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A consciência histórica do Cristianismo

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terça-feira, 6 de novembro de 2018

CVII - Primórdios da literatura Cristã: O didaqué

  Didache kyriou dia ton dodeka apostolon ethesin ou 'Ensino do Senhor ministrado pelos doze apóstolos as nações' é seu título.

Conforme Rodorf, segundo alguns estudiosos a Didaké seria uma coleção de escritos anteriores a destruição do tempo de Jerusalém e portanto registrada entre os anos 60 e 70. J A T Robinson situa-a entre 70 e 80 e alguns outros entre 80 e 90. Assim de modo geral sua data de sua composição dicaria situada entre 60 e 90 desta Era, correspondendo o termo médio a 75. A imensa maioria dos autores concordam que pertence ao século I, ficando excluída a datação tardia, situada para além do ano 100 ou seja no século II.

Segundo a maior parte dos críticos ele teria sido composto pelos Cristãos estabelecidos no Norte da Síria ou da Judeia. Além disto teria sido composto por mais de uma pessoa. Embora não se possa demonstrar que tenha sido elaborado por qualquer apóstolo é certo que as tradições nele contidas remontam ao tempo dos apóstolos, tendo sido preservadas pelos comunidades.

S Eusébio - que menciona-o expressamente na 'História eclesiástica' associa-o ao Apocalipse de João, ao Apocalipse de Pedro, ao Pastor de Hermas e a Epistola de Barnabé que são obras legadas pela mais remota antiguidade e compostas entre os anos 90 e 130 desta Era. S João Damasceno afirma sua canonicidade.

A igreja no entanto recebendo a opinião de S Atanásio e de Rufino de Aquileia - que o declararam pseudo epigráfico -  julgou por bem não incorpora-lo as Escrituras. Recomendava no entanto sua leitura, a exemplo de Damasceno.
No entanto após ter sido referenciado por Niceforo Calixto 'Xanthopoulos' (1320) o mais remoto testemunho da literatura Cristã acabou 'desaparecendo'.

E por meio milênio foi seu conteúdo ignorado, até que em 1873 foi redescoberto por Philotheos Bryennios, metropolita de Nicomédia, no Codex Hierosolymitanus (1056).
Cerca de trinta anos depois parte da versão latina foi localizada por J Schlecht.

Hitchcock e Brown traduziram-no para o Inglês em 1884. No mesmo ano foi produzida a versão alemã por Adolph Harnack e no ano seguinte Sabatier publicou a versão francesa.

Desde então passou a fazer parte da coleção conhecida sob a alcunha de 'padres apostólicos'; porque segundo se crê, e já dissemos, seus redatores teriam sido ouvintes ou discípulos dos Santos Apóstolos.

Quanto aos primeiros capítulos parece uma reelaboração de escritos judaicos e ensinamentos rabínicos de teor moralizante.

Tudo segundo o esquema bastante conhecido dos dois caminhos.

Esquema comum a tradição judaica testemunhada pelos essênios (manuscrito zadoquita ou de Damasco) e a tradição evangélica, adotado igualmente por Hermas e pelo redator da Carta de Barnabé. 

Os demais capítulos dizem respeito a vida sacramental da Igreja.

Segue a súmula do livro enfatizando os elementos credais ou os artigos de nossa imaculada fé:


