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A mãe do Verbo Encarnado

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A consciência histórica do Cristianismo

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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Era Jesus um exorcista no sentido convencional? Qual o significado do Exorcismo no contexto evangélico???

A raiz da palavra exorcismo parace ser tirar algo para fora, no caso em questão um espírito maligno de uma personalidade viva.

Segundo a mentalidade dos povos primitivos a quase que totalidade das doenças seria causada pela intervenção de entidades sobrenaturais como deuses, anjos, genios ou espíritos...

Eis porque não confiavam apenas e tão somente nos procedimentos destinados a atingir o corpo físico, como fossem chás, xaropes, emplastros, etc associando a tais tratamentos a preces, invocações, rituais, sacrifícios, etc elementos que faziam parte da terapia.

Pois como já dissemos o fundo ou a raiz de toda e qualquer enfermidade achava-se centrado na alma ou espírito do enfermo possuido por alguma entidade invisivel.

Mesmo quando tais povos recorriam a procedimentos arrojados como a trepanação craniana não era com o intuito de detectar e extrair tumores ou excrescências, mas com o intuito de extrair os 'espíritos' presos dentro do crânio.

Então se alguém desenvolvia alguma enfermidade ou anômalia era certamente porque havia violado algum tabu e ofendido alguma divindade, gênio ou espírito ancestral, o qual destarte precisava já ser aplacado ou expulso. O sacrifício pacífico buscava aplacar a entidade amigavelmente; o exorcismo buscava obriga-la a sair de seu hospedeiro.

Fórmulas de exorcismo foram encontradas no antigo Egito, na antiga China, na antiga Índia e na antiga Suméria, donde, através da Assíria e da Babilônia chegaram aos antigos israelitas, muito provavelmente durante o exílio. Desde então tornaram-se os judeus peritos em tais cerimônias...

Cerca da Era Cristã corria em Roma o boato de que os judeus eram excelentes curandeiros e exorcistas; mestres e peritos nas artes ocultas... destarte os Cristãos herdaram tal estigma, a respeito do qual fazem gala um Justino, um Irineu e tanto mais especialmente um Origenes e um Tertuliano; destarte Cristão passou a ser sinônimo de exorcista e curandeiro...

Em que pese os desbragados elogios tecidos por Origenes a 'Civilização judaica', que parece por acima da Grega, sabido é que os antigos israelitas não contribuiram em nada para o surgimento e desenvolvimento da medicina.

Despontou de fato a medicina, ao menos sob sua primitiva forma, no Egito, donde passou a Hélade, convertendo-se numa ciência médica, com métodos e fins especificos.

Deve-se este avanço a figura de Hipócrates, o 'Pai da medicina', um grego, nascido na Ilha de Cós. Hipócrates desde moço poz-se a observar os cadaveres dos soldados mortos nas batalhas e a fazer experimentos a partir dos quais concluiu a favor duma origem puramente natural para a maior parte das enfermidades que atingem o ser humano, repudiando consequentemente os ensinamentos dos lideres religiosos a respeito dos castigos divinos, possessões, etc

Nem é preciso dizer o quanto este grande benfeitor da humanidade teve de sofrer por parte dos sedutores, charlatães e fanáticos... correndo risco de morte.

Seja como for logrou ele criar ou primeiro hospital ou centro de curadores, junto ao templo de Asklépios, na já citada ilha. Ali foram formados os primeiros médicos, catalogados os primeiros remédios, desenvolvidos os primeiros tratamentos, delineadas das primeiras dietas, compostos os primeiros almanaques de matéria médica, etc dos quais resultaram grande alivio para os sofrimentos físicos e paulatino aumento da longevidade humana; nem é preciso dizer que o 'exorcismo' não fazia parte desta rotina e que ele jamais fez falta..

Somente as enfermidades psiquicas ou mentais é que permaneceram até certo ponto fora de controle e sob o influxo da religião com seu 'método' sobrenatural. Mesmo porque as pesquisas frenológicas parecem ser apanagio da idade contemporânea...

Os confins da judéia no entanto permaneceram a margem de todo este fluxo evolutivo... como que parados no tempo e estagnados...

Ali Hospital ou médico algum... apenas multidões de rebotalhos humanos oprimidos pela dor e pelo sofrimento.

Nem é para admirar-nos que em semelhante ambiente, economicamente explorado e miserável, cientificamente inascessivel, religiosamente exacerbado... proliferassem no mais alto gráu as enfermidades de talhe psiquico ou mental... sob a forma de supostas infestações 'espirituais' ou possessões.

