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A mãe do Verbo Encarnado

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A consciência histórica do Cristianismo

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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Contradições em torno do relato da ressurreição... I

Aqui estamos diante dum fato reproduzido pelos quatro Evangelistas de modo bastante detalhado e contundente.

Basta lembrarmos a seguinte passagem do 'Corpus Paulinum': "Se Cristo não ressuscitou dos mortos é vã e ilusória nossa fé."

Como o dogma da ressurreição contempla em máximo gráu aqueles que como os antigos judeus e romanos, supervalorizavam o elemento prodigioso, não devemos nos admirar que a Ortodoxia apresente-se a si mesma como sendo a "Igreja da ressurreição" ou da Páscoa, a qual de fato constitui o supremo referencial do calendário.

Sem querer entrar no mérito da questão, neste passo inclino-me ao sentir dos latinos como Pierre Abelardo e Simone Weil. Efetivamente meu coração pende muito mais para paixão do que para a glorificação...

Admitido que as profecias foram executadas e que Jesus Cristo é um Ser de natureza divina, não percebo qualquer dificuldade en torno da ressurreição. Fácil para Deus deve ter sido romper as cadeias da morte e nascer duma Virgem intacta, então, sem querer menosprezar mistérios tão elevados, penso que o mistério do sofrimento de Deus seja tanto mais amplo, misterioso e profundo; na medida que toca mais de perto o amor.

Pois se a um lado o Senhor, tendo em vista as exigências da mente carnal, acomodou-se a elas por meio do nascimento miraculoso e da ressurreição e acomodou-se sem nada sofrer; a outro não era externamente necessário que se acomoda-se a nossas exigência afetivas até o sangue.

Então, se assumiu o ônus do sangue, do suor e das lágrimas; o fez unicamente impulsionado por seu infinito amor...

E tanto mais descobrimos que este nosso universo material é complexo, é extenso e assombroso, caso admitamos - e o simples exercício da racionalidade nos constrange a admiti-lo - a existência duma 'mente' (Nous), alma ou principio imaterial (espiritual) que atravessando todos os limites e esferas, tudo unifica como lei suprema, tanto mais nos extasiamos perante a simples possibilidade deste Ser eterno, ilimitado e infinitamente perfeito, ter se manifestado neste nosso mundo através dum complemento carnal.

Assim aqueles que se esforçam por reforçar a complexidade dum universo material, julgando que não haja nem ordem, nem mente, nem qualquer elemento unificador, caso admitamos a existência de tal elemento - basta lembrar que Karl Sagan, na esteria de Einstein admitiu a existência de um Deus exatamente nesses termos duma lei universal - tanto mais precioso se torna o Dogma central do Cristianismo, o qual significa e quer dizer, que apesar de toda esta complexidade, este Ser não pôde deixar de ocupar-se dos vermes, atomos ou quarks... e esta dimenssão ética ou axiológica, ignorada por Sagan é simplesmente encantadora.

Pois na mesma medida em que o divino tornando-se mais complexo vai se afastando cada vez mais de nós por sua complexidade entrinseca, aproxima-se de nós por seu amor até fazer-se um de nós e por nós sofrer e padecer numa Cruz. Então é a cruz vivicante que expressa em supremo gráu o amor divino até a abnegação, a filantropia, a benemerência, o heroismo e o sacrificio... Em função de seu Ser este universo grandioso e repleto de mundos não devia sequer considerar-nos...

Eis porque este Deus lógico de Aristóteles e Spinosa, de Einstein e Sagan é incapaz de produzir qualquer tipo de afeto, até na prática o homem esquecer-se dele... Porque é um Deus que ignora nossas vicissitudes éticas e espirituais... Um Deus insencivel ao drama porque passamos neste báratro assombroso... um deus indiferente a tenssão que neste nosso mundo opõe o real ao ideal... o que desejamos e o que há... o como deveria se e o como é...

Reconhecemos nós a complexidade infinita do mistério divino... pois não percebemos de que forma a negação do divino nos auxiliria a apreender o 'sentido' que buscamos, quando pelo contrário retira todo sentido ou finalidade e destrói pela base mesma a dimenssão ética da vida.

Como tu eu também não considero o valor do sangue vertido sobre a cruz em termos mágico/fetichistas. Eu também não acredito num Salvador que apaga os pecados cometidos com seu sangue, como não creio em falsas salvações de vicissitudes materiais, de diabos ou de penalidades eternas em termos de fogo; tudo isto reflete certamente um mentalidade ou muito infantil e primitiva ou muito irreverente.

