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A consciência histórica do Cristianismo

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sábado, 20 de abril de 2013

CII - O conceito de Salvação nos escritos dos Santos Apóstolos 02





Para nós ortodoxos Deus certamente fez sua parte, tomando a iniciativa e estendendo sua mão amorosa a humanidade fragilizada...

Convém que cada pessoa, que cada criatura racional, que cada ser humano estenda-lhe sua mão e faça contato com ele.

Posto em contato ou comunhão com seu Senhor o homem encontrará a força necessária para viver virtuosamente. E desta parceria da graça com a liberdade resultará a santidade ou perfeição...

Isto significa no entanto que o homem merecerá algo na medida em que propõe-se a colaborar livremente com a graça divina.

Não são pois os ortodoxos, os romanos ou os anglicanos que excluem a graça, a unidade ou a comunhão divina. Todos reconhecemos os benefícios e vantagens da união dos ser racional com seu Senhor...

Todos reconhecemos a graça ou a união com o sagrado como raiz, fonte e princípio de todo bem e de toda virtude.

São os fanáticos que excluem deliberadamente a liberdade ou a cooperação humana; tudo atribuindo a graça; até chegarem a abominável doutrina da soberania absoluta e da predestinação.

A razão dos protestantes procederem desta maneira é porque eles não podem compreender ou admitir o mérito; mesmo quando as obras são executadas após o primeiro contato com a graça (ou a justificação) eles continuam dizendo que a graça esta sendo comprada... Eles não podem aceitar ou cogitar que a salvação seja um processo decorrente da justificação e que comporte qualquer tipo de colaboração por parte da vontade livre...

Neste caso há barganha insinuam eles e a graça já não é graça...

A salvação deve ser gratuita continuam e como tal obra exclusiva de deus sem participação ou colaboração do homem.

Eis porque eles costumam a descrever o amor de Deus como incondicional e a salvação como gratuita...

Para Lutero Cristo não legisla e já não há qualquer tipo de lei divina, de exigência, de compromisso...

Não existem condições, normas, regulamentos, preceitos, leis, princípios ou valores... apenas graça obtida por uma fé que se reduz a confiança.

O 'sola gratia' exclui a livre vontade ou a colaboração humana e o 'sola fides' exclui o resultado desta colaboração ou seja as boas obras.

Em suma o homem se salva como é ou melhor como sempre foi... salva-se sendo totalmente depravado, salva-se em seus pecados, salva-se cometendo os piores crimes e atrocidades.

Porque os merecimentos de Jesus Cristo acobertam-nos... porque na mesma medida em que peca, crendo estar salvo, o sangue de Jesus responde por ele, e satisfaz a inflexível justiça divina.

Jesus sofreu as penalidades todas dos pecados para que os pecadores nada possam sofrer...

Bem se vê que neste esquema de salvação não há qualquer espaço para a ética.

E que estamos diante duma teologia imoral... cuja confecção foi atribuída ao apóstolo Paulo, logo a Jesus...

De fato Paulo ao expor os mistérios de Jesus Cristo teve de inovar e de criar por assim dizer todo um vocabulário teológico... No mais das vezes ele pode tirar algum proveito das figuras do AT ou dos Midrashes; noutras porém teve de partir do nada ou da estaca zero...

Eis porque seu aparato teológico foi classificado por Pedro como difícil, a ponto de 'SER MANIPULADO PELOS ÍMPIOS PARA A VERGONHA DELES...'

Quem queria Pedro dizer com isto senão que na idade apostólica os ensinamentos de S Paulo já sofriam abusos? Recebendo muito provavelmente uma interpretação solifideista ou Luterana??? Que Pedro encara como sendo errônea.

Fortemente impressionados face a severidade com que Paulo increpa a Lei cerimonial dos antigos judeus; acreditaram tais pessoas que Paulo estivesse increpando a lei moral e anunciando uma salvação imoral, fácil, oportunista ou seja no pecado.

Paulo no entanto precisava salientar a natureza da graça ou da comunhão divina posta em segundo plano ou ignorada por seus antigos mestre e guias... a importância da fé ou da divina Relevação.

E o fez de tal modo e com tal ênfase que houve quem acreditasse ter ele anunciado uma salvação sem obras nos termos de Lutero. Foi com o objetivo de orientar tais pessoas que S Tiago achou por bem registrar, no segundo capítulo de sua carta, que a 'Fé sem obras é morta em si mesma.' ...

Não é que Paulo tivesse ministrado tais ensinamentos. Foi no entanto mal compreendido por uns e falseado por outros tendo em vista a complexidade de seu vocabulário.

Por Pedro e Tiago somos informados de que tal não era o sentido original de suas palavras... mas interpretação falaciosa de alguns...

Como no entanto podemos ter assim tanta certeza a respeito disto???

Simples: Basta-nos ler os quatro Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João; para percebermos de modo cabal que a versão luterana de Paulo é um autêntico fiasco; como já haviam advertido Pedro e Tiago.

Afinal no Evangelho tudo é condição ou exigência...

Basta ler as Bem aventuranças...

