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A consciência histórica do Cristianismo

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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

III - Panorama moral... o escravismo

Não é preciso aderir a metafisica marxista para admitir a consideravel influência exercida pelos meios de produção econômica sobre o regime social.

Mesmo sem admitir que tal influência tenha correspondido ao mesmo gráu de intensidade representando pelo economicismo contemporâneo, convem encara-la como fato.

Pois se o homem não vive só de pão, mas como ente racional que é, da unidade divina; é fato que também não vive só da unidade divina, mas também de pão e vinho ou seja de alimento material.

Ser complexo vive o homem de graça e de pão, de pão e de graça. A graça é o pão do espírito e o pão a graça do corpo e assim dos dois alimentos se nutre o homem.

Erram os idealistas ao cuidarem que viva o homem da graça apenas e erram os materialistas supondo que viva apenas de pão.

Seja como for a preparação, aquisição e distribuição de bens materiais não pode deixar de nortear os rumos das sociedades humanas.

Menosprezar o fundamento econômico é menosprezar parte do homem ou sua condição física.

A luz do principio Cristão da encarnação nem pode o Cristão deixar-se seduzir pela voz da sereia que é o idealismo ou o espiritualismo descarnado.

Então caso nos perguntemos a respeito de qual era o fundamento econômico sobre o qual estava edificada a estrutura do mundo antigo, damos sempre e em toda parte com o escravismo sejam suas formas mais ou menos rigorosas.

A principio as tribos humanas e clãs dispersos pelo mundo combatiam-se uns aos outros e faziam prisioneiros tendo em vista aplacar a fúria dos deuses com sacríficios humanos. Degladiavam-se os homens na sanha de alimentar seus deuses cruéis e sanguinários e atacavam-se mutuamente tendo em vista a propriciação dos espíritos ancestrais!!!

Enquanto vigorou este modelo de pensamento não econômico, populações inteiras, inclusive idosos, mulheres e crianças, eram imoladas sob os altares e os templos sabiam a açougues. Dia raiou no entanto em que alguém teve a idéia, a principio humanitária e piedosa, de poupar alguns prisioneiros, consagrando-os a algum tipo de trabalho. Cogitam alguns autores que tal pessoa duvidava da existência dos deuses ou ao menos da eficácia de sacríficios...

As crônicas mais remotas no entanto parecem indicar que a principio tais pessoas foram consagradas ao serviço dos próprios deuses tornando-se escravas do templo ou dos sacerdotes, cuja posição tornou-se ainda mais poderosa e prestigiosa. Não tardou porém para que os senhores temporais revindicassem sua parte do quinhão fazendo concorrência aos templos dos deuses...

Destarte converteu-se a escravidão em instituição puramente secular e espalhou-se rapidamente pelas sociedade na medida em que implicava na posse do poder e na extração das riquezas.

E sujeito ou sociedade alguma desejava permanecer a parte... todos aspiravam por auferir algum tipo de proveito.

Foi assim que instituição tão corrupta passou da antiga China, da India, da Suméria e do Egito, a Pérsia, desta a Grécia e desta a Roma, acompanhando a própria herança e evolução cultural. Do surgimento da escrita, do calendário e das cidades a destruição do Império Romano fez-se o escravismo presente em maior ou menor gráu. Nem mesmos os israelitas, que alguns encaram como povo sagrado ou divino, fugiu a regra comum, embora suas instituições, sob este aspecto particular, pareçam mais avançadas.

Quanto a pessoa do escravo, se no antigo Egito, na antiga suméria e entre os israelitas; era objeto de certos direitos, como a vida e a constituição de uma família, noutras sociedades como a grega e a romana não eram sujeitos de direito algum. Sob este aspecto assemelhavam-se a animais ou melhor dizendo a instrumentos de trabalho como a marreta, o serrote, o martelo, etc sendo assim designados e tratados sem qualquer tipo de contemplação. Basta dizer que na sociedade clássica o senhor (domino) possuia poderes de vida ou morte sobre seus escravos... e que a vida deles nada valia em termos de essencialidade.

Já aludi, no ensaio pertinente a Superioridade do Cristianismo, ao assassinato de Pedânio Secundo. Tendo sido ele assassinado por um de seus escravos, todos as quatrocentas 'cabeças' que lhe pertenciam foram condenadas a morte e executadas consoante determinava a tradição romana.

Grosso modo os escravos eram apressados por ocasião das guerras, manietados, marcados com ferro em brasa, oferecidos em mercados especializados, comprados a 'resma' e submetidos aos mais duros trabalhos sob o regime da chibata. Eles não trabalhavam ou apanhavam mas trabalhavam e apanhavam, e caso se recusassem a trabalhar eram sujeitos a tortura ou a pena capital. Quando fugiam eram perseguidos e quando encontrados severamente castigados, inclusive com a mutilação de membros...

