O verbo se fez carne...

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A mãe do Verbo Encarnado

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A consciência histórica do Cristianismo

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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

II - Panorama moral...

Do ponto de vista teórico o mundo antigo tinha tudo para dar certo.

E no entanto este belo mundo sossobrou fragosamente e de tal modo que hoje subsistem dele apenas uns fragmentos esparsos, cinzas frias que sucederam a ruínas fumengantes e escombros...

Havia Roma destruido todas as bibliotecas e Arquivos de sua rival Cartago, pagaram-lhe os germânicos destruindo a ferro e fogo suas quarenta bibliotecas públicas, a primeira das quais fora criada por Augusto e entregue a direção de Asinio Polião. Assim também a Biblioteca de Alexandria, com seus cerca de um milhão de volumes, foi encinerada por decreto do Calida Omar.

"Caso tais livros discordem do Corão, são heréticos; ao fogo com eles. Caso estejam de acordo com o Corão, são inuteis; ao fogo com eles." são as palavras transmitidas pelos próprios cronistas muçulmanos.

Filiponos no entanto, certifica que os monges fanáticos deram cabo de Hipátia. Filóstorgo, o ariano, revindica a façanha para seus correligionários... seja como for a investigação científica atingiu seus máximos limites no mundo antigo...

Justiniano, o imperador herético, seguidor de Juliano de Halicarnaso; é comumente execrado por ter mandado fechar a acadêmia e o líceu de Atenas, após quase mil anos de tradição...

Em que pesem os defeitos de Justiniano devemos compreender bem o que eram a acadêmia e o liceu no tempo em que foram mandados fechar por ele...

No frigir dos ovos, estas duas escolas comportam dois módulos bastante distintos de pensamento e contem em si, desde o principio, germes de um conflito cujas dimenssões haveriam de aumentar paulatinamente até dar origem a uma verdadeira guerra...

Tais as cosmovisões de Platão e de Aristóteles do ponto de vista epistemológico e científico.

Platão de certo modo conserva e amplia as tradições ancestrais, legadas pelos egipcios e fenicios, ao pensamento grego, com suas ilações místicas e quase que religiosas.

Tal conteúdo foi ampliado, por influência dos 'mistérios' - aos quais Platão era bastante afeiçoado - até o maniqueismo ou a compreenssão de que a matéria era má em si mesma ou no mínimo inferior ao elemento imaterial. Efetivamente se os platônicos não eram capazes de encarar este mundo sensivel senão como cópia ou plágio do mundo ideal, seus sucessores os neo platônicos não hesitaram em apresentar a matéria como algo de que os espírito deveria libertar-se a guiza de purificação.

Não é aos Cristãos e sim aos neoplatônicos que devemos atribuir os fundamentos mais remotos do que compreendemos sob a alcunha de idealismo. Pois sabemos que Platão era partidário do realismo absoluto e seu mundo ideal tão material quanto o nosso...

Plotino, Porfirio, Jamblico, Amônio, etc é que imaginaram o mundo de Platão como algo puramente imaterial ou espiritual. Os Cristãos deram continuidade a este padrão de pensamento...

Naturalmente que este modo de encarar o mundo sensivel tem consequências do ponto de vista epistemológico e ciêntifico.

O outro ponto de vista corresponde ao de Aristóteles e do Líceu.

Aristoteles era realista equilibrado, acreditando que o verdadeiro mundo ou o mundo real era este nosso próprio mundo e que os sentidos eram o aparelho adequado para devassa-lo.

Para ele a mente era como uma 'tabua rasa' a ser preenchida por nossas percepções sensoriais.

A inferência lógica é que este mundo merece ser observado, percebido, conhecido e compreendido por nós e que a melhor maneira de conhece-lo é aplicar a atenção dos sentidos. Daí a doutrina da experiência...