Dirá algum pastor que ao lermos as Bem aventuranças estamos aludindo a opções???

Opções que você poder cumprir ou não sem que isto toque a sua salvação???

Será que posso optar por ser belicoso ao invés de pacífico, de ter o coração sujo ao invés de limpo, de amar a injustiça ao invés da justiça??? E salvar-me do mesmo modo ou maneira???

Será que as bem aventuranças estão ali de enfeite ou como adorno???

Então dê razão a Lutero rasgando-as...

Temos ainda o derradeiro pronunciamento do Senhor no primeiro Evangelho, pertinente ao último dia e ao julgamento.

Estive com fome e me destes de comer, com sêde e me destes de beber, nu e me cobristes...

Será que ainda aqui estamos diante de opções neutras face a salvação???

E que posso salvar-me mesmo que tenha fechado o coração para o semelhante e o deixe morrer de fome, sede ou frio???

Então risquem também esta passagem do Evangelho de vocês.

E vão eliminando as condições e exigências que encontram a cada passo...

Só assim darão com a salvação totalmente gratuita ou incondicional  e fácil porque cobiçam.

Do contrário terão de engolir estas palavras divinas: Com paciência salvareis as vossas almas... E NÃO SOMENTE COM FÉ...

Ou será que a paciência também é opção???

Eis porque disse o divino Mestre: "Quem me ama executa OS MEUS MANDAMENTOS."

Serão opcionais estes mandamentos???

Mas se posso tanto cumpri-los como não cumpri-los por que receberam este belo nome???

Será que não é preciso fazer nada???

Ouçamos o que diz Jesus: "Aquele que escuta a minha orientação e não põe em prática é como aquele que construiu sua casa sobre solo arenoso, veio a chuva, destruiu os alicerces e a casa caiu..."

Será que posso me salvar como sou e estou? Em meus pecados???

Demos novamente a palavra a nosso Mestre amado:

"Então eles se aproximarão dele e dirão: profetizamos em teu nome e em teu nome realizamos prodígios E ELE LHES DIRÁ: APARTAI-VOS DE MIM PRATICANTES DA MALDADE..."

A cada página dos Evangelhos nos deparamos com testemunhos que evidenciam esta verdade: o Paulo de Lutero não esta de acordo com Jesus...

Nem com os demais apóstolos...

Pois Pedro declara: "Ele julga a cada qual segundo suas obras." I Pedro 1,17

& João "Se amamos a Deus cumprimos seus mandamentos." I Jo 5,2

& Aquila: "Deus jamais esquecerá o memorial das vossas obras." Hb 6,10

& o livro da Revelação: "Abençoados os que adormecem no Senhor repousam de seus trabalhos E SUAS OBRAS OS ACOMPANHAM."

Por fim o Paulo de Lutero não esta de acordo nem consigo mesmo...

Segundo podemos inferir da leitura de sua carta a Igreja de Corinto: "Por hora restam três virtudes: a fé, a esperança e a caridade NO ENTANTO A VIRTUDE SUPREMA É A CARIDADE."

E não a fé...

Pois 'Deus é amor' e não fé...

E disse 'Nisto vos terão por meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.' e não pelo simples fato de crerem...

E noutra parte o 'abortivo' explicita a que tipo de fé se refere: "Salvos sois pela fé QUE OPERA PELA CARIDADE." Gl 5,6

E sentencia: "Sejam estimulados em toda BOA OBRA..." II Tess 2,17

E noutro passo: "Que assim se apliquem as boas obras." Tt 3,8

Pois aquele que vive pecando (refere na mesma carta): "Professa com a boca... MAS NEGA-O COM AS OBRAS." 1,16

Assim convém ao Cristão: "Repudiar todas as obras das trevas..." Rm  13,12

E estar cônscio de que "Aqueles que de Cristo vivem CRUCIFICARAM A PRÓPRIA CARNE E TODA INIQUIDADE, VÍCIOS E CONCUPISCÊNCIAS... e assim não vivem segundo as obras manifestas da carne... MAS PRODUZEM FRUTOS NO ESPÍRITO." Gl  5,19 sgs

Segundo a semente tenha da graça tenha caído na terra fértil da boa vontade.

Assim, em comunhão com ela: "Produzirá frutos cem por um, sessenta por um e trinta por um."

Assim, declara o mesmo Paulo, não há liberdade para praticar a maldade ou contra o mandamento do amor, que resume em si toda lei divina. Gal 5, 14

Contra este mandamento sagrado e Cristão não há apelo possível a liberdade.

Percebamos então que o ensino de Paulo a respeito da ética, da virtude, das boas obras, da santidade, da perfeição, etc ESTA DE PLENO ACORDO COM O ENSINO DOS DEMAIS APÓSTOLOS E DE JESUS CRISTO.

Toma possa o homem da graça de Deus e é elevado por ela COM O OBJETIVO DE FRUTIFICAR EM BOAS OBRAS.

Portanto SE 'não é justificado por obras'; mas apenas pelo encontro com o Verbo Jesus; é justificado para as obras: PARA O BEM, PARA A VIRTUDE, PARA A SANTIDADE...

De modo que a união com Cristo, sendo fecunda, capacita-o a cumprir plenamente a vontade de Deus em sua vida.

E como a justificação é apenas o primeiro passo dado no processo de salvação através do qual a graça interage com a vontade humana; segue-se que a salvação ou seja a conservação/manutenção e ampliação da graça divina; concretiza-se pelo cumprimento da vontade de Deus, pela observância da lei de Nosso Senhor Jesus Cristo e pela execução de Santas e boas obras.

Assim já sabemos porque aquele que enterra o bom 'talento' que lhe foi entregue por Cristo, AO INVÉS DE FAZE-LO MULTIPLICA-LO E RENDER POR MEIO DAS OBRAS; perde-lo-a. Porque a graça não foi comunicada para ampliar o domínio do mal e do pecado mas para capacitar o 'homem novo' refeito a imagem do Verbo; a triunfar da maldade e vencer o pecado.

Não se trata de elemento moralmente neutro ou passivo; mas de elemento ativo, dinâmico e capaz de auxiliar o homem na verdadeira obra de reforma que é a reforma da vida.

Eis porque deve o Cristão conformar-se a imagem de Cristo, assimilar sua conduta, imitar seus exemplos e toma-lo como modelo de perfeição; segundo ele mesmo decretou: "Sêde perfeitos como vosso Pai do Céu é perfeito."

Ora Deus não exerce pecado.

Assim: "O que vive de Deus não deve pecar!"

Mas viver de Deus pela obediência, pela submissão e pela reverência.

Pois a árvore boa produz bons frutos e a árvore má maus frutos; cada uma conforme sua condição.

E não pode a árvore boa deitar maus frutos ou a árvore má deitar bons frutos; segundo a palavra do Senhor.

Assim os Filhos de Deus vivem segundo a vida de Deus executando obras de luz.

Conforme suplicam na Grande Oração eles se tornam aptos a santificar o nome de Deus, o Pai, em suas vidas, dando bom testemunho da graça.

Já os filhos da maldade; membros da geração ímpia procedem segundo as já aludidas obras das carne; mesmo quando declaram-se salvos ou predestinados.

Pois suas obras más manifestam que não estão em Cristo e que são mentirosos.

E se dizem que não podem cair; devemos saber que é porque já caíram e jamais estiveram em Cristo. Estavam - nominalmente - entre nós mas não era dos nossos. E por que???

Porque suas obras eram iniquas e indignas da 'Verdade que liberta'. Porque a vontade deles permanece escravizada e preza ao padrão do mau exemplo, legado pelas antigas gerações e prevalecente neste nosso mundo.

O apóstolo no entanto disse: "Aquele que de Deus nasce vence o mundo."

'E nem os mandamentos são penosos para ele.'

Porque ama verdadeiramente o Pai do céu que o resgatou e deseja vive segundo a vontade deste bom Pai.

Então nós não compramos a salvação nem barganhamos com Deus.

Mas merece-mo-la certamente porque executamos a sua santa vontade e tomamos como padrão de moralidade.

E merece-mo-la porque ele, decretando exigências e condições, dispôs que cumpríssemos livremente com tais exigências e condições.

Quisesse Deus que a graça por ser assim tão gratuita fosse estéril, incondicional, desbragadamente livre e compatível com o exercício do pecado... teríamos um Evangelho fácil sem cruz, senda estreita, límites, normas, regulamentos, leis, etc Tal evangelho no entanto não existe!!!

Pois seu fundamento mais remoto é uma determinação: Amai-vos uns aos outros e não uma opção.

Efetivamente os protestantes tem a louca pretensão de acertar entre eles e Cristo a questão da salvação; excluindo por conta e risco todas as condições e exigências...

Lamentavelmente, como não disponibilizaram a graça... não lhes compete ou a quem quer que seja, determinar como deva ser sua fruição.

Tendo Nosso Senhor assumido a humana natureza e condição com o intuito de manifestar sua divina graça é certamente a ele que cabe o direito de determinar como devemos proceder para fazer juz a ela ou obte-la; bem como o uso que dela devamos fazer. Ele tomou a iniciativa ele dispõe... e nós, como contemplados que somos, acatamos.

A simples leitura do Evangelho - tão alardeada pelos protestantes - basta a criatura racional para que compreenda que a graça da união com Deus não é fim último que se esgota em si mesmo; mas meio ou instrumental disposto para que o homem viva conforme a vontade de Deus. Assim se a fé foi disposta para a graça, a graça foi disposta para a caridade ou a virtude recebendo dela sua forma e vida.

Como o combustível dispõe o automóvel ao movimento, a graça dispõe a criatura racional a execução da virtude e a uma vida verdadeiramente santa; segundo o eterno propósito e vontade do Deus Santo e Bom.

Então vemos que a graça de Cristo não é graça frágil e aparente disposta para a derrota; mas graça hábil e prestimosa para tudo quanto seja nobre, louvável e bom.

Não é graça fiducial, externa e vicária; mas graça real que atua na alma do homem como a energia elétrica nos aparelhos... capacitando-os a realizarem suas vocações.










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