  • A primazia do amor: "Antes de tudo cabe amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a nós mesmos." I, 2. O amor não nos deve impedir de corrigir quando necessário for. II,7
  • Condena o assassinato, o adultério, o roubo, a inveja, a mentira, a hipocrisia, o ciúme, a cólera, a agressão, a avareza e a busca pela vingança. Caps II e III. "Não seja ávido pelo dinheiro oh filho meu." III,5 "Nem seja como aquele que estende a mão na hora de receber e retira na hora de doar." IV,5, "Não repudie o necessitado. DIVIDA TUDO COM SEU SEMELHANTE E JAMAIS DIGA QUE AS COISAS LHE PERTENCEM. Se vocês estão unidos nas coisas que jamais morrem, quanto mais nas perecíveis. IV.8 Acusa severamente os 'Que defendem os ricos.' V,2
  • Recomenda cultivar: A mansidão, a paciência, a misericórdia, a serenidade (Cap III) e sobretudo a justiça: "Julgue sempre de modo justo." IV,3 SEM FAZER ACEPÇÃO DE PESSOAS. Id, V,2
  • 'Não se deve sequer planejar o mal contra o próximo.' II, 6 ou ainda 'Odiar a quem quer que seja.' II,7
  • A necessidade das obras: "Dá a quem te pede e jamais peça para devolver..." I,5 "Que sua palavra não seja falsa ou vazia mas comprovada pela prática." II,5
  • A doutrina da graça capacitante: "Não te deixes levar pelos teus impulsos." I, 4 ; "Evite até mesmo a aparência do mal." III,1 e por fim: "Assim deveis ser encontrados perfeitos..."
  • A necessidade de observar a Lei moral: "Não matar, não roubar, não trair, não mentir, etc...".  II,2 Cumpre observar a condenação do aborto: "Não matarás a criança no ventre de sua mãe." "Jamais viole os mandamentos do Senhor." IV,13 "SE PUDER CARREGAR TODO JUGO DO SENHOR VOCÊ SERÁ PERFEITO. Se não for possível, faça o que puder." VI,2
  • A condenação ao acumulo excessivo de bens: "Não sejas soberbo ou insolente, não te associes aos poderosos mas aos pobres que são justos." III,9
  • Inculca respeito para com os ministros da palavra: "Recorda noite e dia o predicante da palavra e honra-o como se fosse aquele Senhor que o enviou; pois onde a boa nova é ensinada ali esta o Senhor." IV,1
  • Condena o sectários e enfatiza a Unidade: "Que ninguém ouse provocar divisões mas que se promova a concórdia." IV,3
  • Salienta o vínculo social ou comunitário existente entre os Cristãos: Busque estar diariamente na companhia dos irmãos para encontrar apoio nas palavras deles. IV,2
  • Reconhece a Penitência: "Aquilo que ganhas com o suor do teu rosto FAZ OFERENDA DE REPARAÇÃO PELOS PECADOS." IV,6
  • Refere ao Batismo em nome da Santa Trindade: "Batizai em água corrente em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo." VII,1
  • Atribui personalidade ao 'Espírito' declarando que ele prepara os santos. IV,10
  • Mas admite o Batismo por efusão quando não houver água suficiente para mergulhar: "Se não houver água corrente seja a água derramada três vezes sobre a cabeça do neófito." VII,3
  • Da testemunho da Penitência Batismal especificando que antes do Batismo Batizador e Batizando devem exercer jejum.
  • Aprova as orações repetidas recomendando que o Pai Nosso seja recitado três vezes ao dia, ou seja, pela manhã, pela tarde e pela noite. Prática que remonta ao livro de Daniel.
  • Testifica que a congregação Cristã exercia jejuns pela quarta e pela sexta feira em memória dos sofrimentos de Nosso amado Mestre.
  • Descreve a Eucaristia como 'Comida e bebida espirituais.' e adverte que apenas os batizados deveriam recebe-la.
  • Afirma a Ortodoxia da Igreja: "Se alguém anunciar tudo o que foi anunciado antes podeis recebe-lo.". "Assim nada acrescente e nada retire." IV,13
  • Ensina que o supremo critério de Ortodoxia é a vida (Ortopraxia): "Aquele que diz ser predicante e profeta QUE VIVA COMO O SENHOR. Assim sabereis discernir..." e "Todo o que declara estar na verdade mas não põe em prática é sedutor e falso profeta." XI,8
  • Alerta contra o simonismo ou teologia da prosperidade: "SE PEDIR DINHEIRO É FALSO PROFETA." XI,6  e completa "Se quiser viver convosco que exerça algum trabalho digno."
  • Testifica que os Santos congregavam no 'Dia do Senhor' ou seja no Domingo da ressurreição. XIV,1
  • Refere-se a confissão pública dos pecados como veículo de purificação. Id
  • Refere-se ao ofício Cristão como a um sacrifício. Id
  • Refere-se aos predicantes como nossos 'Sacerdotes'. XIII,3
  • Especifica que os predicantes e profetas são os Bispos e diáconos. XV,1 e especifica que 'Não devem ser apegados ao dinheiro.'
  • Testifica quanto a ressurreição dos mortos, o derradeiro julgamento e uma espécie de purificação pelo fogo.

Tais os elementos da fé com que nos deparamos neste escrito antiquíssimo que parte dos antigos não exitou atribuir aos S Apóstolos do Senhor e que com toda certeza foi composto por aqueles que tiveram o privilégio de escutar a instrução de seus abençoados lábios.

Instrução pura, imaculada, correta e isenta de erros.










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