Posta em prática pelos já citados Straton, Teofrasto, Dikaiarkos, Arquimedes, Hiparco, Eratóstenes, Aristarco, etc legatários do pensamento aristotélico e 'filhos' do líceu. A tais homens devemos as primeiras descobertas e conquistas no plano científico, como o heliocentrismo por exemplo. Foi graças a eles que a física, a sociologia, a política, a biologia, etc converteram-se em conhecimentos seguros e certos.

Eles lançaram as bases do pensamento científico enquanto os partidários da acadêmia e os sucessores de Plotino chafurdavam cada vez mais no pântano do misticismo.

Durante cerca de três séculos houve, como já foi dito, uma espécie de combate ou duelo entre as duas correntes rivais. Ao fim deste duelo excepcional deu o pensamento aristotélico/empirista mostras de desgaste e esgotamento, caindo sob os golpes do ceticismo a um lado ou da credulidade a outro.

Moralistas declaravam que os domínios do conhecimento físico ou natural eram incertos e inseguros; neo platonizantes procuravam inserir a teúrgia ou seja a magia no santuário da filosofia. Disto tomaram pé os cultos de mistério primeiramente e em seguida os cultos de origem oriental quais sejam judaismo, mitraismo e o próprio Cristianismo... tudo sempre permeado pelo idealismo crasso ou por um espiritualismo absoluto, face ao qual a investigação científica perdia o sentido.

Os céticos descartavam a investigação e os esforços dos aristotélicos como vãos. Os platônicos acreditavam obter conhecimentos mais seguros por via de introspecção ou mesmo de bruxaria... Foi quando no século I desta nossa Era a investigação científica cessou, ao menos enquanto prática sistemática e organizada.

A tenssão social conduziu os ricos, nobres e poderosos as confortáveis pradarias do ceticismo, do relativismo, do sujetivismo, etc enquanto as massas precipitavam-se nos abismos deletérios do idealismo, dos misticismo, da teúrgia e da religiosidade casmurra. Infectado pelas correntes platônicas e platonizantes o Cristianismo não logrou obter qualquer sucesso ou progresso no âmbito do conhecimento científico, sendo afetado inclusive no próprio campo da ética.

A vitória ou o triunfo de Platão, associada ao escravismo, constitiu a chave para que possamos compreender e deslindar os motivos porque veio a perecer o mundo antigo. Pois se a ética platônica era muito semelhante a ética Cristã, serviu tal semelhança como uma espécie de isca... fazendo com que a Cristandade bebe-se da mesma fonte os degetos idealistas, a epístemologia corronpida e o vezo anti científico que havia já contaminado a acadêmia e enfim o próprio Líceu.

Sintomático é que o Cristianismo não combateu nem triunfou de um aristotelismo que já estava agonizante ou morto. Triste e angustioso é saber que o derradeiro rival do Cristianismo no campo da Filosofia, foi a corrente espúria do neo platonismo; corrente ainda mais mística e religiosa que o próprio Cristianismo.

Não matou o Cristianismo a autêntica filosofia, como jamais terçou armas ou incompatibilizou-se com ela pelo simples fato de não a ter conhecido. A Filosofia que faz oposição ao Cristianismo exige mais fé do que ele próprio... Diluira-se o pensamento em misticismo muito antes que o Cristianismo viesse a triunfar.

Destarte quando Justianiano mandou fechar a acadêmia, o Liceu, o pórtico e outras tantas escolas, estavam todas já convertidas em igrejolas de Platão ou em capelas de Plotino.

Seja como for esta diluição do aristotelismo e do pensamento científico/empirista nas cogitações doentias do neo platonismo e do gnosticismo, comporta a suprema tragédia do mundo antigo no plano das idéias. Como o escravismo comporta a suprema tragédia do mundo antigo no plano material ou social.

Estavam pois completamente podres os fundamentos daquele mundo.

O fundamento teórico por assim dizer aluido pelas quimeras neoplatonizantes e o fundamento material corroido pelo regime escravocrata. E o fundamento ético ou moral abalado pela fragilidade do cárater.

Eis porque carecendo de fundamentos sólidos todo aquele mundo estava prestes a cair ou a desabar ruidosamente como uma catedral em chamas...



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