O verbo se fez carne...

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A mãe do Verbo Encarnado

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A consciência histórica do Cristianismo

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sexta-feira, 19 de abril de 2013

CI - O conceito de Salvação nos escritos dos Santos Apóstolos 01






Há muito foi o Cristianismo definido como uma religião de salvação.

É necessário todavia saber com exatidão de que Jesus salvar-nos veio.

Porque os homens mortais tem apresentado diversas teorias de salvação.

Uns uma salvação exagerada de entidades, seres e castigos que na realidade não existem e outros apenas uma meia salvação, que de forma alguma corresponde ao propósito de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Alguns tem crido e professado que Jesus nos veio salvar dos problemas e vicissitudes da vida presente e de fato grande número de romanos e ortodoxos para não falarmos nos nossos protestantes acreditam que o principal ofício de Nosso Senhor é interferir no plano físico ou material, quebrar as leis da natureza e realizar inesgotáveis sinais e prodígios em nosso favor como seja tirar as bicheiras do gado, curar frieiras, localizar objetos perdidos, etc

Trata-se dum padrão religioso bastante comum em nossos dias. E muito bom cristão pensa que é assim mesmo e que o fim de nossas religiosidade esta aqui mesmo na terra.

Fosse assim em que seriamos superiores aos hotetontes, bosquímanos, sioux, etc enfim aos povos primitivos? Comungando do mesmo fetichismo e partilhando da mesma ingenuidade em que se destacaria da deles a espiritualidade por nós cultivada???

A religião popular, mantida pelas massas incultas é mesmo assim: folclórica; e doutro modo não poderia ser.

Temo no entanto que não corresponda a sublimidade do nosso Evangelho palavra sempre viva de Jesus.

Temo que o padrão religioso do Evangelho seja bem outro e que sua meta esteja noutro 'lugar'.

Pois aqueles que lhe pediam sinais, prodígios, milagres, pão e peixe disse ele: 'Ainda não pedistes o essencial: o Espírito Santo.'

Parece que foi justamente para isto que o Verbo se manifestou: para que pudéssemos adquirir plena comunhão com o sagrado ou como se diz vida em plenitude, vida em abundância, vida espiritual...

Naturalmente que a vida do corpo precisa de pão e que o homem deve lutar por ele; não no entanto com orações e preces, mas com os meios ordinários que lhe foram dispostos pela natureza.

Daí dizer o apóstolo: 'De nada adianta dizer aqueles que carecem de comida e vestimenta: irei e rezarei por vós...'

Eis porque outros, um pouco mais esclarecidos postulam outro tipo de salvação, tanto mais espiritualizada, postulando que o Senhor veio salvar o homem do pecado.

A nós nos parece que estes leem muito bem o Evangelho.

Pois o Salvador assim se exprimiu; logo depois de ter aludido ao jugo do pecado: 'Se o Filho vos libertar sois verdadeiramente libertos.'

A maioria destas pessoas no entanto, estando mal orientada, acredita que os pecados são cometidos por sugestão duma entidade maléfica a que chamam diabo, demônio ou Satanás e asseguram que Jesus vindo salvar o homem do pecado, veio preserva-lo da influência de Satanás ou salva-lo dele.

E como aquele que peca e pertence ao Diabo esta disposto a uma situação de punição espiritual - que muitos asseveram ser perpétua -  após a morte, a maior parte das pessoas também acredita que Jesus veio salva-las da punição ou do inferno.

Temos pois diante de nós três espécies ou tipos de salvações, a princípio concomitantes: do pecado, do diabo e do inferno.

Afortunadamente a mentalidade Ortodoxa sempre se manteve fixa no primeiro item, anunciando a salvação do pecado.

Os latinos no entanto oscilaram.

Os romanos por exemplo; contaminados pela superstição do diabolismo, multiplicaram os exorcismos e apresentaram nosso Cristianismo como uma salvação do Diabo... tradição que tem sido mantida atualmente pelos pentecostais...

Para os quais a 'salvação' da-se comumente sob a forma de um exorcismo...

Também a salvação das 'penas eternas' foi salientada com demasiada insistência pelos pregadores latinos. De acordo com esta perspectiva não menos supersticiosa e funesta Jesus teria se manifestado com o intuito de anular as penalidades espirituais e apagar as 'chamas' do tal inferno... acolhendo tantos quantos apelassem a seu sangue, suas chagas, etc

Assim percebemos já que tudo tinha mesmo de dar onde deu e que os latinos mais cedo ou mais tarde perderiam completamente de vista o cárater integral e sobretudo ético da salvação enquanto salvação do mal e do pecado ou salvação para a virtude.

E embora Lutero tenha sido o primeiro a arvorar esta 'meia salvação' ou 'salvação incompleta' como dogma de fé; veremos que se trata dum perigo que acompanha a Cristandade desde a Idade apostólica.

Para quem não esta suficientemente bem informado Lutero aboliu o primeiro item da lista, sustentando muito seriamente que o homem jamais poderia ser salvo do pecado.

Era pois o homem salvo do Diabo e do Inferno EM SEUS PECADOS.

Por mais que a teologia papista estivesse já podre e carcomida a pregação de Lutero não pode deixar de produzir um arrepio de horror nas almas piedosas e de produzir um verdadeiro 'choque'. Choque que calou profundamente no fundo da consciência Cristã provocando um tumulto tão estrondoso que estende-se até nossos dias...

Basta dizer que até seus dias poucos haviam se atrevido a postular uma salvação no pecado. O máximo que ousavam dizer - sempre influenciados por Agostinho - é que a restauração divina não excluía a permanência de certa debilidade ou fraqueza nos santos, a qual possibilitava eventuais 'quedas' ou reincidências por parte dos restaurados... Disto porém não se passava.

Então podemos dizer que a primeira brecha no Evangelho foi aberta pelo santo Bispo de Hipona ao declarar que a restauração ou a cura operada pelo verbo era frágil e não efetiva. Esta brecha foi alargada mil anos depois pelo reformador saxão ao declarar que a restauração era meramente vicária, superficial ou aparente; jamais atingindo o interior do homem enquanto vida.

Primeiramente as exigência do Evangelho foram amenizadas e o mistério sagrado da Penitência corrompido; posteriormente as exigências do Evangelho foram explicitamente negadas, a lei de Jesus Cristo repudiada e até mesmo o nome da penitência riscado e apago... Sendo tudo tudo creditado na conta da fé.

Ora nós devemos, a luz dos Evangelhos e do novo Testamento, buscar compreender como tais transformações foram acontecendo e como o mistério da restauração foi sendo paulatinamente descaracterizado pelos homens mortais.




B - Lutero, Paulo e Paulinismo


Para começo de conversa vamos já informando o amigo leitor que a nova espécie de Salvação esta relacionada com uma super valorização dos escritos do Apóstolo Paulo - a que denominamos 'paulinismo' - e a uma má compreensão ou incompreensão no que diz respeito ao significado dos mesmos.

O que não devemos atribuir a iniciativa de Lutero.

Então fique bem claro que por Paulinismo não compreendemos qualquer tipo de contradição - doutrinal ou dogmática - entre o pensamento de Paulo e o de Jesus (existem diversas contradições sim; mas apenas no plano da ética ou da moral e não no âmbito credal) ou entre o ensino de Paulo e dos demais apóstolos. Por 'paulinismo' compreendemos como já foi dito a concessão duma certa primazia doutrinal - por parte dos Cristãos mal orientados - aos escritos de Paulo e um entendimento inexato a respeito do que Paulo costumava ensinar.

E embora saibamos que erros tão lamentáveis tenham sido apresentados como fundamentos doutrinários por iniciativa de Martinho Lutero; convém sabermos que não foram concebidos unicamente por ele e que tampouco foi ele o primeiro a acalenta-los.

Antes de tudo gostaríamos de deixar bem claro a nossos antagonistas, os sectários; sejam luteranos, calvinistas, paulinistas, etc que somos Cristãos, e que sendo Cristãos temos por referencial a figura de Jesus Cristo e suas palavras registradas nos quatro Evangelhos e que para nós esta distinção entre a palavra do Verbo Jesus e do apóstolo e servo Paulo é crucial.

Nosso principio coordenador, que dá significado e interpretação a todas as passagens da Escritura não são a Epístolas paulinas mas os quatro Evangelhos.

Nossa base ou fundamento não é o 'corpus paulinum' mas o Evangelho.

Nosso Senhor, legislador e Mestre não é Paulo; mas Cristo.

Portanto nós não cremos que o anúncio de Jesus precise ser esclarecido por qualquer outro anúncio; antes julgamos que a pena apostólica deva ser julgada pela pena evangélica.

Nosso padrão de ortodoxia é Jesus Cristo e nosso supremo e último critério suas palavras. 

Então nós não situamos os escritos do Verbo Encarnado e os escritos de seu apóstolo no mesmo plano supondo que gozem do mesmo grau de nitidez ou clareza. Nós não acreditamos que Jesus e Paulo tenham se exprimido com o mesmo nível de exatidão.

Embora os ensinamentos sejam idênticos a reverência nos obriga a reconhecer que o modo de se expressar do Salvador seja mais claro ou superior.

A doutrina é a mesma; mas o modo como é exposta não. E nós cremos que aqui Jesus leva vantagem.

Não admitimos pois que Paulo explique, esclareça ou elucide a palavra de Jesus Cristo; pois isto nos obrigaria a admitir que Paulo é tanto mais excelente ou que seja o Mestre do Mestre...

Eis porque julgamos que Lutero e seus protestantes coloquem o carro diante dos bois... e que tenham invertido e subvertido a economia dos testemunhos.

Nós vamos de Paulo ao Evangelho para que suas palavras e ensinamentos sejam provados e não do Evangelho a Paulo...

A este erro que é tão grave os protestantes associam um outro que consiste em ignorar qual seja o cárater dos escritos paulinos e a forma ou modo porque devem ser analisados.

Quanto ao cárater dos escritos paulinos julgam os protestantes, como fazem alias com todas Escritura - até mesmo com os registros do testamento velho e abolido - que seja de fácil compreensão até mesmo para aqueles que mal sabem soletrar as palavras... Esta é a opinião humana e falível dos protestantes a qual vivem a repetir como se fosse uma ladainha.

Vejamos no entanto o que declara a 'tão estimada' palavra pura de Deus:

"COMO NOSSO IRMÃO PAULO VOS ESCREVEU, conforme o entendimento que lhe foi comunicado, como EM TODAS AS SUAS CARTAS NAS QUAIS HÁ COISAS DIFÍCEIS DE SE COMPREENDER." II Pedro  3,15 sgs

Seja pois Deus verdadeiro e os pastores protestantes mentirosos.

Pois o que declaram ser tão fácil a ponto de ser compreendido por um analfabeto ou por uma criança; um dos apóstolos de Jesus declara ser de difícil compreensão.

A simples leitura desta passagem deveria ter acautelado Lutero e outros para que evitassem edificar sistemas  fundamentados unicamente nas palavras do apóstolo Paulo. Eles no entanto não levaram tal oráculo em consideração...

Basta dizer que jamais houve qualquer esforço da parte deles para que as palavras de Paulo fossem examinadas face as palavras dos demais apóstolos; digo de Pedro, Tiago, João e Judas cujas epístolas também fazem parte do Novo Testamento e expõe os mistérios divinos. Grosso modo os protestantes abastecem seu arsenal nas epístolas de S Paulo e ignoram supinamente o testemunho de Tiago, de Pedro, de João, de Judas...  

É como se existisse um apóstolo apenas: Paulo... e suas epístolas.

Há no entanto vício ainda pior em termos de exegese protestante.

Aludimos aqui ao escandaloso recorte feito por Lutero no epistolário paulino.

Pois Paulo não escreveu menos do que treze cartas. (Hebreus não foi escrita por ele mas pelo alexandrino Aquila)

Era de se supor que Lutero tivesse queimado suas pestanas durante longos anos examinando detalhadamente o conjunto do 'corpus paulinum' de modo a absorver ou assimilar o conceito paulino de salvação. Ao menos tivesse ele, Lutero, assegurado que assim procedeu, e ao menos poderíamos conceder-lhe o privilégio da boa vontade...

Queremos dizer com isto que para obtermos uma ideia mais ou menos exata do pensamento paulino a respeito de qualquer ponto doutrinário deveríamos analisar cada uma de suas cartas e comparar umas com as outras... ao invés de nos concentrarmos unicamente nesta ou naquela carta, nesta ou naquela passagem, neste ou naquele verso. Sob pena de compreendermos parcial e distorcidamente o pensamento do santo homem.

Foi exatamente isto o que Lutero fez; pois como registra Dale Owen na 'Região em litígio...':  'Lutero só tinha olhos para alguns capítulos da carta de Paulo aos romanos e todo seu sistema foi elaborado com base na leitura desta epístola sem considerar os demais escritos do apóstolos, dos demais apóstolos ou do próprio Jesus. Para Lutero ali estava a medula ou quintessencia do Evangelho em meia dúzia de passagens desta carta...'

O próprio Lutero registrou em diversas ocasiões que 'deu com a verdade' ignorada por todos ao ler um determinado verso desta epístola. E sobre este e mais outro verso elaborou seus sistema...

Não é possível imaginar fundamento mais frágil...

Pois sendo o NT constituído por mais de duas dúzias de registros e tendo Paulo escrito uma dúzia deles; Lutero e seus filhos concentraram-se apenas em algumas passagens duma única carta, a saber romanos, o 'evangelho' deles. Importa perguntar: e as duas cartas aos Corintios, e a carta aos Gálatas e as três pastorais dirigidas a Timóteo e a Tito que é feito delas???

Aqui os protestantes limitam-se a catar alguns fragmentos e a garimpar algo tendo em vista 'confirmar' aquilo que julgaram encontrar no 'novo evangelho' ou seja em romanos. Jamais vão além ou exercem estudo mais aprofundado; pois Gálatas sobretudo, bem como as pastorais, contem testemunhos suficientes com que minar e sacudir pela base o edifício que creem ser divino.


Concluímos este estudo inferindo duas coisas:

  1. A teologia protestante peca por estribar-se prioritariamente no testemunho de Paulo e não no de Jesus
  2. A teologia protestante peca por não considerar os escritos do Novo Testamento ou mesmo os Escritos de Paulo em seu conjunto.
E partindo destes pressupostos anuncia um tipo de salvação totalmente diverso daquele que foi proposto aos homens por Nosso Senhor Jesus Cristo e seus abençoados apóstolos.






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