Como os antigos padres dos primeiros séculos penso que mesmo antes de falarmos num Salvador ético - que salva o homem do pecado e num cordeiro que tira os pecados do mundo convencendo seus adoradores a cessaremn de pecar e a viverem reta e virtuosamente - devemos apresentar o divino Mestre como médico que cura os espíritos pela correção da vontade, como pedagogo que guia nossas almas ao bem e a verdade e como pastor supremo que nos alimenta pela comunhão e unidade que obtemos de seu Ser.

Nem por isto deixo eu de crer na ressurreição do Senhor, até constrangido sou a admiti-la após examinar quatro relatos bastante extensos e detalhados e - como querem os não Cristão - totalmente inventados e produzidos pela imaginação humana em busca das inumeras contradições alegadas - as quais de fato deveriam sobejar - as quais jamais pude localizar...

Perdem tempo aqueles que se escoram como sempre no argumento do silêncio, na omissão ou numa inexatidão que de modo algum toca a essencialidade da narrativa. Antes o emprego de tais muletas evidencia que não possuem melhores argumentos e evidências mais sólidas; em suma que a crítica aprioristica dos materialistas é capenga... ou claudicante...

Então eles precisam aplicar aos registros e fontes Cristãs os canônes do positivismo forjados durante o décimo nono século, sem perceber que caem num enacronismo de todo injustificável...

Basta considerar que o mesmo positivismo a que fazem continua petição, foi o grande responsável pela criação aprioristica do termo 'pré história' com as terriveis consequências que chegaram inclusive a alimentar e fortalecer a 'crítica' fundamentalista em termos de organização social ou de evolução biológica...

E no entanto o modo como os antigos escreviam e registravam os eventos não corresponde as exigências do positivismo... ignoramos pois porque os prositivistas deixaram de assinalar o surgimento da História a partir de 'Langlois e Soignobos' ou do divino Comte... quando eles ou seus rivais aplicam tais canônes a qualquer relato clássico legado pelos antigos gregos e romanos ressoam altissonantes da acadêmia a mencionada partícula: Anacronismo... a o anacronismo em seu bojo trás o risso ou a mofa...

No entanto nos meios porkutianos e virtuais, assomam multidões de leigos ineptos com o propósito - idiota como já assinalamos - de sujeitar os Evangelhos e primitivos registros Cristãos a mais rigorosa crítica em termos 'positivistas'... após o que costumam proclamar que Jesus jamais existiu nos termos vergonhosos de um Dupuis, dum Strauss ou de quaisquer outros 'sábios' consumados do século XIX...

E pau no Vermes, e pau no Crossan, cujas obras por sinal não se deram ao trabalho de ler porque a ciência esgotou-se já no tempo de Emilio Bossi, há cerca de cem anos.

Replicam e respondem nossos adversários, que assim procedem porque a Igreja tem revindicado para tais documentos uma inspiração total e absoluta de cárater mágico/fetichista.

Aqui só nos resta certificar que a doutrina ou teoria da inspiração absoluta, plenária, linear e verbal - apesar do sucesso que tem feito nas igrejas ortodoxa, anglicana e romana - predominante entre as massas incultas, não constitui dogma ou artigo de fé para as supraditas comunhões mas apenas e tão somente para os fanáticos protestantes ou fundamentalistas. Canonizaram-na Lutero e Calvino ao indigitarem o Biblismo como fundamento da fé e não as igrejas apostólicas, as quais desde os primeiros séculos executaram certo trabalho crítico.

Então quando os srs apontam certos equivocos de natureza acidental, que não atingem a essencialidade da narrativa ou as palavras proferidas por Jesus Cristo, acertam tiros que fulminam o protestantismo/biblicismo mas de modo algum as Igrejas Apostólicas que revindicam o nome de Católicas. Pois estas jamais foram assim tão longe...

E se recorrem a argumentos que jamais ultrapassam a acidentalidade da mensagem - como indicação de horas, nomes de localidades obscuras ou troca de versículos - é porque não possuem argumentos de talhe superior que destruam a essencilidade da mesma. Pois ninguém vai a guerra ou sai a batalha com munição de segunda categoria quando possui munição melhor...

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