Não lhes era permitido constituir familia (Embora fossem levados a procriar - produzindo com isto novos escravos.) ou fortuna e tudo quanto ganhassem no execicio deste ou daquele oficio devia ser integralmente posto nas mãos do senhor. Não podiam votar nem ser votados, não podiam depor nos tribunais e sequer tinham direiro ao exercício da religião sendo sua presença expressamente proibida nos templos de diversas divindades...

Ao chegar a velhice ou a doença, quando não mais podiam trabalhar eram expostos ou abandonados para morrer nas ruas e praças dos bairros mais miseráveis. Mortos seus corpos eram lançados ao Tibre ou a cloaca maxima...

Apesar de tanta indignidade o número deles eram incrivel tanto em Atenas, quanto em Roma e nas principais cidades do império. Tanto que era expressamente proibido uniformiza-los para que não conhecessem seu número e força.

O Império romano fez do escravismo a base de sua econômia e de seu poder. Após a conquista de Cartago e o apressamento de um número considerável de prisioneiros, logo convertidos em mão de obra boa e barata, Roma não parou mais...

Assim sendo, guerra após guerra, vinha a aumentar o número de escravos e com isto a produção de bens e o poder econômico. Nem é preciso dizer que esta oferta excessiva de trabalho escravo acabou dando cabo do trabalho livre, digno e honesto... perdeu o trabalho livre todo seu valor e em seguida a própria dignidade uma vez que o cidadão livre já não cogitava em exercer qualquer trabalho duro para não ser confundido com um escravo...

Converteram-se os cidadãos livre e pobres em vagabundos até formarem uma massa de ociosos tão grande a ponto de exercer certa influência sobre os poderes constituidos e deles obter o regalo que desginamos com o titulo de 'pão e circo'. Alimentava o império tais massas de desocupados por termer que pudessem vir a ser manipuladas por demagogos profissionais turbando a ordem pública...

Quanto aos nobres e poderosos viviam de rendas, isto é, de terras cultivadas por miriades des escravos... daí o empenho dos mesmos em fazer guerras e obter mais terras e mais escravos, aumentando suas fortunas.

Acontece que a terra não é ilimitada.

Dilatando suas conquistas e conquistando todo circulo do mediterrâneo, teve o império romano de cogitar em límites, mormente porque confinava já com o Império dos persas sassânidas, e este com o povo do Indo, e este com o grande Império Chines... a oeste estava o Atlântico com suas águas... ao Norte as selvas e geleiras em que habitavam os bárbaros germânicos indomáveis, e ao Sul a África negra classificada por Aristóteles e Estrabão como a zona tórrida. Não havia mais para onde expandir-se...

Não havia mais para onde crescer...

Havia o gigante atingido o máximo de tamanho possível.

Aqui um problema bastante sério.

Sem expansão ou seja sem guerras e conflitos, donde viriam os escravos, a terra ou o ouro???

De fato não viriram e não vieram. Eis porque aos poucos, paralizado, o Império entrou em crise, numa crise de natureza econômica que veio a destrui-lo. Outro fato não menos exato é que ao menos aqui - como assevera Gibbons e sua memorável obra a respeito da decadência do Império Romano - o Cristianismo não permaneceu indiferente tomando parte ativa na determinação do rumo que as coisas vieram a tomar, a ponto de ser apontado e 'denunciado' como uma das causas responsáveis pela destruição do Império...

Aqui estamos de acordo. Pois como veremos mais a frente o Cristianismo foi a primeira força ou instituição a opor-se conscientemente ao escravismo. Basta dizer que na medida em que a fé Cristã se expandia o número de escravos diminuia, tendo em vista os que eram alforriados...

Esta redução sensível da mão de obra escrava durante o século II determinara uma sensivel diminuição do número de bens produzidos e oferecidos e consequentemente o encarecimento paulatino dos mesmos, ou seja, o aparecimento do fenômeno hoje conhecido como inflação; cujas verdadeiras causas, por nós assinaladas, passavam a largo das vistas do homem antigo.

Eles podiam ver o efeito, a constante subida dos preços e o consequente aumento da miséria; mas não podiam chegar as causas primeiras: o modelo escravista, a falta de guerras, o pão e circo, etc

E assim continuavam a caminhar para o abismo...

Cogitou o imperador Diocleciano, como o presidente Sarney nos anos 80, em tabelar os preços e proibir o aumento; como se as leis pudessem conter os fenômenos de ordem econômica... outros optaram por aumentar os impostos e por onerar os pequenos agricultores livres que ainda se obstinavam em lavrar a terra e em suprir o mercado alimentício.