Destarte pelas areias, montanhas e cemitérios vagavam 'legiões' de possessos, cobertos de andrajos que imitavam as vozes ou mesmo o andar e o proceder dos animais selvagens, com grande espanto por parte do populacho que em tudo isto via a manifestação dos espiritos.

Tal o estado de coisas na Judéia quando manifestou-se nosso grande Salvador Jesus Cristo

Então devemos compreender que o ritual de exorcismo, independentemente da sua eficácia, fazia parte daquela cultura.

Que os próprios videntes deviam ter exercido este ofício e após eles os líderes farisaícos; visando com isto revindicar publicamente o favor divino.

Logo para as massas incultas, o Messias deveria vir não só como Mestre e doutor mas também como exorcista poderoso.

A figura do Messias como curandeiro e grande exorcista fazia parte do inconsciente coletivo e dominava o imaginário do judaismo imediatamente ante Cristão.

Quanto a isto não deve pairar dúvida alguma.

A questão em fóco é a seguinte.

Deveria Jesus adapatar-se a tais concepçõese exercer tal ofício?

Partindo do ponto de vista adotado por nós e segundo o qual o exorcismo não possui existência real mas apenas imaginária, julgamos que boa parte dos Cristãos responderiam que não, sustentando que Jesus não poderia ter prestado apoio a uma prática errônea ou falaciosa; e rebatem alegando que se Jesus oficiou exorcismos é porque este tipo de prática possui validade real, e arrematam asseverando que possessões e Diabos existem... Tais os fundamentos do diabolismo 'Cristão' que até hoje garante os rendimentos dos pastores pentecostais...

No entanto qual é o embalsamento deles? O que os leva a dizer e certificar que Jesus não poderia ter prestado apoio a uma prática errônea ou falaciosa??

É necessário prestar bastante atenção trecho da argumentação porque é capital.

Da mesma maneria que os protestantes creem, porque querem crer e assim lhes agrada, que a 'Bíblia' contem TODO TIPO DE VERDADES, diretamente reveladas pelo próprio deus, e NÃO APENAS VERDADES DE NATUREZA RELIGIOSA, TRANSCENDENTE OU SOBRENATURAL; sustentam do mesmo modo que como Mestre da Verdade - título cujo valor não discutimos - Jesus veio revelar TODA VERDADE e não só a verdade divina, sagrada e religiosa; como cremos nós.

Ora esta é a raiz da divergência entre o Catolicismo esclarecido e o fundamentalismo protestante...

O credo dos Católicos é muito mais reduzido - limita-se aos mistérios constituitivos da fé Cristã: Trindade, divindade de Cristo, Encarnação, Restauração, Sacramentos, Novíssimos, etc - e limitado a verdades de natureza invisivel, religiosa, sobrenatural e divina, enquanto o Credo protestante é a Bíblia TODA, de capa a capa, incidindo sobre áreas como biologia, medicina, física, quimica, direito, etc Daí o criacioburrismo, sabatismo, teocracia, exorcismo, diabos, milagres, etc

No frigir dos ovos a diferença significa que o Cristianismo Católico admite que os limites de seu Credo são espirituais ou religiosos, enquanto que o protestantismo, supõe que a Revelação divina incorpore todo tipo de conhecimento ou de verdades existentes: física, quimica, biologia, psicologia, sociologia, etc

Admitida a premissa protestante, deveriamos censurar Jesus Cristo por não ter ensinado aquele povo a mais básica de todas as verdades: o alfabeto ou seja ler e escrever; porque a maioria deles era analfabeta e analfabeta permaneceu.

Sendo Jesus Mestre e professor de absolutamente tudo, deveria ter começado fundando Escolas para instruir aquele povo!!!

No entanto isto não correspondia a sua função, PORQUE ELE NÃO ERA MESTRE E PROFESSOR DE TUDO MAS APENAS E TÃO SOMENTE DAS COISAS DIVINAS, DAS QUAIS NÃO FAZEM PARTE AS DOENÇAS MENTAIS!!!

Para os Católicos o problema do exorcismo resolve-se nos seguintes termos:

Uma vez que Jesus manifestou-se entre nós com o objetivo de promover exclusivamente o conhecimento de Natureza religiosa ou a Verdade divina, era-lhe defeso no que diz respeito as demais verdades de categoria imanente - fisica, quimica, biologia, sociologia, etc - adequar-se a opinião das massas ou do vulgo profano, ao invés de polemizar a respeito de tais questões atraindo infalivelmente o ódio das mesmas e afastando-as de si.

Pois em todos os lugares e culturas as massas são apegadas a tradição ancestral...

Imagine que voce é médico ou biólogo e que vai a uma aldeia do centro da África implantar um programa de proteção a mulher, ao idoso ou a criança numa perspectiva ética ou axiológica; e lá chegando acaba recebendo alguns doentes ou políticos locais que creem em bruxaria... a qual é crença corrente e disseminada entre todos. Mas voce esta lá e precisa contar com a simpatia e a colaboração deles para implantar o programa em questão...

Voce pode cura-los com suas drogas - independente da opinião deles - acenar com a cabeça, sorrir, silenciar, etc Ou tentar ministrar lições de psicologia, biologia, medicina, etc com o risco concreto de atrair a inimizade deles e de por a perder sua missão...

Então, em situações como estas tem de ter muita sabedoria, flexibilidade e jogo de cintura quanto aquilo que não é essencial e que não depende apenas de voce, mas de investimentos sociais na área da educação, por exemplo...

Foi por isto que dissemos: Caso Jesus fosse mestre de TODA VERDADE em sentido absoluto, começou muito mal, pois deveria ter principiado fundando escolas e alfabetizando o povo.

Mas Jesus veio como Mestre da Verdade divina e da vida ètica, e não das verdades imanentes ou profanas cuja aquisição se dá por via exclusivamente natural.

Eis porque ele não considerou ultrajante para si adaptar-se as preconceitos predominantes entre aquelas gentes; entre crianças o supremo educador assumiu o linguajar de crianças com o intuito de educa-las e eleva-las a partir das coisas santas e divinas.

Ele não mentiu ou ensinou mentiras a respeito do exorcismo porque este não foi o objetivo da sua vinda. Ele apenas foi condescendente, evitando polemizar inutilmente com aquela gente simples e despertar rancores inuteis...

Ele sabia que aquelas pessoas acreditavam piamente que os doentes mentais eram possuidos por espíritos malignos. Sabia igualmente que eles acreditavam que o poder de Deus sendo superior ao poder de tais espíritos era capaz de libertar os possessos...

Uma vez que Jesus revindicava para si não só o poder mas a natureza da própria divindade 'Fazendo-se igual a Deus.' seria para se estranhar, do ponto de vista das massas, que ele se recusa-se a libertar os possessos e a humilhar os espíritos...

Recusar-se a exorcizar seria apresentar-se as massas como embusteiro, pois elas concluiriam que ele, Jesus, não possuia poder algum, pois estava com medo dos tais espíritos.

Jesus não tinha outra alternativa a não ser encarar os tais exorcismos e curar tais pessoas, o que alias, correspondia a sua vontade.

Por outro lado já foi constatado pela ciência que em certos casos irredutiveis de alienação mental - da categoria possessão ou encosto - a prática do ritual de exorcismo, acaba por conduzir o doente efetivamente a cura que se dá pelo processo de simulação e interiorização.

Explico: como o enfermo é uma pessoa simples e crédula; que acredita estar infestado por entidades sobrenaturais, nutre duvida quanto aos tratamentos de carater puramente natural, mas acredita que ao ser exorcizado sera de fato liberto ficando curado... o que muitas vezes - mas nem sempre - de fato ocorre ficando ele curado após um exorcismo ou mesmo a simulação do mesmo...

Eis porque Jesus interagia com os 'enfermos' através das fórmulas convencionais, fazendo com que acreditassem estar sendo exorcizados e devolvendo-lhes a sanidade mental. Não é que houvessem verdadeiros espíritos, o que havia ali era a crença na existência de tais espíritos por parte dos enfermos. Assim sendo, quando Jesus lhes fazia crer que estava expulsando tais espíritos eles ficavam automaticamente curados... Portanto da cura não se pode deduzir a existência real dos espíritos, os quais só existiam nas mentes dos enfermos...

Importa que Jesus obtinha os resultados necessários, trazia alivio aquelas pessoas e adequava-se ao tipo de profeta ou vidente (curandeiro) existente no imaginário das massas incultas; o que era vital para o bom sucesso de seu ministério e para a divulgação da boa nova.

Portanto ao acenar com tais exorcismos, declara Th Hobbes com propriedade, Jesus cumpriu com o papel que lhe era atribuido e esperado na qualidade de Messias e correspondeu as espectativas do povo em geral. O que de modo algum sucederia caso ele se puzesse a dar lições de física, biologia ou psicologia aos campônios da Galiléia revelando-lhes os entrincados processos por meio dos quais consumasse o pensamento humano, os quais só agora começam a ser deslindados.

Conclusão: da prática de tais cerimônias por Jesus Cristo não é lícito a quem quer que seja inferir a existência real de espíritos malignos ou dibuks (a qual de todo não negamos), quanto mais a de supostos diabos ou demônios.

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