos escravos e a condenação do infanticídio.

Leis humanitárias como já foi dito estavam sendo urdidas e implantadas algum tempo antes do surgimento ou da afirmação do Cristianismo.

Sócrates havia dado seu testemunho como mártir do humanismo, do pensamento crítico e da liberdade. Platão escrevera já sua República, enfatizando o papel basilar da justiça e fundado sua acadêmia e Aristóteles escrevera já sua Ética, recomendando aos homens uma vida sóbria e equilibrada... Zenon sob o pórtico proclamara já a inflexibilidade radical do bem e da virtude.

Teofrasto, Dikaiarcos, Straton, Arquimedes, Hiparco, Aristarco e outros haviam lançado as bases da pesquisa e do conhecimento cientificos. Em Alexandria florescia uma 'universidade' que nada deve as modernas e a magnífica Biblioteca. Em Atenas, Pergamo e mesmo na Roma de Augusto, Bibliotecas, museus, pinacotecas, etc estavam dispostos a educação dos seres humanos...

Teoricamente falando tudo augurava melhores dias para a humanidade e longa e brilhante tragetória para aquele mundo, cujos mestres e professores aspiravam pelo supremo bem e pela máxima felicidade.

Verificaram-se no entanto tais augurios e concretizaram-se tais esperanças???

Encaminhou-se este velho mundo para o bem e a virtude segundo os preceitos e conselhos de seus sábios mestres e doutos moralistas???

Porque me parece que nobres e elevadas aspirações não faltavam aquele mundo.

Seriam tais aspirações suficientes???

Vejamos no próximo capítulo.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário