O verbo se fez carne...

O verbo se fez carne...

A mãe do Verbo Encarnado

A mãe do Verbo Encarnado

A consciência histórica do Cristianismo

A consciência histórica do Cristianismo

sábado, 12 de janeiro de 2019

CXII - O Pastor de Hermas e o fragmento muratoriano

Foi este pastor de Hermas citado como Escritura Santa por S Clemente de Alexandria, S Irineu, Tertuliano - De Oratione XVI - antes de aderir ao montanismo - e por Orígenes - in Comm a Mat 14,21 - o qual julgava ter sido ele escrito pelo Hermas de Romanos 16,14. Chegou ainda a fazer parte de certos códices bíblicos, como o Sinaítico, e, segundo Eusébio a ser lido publicamente em algumas igrejas tendo em vista a instrução elementar, além de ter sido citado por certo número de autores antigos. H Ecles III,3,6. S Atanásio - que o cita amiúde, diz que mesmo não pertencendo a Escritura Canônica, foi o Pastor, posto pelos Padres para ser lido pelos neófitos e catecúmenos.

Orígenes no entanto reconhece que muitos não o admitiam como inspirado - Livro dos princípios 4,2,8 - e o Fragmento muratoriano explica porque. Segundo esta lista de livros canônicos, era O Pastor uma obra recente - o Muratoriano foi escrito entre 160/170 - escrita em Roma, por Hermas, irmão do Papa Pio I, que comandou a Igreja romana do ano 140 ao ano 155. Alguns sugerem que teria sido começado a ser escrito nos últimos anos do século I - 99/100 - e terminado pelos idos de 145... Seja como for é evidente que não pertence ao período apostólico. Por isto embora chegasse a ter feito relativo sucesso no Ocidente, Jerônimo, pelos idos do século IV - Viris Illustribus X - declara que, no Ocidente, era lido por muito poucos, mas publicamente lido nas Igrejas da Grécia. Gelásio de Roma porém, meteu-o entre os apócrifos

Sabe este livro a um apocalipse, como o de Esdras. Revindicando, o autor, ter sido visitado por um anjo sob a forma de pastor após ter visto a Igreja sob diversas formas. É estruturado em três partes - Visões, parábolas e mandamentos. O tempo das composição, a divisão em partes, a forma literária, as crenças, etc tudo sugere que este livro tenha sido redigido por três ou mais escritores.


A linguagem é simples, vívida e repleta de detalhes sociais. Não deixa de conter em si uma espécie de biografia bastante realista tecida em torno dos atos de um homem simples, ex escravo, negociante mal sucedido, pequeno agricultor, casado, pai de família, com sérios complexos de culpa... Neste sentido é um recorte da vida e por si valioso. O tema principal é a sorte dos que pecaram após o Batismo e assim a Penitência, sacramento que os montanistas tinham em contra de blasfemo e que outros - sicut Clemente de Alexandria; Strom - abusam já... O autor posiciona-se ortodoxamente quando a isto e portanto a favor de uma oportunidade para os que, sendo já Cristãos, tornaram a pecar, isto desde que rompessem sinceramente com o pecado e não tornassem a cair.

Tem a Cristologia do autor ou dos autores dado origem a intenso debate entre os estudiosos. Os ortodoxos em especial ter se esforçado por justificar o autor, cuja Cristologia é adocionista e a Teologia, ao que parece diteísta. O que de fato nos faz pensar num autor judeu Cristã que tenha completado a obra de Hermas, irmão de Pio. Salvo tendo em vista um entendimento ultra rigorosa da disciplina do Arcano é no mínimo curioso que Hermas jamais faça uso do nome 'Jesus Cristo' ou da expressão Logos, mas apenas dos termos 'Salvador', 'Filho de Deus' e 'Senhor'.

De fato apos declarar que o Espírito Santo é o Filho de Deus, insiste: "Deus, o Pai, fez habitar na carne que ele escolhera, o Espírito Santo e eterno que tudo criou. Esta carne na qual o Espírito habitou, serviu ao Espírito, andando sempre no caminho da santidade e da retidão sem jamais contristar o Espírito. Ela se portou virtuosamente, participou dos trabalhos do Espírito e colaborou em tudo com ele. Comportou-se docilmente para o bem e por isso Deus a escolheu para companheira do Espírito... Para que essa mesma carne, que ao espírito havia servido irrepreensivelmente, obtivesse um lugar de repouso, e não perdesse a recompensa que merecido tinha por seus serviços. Toda carne em que o Espírito habitou e que for encontrada pura e sem mancha, receberá sua recompensa." Parab V, 59,5

Ao que parece este autor faltava a ideia clara de hipostase. Portanto imagina ele que o Filho, tomou posse de um ser humano, usando-o como instrumento seu. Este elemento humano a seu tempo, sendo completo e livre, salientou-se pela docilidade com que colaborou com o Espírito, merecendo ser ressuscitado e glorificado a guiza de recompensa por sua fidelidade. A partir dele os demais batizados também se convertem em templos ou tabernáculos do Filho/Espírito e os que se portarem docilmente, abstendo-se de pecar, tornam-se dignos do mesmo prêmio, do qual o Salvador ressurreto é primícias. Enfim o que temos aqui é uma Cristologia arcaica, não necessariamente uma heresia, exceto pelo diteísmo ou pela identificação do Espírito Santo com o Filho, alias, peculiar a certos membros da primitiva Igreja Romana.

Feita esta ressalva necessária, passamos a resenha doutrinal do escrito:

Nenhum comentário:

Postar um comentário