Como não podiam quitar seus tributos, os pequenos agricultores abandonaram suas propriedades e afluiram as metropoles, especialmente a Roma, onde era distribuido o 'pão e circo' isto é rações e prebendas financiadas pelo erário. Disto resultou o êxodo urbano e o esvaziamento dos campos...

E consequentemente a diminuição do montante de gêneros alimentícios e o aumento de seus preços... e como até os escravos comiam, o preço do trabalho e de todos os outros bens...

Era um verdadeiro abismo que se abria a cada geração.

Os jovens nascidos em meio a este mórbido estado de coisas já não pensavam em sacrificar suas vidas nas fronteiras por um Império moribundo. Os discursos a respeito da deusa roma, de marte, de belona, do império, de augusto, do dever, da coragem, etc já não convenciam a quem quer que fosse porque o pão e circo satisfaziam as necessidades básicas que não tocavam ao ideal... O exemplo de um Aquiles ou de um Alexandre tocavam já os corações de poucos... os jovens, fossem patricios ou plebeus estavam já cientes de que toda elite dominante havia abraçado ao ceticismo, ao relativismo, ao pragmatismo ou mesmo a um epicurismo muito mal compreendido... e que ninguém cogitava mais em sacrificar-se pela República.

O tempo dos Scevola, dos Catões, dos Brutos e dos Cassios havia já se esgotado e sua sementeira tornara-se estéril... só em troca dum opulento salário concordava algum jovem de origem obscura em passar as fronteiras e opor-se aos germânicos, cada vez mais temidos e tidos em conta de invenciveis pelo populacho...

Tudo isto estava esgotando as riquezas pilhadas pelo império e exigindo certa moderação por parte dos próprios césares. No século II ou III nenhum deles cogitaria em gastar como um Calígula ou um Nero, o tempo dos palácios, templos, aquedutos e obras descomunais ia longe...

Foi quando o Imperador promulgou decreto que fixada os pequenos proprietários livres a terra, para que cessassem de passar as grandes cidades e acabassem por despovoar o campo por completo. E como eles não podiam pagar os impostos... o Império acabou por admitir o pagamento das tachas em gêneros ou por prestação de serviços.

Sistema que veio a predominar durante a assim chamada Idade Média. Barganhava já o poderoso império com gêneros de primeira necessidade tendo em vista a manutenção do 'pão e circo' e o pagamento dos oficiais, os quais no entanto aspiravam por ouro apenas... enquanto isto as massas citadinas, entregues ao ócio, engordavam como manadas de porcos e ignoravam todo e qualquer tipo de disciplina. Como observa Agostinho, dando apenas com o elo final da corrente, eles ignoravam por completo as virtudes de seus nobres ancestrais e não passavam de um bando de degenerados...

Tendo Alarico, exigido a rendição incondicional da cidade de Roma, responderam-lhe os Senadores dizendo que contavam com milhões de cidadãos dentro dos muros da cidade. Diante disto replicou o lider bárbaro: Quanto mais grossa for a erva, tanto melhor para afiar o gume de nossas espadas! Porque aquela carne mole e flacida era incapaz de fazer-lhe frente...

Tivesse Anibal dado com ela quinhentos anos antes e Roma teria pura e simplesmente acabado... Anibal no entanto dera com um povo ainda muito pouco corrompido pelo escravismo e já foi obervado que a conquista de Cartago pelos romanos, foi o primeiro passo rumo ao abismo. Pois Roma sendo uma simples cidade e tendo conquistado todo circuito do Mediterraneo, drenou para si toda riqueza da região... a semelhança de um corpo gigantesco que concentrando todo sangue na cabeça, acaba perecendo vitimado por uma congestão ou por um derrame.

Eliminando os mercados rivais, como Cartago, Alexandria, Antioquia, etc Roma sequer tinha como exercitar suas habilidades e virtudes...

O Dominio sobre todas as cidades rivais, associado ao escravismo e as filosofias cética e epicurista (segundo a versão popular ou corrente) deram cabo do Império. Também o Cristianismo contribuiu poderosamente com isto na medida em que apresentava outros principios e valores bastante distintos daqueles que haviam constituido o império, quais fossem a sacralidade da vida humana, a dignidade, a liberdade, o amor a paz, a justiça, a fraternidade, etc A principio a instituição Cristã condenava não apenas o escravismo mas a própria guerra e proibia seus membros de alistarem-se como soldados...

Ela também condenava o culto cívico tributado as divindades tutelares, ao gênio ou anjo de Roma, ao imperador, etc No qual os bem pensantes, como diz Origenes, igualmente não acreditavam, mas que teimavam em manter por ficção, tendo em vista a captação de recrutas i é de futuros soldados.

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